Após 64 anos, o Brasil receberá pela segunda vez, em junho, a Copa do Mundo de Futebol – FIFA, competição que movimenta diversas nações desde a sua primeira edição, realizada no Uruguai, em 1930. Durante um mês, doze cidades brasileiras sediarão jogos do mundial, tendo sua rotina completamente alterada. Os efeitos do evento no dia a dia do brasileiro vêm provocando uma série de debates em esferas diversas. No campo da Educação, a pauta versa sobre como fomentar a reflexão sobre o campeonato na comunidade escolar e como utilizá-lo como base para ampliar o processo de aprendizagem em sala de aula.
Segundo Diana Mendes Machado da Silva, pesquisadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol – GIEF e do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas – Ludens, ambos da Universidade de São Paulo – USP, “o futebol é tema de interesse nacional há muitos anos e não pode estar fora da escola, pois se trata de uma prática cultural e histórica”. A especialista, que também já atuou como professora da rede pública de ensino, acredita que esta é uma oportunidade para que as escolas pensem em uma pequena reformulação do currículo, sem alterar as diretrizes básicas da educação. “Os temas futebol e Copa do Mundo abrem um leque variado para os mais diversos trabalhos, para além das atividades realizadas em sala de aula, por meio de datas específicas, temas transversais e projetos especiais. É possível incluir a temática do futebol no currículo convencional”, explica.
Segundo Silva, a temática poderia ser abordada não só nas aulas de Educação Física, mas também por professores de História, Geografia e Português. “A trajetória do futebol está arraigada na história do século 20. Ao mesmo tempo, este momento histórico permite trabalhar o processo de reurbanização de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro a partir da perspectiva do futebol. Nas aulas de Português, o professor pode abordar o momento em que a imprensa passa a ter um papel preponderante para a opinião pública, também no início do século 20, utilizando crônicas jornalísticas de escritores como Coelho Neto, Lima Barreto, Nelson Rodrigues, Mario Filho e José Lins do Rego”, exemplifica a pesquisadora.
Entre outros importantes temas transversais passíveis de abordagem pelo educador, Silva cita a diversidade cultural e o racismo. “No momento em que todos os olhos estão voltados para o futebol, o jogo em si passa ser um modelo de prática social e política. Em um encontro de nações, a diversidade cultural é um ponto central e o racismo não é tomado como uma prática possível. Isto é exemplar porque ensina valores para crianças e adultos. O futebol tem essa noção de isonomia e igualdade, os jogadores entram em campo e o desempenho mostra quem é o melhor naquele momento. Isso independe da cor, da idade, se o país é rico ou pobre”, elucida.
Ainda de acordo com Silva, o trabalho de pesquisa inicial pode ser árduo, mas, após se aprofundar no tema, o professor poderá analisar como as dimensões do futebol se relacionam com as disciplinas e o seu cotidiano. “Não é preciso que o educador saia, necessariamente, do seu dia a dia de trabalho para abordar o tema da Copa, embora também seja possível mobilizar a escola em projetos transversais e paralelos, como o de uma minicopa do mundo, em que as turmas possam representar seleções e, nessa medida, países, desenvolvendo pesquisas sobre as nações envolvidas. Afinal, esse é um encontro de troca cultural muito rico”,
                                                                                Pamella Indaiá, do Blog Educação