quarta-feira, 13 de maio de 2015

Crônicas




Saudade de ti, Natal! - Rosilda da Silva
Nasci em uma época em que era comum esperar com alegria a chegada do natal. Toda a família colaborava para que esta fosse uma data mais que especial.  Nem sempre estávamos tão dispostos quanto nossos pais gostariam, mas fazíamos o que crianças sem muitas condições financeiras poderiam fazer para que nosso natal fosse “fora de série”.   Esperava-se o ano todo por isso, contando na folhinha os dias que faltavam para a data mais esperada, a chegada do natal.  Tempo de festas, confraternização entre as famílias, abraços mais apertados e calorosos, ceias fartas, almoços alegres, cheios de conversas e risos... 

Nessa época quem ditava as regras era sempre a mãe.  Limpeza de natal na casa era algo obrigatório. Escada, balde, água e sabão também. A faxina começava desde o forro da casa (isso mesmo, forro, não havia laje na casa dos menos abastados naquele tempo), passava pelas paredes, que de tanto a gente esfregar em alguns pontos a tinta quase desaparecia, e ia acabar lá fora no quintal. Esse, que achávamos enorme, deveria ser varrido do começo ao final até que não sobrasse uma única folhinha caída no chão.  E se sobrasse era melhor voltar antes que o serviço fosse inspecionado.


Mas nem tudo era trabalho. Havia uma energia muito boa no ar.  Principalmente quando a brisa fresca dos fins de tarde invadia nosso imaginário com o cheirinho doce das bolachas de natal confeitadas com açúcar colorido. 

A árvore de natal era um pinheirinho de verdade, daqueles que ficavam com as folhas levemente amareladas se fosse cortado e montado muito cedo, pois não podíamos comprar uma nova e do tamanho ideal a cada ano. Mas a beleza consistia em apreciar o apaga acende dos pisca-piscas e o multicor das bolinhas de vidro que faziam o delírio da criançada. 

Hoje lembro com saudade daquele tempo. Da correria boa que era tudo isso, especialmente para nós, as crianças daquela época; e que hoje preparam com carinho a magia natalina para encantar os pequenos e iluminar os momentos de encontros e reencontros entre os entes queridos a quem tanto amamos.

Acredito que, talvez, esta deva ser também a lembrança da infância de muitos. Mas hoje sabemos, cheios de saudade e nostalgia, como tudo isso era bom.

Agora, mais experientes, continuamos ansiosos para abrir os presentes, porém, a maturidade nos faz perceber melhor o real significado do Natal: o nascimento do Filho de Deus. Mas natal também é época de parar e restaurar as forças para mais um ano. É época de amor. Época de encontros. Momento de rever tudo o que durante o ano passou despercebido. Natal é planejar uma noite diferente, um instante iluminado. Natal… é ansiar por instantes de alegria e de conforto, Na presença escolhida a dedo de pessoas que fazem parte de nossas vidas. Presentes e mais presentes, com um único significado: “Lembrei-me de Vocês! Feliz Natal”! A alegria que se sente é tão imensa, que até tenho vontade de perguntar ao Papai Noel se “felicidade é brinquedo que não existe”, pois, já o temos aqui, em cada um de nós, nesse momento em que estamos todos juntos, coroando um ano cheio de vitórias em que nos fizemos presentes de fato nas nossas vidas e cuidamos uns dos outros nos momentos mais difíceis, nos animando mutuamente, pois quem ama, zela!
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Despedida do trema
Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos.
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio… A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. O “dois pontos” disse que  sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.
Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C c….. que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I.
Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?
A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, “Kkk” pra cá, “www” pra lá.

Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou “tremendo” de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!
Nós nos veremos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.
Adeus,Trema
(Desconheço autoria)
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VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS – Martha Medeiros
Quem é seu melhor amigo(a)? Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), frequenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco. Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano. São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo. Mas fique esperto. Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir-se incluído num grupo, de pertencer a uma turma. Perde-se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual. A vida ganha movimento é na diferença. Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado. Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.

Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinq
uentona irada. E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia-idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante. No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office-boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca. Vale inclusive pai e mãe. 
 

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