sexta-feira, 5 de junho de 2015

 
Foto de Comunidade Flores Passaros e Paisagens.
 
Exercícios sobre diário, e-mail e carta

>> Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 4.

Casa Branca
Washington
14 de agosto de 1915.
Sábado, oito da noite

Minha Querida,

Você ficará espantada ao receber, pelo correio, uma caixa de meias de seda pretas e brancas! É uma das quatro caixas enviadas por mulheres belgas em agradecimento ao Presidente dos Estados Unidos e sua família. Há, além disso, uma caixa de meias soquetes de seda. Temo que sejam grandes demais para você, o tamanho à la Belgique. Se for o caso, mande-as de volta que compararei o tamanho delas com as outras (acho que sei como fazer isso) e verei se não há algumas menores. Se não houver, não saberemos o que fazer com elas, visto que você é tão alta quanto qualquer outro membro da família.
[...] Saí de carro, sozinho, essa tarde, das três às cinco e meia. Meu trajeto foi Poto-mac-Rockville-Seventh Street Pike. Ah, Querida, minha adorada Edith, que memórias povoaram cada centímetro do caminho! Se fosse noitinha e houvesse lua, nem sei como teria suportado o suave sofrimento daquilo tudo e, ao voltarmos (Murphy, Burlasque e eu) para o Ford, mal pude me conter para não gritar em altos brados os anseios do meu coração. Fiz o passeio por causa de suas recordações e associações — e elas foram magníficas — tudo o que é associado a você é magnífico...
Voltei para casa antes que tivesse terminado o concerto da banda no Jardim Sul, imagino, a maior parte do programa acontecendo enquanto eu escrevia à minha mesa. No final, quando tocaram The Star Spangled Banner, fiquei de pé ao lado da mesa, inteiramente sozinho, com pensamentos difíceis de exprimir a respeito do que significa ser o atual responsável pelas tradições e honra da bandeira. Mal pude conter as lágrimas! E naquele momento, a solidão! A solidão da responsabilidade em virtude da solidão do poder, que ninguém pode compartilhar. Entrementes, eu sentia haver alguém que compartilhava, sim, compartilhava — tudo —, uma mulher encantadora que se entregou a mim, é minha, é parte de mim, retira o peso das ansiedades e torna as responsabilidades estimulantes, não temíveis, graças ao seu amor, à sua compreensão e rara compaixão... toda a divina aliança transformando tudo, inclusive a própria Constituição dos Estados Unidos — e agradeci a Deus e criei coragem!...

Seu querido,

Woodrow

ORSINI, Elisabeth. Cartas do coração. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 196-197. (Fragmento).

À la Belgique: (francês) à moda belga.
Potomac-rockville-seventh Street Pike: trajeto percorrido durante o passeio de carro.
The Star Spangled Banner: (inglês) A Bandeira Estrelada, Hino nacional dos Estados Unidos.
Entrementes: entretanto.

1. O texto exemplifica um gênero discursivo muito conhecido.
►  Que gênero é esse?
►  Identifique passagens do texto que justifiquem essa classificação.

2. Considerando os assuntos abordados e o modo como Woodrow se dirige a Edith, podemos inferir o tipo de relação existente entre os dois.
►  Que relação seria essa?
►  Que função as cartas desempenham nessa relação?

3. Podemos identificar, no texto, algumas passagens que são relatos. Transcreva-as.
►  Como se explica a presença de relatos em cartas pessoais?

4. Quando tratamos dos gêneros discursivos e explicamos o que são os tipos de composição, afirmamos que "existem textos em que recorremos a mais de um tipo de composição". Nesse texto, além de passagens narrativas, também há trechos que exemplificam outro tipo de composição.
►  Qual é esse tipo de composição?
►  Transcreva um dos trechos em que esse tipo de composição ocorre.
►  Por que diferentes tipos de composição podem ocorrer em um mesmo gênero discursivo?

>> O trecho apresentado a seguir foi extraído de um diário que relata a viagem de moto feita, em 1952, por Che Guevara e seu grande amigo Alberto Granado, da Argentina até a Venezuela. O livro é uma reelaboração dos minuciosos registros e anotações que che fez durante essa grande aventura que mudou sua maneira de ver o mundo que o cercava e a si mesmo.

Diário de viagem

Esclarecendo as coisas...

Este não é um conto de aventuras nem tampouco alguma espécie de "relato cínico"; pelo menos, não foi escrito para ser assim. É apenas um pedaço de duas vidas que correram paralelas por algum tempo, com aspirações em comum e com sonhos parecidos. Durante o transcorrer de nove meses, um homem pode pensar em muitas coisas, desde o mais alto conceito filosófico até o desejo mais abjeto por um prato de sopa — tudo de acordo com o estado de seu estômago. E se, ao mesmo tempo, esse homem for do tipo aventureiro, ele poderá viver experiências que talvez interessem às demais pessoas e seu relato casual se parecerá com este diário. [...]
O homem, que é a medida de todas as coisas, fala através de mim e reconta por minhas palavras o que meus olhos viram. [...] A pessoa que tomou estas notas morreu no dia em que pisou novamente o solo argentino. A pessoa que agora está reorganizando e polindo estas mesmas notas, eu, não sou mais eu, pelo menos não sou o mesmo que era antes. Esse vagar sem rumo pelos caminhos de nossa Maiúscula América me transformou mais do que me dei conta. [...]
A menos que você conheça as paisagens que eu fotografei em meu diário, será obrigado a aceitar minha versão delas. Agora, eu o deixo em companhia de mim, do homem que eu era...
Pródomos
Era uma manhã de outubro. Me aproveitei do feriado do dia 17 e fui para Córdoba. Estávamos então sob as parreiras da casa de Alberto Granado, tomando nosso chimarrão, conversando sobre os últimos acontecimentos em nossas "vidas miseráveis" e mexendo no motor de "La Poderosa II" de Alberto. [...] eu também andava inquieto, em grande parte porque era um espírito livre e não aguentava mais a escola de medicina, os hospitais, as provas que tinha que fazer.
Nossas fantasias nos levaram a lugares distantes, a mares tropicais, a viagens através da Ásia. E, de repente, escorregando como se fizesse parte de uma dessas fantasias, veio a pergunta: "Por que nós não vamos para a América do Norte?!
"América do Norte? Como assim?" "Com La Poderosa, cara."
E foi assim que surgiu a ideia da viagem, que aliás nunca se desviou do princípio-geral estabelecido naquela manhã: a improvisação. [...] Naquele momento, ainda não imaginávamos o esforço que teríamos que fazer para cumprir nossos objetivos, tudo o que enxergávamos era a estrada poeirenta a nossa frente. Tudo o que víamos era nós dois em nossa moto, devorando os quilômetros rumo ao norte.

GUEVARA, Ernesto Che. De moto pela América do Sul: diário de viagem. São Paulo: Sá/Rosari, 2001. p.
13-16.

Abjeto: desprezível, infame.
La Poderosa ii: a moto de alberto Granado, com a qual a viagem foi feita.
Pródomos: introdução; início.

5. De que trata o texto transcrito?

6. Qual a perspectiva adotada nesse texto? Justifique.

7. Como você viu, o texto citado faz parte de um diário pessoal escrito a partir de anotações feitas por Che Guevara durante uma longa viagem que fez com um amigo. Que função esse diário desempenha na vida do autor? Explique.

 

É isso, estes exercícios eu apliquei nas minhas turmas de alunos pré-vestibulandos e deu muito certo, pois abre a possibilidade até mesmo de trabalhar com as características dos gêneros textuais mais  cobrados nos vestibulares.

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