sábado, 17 de outubro de 2015




Na ilha por vezes habitada
José Saramago
Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de

morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
 
Saramago esteve conosco até esta sexta-feira 18 de junho de 2010. Morreu aos 87 anos deixando uma lacuna em nossa literatura. Neste texto nota-se a profundidade de seus escritos. Leia-o e medite inspirado na grandeza das palarvras do autor.

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