segunda-feira, 15 de agosto de 2016

  

ALEGRIA CRÔNICA 

 Fernanda Pinho


Queridos, começo com uma confissão. Adiantada que sou, sentei para escrever minha crônica de quinta dessa semana na segunda-feira. Não tive dificuldade em encontrar um assunto. Ao contrário de todos os outros dias, em que as milhares de possibilidades me atormentam, naquele dia um único assunto monopolizava toda a minha existência: minha tristeza. Eu estava triste, muito triste por motivos que já não vêm mais ao caso. Essa crônica não é aquela outra que ficou prá trás, afinal.

Dois dias depois de tê-la escrito, reli, para ver se estava tudo certo para postar aqui e, minha nossa, percebi que estava tudo errado. Eu sou totalmente errada quando triste. Era um texto feio. Sem a menor chance de tornar-se um texto bonito, ainda que passasse por zilhões de edições. Sua essência era feia. A dor, o medo, a dúvida. Mas sua feiúra não vinha daí. Vinha do fato de eu não saber escrever quando estou triste. Quantos e quantos escritores e poetas se alimentaram da tristeza para escrever obras primas. Eu não sou assim. Primeiro porque não sou uma escritora, tampouco uma poeta. Sou nada mais que uma moça intrusa que força amizade com as palavras. Segundo porque a tristeza não me estimula a nada. Quando estou triste, não há nada que me interesse nesse mundo. Não adianta me fazerem uma festa, me levarem para a praia, me darem roupa nova, me preparem um delicioso pudim de leite, me escreverem uma carta. Eu não vou ficar alegre (mas, amigos, que fique claro: isso não significa que vocês não devam me fazer uma festa, me levar para a praia, me comprar uma roupa nova, me preparar um delicioso pudim de leite e me escrever uma carta. Não custa tentar, né?).

Fico imprestável. Faço tudo mal feito. Não me disponho a fazer bem feito, aliás. O resultado são textos medíocres, embora profundamente sinceros. A ex-crônica de hoje nasceu de uma verborragia. Um vômito de palavras acompanhado de lágrimas que caiam sobre o teclado com a mesma frequência dos dedos frenéticos. Nasceu assim, feia. E sem a menor intenção de ser bonita. E acho bom que seja assim. Acho maravilhoso que eu seja medíocre e imprestável quando triste. Do contrário, eu mergulharia na tristeza para conseguir matéria prima para meus textinhos. Mergulho perigosíssimo. Eu não sei nadar.

Não fico alegre quando realizo grandes feitos. Na realidade, realizo grandes feitos quando estou alegre. Sendo assim, deletei a crônica triste e tenho deletado aos poucos tudo o mais que diz respeito a ela. Como sempre faço. Questão de sobrevivência.

Comecei com uma confissão e encerro com uma adivinhação. Tenho certeza que tem um versinho martelando nas cabeças por aí: "é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe". É, vamos beber da fonte do Poetinha. Esse, sim, sabia das coisas.

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