Enquanto o tempo passa… fico só e contemplo a janela. Do outro lado da rua há outra e mais outra, uma série de janelas perfilam em tons pouco poéticos que marcam a cidade grande.
A imagem é comum. Pergunto-me: para que serve uma janela? Elas supõe a existência de dois mundos, um do lado de cá, uma casa, um quarto, um ambiente qualquer. Outro, do lado de lá, uma rua, um espaço amplo, um acontecimento, outras casas, outras vidas, outros mundos. Aparentemente são sombras opondo-se à luz, são ambientes contra imagens turbulentas. O que esperar de tantas contraposições?
Mas, vamos mudar de posição. Contemplo meu mundo, estando fora dele. Meu interior, minhas recordações. O que eu guardei dos anos vividos? O que ainda guardarei?
Descubro-me no meio do caos, subdividida entre o que poderia ter sido e o que não sou. Observo os que estão em volta, e constato quantas são as possibilidades de vida diferentes e inconsequentes, sem preocupações, sem ansiedades de um para outro lado.
Acendo a luz de um abajur e vejo pequena nuvem de fumaça que contrasta com o frio noturno. Entre um ato e um entreato, sinto-me perdida no meio de uma plateia surda e infeliz, que espera avidamente o espetáculo na expectativa de vir a encontrar no palco um sentido para sua existência.
Fujo via internet, investigo possibilidades no Google, no Youtube… Abro uma página aleatoriamente e encontro mil outras para serem abertas. Uma pequena lição escolar do diagrama da árvore, um leque em constante movimento. Investigo meus e-mails, pretensamente individuais e encontro muito mais propaganda que em um programa de televisão. Ah, sim, esqueci-me das redes sociais, uma comunidade de amigos virtuais que são tão amigos quanto virtuais. A solidão com amigos virtuais deve ser menos arrogante.
Volto para meus pequenos afazeres, ler um texto em inglês para ver se domino o maldito idioma. Ler um conto em francês para tentar revisitar os grandes clássicos. Mas continuo inconstante, imatura diante do desafio e prosseguir.
Acho melhor ler o horóscopo.”Não desconte nos outros suas incapacidades…”
Procuro um ombro amigo para desabafar minhas frustrações. Ofereço descontos em desajustes acima da inflação.
Acho melhor acabar com essas asneiras e olhar pela janela. O tempo está cinzento, não chove, o ar está uma calamidade. O jornal recomenda cuidado com eventuais problemas pulmonares e, é lógico, não praticar esportes devido a falta de umidade do ar.
Que bom! Volto a ler os jornais, meus companheiros de preguiçosas tardes em que frustro a consciência clamando por atividade física. Dedico-me de corpo e alma ao relaxamento engordativo. Médicos do mundo, uni-vos. Precisamos recuperar o ócio, o melhor de todos os remédios, mas, primeiro, criem uma pílula para emagrecimento imediato.
Saudações do lado de cá da janela. E que se salvem as duas torres reerguidas em algum outro lugar…
São Paulo, 11/09/2011