terça-feira, 16 de agosto de 2016


rova 6º ano - Interpretação
Prova de Literatura - 6º ano - Aluno(a)____________nº: ____ Turma: ___


A LUA NO CINEMA
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
– Amanheça, por favor!
Paulo Leminski. Distraídos venceremos. São Paulo, Brasiliense, 1993.
1 - Nos versos “Não tinha porque era apenas / uma estrela bem pequena” da segunda estrofe do poema, o uso da palavra “porque” introduz
(A) a causa de não ter namorado.  
(B) uma oposição a um filme engraçado.
(C) a consequência de uma história de amor.  
(D) uma comparação do tamanho da estrela com a intensidade da luz.
2- Este poema
(A) explica o nascimento do cinema.  
(B) faz a propaganda de um filme engraçado.
(C) apresenta as características de uma lua solitária. 
(D) conta a história de uma estrela que não tinha namorado.
POR ONDE ANDARÁ SEVERINO?
A última ariranha-azul em liberdade no mundo mora no Brasil, mas está desaparecida há dois meses. Se não for encontrada, a espécie corre o risco de extinção.
Apelidada de Severino, a ave habita a região de Curuçá, no sertão da Bahia. Segundo a coordenação de comitê de Recuperação da Ariranha-Azul, uma equipe de estudiosos e moradores já esta à procura de Severino. Há suspeitas de que ele tenha sido atacado por gaviões.
A ariranha-azul é a menor arara brasileira que existe, mede menos de 30 centímetros e pesa cerca de 400 gramas. Hoje há cerca de 40 espécies em cativeiro no mundo todo (no Brasil são sete). Seu pequeno tamanho e a beleza da cor azul infelizmente atraem os traficantes de animais, que caçam e vendem as ararinhas como animais domésticos.
O Estado de S. Paulo, 9/12/2000. Estadinho.
3- A finalidade deste texto é
(A) divulgar a beleza das aves de nosso país.   
(B) informar que gaviões são animais predadores.
(C) comunicar o desaparecimento da ariranha azul.
(D) convidar as pessoas a visitarem a região de Curuçá, no sertão da Bahia.
O CONTO DA MENTIRA
    Rogério Augusto
Todo dia Felipe inventava uma mentira. “Mãe, a vovó tá no telefone!”. A mãe largava a louça na pia e corria até a sala. Encontrava o telefone mudo.
O garoto havia inventado morte do cachorro, nota dez em matemática, gol de cabeça em campeonato de rua. A mãe tentava assustá-lo: “Seu nariz vai ficar igual ao do Pinóquio!”. Felipe ria na cara dela: “Quem tá mentindo é você! Não existe ninguém de madeira!”.
O pai de Felipe também conversava com ele: “Um dia você contará uma verdade e ninguém acreditará!”. Felipe ficava pensativo. Mas no dia seguinte...
Então aconteceu o que seu pai alertara. Felipe assistia a um programa na TV. A apresentadora ligou para o número do telefone da casa dele. Felipe tinha sido sorteado. O prêmio era uma bicicleta: “É verdade, mãe! A moça quer falar com você no telefone pra combinar a entrega da bicicleta. É verdade!”
A mãe de Felipe fingiu não ouvir. Continuou preparando o jantar em silêncio. Resultado: Felipe deixou de ganhar o prêmio. Então ele começou a reduzir suas mentiras. Até que um dia deixou de contá-las. Bem, Felipe cresceu e tornou-se um escritor. Voltou a criar histórias. Agora sem culpa e sem medo. No momento está escrevendo um conto. É a história de um menino que deixa de ganhar uma bicicleta porque mentia...
4- Felipe começou a reduzir suas mentiras porque
(A) começou a escrever um conto.                                   
(B) deixou de ganhar uma bicicleta.
(C) inventou ter sido sorteado por um programa de TV.  
(D) seu pai alertou sobre as consequências da mentira.
5- No trecho “A mãe tentava assustá-lo.”, o termo destacado substitui
(A) pai de Felipe.  
(B) Pinóquio.  
(C) cachorro.  
(D) Felipe.
6- No desfecho do conto, ficamos sabendo que Felipe
(A) continua contando mentira para seus pais.          
(B) decide ler todos os livros sobre o Pinóquio.
(C) torna-se um escritor e volta a criar histórias.
(D) escreve um livro de normas para o campeonato de rua.
Olá, mãe!
Mãe, eu queria te dizer ...
(não te chamando de mamãe como no tempo em que a vida era você,
mas te chamando de mãe
deste meu outro tempo de silêncio e solidão.)
Mãe, eu queria te dizer
(sem cara de quem pede desculpa pelo que não fez ou pensa que fez)
que amar virou uma coisa difícil
e muitas vezes o que parece ingratidão,
ou até indiferença,
é apenas a semente do amor
que brotou de um jeito diferente
e amadureceu diferente
no atrapalhado coração da gente.
Acho que era isso, mãe,
o que eu queria te dizer.
(Carlos Queiroz Telles. Sonhos, grilos e paixões. São Paulo: Moderna, 1995.)
7- O eu poético deseja, por meio deste texto,
(A) demonstrar seu sentimento de amor.       
(B) reviver um tempo de silêncio e solidão.
(C) revelar que está insatisfeito com as atitudes da mãe.
(D) agradecer à mãe pelo tempo em que a vida era mais simples.
8- O eu poético escreve uma mensagem à mãe por meio de
(A) um conto.  
(B) um poema.  
(C) uma crônica.  
(D) uma propaganda.
9- O verso que comprova para quem o texto foi escrito é
(A) “acho que era isso, mãe...”                 
(B) “que amar virou uma coisa difícil”.
(C) “no atrapalhado coração da gente”   
(D) “deste meu outro tempo de silêncio e solidão”
10- Na primeira estrofe do poema, o eu poético utiliza-se dos parênteses para
(A) pedir desculpa pelo que pensa que fez.
(B) contar que a semente do amor brotou de um jeito diferente.
(C) explicar o porquê do uso da palavra “mãe” ao invés de “mamãe”.
(D) opinar sobre o sentimento de ingratidão ou indiferença demonstrado.
Irapuru – o canto que encanta
Certo jovem, não muito belo, era admirado e desejado por todas as moças de sua tribo por tocar flauta maravilhosamente bem. Deram-lhe, então, o nome de Catuboré, flauta encantada. Entre as moças, a bela Mainá conseguiu o seu amor; casar-se-iam durante a primavera.
Certo dia, já próximo do grande dia, Catuboré foi à pesca e de lá não mais voltou.
Saindo a tribo inteira à sua procura, encontraram-no sem vida, à sombra de uma árvore, mordido por uma cobra venenosa. Sepultaram-no no próprio local.
Mainá, desconsolada, passava várias horas a chorar sua grande perda. A alma de Catuboré, sentindo o sofrimento de sua noiva, lamentava-se profundamente pelo seu infortúnio. Não podendo encontrar paz, pediu ajuda ao Deus Tupã. Este, então, transformou a alma do jovem no pássaro irapuru, que, mesmo com escassa beleza, possui um canto maravilhoso, semelhante ao som da flauta, para alegrar a
alma de Mainá.
O cantar do irapuru ainda hoje contagia com seu amor os outros pássaros e todos os seres da natureza.
(Waldemar de Andrade e Silva. Lenda e mitos dos índios brasileiros. São Paulo: FTD, 1997.)
11- Catuboré foi à pesca e de lá não mais voltou porque
(A) apaixonou-se por uma índia de outra tribo.         
(B) encontrou uma flauta encantada.
(C) dormiu à sombra de uma árvore.                          
(D) foi mordido por uma cobra.
12- No trecho “Deram-lhe, então, o nome de Catuboré, flauta encantada.” Do primeiro parágrafo do texto “Irapuru – o canto que encanta”, o termo destacado se refere
(A) ao grande dia.   (B) ao certo jovem.   (C) à bela Mainá.   (D) a sua tribo.
13- Para conceder a paz a Catuboré, o Deus Tupã
(A) transformou a alma do jovem no pássaro irapuru.  
(B) desapareceu com todas as cobras venenosas.
(C) criou a primavera para celebrar o casamento.        
(D) convocou toda a tribo para tocar flauta.
A lebre e a tartaruga
Era uma vez... uma lebre e uma tartaruga.
A lebre vivia caçoando da lentidão da tartaruga.
Certa vez, a tartaruga, já muito cansada por ser alvo de gozações, desafiou a lebre para uma corrida.
A lebre, muito segura de si, aceitou prontamente. Não perdendo tempo, a tartaruga pôs-se a caminhar, com seus passinhos lentos, porém firmes.
Logo a lebre ultrapassou a adversária e, vendo que ganharia fácil, parou e
resolveu cochilar.
Quando acordou, não viu a tartaruga e começou a correr.
Já na reta final, viu finalmente a sua adversária cruzando a linha de chegada, toda sorridente.
Moral da história: Devagar se vai ao longe!
http://www.qdivertido.com.br/verconto.php?codigo=29
14- O episódio da narrativa que contribui para a vitória da tartaruga é
(A) a decisão da lebre de parar e cochilar.          
(B) o desafio de realizar uma corrida com a lebre.
(C) o desafio de correr para garantir a vantagem.
(D) a decisão firme de caminhar com passos lentos.
15- O trecho que expressa uma opinião a respeito de um dos personagens é
(A) “Logo a lebre ultrapassou a adversária...”
(B) “Era uma vez... uma lebre e uma tartaruga.”
(C) “A lebre, muito segura de si, aceitou prontamente.”
(D) “Quando acordou, não viu a tartaruga e começou a correr.
16- A finalidade deste texto é ensinar ao leitor que
(A) o sono renova as energias do corpo.
(B) a caçoada do adversário garante a vitória.
(C) o êxito depende de dedicação e persistência.
(D) o esporte é necessário para manutenção da saúde.
17- As características do texto “A lebre e a tartaruga”, tais como – o tipo de personagens
e a presença de moral –, exemplificam o texto conhecido como
(A) receita.    (B) fábula.   (C) campanha publicitária.   (D) história em quadrinhos.
Dica: Quando as provas ficam grandes, costumo imprimir duas páginas por folha. Basta clicar em propriedades, na bandeja da impressora, e escolher a opção duas páginas por folha, clicar em ok e pronto!


As questões dessa prova foram retiradas do site: http://www.rio.rj.gov.br/web/sme
1-(A) a causa de não ter namorado. 
2-(D) conta a história de uma estrela que não tinha namorado.
3-(C) comunicar o desaparecimento da ariranha azul.
4-(B) deixou de ganhar uma bicicleta.
5-(D) Felipe.
6-(C) torna-se um escritor e volta a criar histórias.
7-(A) demonstrar seu sentimento de amor. 
8-(B) um poema. 
9-(A) “acho que era isso, mãe...” 
10-(C) explicar o porquê do uso da palavra “mãe” ao invés de “mamãe”.
11-(D) foi mordido por uma cobra.
12-(B) ao certo jovem. 
13-(A) transformou a alma do jovem no pássaro irapuru. 
14-(A) a decisão da lebre de parar e cochilar. 
15-(C) “A lebre, muito segura de si, aceitou prontamente.”
16-(C) o êxito depende de dedicação e persistência.
17- (B) fábula.
Atividades de interpretação - 8º e 9º
Conversa de botequim
Vadico e Noel Rosa
Seu garçom faça o favor
De me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada,
Um pão bem quente com manteiga à beça,
Um guardanapo
E um copo d`água bem gelada
Fecha a porta da direita
Com muito cuidado
Que eu não estou disposto
A ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol
Se você ficar limpando a mesa,
Não me levanto nem pago a despesa
Vá pedir ao seu patrão
Uma caneta, um tinteiro,
Um envelope e um cartão
Não se esqueça de me dar palitos
E um cigarro pra espantar mosquitos
Vá dizer ao charuteiro
Que me empreste umas revistas
Um isqueiro e um cinzeiro
Telefone ao menos uma vez
Para 34-4333
E ordene ao seu Osório
Que me mande um guarda-chuva
Aqui pro nosso escritório
Seu garçom me empreste algum dinheiro
Que eu deixei o meu com o bicheiro,
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure essa despesa
No cabide ali em frente
1)     Logo no primeiro verso, por meio do uso de um vocativo, fica claro quem fala e quem escuta nessa “conversa”.
a)     A quem a personagem que fala na canção se dirige?
b)     Quem é a personagem que fala?
2)     Observe como o tamanho dos versos desta canção varia muito. Pensando também no título, como você explicaria esse fato?
3)     No entanto, para realizar-se como canção, a letra e a melodia devem manter ainda alguma regularidade. Assinale as rimas da canção.
4)     Em que modo estão os verbos usados pela personagem para se dirigir ao garçom? Por quê?
5)     Na primeira estrofe, o “cliente” faz ao garçom uma série de pedidos.
a)     O que ele pede?
b)     Esses pedidos são adequados à situação?
6)     Na segunda estrofe outros pedidos são feitos.
a)     Quais são eles?
b)     Esses pedidos são adequados à situação?
7)     Na última estrofe, o “cliente” parece passar dos limites.
a)     O que ele pede ao garçom?
b)     Explique por que esses pedidos excedem o que se espera que um cliente peça a um garçom.
c)     Como o botequim é chamado pelo cliente?
d)     O que esse cliente vai fazer no botequim?
8)     Por ser o fragmento de um diálogo, “Conversa de botequim” reforça a coloquialidade própria do gênero canção. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta.
Gabarito:
1)     Logo no primeiro verso, por meio do uso de um vocativo, fica claro quem fala e quem escuta nessa “conversa”.
a.      A quem a personagem que fala na canção se dirige? Ao garçom.
b.      Quem é a personagem que fala? O cliente de um bar ou botequim.
2)     Observe como o tamanho dos versos desta canção varia muito. Pensando também no título, como você explicaria esse fato? A canção imita a fluidez e a coloquialidade da fala.
3)     No entanto, para realizar-se como canção, a letra e a melodia devem manter ainda alguma regularidade. Assinale as rimas da canção.
4)     Em que modo estão os verbos usados pela personagem para se dirigir ao garçom? Por quê?
Os verbos estão no imperativo. Eles definem o tipo de relação que se estabelece entre as personagens da canção.
5)     Na primeira estrofe, o “cliente” faz ao garçom uma série de pedidos.
a.      O que ele pede?
Um média (xícara de café com leite), um pão quente com manteiga, um guardanapo e uma gelada.
b.      Esses pedidos são adequados à situação?
Sim, pois são pedidos de um cliente a um garçom de botequim.
6)     Na segunda estrofe outros pedidos são feitos.
a.      Quais são eles?
Para que o garçom não limpe a mesa e para que traga uma caneta, um tinteiro, um envelope um cartão, palitos, cigarro, revistas, isqueiro e cinzeiro.
b.      Esses pedidos são adequados à situação?
Não são mais pedidos apropriados a um botequim, pois incluem itens encontrados na tabacaria ou na papelaria.
7)     Na última estrofe, o “cliente” parece passar dos limites.
a.      O que ele pede ao garçom?
Pede para que o garçom ligue para um número e ordene a um tal de Osório que mande um guarda-chuva; pede dinheiro emprestado e pede para que o gerente “pendure” a conta.
b.      Explique por que esses pedidos excedem o que se espera que um cliente peça a um garçom.
Os pedidos da última estrofe são inusitados, o que ajuda a produzir o humor na canção. Eles imitam uma relação de patrão com empregado, ou de pessoa muito “espaçosa”, em ambiente familiar.
c.      Como o botequim é chamado pelo cliente?
Nosso escritório.
d.      O que esse cliente vai fazer no botequim?
Provavelmente, ele é um poeta, um sambista que vai ao botequim para compor suas canções.
CRIME MAIS QUE PERFEITO
Quando o furgão contornou a esquina e parou diante do nº 168, Davi abriu a caderneta e anotou: Quinta-feira, chegada, 4h 15min. Assistiu ao leiteiro que, com passadas rápidas, deixou o litro de leite à porta e retornou ao furgão, posto logo em movimento. Davi escreveu: saída, 4h 20 min. Embolsou a caderneta, desprendeu-se do pilar que lhe servia de esconderijo. Planejava o crime original.
Voltara para casa assim como saíra, invisível. Subiu a escada, parou no corredor. O quarto de tia Olga fechado, mas, no de Cláudia, a luz riscava o chão pela fresta da porta. Empurrou-a com cuidado, entrou no quarto e contemplou a irmã adormecida. Para Davi, ela seria sempre uma criança. Os olhos dele foram ficando mansos, os lábios esboçaram um sorriso... Um leve ruído: a adoração se encobriu de trevas.
Com a mesma cautela, saiu para o corredor e logo entrou em seu quarto. A lembrança súbita de Jorge Antar dissipou a beleza deixada em seus olhos pela moça em doce sono. Aquele noivado. Revoltava-se com o amor de Cláudia pelo malandro. Conhecia-o bem: vivia de golpes financeiros, além de possuir, em segredo, um harém. O malandro visava à herança da moça, inocente e apaixonada. Não, Jorge não seria o homem de Cláudia, dessa Cláudia que ele, substituindo o pai ajudara a criar. Há dias, por isso, resolvera mudar seu comportamento, não agravar, com novas rixas, suas relações com a irmã. Recolhera conselhos, reprimira censura e ameaças, enquanto o plano diabólico progredia na ardência do cérebro, como o relógio trabalhando no interior da bomba.
Deitado na cama leu a caderneta: “leiteiro” Segunda-feira, chegada, 4h 08 min. – saída, 4h 15 min.; Quarta-feira, chegada, 4h 05 min. – saída, 4h 12 min. Na última anotação: chegada, 4h 15 min. – saída, 4h 20 min. O furgão parava na rua das Margaridas, nº 168, sempre depois das 4 horas da madrugada, e em sua casa às 3 horas, mais ou menos. Plano feito, perfeito. E mais perfeito ainda, porque Cláudia, conforme havia dito, iria passar o fim de semana, na capital, fazendo compras e preparando seu espírito para o casamento.
Davi já conhecia todos os hábitos de Jorge: no sábado, acordava mais cedo, tomava seu desjejum e saía de casa para o “trabalho”, antes da criada entrar em serviço. Aquele plano era exato como a sucessão das horas, infalível como a própria morte...
Sexta-feira, a véspera da perfeição. A noite demorou, mas acabou gerando a madrugada. O motor do caminhão forçou a marcha. Era o leiteiro virando a esquina. Davi ouviu a parada em frente de sua casa; o tilintar de vidros. Os passos de retorno, a batida do portão. Sentou-se na cama, calçou o tênis. Levantou-se, foi à cômoda, abriu a gaveta e meteu o vidrinho no bolso. Apanhando a lanterna, clareou o relógio de pulso: 3h 20min. Calçou as luvas que estavam debaixo do travesseiro. Iluminando o caminho, chegou à sala, abriu a porta, cuidadosamente pegou o litro de leite pelo gargalo e depois seguiu para a copa. Foi à pia, retirou a tampa da vasilha, derramou um pouco de leite, substituindo pelo conteúdo do vidrinho que trouxera. Recolocou a tampa, meteu o litro de leite no bolso largo do casaco. Abotoou o casaco, saiu pela porta da cozinha. Fez sumir na lata de lixo o vidrinho lavado. Luz sobe o pulso: 3h 35 min.
Seguiu para a casa de Jorge, atingindo-a pelos fundos. Agachando-se, escondeu sob o tanque de lavar roupas. Relógio iluminado: 4h.
Depois de dez minutos, o furgão parou em frente à casa. Davi decifrou a jovialidade do entregador pelos passos meio dançados. De novo, os passos. O motor pulsando, a neblina tragando as luzes vermelhas do furgão.
Sempre encostado à parede, Davi caminhou até à porta lateral da casa onde uma pequena entrada o protegia da visão da rua. Na soleira de mármore, aproximou os dois litros de leite.
Levantou-se, enfiou no bolso do casaco o que fora deixado para Jorge, com a mesma precaução, dirigiu-se ao lugar de espera, perto do tanque. Retomou o caminho de volta, pisando sempre na parte cimentada do quintal a fim de não largar vestígios de seu tênis.
A neblina espessa não venceu a intrepidez da caminhada de volta, última pedra do mosaico delituoso. Fechando-se na cozinha de sua casa, sentiu-se liberto. Tonificado pelo descanso de alguns segundos, repôs em seus lugares o casaco, o litro de leite e as luvas. Depois de tirar os tênis, acendeu o isqueiro, aqueceu-lhes as solas para secá-las mais rapidamente. Em seguida, limpou-os com um pano e guardou-os no lugar costumeiro. Preparado para dormir, ingeriu uma pílula. Caiu na cama, com um suspiro de
alívio. Em breve o cansaço e o hipnótico trouxeram o sono que surpreendeu Davi no gozo de sua obra
perfeita.
Quando amanheceu, gritos:
 —Davi, acorda. Acorda, menino!
E a tia Olga começou a agitá-lo.
— O que é que há, titia?
— Estão aí dois homens da polícia que querem falar com você.
— Da polícia? Diga-lhes que descerei imediatamente. Enquanto as mãos trêmulas lavavam o rosto, pensou: “É impossível. Não cometi nenhum erro. Ninguém me viu”. Revisou todos os seus atos: não encontrou a menor falha. Amarrando o roupão, desceu a escada.
 —Sr. Davi Ortiz? Carlos Antunes, delegado de plantão.
— Não estou entendendo...
— Estou aqui em cumprimento de um dever bastante desagradável.
— Como assim?
— Antes de pedirmos a colaboração do senhor, no entanto...
— Sim?
— Jorge Antar foi encontrado morto, esta manhã, na casa em que morava.
— Que horror!
— Ao lado dele, também morta... a senhorita Cláudia, irmã do senhor. Acreditamos que se suicidaram, de acordo com as primeiras investigações, com veneno misturado ao leite.
(Luiz Lopes Coelho, A morte no envelope)
VOCABULÁRIO:
Furgão: Carro coberto, para transporte de bagagens ou pequena carga.
Fresta: Abertura estreita na parede, para deixar passar a luz e o ar.
Dissipar: dispersar, desfazer, fazer desaparecer.
Visar: Ter como objetivo; ter em vista.
Jovialidade: Alegre, prazenteiro.
Precaução: Cautela, cuidado.
Espesso: Grosso, denso.
Intrepidez: Valentia, coragem.
Mosaico: Embutido de pedrinhas de cores, dispostas de modo que formem desenhos.
 Delituoso: Que constitui delito; culposo.
Tonificar: Dar vigor a; fortificar.
Hipnótico: substância que produz sono.
Gozo: prazer, satisfação.
1. A frase que apresenta a ideia principal do texto é:
A) “Planejava o crime original”.              
B) “Davi escreveu: saída, 4h 20min”.  
C) “Quando o furgão contornou a esquina”.           
D) “Davi abriu a caderneta e anotou”.   
E) “Acreditamos que se suicidaram.”
2. A intenção de Davi Ortiz ao anotar a chegada e a partida do leiteiro era
A) saber o horário em que o leite chegava nas casas.        
B) evitar que algo desse errado em seu plano.
C) fazer anotações sobre o movimento dos furgões.            
D) conhecer todos os hábitos de Jorge.
E) anotar as casas que recebiam leite.
3. Em “Um leve ruído: a adoração se encobriu de trevas” , o que fez Davi mudar de atitude foi o fato de
A) Cláudia esboçar um leve sorriso.           
B) o quarto da tia Olga estar fechado.
C) ter-se lembrado do noivo de Cláudia.    
D) Cláudia se mexer na cama.   
E) estar chegando a hora de o leiteiro passar.
4. A expressão “...além de possuir, em segredo um harém.” significa que o noivo
A) era um sultão árabe que possuía muitas mulheres.    
B) já era casado.              
C) tinha em sua casa muitas esposas.
D) trocava constantemente de esposas.                           
E) vivia cercado de mulheres.
5. A palavra “trabalho” escrita entre aspas, deve ser vista como uma ironia, devido ao fato de (o)
A) antagonista trabalhar em ofícios desgastantes.         
B) trabalho do personagem ser muito cansativo.
C) noivo possuir um harém.                                          
D) Jorge Antar trabalhar em ofícios não respeitáveis.
E) jovem ser responsável e ter bons hábitos.
6. O local escolhido por Davi para observar a chegada do caminhão, antes do crime, foi
A) o fundo do jardim.                   
B) atrás de um pilar.                         
C) embaixo do tanque de lavar.
D) pequena lateral da casa.         
E) um esconderijo na parede.
7. É característica psicológica do protagonista o fato de ele ser
A) relaxado.    
B) desmotivado.     
C) calculista.        
D) tímido.           
E) jovial.
8. O personagem principal não aprovava o casamento da irmã com Jorge Antar porque
A) o noivo tinha um harém.       
B) o noivo era malandro e mentiroso.        
C) Cláudia não amava o noivo.
D) era muito ciumento.             
E) agia como pai da moça.
9. Todas as frases abaixo são precauções para tornar o crime perfeito, exceto
A) “... pisando sempre na parte cimentada do quintal...”            
B) “Fez sumir na lata de lixo o vidrinho lavado”.
C) “Calçou as luvas que estavam debaixo do travesseiro”.       
D) “... aqueceu-lhes as solas para secá-las mais rapidamente”.   
E) “... contemplou a irmã adormecida.”
10. Ao saber que a polícia estava em sua casa, Davi ficou:                
A) aliviado e feliz.       
B) trêmulo e agitado.              
C) orgulhoso de seu plano.    
D) temeroso de ter sido descoberto.     
E) tranquilo, despreocupado.
11. Apesar de não conhecer o rapaz, Davi concluiu que o entregador de leite era jovem porque
A) entregava o leite com rapidez.                    
B) parecia dançar quando andava.
C) sabia dirigir um furgão.                               
D) a neblina tragava as luzes vermelhas do furgão.
E) acordava de madrugada todos os dias.
12. Para não levantar suspeitas, Davi tomou algumas atitudes com relação à irmã. Uma delas foi:
A) reprimir Cláudia a toda hora.           
B) não lhe dar mais conselho.        
C) não falar mais com ela.
D) contemplar a irmã adormecida.       
E) deixá-la viajar com o noivo.
13. A lógica do título “Crime mais que perfeito” foi fundamentada com o fato de que
A) o personagem principal matou apenas Jorge Antar.     
B) por ironia, Davi matou também a irmã do criminoso.
C) a polícia achava que fosse suicídio.                              
D) tudo fora premeditado com muita perfeição.
E) houve uma total impunidade do protagonista.
14. Com a frase: “Plano feito, perfeito” ,o protagonista concluía que
A) Cláudia casaria com outro homem.      
B) valeria a pena tantas noites em claro.     
C) o crime não seria descoberto.
D) o furgão pararia na rua das margaridas, nº 168.        
E) Cláudia viajaria na véspera do crime.
15. Cláudia Ortiz disse ao irmão que viajaria na sexta-feira para a capital. No entanto, ela se encontrava no (a)
A) companhia do noivo.      
B) shopping, fazendo compras.        
C) quarto de tia Olga.
D) casa de uma amiga.       
E) seu quarto, dormindo.
16. Em “A noite demorou, mas acabou gerando a madrugada”, representa que a(o)(s)
A) noite passava com rapidez.          
B) madrugada demorou a chegar.    
C) era véspera do dia do casamento.
D) horas passaram despercebidas.   
E) tempo estacionou.
17. O fato surpreendente no desfecho da história foi
A) tia Olga gritando desesperadamente.                                           
B) a chegada da polícia na casa de Cláudia.
C) Cláudia não estar preparando o espírito para o casamento.        
D) Jorge Antar ter sido encontrado morto.
E) a morte acidental de Cláudia.
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