segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O Velho e o Mar

Ernest Hemingway 
  
SINOPSE: Depois de passar quase três meses sem fisgar um peixe, escarnecido pelos colegas de profissão, o velho Santiago enfrenta o alto-mar, sozinho, em seu pequeno barco. Quer provar aos outros e a si mesmo que ainda é um bom pescador. É em completa solidão que ele travará uma luta de três dias com um peixe imenso, um animal quase mitológico, que lembra um ancestral literário, a baleia Moby Dick. À medida que o combate se desenvolve, o leitor vai embarcando no monólogo interior de Santiago, em suas dúvidas, sua angústia, sentindo os músculos retesados, a boca salgada e com gosto de carne crua, as mãos úmidas de sangue. Por fim o peixe se dobra à força do pescador. Mas a vitória não será completa – surgem os tubarões. 
Novela da maturidade de Ernest Hemingway, que foi correspondente de guerra e amante das touradas, O Velho e o Mar (1952) é a melhor síntese de sua obra e de sua visão do mundo. Escrito num estilo ágil e nervoso, máxima depuração da prosa jornalística do autor, o livro explora os limites da capacidade humana diante de uma natureza voraz, onde todos os elementos estão permanentemente em luta, numa autodevoração sem fim. 
Análise da Obra: 
A vida é uma harmonia de contrários. Podemos perceber esse fato claramente na obra “O velho e o Mar”. O velho vive numa constante sensação de conflitos internos: velho x criança, sofrimento x prazer, sonho x fracasso, matar ou morrer, “la mar” – feminino: mar generoso, “el mar” – masculino: mar cruel. 
Ser velho é viver numa situação de discriminação social, significa ser “excluído”, viver na solidão. O idoso tem consciência de sua importância, mas a sociedade insiste em descartá-lo, porém, o velho Santiago não se conformando com essa situação, vai à luta, decide provar a si mesmo e aos seus companheiros que ainda é capaz de enfrentar o mar e pescar grandes peixes, busca o reconhecimento através do trabalho.  
O nome “Santiago” significa se auto-conhecer no sofrimento, e é isso mesmo que acontece na obra, Santiago quer mostrar suas forças, mas para isso precisa resgatar o lado “menino” que existe dentro dele, que não envelhece, e vai à busca do encontro consigo mesmo. O mar é o local apropriado para se interiorizar, pois representa a travessia da vida, é um lugar tranqüilo que o leva a refletir e recordar as lembranças. O encontro do velho com a criança que mora dentro de si, é que lhe dá a capacidade de se aventurar, a coragem de persistir nos seus sonhos, proporcionando a disposição de se arriscar, de usar a criatividade na solução dos problemas, de ter esperança, espontaneidade, enfim, de ir à busca do que lhe dá prazer: “pescar”.  
A criança lhe dá a motivação, e forças emocionais para lutar, prosseguir e não desanimar, mas isso não é suficiente, ele precisa também das forças físicas de seu tempo de menino, porém a carcaça envelheceu, o seu corpo e seus braços não correspondem mais aos seus desejos. “Queria muito que o menino estivesse aqui comigo” – queria as forças de menino. 
Mas Santiago não desiste de sua jornada, segue em frente, enfrenta momentos de sofrimento e prazer. A consciência de que tem um objetivo a ser alcançado o faz levantar mesmo com dor, e prosseguir rumo ao seu alvo. Inesperadamente, encontra forças para resistir, agora começa a ver uma saída, anteriormente estava tão confuso que não podia enxergar o que fazer “antes eu não enxergava, agora enxergo”, no momento em que se dispôs a agarrar aquela linha de esperança, podia enfrentar o “peixe” de maneira diferente, a paz interior reina em seu coração.  
No mar o velho afronta uma imensa batalha com o “peixe grande”, que representa seu sonho maior, a luta parece infinita, mas em meio a ela consegue pescar os “peixes menores”, que o alimenta e lhe dão a sustentação do corpo para continuar, renovando-lhe as forças, ou seja, a superação dos problemas mais simples serve de fortalecimento para os desafios maiores, são eles que constroem os degraus para se chegar ao objetivo, e conquistar a vitória.  
O sofrimento faz parte da vida, é um caminho inevitável, seria impossível eliminá-lo, as lutas e batalhas físicas e emocionais são indispensáveis para o nosso crescimento.  Ao mesmo tempo em que Santiago passava por todo o sofrimento, ele tinha prazer em estar travando aquela luta, pois estava fazendo o que gostava: “pescar”, queria fisgar o peixe. “Sou pescador, é pra isso que nasci”.  Se não existir a luta não há o prazer dá vitória, o prazer da conquista dos desafios superados. É através do sofrimento que se origina o prazer.  
Neste duelo está presente o sonho e o fracasso, pois para que um possa vencer, o outro tem que perder. Vivemos numa sociedade competitiva, não basta ser bom, tem que ser o melhor. Para conquistar o sonho é preciso vencer o “peixe grande”, vencer os desafios, vencer a concorrência, que por sinal é muito grande. A sociedade se preocupa com o resultado final e não com a travessia, o nosso valor é a nossa capacidade, a nossa preparação –  “sorte é o encontro de oportunidade com a capacidade”.  
Na obra o velho diz, “eu gosto do peixe, tenho dó”, mas eu preciso ser melhor, tenho que sobreviver, é ele ou eu, é matar ou morrer, estamos numa corrida contra o tempo. O peixe grande a ser enfrentado pode até mesmo ser uma pessoa que você gosta como aconteceu com o velho Santiago, querer pescá-lo não significa ser este um inimigo.  
E depois de ter pescado o peixe, não é permitido parar no tempo, pois quando você acha que está tudo bem, na maior calmaria, vem aquele tubarão para você enfrentar. Tudo parece não ter fim, o velho, às vezes não dormia e não comia, a luta era constante, vence um obstáculo aqui, logo surge outro ali, e outro acolá, e nem sempre sairemos vitoriosos, pois o fracasso também faz parte da vida, tira-nos do comodismo, mostra que somos imperfeitos e que precisamos ser lapidados, não devemos encarar o fracasso como uma derrota, e sim como uma lição que ensina-nos a ser mais fortes e persistentes nos objetivos almejados. Temos que vencer os tubarões de cada dia, eles estão sempre prontos para nos atacar, a vitória (sangue) chama a atenção do inimigo (tubarão), e incomoda os adversários que virão com toda a fúria tentar minar o teu sucesso, tirarem proveito da situação (comer parte da carne), para isso você precisa estar preparado para não ficar no meio do caminho, apenas com os ossos secos e as cicatrizes na mão.  
A luta é individual, cada pessoa vem sozinha ao mundo, atravessa a vida como uma pessoa separada, e finalmente morre sozinha. A solidão é um sentimento interno, é o momento em que sente que está só, até mesmo estando cercado de pessoas. Como não poderia ser diferente, o velho Santiago faz a travessia pelo mar da vida, sozinho, curtindo a solidão e a aventura no alto mar. As  fases de passagem pelo mar o faz refletir e agradecer à Deus, porque mesmo atravessando por um período difícil, sua situação era melhor do que a de outras pessoas. “A aves tem uma vida mais dura que a nossa.” As muitas experiências ali vividas, serviram para a manifestação e o fortalecimento de suas próprias forças diante dos problemas e dificuldades, tornando sua base mais forte e sólida.  
O título “O velho e o Mar” remete-nos a idéia de que a vida está passando. O velho já atravessou por todas as fases da vida, e o mar representa essa travessia que proporcionou a ele grandes experiências vividas, às vezes o mar é bom, outras vezes é ruim, temos que aprender a conviver com o bem e com o mal. A obra é escrita de forma clara, simples e objetiva, suas orações são curtas e diretas, com poucos adjetivos. Ernest Hemingway, influenciado e inspirado pela profissão de “jornalismo”, comunica-se com o leitor de forma autêntica, com isso consegue transmitir uma grande lição de vida ao apresentar a luta desesperada de Santiago,  que resume-se ao “desejo de vencer”. Ensina-nos  que em certos momentos é preciso ceder o controle da direção, deixar-se levar pela maré, sem resistência.  A situação pode estar difícil, mas não devemos desanimar diante dos obstáculos, é preciso ter perseverança, pois o sofrimento não vem para nos derrotar e sim para nos tornar mais fortes, para nos lapidar e fazer de nós uma jóia inigualável. É preciso passar pela luta para se chegar à vitória, e que nem sempre podemos vencer, mas no fim sempre podemos tirar uma lição da batalha travada. Assim como a felicidade é passageira, o sofrimento não é eterno, sem dor não existe prazer, nos momentos de dificuldades precisamos enxergar os lindos peixes coloridos que nos rodeiam, pois são eles que iluminam e dão coloração para a vida, senão a história escrita por você ficará em “preto e branco”.  
Por Marli Savelli de Campos

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