segunda-feira, 10 de abril de 2017

A imagem pode conter: flor e planta 

03 – O PARADOXO DA MISÉRIA

         O Brasil é o mais rico entre os países com maior número de pessoas miseráveis. Isso torna inexplicável a pobreza extrema de 23 milhões de brasileiros, mas mostra que o problema pode ser atacado com sucesso.
         Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, os miseráveis representavam, 25 anos atrás, alguma coisa em torno de 17% da população. O índice mais recente divulgado pelo mesmo instituto informa que a taxa de miséria está em 14,5%. Trata-se de uma queda muito pequena diante do amadurecimento social, econômico e político registrado no período. Queda proporcional, diga-se, pois em números absolutos o número de desamparados, incapazes de sair de sua situação sem ajuda, aumentou. Eram cerca de 23 milhões hoje.
         Miséria é palavra de significado impreciso, como de resto a maior parte dos termos que se referem à camada menos favorecida da sociedade. O que exatamente quer dizer “pobreza” ou “indigência”? Como identificar um pobre? Como ter certeza de que existem 14,5% de miseráveis, e não 10% ou 20%? Não haveria subjetividade demais nessas estatísticas? Em geral, cada um percebe a miséria por sua experiência pessoal, como definiu a americana Mollie Orshansky, uma das maiores especialistas no assunto: “A pobreza, tal qual a beleza, está nos olhos de quem a vê”. Para efeito estatístico, no entanto, os estudiosos chegaram a uma definição quase matemática sobre o que são miséria e pobreza. Conseguiram estabelecer duas grandes linhas. Uma delas é a linha de pobreza, abaixo da qual estão as pessoas cuja renda não é suficiente para cobrir os custos mínimos de manutenção da vida humana: alimentação, moradia, transporte e vestuário. Isso num cenário em que educação e saúde são fornecidas de graça pelo governo. Outra é a linha de miséria (ou de indigência), que determina quem não consegue ganhar o bastante para garantir aquela que é a mais básica das necessidades: a alimentação. No caso brasileiro, há 53 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza. Destas, 30 milhões vivem entre a linha de pobreza e acima da linha de miséria. Cerca de 23 milhões estariam na situação que se define como indigência ou miséria.
         Reforçando, para evitar confusão: a pobreza no Brasil é formada por dois grandes grupos. Há 30 milhões de pessoas vivendo com extrema dificuldade, donas de uma renda mensal per capita inferior a 80 reais. E há mais 23 milhões que vivem ainda em pior situação, sobrevivendo de maneira primitiva. Não ganham dinheiro bastante para comprar todos os dias alimentos em quantidade mínima necessária à manutenção saudável de uma vida produtiva – ou seja, algo em torno de 2000 calorias. [...] Esse é o chamado flagelo social. [...]
         [...]
         [...] Segunda o último estudo disponível sobre o assunto, realizado pelos técnicos da Organização das Nações Unidas, existem 830 milhões de miseráveis no planeta. [...]
         Com seus 23 milhões de miseráveis, o Brasil representa 3% do problema mundial. Pode parecer pouco. [...] Um mergulho qualitativo sobre a questão dá a devida coloração à situação brasileira. Para isso, tome-se o ranking dos países com renda per capita semelhante à brasileira. São eles México, Bulgária, Chile e Costa Rica. Sabe qual tem taxa de pobreza equivalente à brasileira? Nenhum. O pior deles, a Costa Rica, tem proporcionalmente pouco mais da metade do número de pobres do Brasil. As comparações internacionais trabalham com a certeza de que todos os países revelam dados confiáveis. Pode-se olhar a questão sob outro prisma, mas nem por isso o quadro fica menos dramático.
         Observe-se o ranking dos países segundo o porcentual da população vivendo abaixo da linha de pobreza. Onde está o Brasil? Está ao lado de Botsuana, República Dominicana, Mauritânia e Guiné. Ocorre que, entre nossos “colegas de fome”, digamos assim, a renda per capita varia entre 15% e metade da renda brasileira. Ou seja, não importa de que ângulo se olhe, o Brasil é hoje o país mais rico do mundo com a maior taxa de pobreza. A isso se chama injustiça social.
         [...]
         [...] O Brasil aparece todos os anos nas listagens internacionais como um dos países com maior concentração de renda do planeta. Significa dizer que, apesar de não se tratar de uma nação pobre, perpetua-se um fosso gigantesco entre a base e o topo da pirâmide. No país mais rico do mundo, os Estados Unidos, a diferença de renda média entre os 20% mais pobre e os 20% mais ricos é de oito vezes. Na Alemanha, ela é de seis vezes. Nas nações do Terceiro Mundo, a conta é mais desigual, mas nada se compara ao Brasil. No Chile, a diferença é de dezoito vezes e na Guatemala, de trinta. Pois bem: em solo pátrio, essa diferença é de 33 vezes. Numericamente, isso pode ser traduzido de outras formas: 1% da população, a parcela mais rica, detém a mesma quantidade de recursos que os 50% mais pobres. Outro modo de ver esse problema é tomando como base os 10% mais ricos. Juntos, eles concentram metade da renda nacional.
                                                                             Veja, n 3,23 jan. 2002, p. 82-93.
1 – Analise as observações que o jornalista faz sobre o índice miseráveis no Brasil, na parte inicial do texto.
a)     O jornalista informa que o índice de miseráveis no Brasil era de aproximadamente 17% “25 anos atrás”; atrás de que ano?
Atrás de 2002, ano de publicação da reportagem. O objetivo é levar o aluno a buscar o significado de referências contextuais.
b)    Segundo o jornalista, a queda de 17% para 14,5% no índice de miseráveis no Brasil, no período de 25 anos, foi “muito pequena”: pequena em relação a quê?
Pequena em relação ao desenvolvimento social, econômico e político no mesmo período.
2 – O jornalista discute o significado da palavra miséria.
a)     Miséria é “palavra de significado impreciso”; explique por quê.
Porque não tem um significado único, exato, certo.
b)    Explique a frase: “A pobreza, tal qual a beleza, está nos olhos de quem a vê”.
O significado de pobreza e de beleza varia de pessoa para pessoa; cada pessoa tem um conceito próprio de pobreza e de beleza; o que é pobreza ou beleza para uma pessoa pode não ser para outra.
3 – Referindo-se às estatísticas sobre número e porcentagem de miseráveis no Brasil, o jornalismo pergunta:
         “Não haveria subjetividade demais nessas estatísticas?”
a)     Que subjetividade poderia haver nas estatísticas?
Estarem fundamentadas num conceito pessoal, subjetivo de miséria, de pobreza; apresentarem números dependentes de uma definição pessoal, subjetiva de pessoas pobres ou miseráveis.
b)    De que forma é evitada a subjetividade nas estatísticas sobre a miséria e a pobreza?
Estabelecendo uma definição quase matemática de miséria e pobreza.
4 – As estatísticas estabelecem uma diferença entre miséria e pobreza;  qual é a diferença?
       Pobreza é a situação de pessoas que não tem renda suficiente para garantir as necessidades básicas de alimentação, moradia, transporte e vestuário; miséria é a situação de quem não tem condições de garantir nem mesmo a alimentação.
5 – O número de miseráveis no Brasil representa 3% do número de miseráveis que há no mundo; segundo o jornalista, isso pode parecer pouco em quantidade, mas, em qualidade, não é pouco.
Identifique e escreva, em seu caderno, as frases que, entre as seguintes, expressam as justificativas em que o jornalista fundamenta essa afirmação:
- Ter 3% dos miseráveis do mundo significa ter 23 milhões de miseráveis, o que não pode ser considerado pouco.
- Em países em que a renda per capita é semelhante à brasileira, o número de pobres é menor.
- há países em que a taxa de pobreza é semelhante à brasileira, embora a renda per capita seja menor.
- O fato de haver um número muito grande de miseráveis no mundo não diminui a gravidade do problema brasileiro.
04 – GERAÇÃO TIPO ASSIM
         Imagens comparativas e novas gírias reacendem a discussão sobre a erosão da linguagem entre os jovens.
         Ao adolescente dos anos 90 que não consegue entender o que se conversa numa roda de contemporâneos, resta o consolo de não pertencer aos grupos acusados de promoverem a chamada erosão da linguagem. Para esses grupos, segundo estudiosos como o poeta, tradutor e ensaísta José Paulo Paes, tem sido cada vez mais cômodo seguir o caminho das imagens comparativas, evitando expor o próprio potencial intelectual ao risco de um raciocínio elaborado. Não é à toa que um dos recursos mais usados hoje para facilitar a explicação de uma ideia é o “tipo assim” (“Ele é um cara tipo assim...”). [...]
         Enquanto a discussão volta a mobilizar estudiosos, novas gírias são criadas e absorvidas numa velocidade impressionante. [...] “A conversa de adolescentes é feita de diálogos exclamativos e sem fluência, próprios de quem apenas reafirma um comportamento de grupo”, alerta Paes. O poeta reconhece, no entanto, que “existem gírias muito saborosas”. Mas restringe: “Gíria é coisa de moda. Muitas vezes você substitui uma boa intensão verbal de gírias anteriores sem que haja ganhos expressivos.”
         Em outra vertente, o escritor Affonso Romano de Sant´Anna acha normal que cada grupo social crie sua própria linguagem. “E os jovens que passaram a existir socialmente a partir dos anos 60, coma emergência do poder juvenil, também tem a sua linguagem”, diz. “Esse é um fato que não recrimino nem reprovo, mas sua constatação é inevitável.” O escritor vê a leitura como única solução para as divergências entre as linguagem usadas por jovens e adultos. “É lendo que você aumenta seu vocabulário”, sugere.
         Affonso Romano observa que hoje os jovens não são a única tribo a usar uma linguagem própria, de difícil entendimento por quem está de fora: “O mesmo acontece, por exemplo, com o pessoal que mexe com computador. Sua linguagem é restrita, falava em códigos.” [...]
         Os adolescentes não vêem problema no uso de gírias e expressões recém-criadas, e julgam seu vocabulário “inofensivo”. “As gírias são um meio muito legal de se comunicar e simplificar as coisas. Além disso, é irado falar de um jeito que os professores e o pessoal lá de casa não entendam”, diz Thiago, 16 anos.
         “A moda não muda? A de coração não muda? Qual é o problema de atualizar também o vocabulário?”, questiona Tatiana, 17 anos. Sua colega Maíra, 16 anos, tenta explicar o uso frequente de expressões, como o tipo assim: “Você quer falar alguma coisa e descobre uma expressão que consegue resumir seu pensamento. O tipo assim é o espaço que a gente usa para pensar e articular as palavras. É impossível contar uma história sem usar pelo menos um aí”.
         “As gírias mudam e não vão deixar de existir. A gente não fala mais é uma brasa, mora? Que era moda nos anos 70. No lugar disso, falamos outras coisas”, justifica o estudante Marcos, 17 anos. “O mais legal disso tudo é que ampliamos o nosso vocabulário”, opina Thiago, afirmando em seguida: “Eu também sei falar formalmente, mas não gosto. Não me dirijo ao padre do colégio com um, aí velhinho. Estou apto a usar a linguagem formal, quando necessário.”
         A babel de gírias também afeta os diferentes grupos da mesma geração. “Tenho amigos que convivem com o pessoal que frequenta bailes funk. Eles usam gírias próprias e eu não entendo nada”, conta Tatiana. “Não vejo problema nenhum no fato das tribos não se entenderem. A gente traduz e aprende cada vez mais”, assegura Gabriel, 17 anos.
                                                      Jornal do Brasil, Caderno B, 5 maio 199, p. 7.
         (O sobrenome dos adolescentes citados e o nome do colégio em que estudam foram omitidos.)
1 – Identifique a data em que a reportagem foi publicada, observe as palavras com que ela começa e responda:
a)     A reportagem se refere a adolescentes de que época?
Dos anos 90 do século XX.
b)    Quanto tempo separa os adolescentes de que época?
A resposta depende da época em que a questão estiver sendo respondida; provavelmente, de 10 a 15 anos.
c)     Os adolescentes atuais também tem um modo próprio de usar a língua, como os adolescentes da reportagem? Tem opiniões semelhantes às dos adolescentes citados na reportagem?
Resposta pessoal; o mais provável é que a resposta seja sim, já que adolescentes de qualquer época usam gírias e defendem esse uso.
2 – Releia a primeira frase da reportagem: ela se refere a um adolescente par quem resta um consolo.
a)     Se resta um consolo, significa que esse adolescente tem um problema de que precisa ser consolado; qual é o problema?
Não consegue entender a conversa de outros adolescentes como ele.
b)    Que consolo resta ao adolescente? Por que isso é um consolo?
O consolo de não pertencer aos grupos acusados de promoverem a erosão da linguagem. É um consolo porque esses grupos são criticados, censurados, depreciados.
3 – As opiniões de José Paulo Paes citadas na reportagem coincidem com as que ele dá na entrevista reproduzida reproduzida nas páginas 169-170? Comprove sua resposta comparando palavras do escritor na reportagem e na entrevista.
       O objetivo é que o aluno identifique os mesmos pensamentos expressos de formas diferente.
4 – Observe a expressão que introduz o terceiro parágrafo:
       “Em outra vertente...”
a)     Que relação essa expressão estabelece entre o que se vai dizer em seguida e o que se disse antes?
Relação de oposição, de contraste, de divergência.
b)    Cite outras expressões que poderiam ser usadas para introduzir o terceiro parágrafo.
Resposta pessoal; exemplos: Ao contrário, ...Em oposição, ...Assumindo outra posição, ...Diferentemente,
5 – Confronte as palavras de Affonso Romano de Sant´Anna com as de José Paulo Paes:
a)     Os dois escritores tem opiniões diferentes em relação à linguagem dos jovens: qual é a diferença?
José Paulo Paes recrimina, censura a linguagem dos jovens; Affonso Romano acha normal que os jovens tenham sua própria linguagem.
b)    Com qual dos dois escritores você concorda? Ou não concorda com nenhum dos dois? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal.

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