quinta-feira, 27 de outubro de 2016

 Ao emigrar em busca de lugares mais quentes, os gansos voam na típica formação em “V”. Sabe por quê?

Quando um ganso bate as asas cria um vácuo para o pássaro seguinte. Voando na formação em “V”, o bando inteiro tem o seu desempenho 71% melhor do que se cada um voasse sozinho.
Lição: As pessoas que dividem uma direção em comum e têm senso de comunidade chegam mais rápido e mais facilmente a seu destino, porque estão viajando baseadas na confiança.

Sempre que um ganso sai da formação, sente imediatamente a resistência por tentar voar sozinho e, rapidamente, volta para a formação, aproveitando o vácuo deixado pela ave imediatamente à sua frente.
Lição: Se tivermos sensibilidade e bom-senso, permaneceremos alinhados e unidos com aqueles que buscam o mesmo objetivo, e nos disporemos a aceitar a sua ajuda, assim como prestar a nossa ajuda quando necessário. A força, o poder e a segurança aumentam quando seguimos na mesma direção daqueles com quem dividimos um objetivo em comum. As metas serão alcançadas mais fácil e rapidamente.

Quando o ganso líder se cansa, muda para trás na formação e, imediatamente, um outro ganso assume o lugar, voando para a posição da ponta.
Lição: Todos devem apoiar nas tarefas mais pesadas e compartilhar a liderança. Compartilhar e combinar dons, talentos e recursos. Não é preciso ser “chefe” para ser líder. O verdadeiro líder se conhece pelas suas atitudes. As pessoas, assim como os gansos, são dependentes umas das outras.

Os gansos de trás grasnam para encorajar os da frente, e aumentar a velocidade.
Lição: Quando há encorajamento o progresso é maior. Todos precisam ser encorajados com elogios e palavras de ânimo, inclusive o líder.

Finalmente, quando um ganso adoece ou está ferido, e cai, dois gansos saem da formação e o seguem, para ajudá-lo e protegê-lo. Eles ficam com ele até que seja capaz de voar novamente, e depois começam uma nova formação ou partem em busca de seu grupo.
Lição: Numa equipe, todos podem passar por dificuldades e precisarão apoiar-se mutuamente.           

Se nos mantivermos um ao lado do outro, apoiando-nos mutuamente. Se tornarmos realidade o espírito de equipe. Se apesar das diferenças pudermos formar um grupo humano para enfrentar qualquer tipo de situações. Se entendermos o verdadeiro valor da amizade. Se tivermos consciência do sentimento de partilha. A vida será mais simples, trabalhar em equipe vai ser prazeroso, alcançaremos as metas e objetivos, e todos ficarão felizes.



Marco Fabossi

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

                             Nossa Língua Portuguesa


 
NOSSA LÍNGUA  PORTUGUESA
Custas só se usa na linguagem jurídica para designar despesas feitas no processo. Portanto, devemos dizer: “O filho vive à custa do pai”. No singular.
Não existe a expressão à medida em que. Ou se usa à medida que correspondente a à proporção que, ou se usa na medida em que equivalente a tendo em vista que.
 O certo é a meu ver e não ao meu ver.
 A princípio significa inicialmente, antes de mais nada: Ex: A princípio, gostaria de dizer que estou bem. Em princípio quer dizer em tese. Ex: Em princípio, todos concordaram com minha sugestão.
À-toa, com hífen, é um adjetivo e significa “inútil”, “desprezível”. Ex: Esse rapaz é um sujeito à-toa. À toa, sem hífen, é uma locução adverbial e quer dizer “a esmo”, “inutilmente”. Ex: Andava à toa na vida.
Com a conjunção se, deve-se utilizar acaso, e nunca caso. O certo: “Se acaso vir meu amigo por aí, diga-lhe…” Mas podemos dizer: “Caso o veja por aí…”.
Acerca de quer dizer a respeito de. Veja: Falei com ele acerca de um problema matemático. Mas há cerca de é uma expressão em que o verbo haver indica tempo transcorrido, equivalente a faz. Veja: Há cerca de um mês que não a vejo.
Não esqueça: alface é substantivo feminino. A Alface está bem verdinha.
Além pede sempre o hífen: além-mar, além-fronteiras, etc.
Algures é um advérbio de lugar e quer dizer “em algum lugar”. Já alhures significa “em outro lugar”.
 Mantenha o timbre fechado do o no plural dessas palavras: almoços, bolsos, estojos, esposos, sogros, polvos, etc.
O certo é alto-falante, e não auto-falante.
 O certo é alugam-se casas, e não aluga-se casas. Mas devemos dizer precisa-se de empregados, trata-se de problemas. Observe a presença da preposição (de) após o verbo. É a dica pra não errar.
 Depois de ditongo, geralmente se emprega x. Veja: afrouxar, encaixe, feixe, baixa, faixa, frouxo, rouxinol, trouxa, peixe, etc.
Ancião tem três plurais: anciãos, anciães, anciões.
Só use ao invés de para significar ao contrário de, ou seja, com idéia de oposição. Veja: Ela gosta de usar preto ao invés de branco. Ao invés de chorar, ela sorriu. Em vez de quer dizer em lugar de. Não tem necessariamente a idéia de oposição. Veja: Em vez de estudar, ela foi brincar com as colegas. (Estudar não é antônimo de brincar).
 Ainda se vê e se ouve muito aterrisar em lugar de aterrissar, com dois s. Escreva sempre com o s dobrado.
 Não existe preço barato ou preço caro. Só existe preço alto ou baixo. O produto, sim, é que pode ser caro ou barato. Veja: Esse televisor é muito caro. O preço desse televisor é alto.
 Ainda se vê muito, principalmente na entrada das cidades, a expressão bem vindo (sem hífen) e até benvindo. As duas estão erradas. Deve-se escrever bem-vindo, sempre com hífen.
Atenção: nunca empregue hífen depois de bi, tri, tetra, penta, hexa, etc. O nome fica sempre coladinho. O Sport se tornou tetracampeão no ano 2000. O Náutico foi hexacampeão em 1968. O Brasil foi bicampeão em 1962.
Veja bem: uma revista bimensal é publicada duas vezes ao mês, ou seja, de 15 em 15 dias. A revista bimestral só sai nas bancas de dois em dois meses. Percebeu a diferença?
 Hoje, tanto se diz boêmia como boemia. Nelson Gonçalves consagrou a segunda, com a tonacidade no mia.
 Cuidado: Eu caibo dentro daquela caixa. A primeira pessoa do presente do indicativo assim se escreve porque o verbo é irregular.
 Preste atenção: o senador Luiz Estêvão foi cassado. Mas o leão foi caçado e nunca foi achado. Portanto, cassar (com dois s) quer dizer tornar nulo, sem efeito.
 Existem palavras que só devem ser empregadas no plural. Veja: os óculos, as núpcias, as olheiras, os parabéns, os pêsames, as primícias, os víveres, os afazeres, os anais, os arredores, os escombros, as fezes, as hemorróidas, etc.
Pouca gente tem coragem de usar, mas o plural de caráter é caracteres. Então, Carlos pode ser um bom-caráter, mas os dois irmãos dele são dois maus-caracteres.
 Cartão de crédito e cartão de visita não pedem hífen. Já cartão-postal exige o tracinho.
 Catequese se escreve com s, mas catequizar é com z. Esse português…
 O exemplo acima foge de uma regrinha que diz o seguinte: os verbos derivados de palavras primitivas grafadas com s formam-se com o acréscimo do sufixo -ar: análise-analisar, pesquisa-pesquisar, aviso-avisar, paralisia-paralisar, etc.
Censo é de recenseamento; senso refere-se a juízo. Veja: O censo deste ano deve ser feito com senso crítico.
Você não bebe a champanhe. Bebe o champanhe. É, portanto, palavra masculina.
 Cidadão só tem um plural: cidadãos.
Cincoenta não existe. Escreva sempre cinquenta
Ainda tem gente que erra quando vai falar gratuito e dá tonicidade ao i, como de fosse gratuíto. O certo é gratuito, da mesma forma que pronunciamos intuito, circuito, fortuito, etc.
E ainda tem gente que teima em dizer rúbrica, em vez de rubrica, com a sílaba bri mais forte que as outras. Escreva e diga sempre rubrica.
 Ninguém diz eu coloro esse desenho. Dói no ouvido. Portanto, o verbo colorir é defectivo (defeituoso) e não aceita a conjugação da primeira pessoa do singular do presente do indicativo. A mesma coisa é o verbo abolir. Ninguém é doido de dizer eu abulo. Pra dar um jeitinho, diga: Eu vou colorir esse desenho. Eu vou abolir esse preconceito.
 Outro verbo danado é computar. Não podemos conjugar as três primeiras pessoas: eu computo, tu computas, ele computa. A gente vai entender outra coisa, não é mesmo? Então, para evitar esses palavrões, decidiu-se pela proibição da conjugação nessas pessoas. Mas se conjugam as outras três do plural: computamos, computais, computam.
 Outra vez atenção: os verbos terminados em -uar fazem a segunda e a terceira pessoa do singular do presente do indicativo e a terceira pessoa do imperativo afirmativo em -e e não em -i. Observe: Eu quero que ele continue assim. Efetue essas contas, por favor. Menino, continue onde estava.
 A propósito do item anterior, devemos lembrar que os verbos terminados em -uir devem ser escritos naqueles tempos com -i, e não -e. Veja: Ele possui muitos bens. Ela me inclui entre seus amigos de confiança. Isso influi bastante nas minhas decisões. Aquilo não contribui em nada com o progresso.
 Coser significa costurar. Cozer significa cozinhar.
 O correto é dizer deputado por São Paulo, senador por Pernambuco, e não deputado de São Paulo e senador de Pernambuco.
 Descriminar é absolver de crime, inocentar. Discriminar é distinguir, separar. Então dizemos: Alguns políticos querem descriminar o aborto. Não devemos discriminar os pobres.
 Dia a dia (sem hífen) é uma expressão adverbial que quer dizer todos os dias, dia após dia. Por exemplo: Dia a dia minha saudade vai crescendo. Enquanto que dia-a-dia é um substantivo que significa cotidiano e admite o artigo: O dia-a-dia dessa gente rica deve ser um tédio.
A pronúncia certa é disenteria, e não desinteria.
 A palavra dó (pena) é masculina. Portanto, “Sentimos muito dó daquela moça”.
Nas expressões é muito, é pouco, é suficiente, o verbo ser fica sempre no singular, sobretudo quando denota quantidade, distância, peso. Ex: Dez quilos é muito. Dez reais é pouco. Dois gramas é suficiente.
 Há duas formas de dizer: é proibido entrada, e é proibida a entrada. Observe a presença do artigo a na segunda locução.
 Já se disse muitas vezes, mas vale repetir: televisão em cores, e não a cores.
 Cuidado: emergir é vir à tona, vir à superfície. Por exemplo: O monstro emergiu do lago. Mas imergir é o contrário: é mergulhar, afundar. Veja o exemplo: O navio imergiu em alto-mar.
 A confusão é grande, mas se admitem as três grafias: enfarte, enfarto e infarto.
 Outra dúvida: nunca devemos dizer estadia em lugar de estada. Portanto, a minha estada em São Paulo durou dois dias. Mas a estadia do navio em Santos só demorou um dia. Portanto, estada para permanência de pessoas, e estadia para navios ou veículos.
 E não esqueça: exceção é com ç, mas excesso é com dois s.
Lembra-se dos verbos defectivos? Lá vai mais um: falir. No presente do indicativo só apresenta a primeira e a segunda pessoa do plural: nós falimos, vós falis. Já pensou em conjugá-lo assim: eu falo, tu fales…Horrível, né?
Todas as expressões adverbiais formadas por palavras repetidas dispensam a crase: frente a frente, cara a cara, gota a gota, face a face, etc.
 Outra vez tome cuidado. Quando for ao supermercado, peça duzentos ou trezentos gramas de presunto, e não duzentas ou trezentas. Quando significa unidade de massa, grama é substantivo masculino. Se for a relva, aí sim, é feminino: não pise na grama; a grama está bem crescida.
 É freqüente se ouvir no rádio ou na TV os entrevistados dizerem: Há muitos anos atrás… Talvez nem saibam que estão construindo uma frase redundante. Afinal, há já dá idéia de passado. Ou se diz simplesmente Há muito anos… ou Muitos anos atrás. Escolha. Mas não junte o há com atrás.
 Cuidado nessa arapuca do português: as palavras paroxítonas terminadas em -n recebem acento gráfico, mas as terminadas em -ns não recebem: hífen, hifens; pólen, polens.
 Atenção: Ele interveio na discórdia, e não interviu. Afinal, o verbo é intervir, derivado de vir.
Item não leva acento. Nem seu plural itens.
O certo é a libido, feminino. Devo dizer: Minha libido hoje não tá legal.
Todo mundo gosta de dizer magérrima, magríssima, mas o superlativo de magro é macérrimo. Antes de particípios não devemos usar melhor nem pior. Portanto, devemos dizer: os alunos mais bem preparados são os do 2o grau. E nunca: os alunos melhor preparados…
Essa história de mal com l, e mau com u, até já cansou: É só decorar: Mal é antônimo de bem, e mau é antônimo de bom. É só substituir uma por outra nas frases para tirar a dúvida.
Pronuncie máximo, como se houvesse dois s no lugar do x. (mássimo)
Toda vez que disser “É meio-dia e meio” você estará errando. O certo é: meio-dia e meia. Ou seja, meio dia e meia hora.
Não tenho nada a ver com isso, e não haver com isso.
Nem um nem outro leva o verbo para o singular: Nem um nem outro conseguiu cumprir o que prometeu.
Toda vez que usar o verbo gostar tenha cuidado com a ligação que ele tem com a preposição de. Ex: a coisa de que mais gosto é passear no parque. A pessoa de que mais gosto é minha mãe.
 Lembre-se: pára, com acento, é do verbo parar, e para, sem acento, é a preposição. Portanto: Ele não pára de repetir para o amigo que tem um carro novo.
 Fique atento: nunca diga nem escreva 1 de abril, 1 de maio. Mas sempre: primeiro de abril, primeiro de maio. Prevalece o ordinal.
É chato, pedante ou parece ser errado dizer “quando eu vir Maria, darei o recado a ela”. Mas esse é o emprego correto do verbo ver no futuro do subjuntivo. Se eu vir, quando eu vir. Mas quando é o verbo vir que está na jogada, a coisa muda: quando eu vier, se eu vier.
 Só use quantiapara somas em dinheiro. Para o resto, pode usar quantidade. Veja: Recebi a quantiade 20 mil reais. Era grande a quantidade de animais no meio da pista.
 Não esqueça: retificar é corrigir, e ratificar é comprovar, reafirmar: “Eu ratifico o que disse e retifico meus erros.
 Quando disser ruim, diga como se a sílaba mais forte fosse -im. Não tem cabimento outra pronúncia.
Fique atento: só empregamos São antes de nomes que começam por consoante: São Mateus, São João, São Tomé, etc. Se o nome começa por vogal ou h, empregamos Santo: Santo Antonio, Santo Henrique, etc.
E lembre-se: Seção, com ç, quer dizer parte de um todo, departamento: a seção eleitoral, a seção de esportes. Já sessão, com dois s, significa intervalo de tempo que dura uma reunião, uma assembléia, um acontecimento qualquer: A sessão do cinema demorou muito tempo. A sessão espírita terminou.
 Não confunda: senão, juntinho, quer dizer “caso contrário”. E se não, separado, equivale a “se por acaso não”. Veja: Chegue cedo, senão eu vou embora. Se não chegar cedo, eu vou embora. Percebeu a diferença?
; Tire esta dúvida: quando só é adjetivo equivale a sozinho e varia em número, ou seja, pode ir para o plural. Mas só como advérbio, quer dizer somente. Aí não se mexe. Veja: Brigaram e agora vivem sós (sozinhos). Só (somente) um bom diálogo os trará de volta.
É comum vermos no rádio e na TV o entrevistado dizer: “O que nos falta são subzídios”. Quer dizer, fala com a pronúncia do z. Mas não é: pronuncia-se ss. Portanto, escreva subsídio e pronuncie subssídio.
; Taxar quer dizer “tributar”, “fixar preço”. Tachar é “atribuir defeito”, “acusar”.
E nunca diga: Eu torço para o Flamengo. Quem torce de verdade, torce pelo Flamengo.
Todo mundo tem dúvida, mas preste atenção: 50% dos estudantes passaram nos testes finais. Somente 1% terá condições de pagar a mensalidade. Acreditamos que 20% do eleitorado se abstenha de votar nas próximas eleições. Mais exemplos: 10% estão aptos a votar, mas 1% deles preferem fugir das urnas. Quer dizer, concorde com o mais próximo e saiba que essa regra é bastante flexível.
 Um dos que deixa dúvidas. Há gramáticos que aceitam o emprego do singular depois dessa expressão. Mas pela norma culta, devemos pluralizar: Eu sou um dos que foram admitidos. Sandra é uma das que ouvem rádio.
 Veado se escreve com e, e não com i.
Esse português da gente tem cada uma: tem viagem com g e viajem com j. Tire a dúvida: viagem é o substantivo: A viagem foi boa. Viajem é o verbo: Caso vocês viajem, levem tudo.
O prefixo vice sempre se separa por hífen da palavra seguinte: vice-prefeito, vice-governador, vice-reitor, vice-presidente, vice-diretor, etc.
Geralmente, se usa o x depois da sílaba inicial -en: enxaguar, enxame, enxergar, enxaqueca, enxofre, enxada, enxoval, enxugar, etc. Mas cuidado com as exceções: encher e seus derivados (enchimento, enchente, enchido, preencher, etc) e quando -en se junta a um radical iniciado por ch: encharcar (de charco), enchumaçar (de chumaço), enchiqueirar (de chiqueiro), etc.
 Não adianta teimar: chuchu se escreve mesmo é com ch.
Ciclo vicioso não existe. O correto é círculo vicioso.
 E qual a diferença entre achar e encontrar? Use achar para definir aquilo que se procura, e encontrar para aquilo que, sem intenção nenhuma, se apresenta à pessoa. Veja: Achei finalmente o que procurava. Maria encontrou uma corda debaixo da cama. Jorge achou o gato dele que fugiu na semana passada.
 Adentro é uma palavra só: meteu-se porta adentro. A lua sumiu noite adentro.
 Não existe adiar para depois. Isso é redundante, porque adiar só pode ser para depois.
Afim (juntinho) tem relação com afinidade: gostos afins, palavras afins. A fim de (separado) equivale a para: Veio logo a fim de me ver bem vestido.
Pode parecer meio estranho, mas pode conjugar o verbo aguar normalmente: eu águo, tu águas, ele água, nós aguamos, vós aguais, eles águam.
 Centigrama é palavra masculina: dois centigramas.

Regras

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APRENDENDO A SER ÁGUIA

AGUIA
A mãe águia decidiu que aquele seria o dia de iniciar o jovem filhote na sociedade das Águias.
Teria que lhe mostrar que ser Águia é ser diferente de qualquer outro ser. É ter que voar sempre mais alto que os outros.
Levou-o para fora do ninho. Há meses que o jovenzinho vivia ali, protegido, recebendo tudo pronto, ora do pai ora da mãe. Ninguém vinha incomodá-lo. Mãe ou pai, sempre um deles estava nas redondezas protegendo-o, cobrindo-o de plumas, trazendo-lhe iguarias das mais variadas e sempre gostosas.
Ao transpor as paredes do ninho, titubeou. Epa! Não estava acostumado a caminhos diferentes. A mãe sorriu e resistiu à tentação materna de ampará-lo.
Era necessário que o jovem filhote fosse sentindo seus limites, suas forças e fraquezas. Afinal, a única imagem que sempre tivera era a do pai e da mãe. Águias no sentido pleno da palavra é símbolo da imortalidade, do ser vivo sem limites em busca do inacessível aos humanos; símbolo da visão que consegue perscrutar o inescrutável, o invisível, o espiritual, tal qual João, o Evangelista, que conseguiu ver Deus no Verbo e o Verbo, que é Deus, feito Homem; símbolo do poder que paira nas alturas, bem acima do mortal e destrutível, assumido pelo Deus como guia em meio da elevação espiritual; símbolo da imortalidade e dos que conseguem sobrepujar a todos e a tudo, mesmo à morte e, por isso, visto pelos gregos, como a figura mais próxima da realidade de Zeus, o Deus grego todo poderoso;
Enfim, pensava a jovem mãe, tinha que passar para o jovem filhote toda essa história da dinastia, sem se esquecer, é claro, dos povos e grandes conquistadores que decidiram ostentar, em seus escudos e em seus brasões, a figura altiva, de asas amplas, abraçando o universo, de olhar perscrutaste, fixo no horizonte, de garras afiadas que tanto atacam quando defendem. Mas, também, o símbolo da fidelidade amorosa, fiéis, há anos, um ao outro, curtindo o mesmo ninho, sempre o mesmo, mas sempre renovado tanto no tamanho quanto na beleza (para o nascimento do filhote, forrara tudo com folhas novas bem verdes…)
Não seria muita responsabilidade para aquele ser ainda tão novo, frágil, desconhecedor das tristes realidades da vida, das quais nem a Águia, por mais acima de tudo que consiga voar, estará livre? E se ela só lhe contasse os grandes feitos da dinastia: como seu pai a conquistara numa luta jamais vista, como seus irmãos mais velhos conseguiram superar todos os iguais, conquistando espaços cada vez maiores. O dia em que ela mesma trouxera para o ninho uma presa, um bicho preguiça, de peso igual ao seu. Como mãe Águia que se preze, não poderia esconder as verdades. Águia não tem medo da luz, sabe voar alto e, quando preciso, é capaz de voar rasteiro bem próximo à presa. Quando define um alvo, lança-se tal qual flecha certeira e veloz em direção a ele. O céu e a terra lhe são comuns.
– Meu filhote, hoje começa um novo momento em sua vida. Até agora, em seu ninho, você viveu como qualquer ave, dependente, frágil, protegida, sem grandes horizontes. A única diferença é que você tinha uma mãe e um pai que são Águias. Começa para você a “Era da Águia”.
– Mãe, o que vou ter que fazer para ser Águia? Onde estão às outras aves, os outros animais?
– Em primeiro lugar, meu filhote, você vai ter que aprender a Ser uma Águia. Terá que se distinguir até de todas as outras Águias. A nossa dinastia é a da Águia Real. Somos aves como qualquer outra. Temos limites, tanto no céu quanto na terra. Também morremos, ou de morte comum ou perseguida pelos caçadores. Os caçadores fazem de tudo para nos abater.
– E como vou me defender se estou com medo? Pensei que fosse viver sempre ali naquele ninho.
– Meu filhote, repare em suas garras e veja as minhas. Diferentes, não? É uma questão de tempo e de exercício constante. Servem para a vida e para a morte. Dão-nos firmeza e, na hora da luta, são nossas armas. Veja meus olhos. Os homens cientistas não entendem como, mesmo localizados do lado da cabeça, conseguimos ter um raio de visão tão amplo.
– Estou olhando para baixo e só vejo um abismo.
– Olhe seu pai, lá longe. Veja a velocidade com que se está projetando para a terra: vai em direção àquele coelho que está a sair da toca. Logo, estará trazendo a refeição de hoje. Você precisará exercitar a visão. Olhos todos seres vivos têm, mas Visão de Águia só nós. Olhe para o sol.
– Não dá, disse o filhote, desviando o olhar. A luz é muito forte. Ofusca.
– Ser Águia é ser capaz não só de fitar o Sol como, até, de voar em sua direção, como se quisesse alcançá-lo. Ter Visão de Águia é ser capaz de ir das profundezas a sublimidade da vida, superando-se sempre. Nosso olhar tem o brilho do sol, da luz superior.
– Olhe o tamanho de minhas asas quando eu as abro. Parece que nós, Águias, queremos assumir o espaço todo aqui em cima. Abraçar o mundo. Você as terá, também, continuou a mãe, ao perceber que o filhote olhava para as suas próprias asas tão pequenas ainda. Elas nos permitem alçar vôo a alturas que outras aves não conseguem. Apenas os homens, com suas máquinas, nos conseguem imitar e superar.

Eles mesmos sempre sonharam voar, mas nunca conseguiram. Você terá que aprender a voar. O Vôo de Águia em direção ao sol, ao inescrutável, àquilo que os outros não conseguem ver nem olhar. Como João, o Evangelista, que via Deus onde os outros viam simples criaturas.
– Deixe-me ver, mãe, se entendi tudo. Para ser Águia de verdade terei que desenvolver a visão dos detalhes e do todo para conseguir enxergar o que os outros não vêem, melhorar minha capacidade de voar baixo em busca de alimento e em direção ao sol para manter sempre vivo o brilho do meu olhar, reforçar minhas garras como meio de firmar-me onde estou e como instrumento de sobrevivência. Mas, há um detalhe, você ainda não me ensinou a voar.
Nesse instante, a jovem mãe, de forma decidida, com suas asas, empurrou, sem pensar duas vezes, o jovem filhote em direção ao vácuo. Espantado, desorientado, desordenadamente, o filhote foi descobrindo que voar era seu destino. E sentiu que valia a pena ser Águia. Olhou para o sol e, na mesma direção, viu o pai e a mãe voando juntos. Nesse instante, sentiu que era uma Águia.
Começara para ele a Era da Águia. Um novo tempo. Uma nova forma de viver.

Autor desconhecido 
https://mscamp.wordpress.com/2008/10/07/a-cobra-e-o-vagalume/

 

OS BRUTOS TAMBÉM AMAM

Era uma vez um casal de leões que viviam muito felizes na floresta.
Já tinham tido vários filhos que cresceram e foram viver a sua vida. Agora tinham um filhote recém-nascido que era o seu encanto.
O leão era lindo! Tinha o pelo farto e uma magnífica juba.
A leoa não era tão bonita quanto ele. Seu pelo era mais raso e menos sedoso, mas o leão achava que ela era a leoa mais bonita da floresta.
O leão era forte, orgulhoso, e, tido como o Rei dos Animais, julgava-se superior a todos os outros que o temiam e respeitavam.
A leoa era humilde. Amava o leão, admirava sua força e sua beleza, sentia-se protegida ao seu lado, mas achava que ele era muito rude com os animais mais fracos e dizia isso a ele que retrucava:
– Se Deus me fez mais belo e mais forte é porque queria que eu os dominasse, que eles rastejassem a meus pés.
– Ou será que você sendo o mais forte, devia proteger os outros?
– Imagine! Eu nasci para dominar e eles para serem dominados.
Um dia, porém, ele saiu dar uma volta enquanto ela ficava em casa cuidando do leãozinho e quando voltou encontrou-a presa em uma armadilha e o filhinho tinha desaparecido.
Ficou desesperado! Não sabia se soltava a leoa ou se corria à procura do leãozinho, mas não sabia como fazer nem uma coisa nem outra.
Na certa algum caçador prendera a leoa para poder capturar o filhote, que provavelmente seria vendido para um circo ou um zoológico. Ficaria conhecido e famoso, mas o leão não queria saber disso. Queria a companheira e o filhinho a seu lado.
Usando sua prerrogativa de rei, convocou todos os bichos da redondeza e pediu ajuda.
A primeira a se manifestar foi a formiga:
– Estou pronta a ajudar.
Mas o leão expulsou-a:
– Sai já daqui! Você é um inseto miserável, não presta pra nada!
Entretanto, um a um, todos os outros animais negaram-se a socorrer o leão.
O macaco falou:
– Eu não vou fazer nada. Você sempre me desprezou. Bem feito!
A onça disse:
– Eu não vou me meter nas encrencas dos outros. Chega as minhas. Arranje-se!
A cobra também esquivou-se:
– Você não dizia sempre que eu vivia rastejando? Agora é você que está se arrastando a nossos pés para pedir ajuda.
E assim um a um, todos os súditos do rei leão negaram-se a auxiliá-lo e ele ficou muito aflito.
Foi então que a leoa chegou perto dele e fez-lhe um carinho:
– Você? Como conseguiu escapar da armadilha?
– Um ratinho me ajudou.
– Um rato? Que humilhação! Ficar devendo favor a um rato! Mas, como foi que o rato conseguiu soltá-la?
– Não foi bem um rato. Ele chamou seus amigos e todos juntos foram roendo a armadilha até conseguir fazer um buraco suficiente para eu sair.
– É incrível!
Todos os animais tinham ido embora, menos a formiga que, aproximando-se da leoa, ofereceu-se mais uma vez:
– Eu posso ajudar.
– Como?
– Eu sei onde está o leãozinho.
– Pois então nos leve até lá.
– Eu vi quando os caçadores se abrigaram em uma tenda, lá perto do meu formigueiro, mas eles estão armados. Se vocês se aproximarem eles os matarão. Mas, não se incomodem que eu sei o que fazer.
Foi rapidamente ao formigueiro e convocou milhares de formigas para acompanhá-la na emocionante aventura de salvar o filho do leão
Todas juntas invadiram a tenda onde os caçadores dormiam e rapidamente os cobriram de picadas.

Acordaram aturdidos e saíram correndo, sentindo ferroadas pelo corpo todo e deixando o animalzinho roubado lá dentro.
O leãozinho estava dormindo. Era muito pequeno e muito frágil para se defender e nem sabia ao certo o que estava lhe acontecendo.
Os leões que aguardavam a distância não perderam tempo, invadiram a tenda e saíram levando o filhinho.
E a família leonina foi feliz para sempre.

Moral: “Ninguém é tão poderoso que nunca precisará de ajuda nem tão insignificante que não possa ajudar”

 

                          PÉROLAS – Rubem Alves

As pérolas são feridas curadas,
são produtos da dor,
resultado da entrada de uma substância
estranha ou indesejável no interior da ostra,
como um parasita ou um grão de areia.
A parte interna da concha de uma ostra
é uma substância lustrosa chamada nácar.
Quando um grão de areia penetra,
as células do nácar começam a trabalhar
e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas
para proteger o corpo indefeso da ostra.
Como resultado, uma linda pérola é formada.
Uma ostra que não foi ferida de algum modo,
não produz pérolas,
pois a pérola é uma ferida cicatrizada.
Você já se sentiu ferido pelas palavras rudes de um amigo?
Já foi acusado de ter dito coisas que não disse?
Suas idéias já foram rejeitadas, ou mal interpretadas?
Você já sofreu os duros golpes do preconceito?
Já recebeu o troco da indiferença?
Então, produza uma pérola !!!
Cubra suas mágoas com várias camadas de amor.
Infelizmente são poucas as pessoas
que se interessam por esse tipo de movimento.
A maioria aprende apenas a cultivar ressentimentos,
deixando as feridas abertas,
alimentando-as com vários tipos de sentimentos pequenos e,
portanto não permitindo que cicatrizem.
Assim, na prática, o que vemos são muitas “ostras” vazias,
não porque não tenham sido feridas,
mas porque não souberam perdoar,
compreender e transformar a dor em amor.

A PIPA E A FLOR _ Rubem Alves

 pipa
Poucas pessoas conseguiram definir tão bem os caminhos do amor como Rubens Alves, numa fábula surpreendente, cujos personagens são uma pipa e uma flor.

A história começa com algumas considerações de um personagem que deduzimos ser um velho sábio. Ele observa algumas pipas presas aos fios elétricos e aos galhos das árvores e afirma que é triste vê-las assim, porque as pipas foram feitas para voar. Acrescenta que as pessoas também precisam ter uma pipa solta dentro delas para serem boas. Mas aponta um fator contraditório: para voar, a pipa tem que estar presa numa linha e a outra ponta da linha precisa estar segura na mão de alguém. Poder-se-ia pensar que, cortando a linha, a pipa pudesse voar mais alto, mas não é assim que acontece. Se a linha for cortada, a pipa começa a cair.

Em seguida, ele narra a história de um menino que confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que também voavam.

Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado. Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois! A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para flor tudo o que vira
Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa. Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a gente não está perto. A flor, por causa desses dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim…
Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com que a pipa estivera se divertindo. A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.

Esta história, segundo conta o autor, ainda não terminou e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.
Há três finais possíveis para ela:

1 – A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta.
2 – A pipa, mesmo triste com a atitude da flor, decidiu ficar, mas nunca mais sorriu.
3 – A flor, na verdade, era um ser encantado. O encantamento quebraria no dia em que ela visse a felicidade da pipa e não sentisse inveja nem ciúme. Isso aconteceu num belo dia de sol e a flor se transformou numa linda borboleta e as duas voaram juntas.

A Pipa e a Flor – São Paulo, Edições Loyola