quinta-feira, 27 de outubro de 2016

 

                  A bola de cristal

Um conto de fadas dos Irmãos Grimm 

Houve, uma vez, uma feiticeira que tinha três filhos, os quais se amavam extremosamente. Mas a velha não confiava neles e vivia a desconfiar de que pretendiam expropriá-la. Então transformou o mais velho numa águia, a qual tinha de viver nos píncaros rochosos e só, às vezes, era vista descrevendo grandes círculos no espaço, descendo e subindo com as largas asas abertas.
Ao segundo filho, transformou numa baleia que vivia nas profundezas do mar, podendo ser vista só quando subia à tona e de suas costas saía um repuxo de água que espirrava à grande altura. Foram concedidas aos dois apenas duas horas por dia, nas quais podiam retomar seu aspecto humano.
O terceiro filho, temendo que a mãe o transformasse, também, nalgum animal feroz, urso ou lobo, fugiu de casa às escondidas.
Ele ouvira contar que no castelo do Sol de Ouro havia uma princesa encantada, que aguardava a sua libertação; mas se alguém tentasse libertá-la arriscaria a vida. Vinte e três rapazes já haviam perecido deploravelmente; ainda um podia apresentar-se e, depois desse, mais ninguém.
Sendo um rapaz destemido e arrojado, resolveu ele procurar o castelo do Sol de Ouro. Depois de andar muito tempo, sem conseguir encontrá-lo, foi parar numa grande floresta; tendo-se extraviado, não sabia como sair dela. De repente, avistou ao longe dois gigantes acenando-lhe com a mão e, quando se lhes aproximou, disseram-lhe:
- Estamos brigando por causa de um chapéu; queremos saber a quem de direito deve pertencer. Como somos os dois de igual força, nenhum pode vencer o outro. Os homens pequenos são mais inteligentes do que nós, por isso pedimos que tu decidas.
- Como é possível engalfinhar-se assim, por causa de um simples chapéu? - disse ele.
- E' que não conheces as propriedades que possui; esse é um chapéu mágico; quem o põe na cabeça, chega, no mesmo instante, a qualquer lugar que deseje.
- Dai-me um pouco esse chapéu! - disse o rapaz; - vou andar até àquela distância e, quando vos chamar, correi os dois juntos; quem chegar primeiro ganhará o chapéu.
Pegou o chapéu, botou-o na cabeça e foi andando, andando. Mas, pensando sempre na princesa, exalou um suspiro do fundo da alma e murmurou:
- Ah, quem me dera estar no castelo do Sol de Ouro!
Mal lhe saíram da boca essas palavras, eis que se achou no cume de uma montanha, bem em frente à porta do castelo.
Sem hesitar, penetrou no castelo e foi atravessando todos os aposentos até chegar a uma sala onde estava a princesa. Mas como se espantou ao vê-la! tinha o rosto de uma cor cinzenta e cheio de rugas, os olhos torvos e os cabelos vermelhos. Sem se poder conter, exclamou:
- Então, sois vós a princesa cuja beleza é exaltada no mundo inteiro?
- Oh, - respondeu ela - esta não é a minha fisionomia real! Os olhos humanos só podem ver-me assim deformada, mas, se queres saber como sou realmente, olha naquele espelho: ele não engana e te mostrará a minha verdadeira imagem.
Assim dizendo, apresentou-lhe um espelho e o rapaz, olhando para ele, viu refletida a imagem da mais linda moça que pudesse existir no mundo. E viu lágrimas de intenso sofrimento escorrendo-lhe pelas faces. Então perguntou:
- Que posso fazer para te libertar desse encanto? Dize, pois eu não temo coisa alguma.
A princesa disse-lhe:
- Quem conseguir apoderar-se da bola de cristal e apresentá-la ao feiticeiro, anulará o seu poder e eu readquirirei o meu verdadeiro aspecto. - Mas acrescentou: - Muitos já encontraram a morte por tê-lo tentado! Lamento, imensamente, que tu, tão jovem, queiras expor-te a tão graves perigos.
- Nada poderá deter-me, - respondeu o rapaz; - dize-me, porém, que devo fazer para me apoderar da bola de cristal.
- Já vais saber tudo; - disse a princesa. - Se quiseres descer a montanha onde está o castelo, lá embaixo, perto de um manancial, encontrarás um feroz bisão, com o qual terás de lutar. Se conseguires matá-lo sairá dele um pássaro de fogo, voando, o qual tem no corpo um ôvo incandescente; nesse ôvo, no lugar da gema, está a bola de cristal. Mas o pássaro não deixa cair o ôvo se não for violentamente obrigado a isto; além disso, se o ôvo cair no chão, quebra-se e incendeia tudo à sua volta, destruindo-se no fogo juntamente com a bola de cristal; de maneira que, nesse caso, todo o teu trabalho terá sido inútil.
O rapaz desceu até ao manancial onde se encontrava o bisão, o qual o recebeu bufando e resfolegando, ameaçador. No mesmo instante, travou-se entre os dois uma tremenda luta e o rapaz conseguiu enterrar-lhe a espada no ventre, prostrando morta a terrível fera, Imediatamente saiu voando o pássaro de fogo, procurando elevar- se no espaço; mas a águia, que era o irmão do rapaz, chegou nesse momento através das nuvens, investiu contra o pássaro e com o bico adunco empurrou-o para o mar. A ave, vendo-se em perigo, deixou cair o ôvo.
Mas o ôvo não caiu no mar; caiu sobre uma choupana de pescadores situada na praia. Caindo em cima dela, imediatamente se elevou uma nuvem de fumaça e ateou- se o fogo; então se elevaram no mar ondas da altura de uma casa, despejaram-se sobre a choupana e extinguiram o fogo. Fora obra do outro irmão, transformado em baleia, que, vendo o fogo, sublevara as ondas.
Depois de extinto o incêndio, o rapaz foi em busca do ôvo e, por grande sorte, o achou. Não tivera tempo de derreter-se, mas a casca incandescente, esfriada repentinamente pela água gelada, partira-se toda. Assim lhe foi possível extrair a bola de cristal.
Quando, finalmente, foi ter com o feiticeiro e exibiu a bola de cristal ao seu olhar, o bruxo disse-lhe:
- Meu poder está anulado; de hoje em diante serás o rei neste castelo do Sol de Ouro. E tens poder, também, de restituir a teus irmãos a forma humana.
Então o rapaz correu para junto da princesa e, ao entrar na sala em que se achava, ela surgiu-lhe pela frente em todo o esplendor de sua radiosa beleza.
Cheios de alegria, trocaram as alianças que os devia unir e viveram na mais perfeita felicidade.

 

As três folhas da serpente 

Um conto de fadas dos Irmãos Grimm 

Houve uma vez um pobre homem que não podia mais sustentar seu filho único. Este,
então, disse ao pai:
- Meu querido pai, vives tão miseravelmente e eu sou um peso para ti; quero, portanto, ir-me embora e tratar de ganhar o pão de cada dia.
O pai deu-lhe a benção, despedindo-se dele com grande tristeza.
Naquele tempo, o rei de importante reino estava na guerra; o jovem entrou ao seu serviço, acompanhando-o ao campo de luta. Quando chegaram à frente do inimigo, travou-se uma grande batalha; o perigo era assustador; o feijão azul (balas) caía de todos os lados e os companheiros eram terrivelmente dizimados. Tendo caído também o comandante, os outros tentaram fugir, mas o jovem postou-se à frente deles e incentivou-os, exclamando:
- Não deixaremos perecer nossa Pátria! Avante!
Os outros, então, seguiram-no; ele irrompeu contra o inimigo e derrotou-o. Quando o rei veio a saber que só a ele devia a vitória, elevou-o a grande dignidade, deu-lhe tesouros ingentes e nomeou-o primeiro-ministro de seu reino.
O rei tinha uma filha belíssima, mas muito esquisita. Ela havia jurado que só aceitaria por esposo e senhor quem lhe prometesse deixar-se enterrar vivo com ela, se acaso ela morresse primeiro.
- Se me amar realmente, - dizia ela - de que lhe servirá depois a vida?
Em compensação, prometia fazer o mesmo: Descer à sepultura junto com o marido se
ele morresse primeiro. Esse estranho juramento havia sempre desencorajado todos os pretendentes, mas o jovem, tão fascinado ficou com a beleza dela, que não deu
importância a tal esquisitice e pediu-a assim mesmo em casamento.
- Sabes, porém, o que deves prometer? - perguntou-lhe o rei.
- Sei, - respondeu o jovem - se eu lhe sobreviver, terei de descer com ela à sepultura; mas o meu amor é tão grande que o risco não me causa receio algum.
Assim, obtido o consentimento do rei, realizaram-se as núpcias com o máximo
esplendor. Durante algum tempo, viveram os jovens alegres e felizes. Entretanto, aconteceu que a rainha ficou gravemente enferma e nenhum médico conseguiu salvá-la.
Diante da falecida esposa, o jovem rei lembrou-se da promessa feita e ficou horrorizado por ter que se enterrar vivo, mas não tinha outra alternativa. O rei dera ordens para que todas as portas fossem vigiadas; assim não lhe era possível fugir ao próprio destino. Portanto, no dia em que o cadáver foi trasladado para a cripta real, o jovem foi obrigado a segui-lo. Uma vez lá dentro, fecharam e aferrolharam-lhe a porta.
Perto do ataúde havia uma mesa e, em cima dela, quatro velas acesas, quatro pães e quatro garrafas de vinho. Quando terminasse essa provisão, ele teria de morrer à míngua. Cheio de angústia e tremendamente acabrunhado, o jovem comia, diariamente, apenas um pedacinho do pão e, do vinho, tomava um golinho apenas. Via, contudo, a morte aproximar-se inevitavelmente. Enquanto se achava assim absorto, olhando para a frente, viu uma serpente sair rastejando do canto da cripta e avizinhar-se do cadáver. Julgando que fosse mordê-la, desembainhou a espada dizendo:
- Enquanto eu viver, ninguém lhe tocará - e cortou o réptil em três pedaços.
Nisso, apareceu uma segunda serpente, que vinha rastejando do canto da cripta mas, quando viu a companheira morta e em pedaços, retirou-se voltando logo com três folhas verdes na boca. Pegou os três pedaços da serpente morta, juntou-os direito e sobre cada um dos talhos colocou uma folha. Os pedaços uniram-se novamente, a serpente moveu-se e readquiriu a vida e, em seguida, fugiu com a companheira.
As folhas ficaram caídas no chão e o infeliz, que assistira àquilo tudo, perguntou a si próprio se o poder mágico que continham, tendo ressuscitado a serpente, não poderia aplicar-se também a um ser humano? Recolheu então as folhas, colocou uma sobre a boca e as outras duas sobre os olhos da esposa falecida. Mal acabou de colocá-las, o sangue voltou a circular nas veias, afluindo-lhe ao rosto, dando-lhe natural colorido. Ela respirou, abriu os olhos e perguntou:
- Oh, Deus meu, onde estou?
- Estás comigo, minha querida mulher - respondeu o jovem.
Em seguida, contou-lhe todo o sucedido e a maneira pela qual havia ressuscitado. Depois, deu-lhe um pedaço de pão e um pouco de vinho; assim que ela se reanimou, levantou-se e ambos foram bater à porta, esmurrando-a e gritando tão alto que os guardas ouviram e correram a avisar o rei. Este, em pessoa, desceu à cripta e abriu a porta, encontrando os dois vivos, sadios e viçosos como nunca; radiantes de alegria, abraçaram-se felizes por terem superado aqueles tormentos.
O jovem rei levou consigo as três folhas e deu-as ao seu criado dizendo:
- Guarda-as com cuidado e traze-as sempre contigo; quem sabe lá as circunstâncias que podem vir e se elas ainda servirão a alguém!
Depois de ressuscitada, porém, a mulher mudara completamente; parecia que de seu coração se tivesse desvanescido todo o amor pelo marido. Este, decorrido algum tempo, quis fazer uma visita ao velho pai; ao embarcarem no navio que os levaria, a rainha esqueceu o grande amor e a dedicação que ele sempre lhe demonstrara, a ponto de tê-la salvo da morte e passou a nutrir uma paixão pecaminosa pelo comandante do navio.
Certo dia, enquanto o rei estava dormindo, chamou o comandante e mandou que pegasse o marido pelos pés, enquanto ela segurava-o pela cabeça e atiraram-no ao mar. Consumado o crime, disse ela:
- Agora voltaremos para casa. Diremos que ele morreu durante a viagem. Eu te exaltarei perante meu pai e tais elogios farei que ele consentirá em nosso casamento. Assim ficarás sendo tu o herdeiro da coroa.
Mas o fiel criado, que tudo presenciara, foi, sem ser visto, destacar um bote salva- vidas e desceu ao mar. Entrou nele e foi vagando à procura de seu amo, deixando os traidores prosseguirem tranqüilamente a viagem. Assim que conseguiu pescar o cadáver, colocou-lhe nos olhos e na boca as três folhas verdes que trazia consigo, as quais lhe restituíram a vida.
Juntos, então, puseram-se a remar dia e noite, com todas as forças e o bote voava por sobre as ondas com tamanha velocidade, que chegaram antes dos outros à presença do rei. Este, vendo-os regressar sozinhos, muito se admirou e perguntou qual o motivo. Ao ter conhecimento da crueldade da filha, exclamou:
- Custa-me crer que tenha agido assim cruelmente, porém, a verdade logo virá à luz.
Mandou que entrassem num quarto secreto e ficassem ocultos de todos. Não tardou muito e chegou o navio. A pérfida rainha apresentou-se ao pai muito aflita. Ele perguntou-lhe então:
- Por que voltas sozinha? Onde está teu marido?
- Ah, meu querido pai - respondeu ela - volto em grande luto; meu marido adoeceu repentinamente durante a viagem e faleceu. Se este bom comandante não me socorresse, não sei o que teria sido de mim. Ele assistiu-lhe a morte e pode contar tudo.
- Eu vou fazer ressuscitar o morto - disse o rei.
Abriu a porta do quarto secreto e fez sair os dois. Ao ver o marido, a rainha recebeu um choque tão grande como se lhe tivesse caído um raio aos pés. Prostrou-se de joelhos implorando perdão, mas o rei gritou-lhe:
- Para ti não pode haver perdão! Ele mostrou-se pronto a morrer contigo; restituiu-te
a vida e tu o assassinaste enquanto dormia. Deves, pois, receber o justo castigo.
Conduziram-na, juntamente com o cúmplice, para um navio que fazia água e os
lançaram ao mar, onde, não tardou muito, foram a pique e se afogaram.

 

O rei da Montanha Dourada 

Um conto de fadas dos Irmãos Grimm 

Um certo mercador tinha dois filhos, um menino e uma menina, ambos muito novos, que ainda não sabiam andar. Ele possuía dois navios ricamente carregados viajando pelos mares onde embarcara toda sua riqueza na esperança de conseguir grandes lucros, quando chegaram notícias de que sua fortuna tinha desaparecido. Assim, de homem rico que era, tornou-se muito pobre, tão pobre que só lhe restara um pedacinho de terra. Para aliviar um pouco as preocupações de sua cabeça, costumava caminhar por ali.
Certo dia em que estava perambulando em seu terreno, um anãozinho de cara enrugada apareceu à sua frente perguntando por que estava tão triste e o que confrangia tão profundamente seu coração. Mas o mercador replicou, "Se me pudesse fazer algum bem eu lhe contaria." - "Quem sabe se não posso?," disse o homenzinho. "Conte-me qual é o caso e talvez eu possa servir para alguma coisa." O mercador contou-lhe então como toda sua riqueza havia ido para o fundo do mar e como ele nada possuía exceto aquele pedacinho de chão. "Oh! Não se preocupe com isto," disse o anão, "apenas prometa trazer-me, daqui a doze anos, aquilo que primeiro vier ao seu encontro quando voltar para casa e eu lhe darei todo ouro que quiser."
O mercador pensou que não era uma exigência muito grande, que muito provavelmente encontraria primeiro seu cão ou algo do gênero, mas esqueceu-se de seus filhinhos, por isso aceitou a barganha e assinou e selou o compromisso de cumprir a promessa. Ao se aproximar de casa, porém, seu garotinho ficou tão contente ao vê-lo, que engatinhou atrás dele e agarrou-se a suas pernas. O pai teve um sobressalto, pensando no pacto que havia feito, mas como não apareceu ouro algum, consolou-se pensando que tudo não passara de uma brincadeira do anão.
Cerca de um mês mais tarde, ele subiu as escadas de um velho depósito de lenha à procura de algum ferro velho para vender e levantar algum dinheiro, e ali encontrou uma grande pilha de ouro sobre o chão. À vista disto, ficou muito satisfeito, voltou aos negócios e tornou-se um grande mercador como antes.
Entretanto, seu filho ia crescendo, e com a aproximação do término do prazo de doze anos, o mercador foi ficando tão aflito e pensativo que sua tristeza e seus cuidados se estampavam em seu rosto. O filho perguntou-lhe certo dia o que estava acontecendo, mas o pai recusou-se a contar; mas, passado algum tempo, acabou contando que, sem o saber, vendera-o a um anãozinho de aparência repelente por uma grande quantia de ouro; e que estava se aproximando o término dos doze anos, ao fim dos quais teria que cumprir o acordo. Então o filho disse, "Pai, não se preocupe muito com isso; pode contar que eu darei um jeito no homenzinho."
Quando chegou o momento, eles foram juntos até o lugar indicado e o filho riscou um círculo no chão e colocou-se junto com o pai em seu interior. O anãozinho logo apareceu e disse ao mercador, "Trouxe o prometido?" O velho ficou em silêncio, mas seu filho respondeu, "O que você quer aqui?" O anão respondeu, "Vim falar com seu pai, não com você." - "Você enganou e traiu meu pai," disse o filho. "Liberte-o de seu compromisso." - "Não," replicou o outro, "não abrirei mão de meus direitos."
Isto provocou uma longa discussão ao fim da qual todos concordaram em que o filho seria colocado num bote que ficava ao lado de um rio não muito distante, e que o pai deveria empurrá-lo com a própria mão para que ele fosse deixado à deriva. O filho despediu-se então do pai e acomodou-se no barco; e quando este foi empurrado, adernou e caiu de lado na água, fazendo o mercador pensar que o filho houvesse morrido. O pai voltou para casa profundamente entristecido.
Mas o barco não havia afundado e seguira navegando, e o rapaz ficou sentado dentro dele até encalhar numa terra desconhecida. Quando saltou na praia, viu à sua frente um lindo castelo cujo interior estava vazio e desolado por estar encantado. Andando pelo castelo, acabou encontrando uma serpente branca num dos quartos. Ora, a serpente branca era uma princesa encantada que se alegrou enormemente ao vê-lo e disse, "Vieste finalmente me libertar? Esperei doze longos anos por ti, pois somente tu podes me salvar. Esta noite, doze homens virão; suas faces serão pretas e eles estarão encadeados em correntes. Eles perguntarão a ti o que fazes aqui, mas fica em silêncio, não responde e deixa que façam o que quiserem - bater-te e torturar-te. Suporta tudo, só não fala nenhuma palavra e à meia-noite eles partirão. Na segunda noite, outros doze virão; e na terceira noite, serão vinte e quatro que irão até mesmo cortar tua cabeça. Mas às doze horas daquela noite, seu poder desaparecerá, e eu estarei livre e virei te trazer a água da vida, e com ela te lavarei e restaurarei tua vida e saúde."
Tudo se passou como a princesa encantada havia dito; o filho do mercador não falou uma palavra e, na terceira noite, a princesa apareceu e caiu em seu pescoço e o beijou; alegria e satisfação explodiram por todo o castelo; as bodas foram celebradas e ele se tomou o rei da Montanha Dourada.
Eles viveram juntos muito felizes e a rainha teve um filho. Oito anos haviam se passado quando o rei lembrou-se de seu pai: seu coração se comoveu e ele ficou ansioso para revê-lo. A rainha se opunha a sua ida dizendo, "Sei perfeitamente os infortúnios que virão." Ele não lhe deu descanso, porém, até ela consentir. Quando ia partir, ela o presenteou com um anel mágico dizendo, "Leva este anel e coloca-o no dedo; tudo que desejares, ele realizará: somente prometa que não o usarás para levar-me daqui até a morada de teu pai." Ele prometeu o que ela pedia, colocou o anel no dedo e desejou estar perto da cidade onde seu pai morava. Achou-se num instante diante dos seus portões, mas os guardas não quiseram deixá-lo entrar por estar vestido tão estranhamento. Ele foi então a uma montanha vizinha onde morava um pastor, tomou emprestado seu velho manto e assim entrou disfarçadamente na cidade. Quando chegou à casa do pai, contou-lhe que era seu filho, mas o mercador não quis acreditar, dizendo-lhe que havia tido apenas um filho que morrera havia muito tempo, e como ele estivesse vestido como um pobre pastor, nem mesmo lhe ofereceria alguma coisa de comer. O rei insistiu porém em que era seu filho dizendo, "Existe alguma marca pela qual saberias que sou realmente teu filho?" - "Sim," observou a mãe, "nosso filho tinha um sinal na forma de uma framboesa debaixo do braço direito." Ele mostrou-lhes então a marca e eles ficaram satisfeitos por ser verdade o que havia dito. Em seguida ele lhes contou como era rei da Montanha Dourada, e que estava casado com uma princesa, e que tinha um filho de sete anos. Mas o mercador disse, "Isto jamais podería ser verdade; que rei é esse que viaja usando um manto de pastor?" Isto deixou o filho muito irritado e, esquecendo sua promessa, virou o anel e desejou a presença de sua rainha e do filho. Num instante eles estavam diante dele, mas a rainha chorava dizendo que ele havia quebrado a palavra e que uma desgraça aconteceria. Ele fez o que pôde para tranqüilizá-la e ela finalmente pareceu se acalmar; mas não estava realmente calma, apenas meditava como podería vingar-se.
Certo dia, ele levou-a para passear fora da cidade para mostrar-lhe o lugar onde seu barco fora colocado à deriva sobre as águas. Ali ele sentou-se dizendo, "Estou muito cansado; senta-te ao meu lado para eu recostar a cabeça em teu colo e dormir um pouco." Mal ele adormecera, porém, ela tirou o anel de seu dedo, afastou-se cuidadosamente e desejou que ela e o filho estivessem cm casa, em seu reino. Quando o rei acordou, achou-se sozinho e percebeu que o anel já não estava em seu dedo. "Jamais poderei retornar à casa de meu pai," disse ele, "diriam que sou um feiticeiro. Viajarei pelo mundo até chegar novamente a meu reino."
Assim dizendo, partiu e viajou até chegar a uma montanha onde três gigantes estavam dividindo sua herança; e quando eles o viram, gritaram dizendo, "Os homenzinhos são muito espertos; ele vai dividir a herança entre nós." Ora, esta consistia de uma espada que cortava a cabeça de um inimigo sempre que seu portador dissesse as palavras "Fora cabeças!"; um manto que tornava seu proprietário invisível ou lhe dava qualquer forma que desejasse; e um par de botas que transportava a pessoa que as calçasse para onde ela quisesse ir. O rei lhes disse que primeiro teriam que deixá-lo experimentar esses objetos maravilhosos para conhecer seu valor. Eles lhe entregaram então o manto. Ele desejou ser uma mosca e num instante se transformou numa mosca. "O manto está perfeito," disse ele, "agora entreguem-me a espada." - "Não," disseram eles, "não, a menos que prometa não dizer 'Fora cabeças!' pois se fizer isto, morreremos todos." Assim eles a entregaram com a condição de ele experimentar seu poder apenas numa árvore. Em seguida ele pediu também as botas e no momento em que se viu em posse dos três objetos, desejou estar na Montanha Dourada e ali estava ele no mesmo instante. E os gigantes foram deixados para trás sem herança para dividir ou disputar.
Ao se aproximar do castelo, ouviu um som alegre de música e as pessoas em volta lhe disseram que a rainha estava prestes a celebrar seu casamento com outro príncipe. Ele vestiu então o manto, entrou no castelo e colocou-se ao lado de sua rainha onde ninguém o via. Mas quando todas as comidas foram servidas no prato da rainha, ele as pegou e comeu; quando a taça de vinho foi entregue a ela, ele a pegou e bebeu; assim, embora continuassem servindo comida e bebida a ela, seu prato continuava sempre vazio.
Diante disso, tomada de medo e remorso, ela foi para seu quarto e pôs-se a chorar. Ele a seguiu até lá. "Ai de mim!," lamentava-se ela. "Não terá chegado o meu libertador? Por que então o feitiço ainda me cerca?." - "Sua traidora!," exclamou ele. "Teu libertador já veio, de fato, e agora está perto de ti: terá ele merecido isto?" E ele saiu dali e dispensou todo mundo dizendo que o casamento estava desfeito porque havia retomado a seu reino: mas a princesa, os nobres e conselheiros zombaram dele. Ele se desentendeu então com todos, exigindo que partissem, por bem ou por mal. Tentaram agarrá-lo, mas ele sacou a espada e, com uma palavra, as cabeças dos traidores rolaram a seus pés. E foi assim que voltou a ser o rei da Montanha Dourada.

A serpente branca 

Um conto de fadas dos Irmãos Grimm


Ha muito, muito tempo, houve um rei famoso em todo o país pela sua sabedoria. Nada ignorava e parecia que as notícias das coisas mais secretas lhe chegavam através do espaço.
Esse rei tinha, porém, um hábito esquisito: todos os dias, uma vez terminadas as refeições, e ninguém mais se achando presente, um criado muito fiel devia trazer- lhe ainda uma sopeira coberta. O próprio criado não sabia o que continha, ninguém o sabia, porquanto o rei só a destapava quando estava completamente só.
Isso durava há bastante tempo, até que um dia, não resistindo à curiosidade, o criado, ao levar de volta a sopeira, carregou-a para o quarto. Fechou, cuidadosamente, a porta, levantou a tampa e viu dentro uma serpente branca. Não pôde furtar-se ao desejo de prová-la e cortou um pedacinho, levando-o à boca; mas, apenas lhe tocou a língua, ouviu através da janela um estranho sussurro de vozinhas sutis. Chegou à janela e pôs-se a escutar; percebeu que eram dois pardais que conversavam entre si, contando tudo o que tinham visto nos campos e bosques. O pedaço de serpente que provara dera- -lhe a faculdade de entender a linguagem dos animais.
Ora, aconteceu que, justamente nesse dia, desapareceu o mais bonito anel da rainha. As suspeitas de furto recaíram sobre o criado fiel, que tinha entrada em todos os aposentos do palácio. O rei chamou-o à sua presença e repreendeu-o severamente, ameaçando condená-lo como ladrão se até ao dia seguinte não indicasse o verdadeiro autor do furto. De nada adiantaram os protestos de inocência; a posição dele era bastante precária.
Amedrontado e aflito, dirigiu-se ao pátio, cogitando na maneira de sair daquela situação. Perto do regato que por lá serpeava, repousavam tranquilamente algumas patas, deitadas uma junto da outra; alisavam-se as penas com o bico e tagarelavam misteriosamente. O criado deteve-se a ouvi-las; cada qual contava onde estivera pela manhã e que ótimos quitutes havia encontrado. Uma delas, aborrecida, contou:
- Algo me pesa no estômago. Esta manhã encontrei um anel debaixo da janela da rainha e, na pressa com que estava comendo, enguli-o.
Imediatamente o criado pegou-a pelo pescoço e levou-a à cozinha, dizendo ao cozinheiro:
- Mata que esta está bem gorda.
O cozinheiro ergueu-a com a mão a fim de calcular o peso e disse:
- Realmente, esta não perdeu tempo em engordar e já está na hora de ser assada!
Cortou-lhe a cabeça, e, quando foi aberta, encontrou- se o anel da rainha em seu estômago. Assim, o criado pôde facilmente demonstrar sua inocência. O rei, então, querando reparar a injustiça cometida, autorizou-o a fazer um pedido e, ao mesmo tempo, ofereceu-lhe o mais alto cargo do reino.
O criado recusou tudo, pedindo somente um cavalo e dinheiro suficiente para viajar, pois tinha vontade de conhecer o mundo. O pedido foi atendido e ele pôs-se a caminho. Um dia, passando perto de uma lagoa, viu três peixes enredados nos juncos e que arquejavam fora da água. Embora se diga que os peixes sejam mudos, ele ouviu distintamente que se lamentavam por terem de morrer tão tristemente, e, como era de bom coração, desceu do cavalo e recolocou os três prisioneiros dentro da água. Eles voltaram a nadar alegremente e, pondo a cabeça para fora, disseram:
- Havemos de nos lembrar e te recompensaremos por nos teres salvo!
Ele prosseguiu o caminho e, pouco depois, pareceu-lhe ouvir uma voz sob os pés, saindo da areia. Deteve-se a escutar e ouviu o rei das formigas queixar-se:
- Oh, se os homens passassem ao largo com suas descuidadas montarias! Esse estúpido cavalo, com os pesados cascos, espezinhou sem piedade meu pobre povo!
Ele então desviou o cavalo para um caminho pedregoso e o rei das formigas disse-lhe:
- Havemos de nos lembrar e te recompensaremos!
A estrada, por onde seguia, conduziu-o a uma floresta; aí viu dois corvos, pai e mãe, que estavam atirando fora do ninho os filhotes!
- Fora, - gritavam, - fora daqui seus mandriões; não podemos mais alimentar-vos; fora, já estais suficientemente crescidos para sustentar-vos sozinhos.
Os pobres filhotes jaziam por terra, batendo as asas e gritando:
- Ai de nós, pobres infelizes! Temos de nos manter sozinhos e ainda nem sabemos voar! não nos resta senão morrer aqui de fome!
O bom criado, então, desceu do cavalo e matou-o com a espada; depois entregou-o aos filhotes dos corvos para que se alimentassem. Estes acorreram saltitando, e após terem comido à vontade, disseram:
- Havemos de nos lembrar e te recompensaremos.
Agora não lhe restava outro recurso senão servir-se das próprias pernas. Anda e anda e anda, chegando afinal a uma grande cidade. As ruas estavam apinhadas de gente que fazia barulho ensurdecedor; nisso viu chegar um arauto a cavalo, anunciando que a filha do rei desejava casar-se, mas, quem aspirasse à mão dela, deveria antes executar uma tarefa extremamente difícil e se não o conseguisse seria morto. Muitos já haviam tentado e sacrificaram inutilmente a própria vida.
Quando o jovem viu a princesa, ficou tão fascinado com sua beleza que esqueceu todo e qualquer perigo e apresentou-se ao rei como pretendente.
Logo foi conduzido à beira mar onde, em sua presença, atiraram um anel de ouro à água. O rei ordenou que o pescasse do fundo do mar, acrescentando:
- Se voltares à tona sem o anel, serás mergulhado de novo, até morreres afogado.
Todo mundo lastimava a sorte do belo jovem. Ele ficou sozinho junto ao mar, pensando no que lhe cumpria fazer quando, de repente, viu surgirem três peixes que vinham nadando em sua direção; eram exatamente os mesmos que havia salvo durante sua viagem. O que vinha no meio trazia na boca uma concha, que depositou na areia, aos pés do jovem; este recolheu-a e, ao abri-la, encontrou dentro dela o anel de ouro.
Agradeceu aos peixes e, radiante de alegria, correu para levar o anel ao rei, esperando obter a prometida recompensa.
A orgulhosa princesa, quando soube que ele não era de sangue real, desprezou-o, exigindo que executasse outra tarefa. Descendo ao jardim, ela espalhou com as próprias mãos dez sacos de milho no meio da grama, e disse:
- Se quiser casar comigo, terá que catar todo esse milho, sem que falte um só grão, até amanhã cedo, antes de raiar o sol.
O jovem sentou-se preocupado no jardim e meditava, sem atinar na maneira de levar a termo aquela difícil tarefa. Desanimado e triste, contava ser condenado à morte assim que amanhecesse. Mas, quando os primeiros raios do sol iluminaram o jardim viu os dez sacos enfileirados, todos cheios, não faltando sequer um grãozinho de milho. O rei das formigas havia chegado durante a noite com milhões de súditos, e os insetozinhos, reconhecidos e zelosos, cataram todos os grãozinhos e encheram os dez sacos.
A princesa desceu ao jardim e, pessoalmente, constatou, com grande assombro, que o jovem cumprira o que lhe tinha sido imposto. Ainda assim, não conseguiu vencer o orgulho que lhe dominava o coração.
- Embora tenha executado as duas tarefas, - disse ela, - não o desposarei a não ser que me traga uma maçã da árvore da vida.
O jovem ignorava completamente onde se encontrava a árvore da vida, contudo pôs-se a caminho disposto a andar enquanto Iho permitissem as pernas, sem esperança, porém, de encontrar a tal árvore.
Havia já percorrido três reinos quando, um dia, ao entardecer, chegou a uma floresta. Muito cansado, sentou-se debaixo de uma árvore, tencionando dormir aí. De repente, ouviu um roçagar por entre os galhos e uma maçã de ouro veio cair-lhe na mão. No mesmo instante, desceram voando três corvos; pousaram-lhe sobre os joelhos, dizendo:
- Somos os três pequenos corvos que livraste de morrer de fome. Agora já crescemos e viemos a saber que andavas à procura da maçã de ouro, senão terias que morrer. Então atravessamos o mar, voando até aos confins do mundo, onde se encontra a árvore da vida, e de lá te trouxemos a maçã.
O jovem agradeceu muito e, radiante de alegria, retomou o caminho rumo ao palácio, levando a maçã à princesa.
Dividiram pelo meio a maçã da vida e comeram-na juntos; assim o coração da princesa encheu-se de amor pelo jovem.
Casaram-se e viveram bem felizes até idade muito avançada.

 

As três linguagens

Um conto de fadas dos Irmãos Grimm


Houve, uma vez, na Suíça, um conde que tinha um filho único, mas tão obtuso que não conseguia aprender coisa alguma. Então, o pai disse-lhe:
- Escuta, meu filho, por mais que me esforce, não consigo meter nada dentro da tua cabeça. Precisas ir para fora daqui; eu te confiarei a um mestre muito célebre, que tentará fazer algo de ti.
O rapaz foi enviado a uma cidade estranha e hospedou-se na casa do mestre durante ano inteiro. Passado esse tempo, voltou para a casa do pai e este perguntou-lhe:
- Então, meu filho, o que aprendeste?
- Meu pai, aprendi o que latem os cachorros, - respondeu o rapaz.
- Misericórdia divina! - bradou o pai, - foi tudo o que aprendeste? Vou mandar-te para a casa de outro mestre, em outra cidade.
O rapaz foi e passou um ano na casa do segundo mestre. Voltando daí a um ano para casa, o pai perguntou-lhe:
- Que aprendeste, meu filho?
- Meu pai, aprendi o que dizem os passarinhos; - respondeu ele.
Zangadíssimo, o pai então gritou:
- O perdição humana! Perdeste um tempo precioso e nada aprendeste? E não te envergonhas de aparecer ante meus olhos? Vou mandar-te a um terceiro mestre; se desta vez não aprenderes nada, não quero mais ser teu pai.
O filho permaneceu um ano inteiro com o terceiro mestre; quando voltou para casa, o pai perguntou-lhe:
- Vejamos, meu filho, que aprendeste?
- Meu pai, - respondeu ele, - neste ano aprendi o que coaxam as rãs.
O pai, então, louco de raiva, levantou-se de um salto, chamou a criadagem e disse:
- Este homem não é mais meu filho; expulso-o de minha casa e ordeno que o leveis à floresta e o mateis.
Os criados levaram-no à floresta mas, no momento de matá-lo, condoeram-se dele e soltaram-no para que se fosse. Arrancaram os olhos e a língua de um veado, que levaram ao velho conde como testemunho.
O rapaz peregrinou durante algum tempo; por fim foi ter a um castelo, onde pediu pouso para aquela noite
- Sim, - disse o castelão, mas só se quiseres pernoitar lá embaixo naquela torre. Advirto-te, porém, que arriscas a vida; a torre está cheia de cães ferozes que latem e uivam sem parar e, em determinadas horas, é preciso dar-lhes um homem, que devoram imediatamente.
Em consequência disso, toda a região vivia em luto e mergulhada na tristeza, e não havia quem pudesse solucionar o problema. O rapaz, porém, não tinha medo e disse:
- Irei lá com os cães que uivam; dai-me somente alguma coisa que lhes possa atirar para que comam; a mim não farão mal algum.
Sendo essa a sua vontade, deram-lhe só a comida para os cães e o conduziram à torre. Quando penetrou lá dentro, os cães não latiram, mas abanaram amistosamente as caudas e comeram o que lhes apresentou, sem lhe torcer um só fio de cabelo.
Na manhã seguinte, saiu de lá são e salvo para assombro geral; foi ao castelão e disse:
- Os cães, na sua linguagem, revelaram-se a razão por que estão aí presos e porque causam tanto dano à região. Estão encantados e precisam guardar um grande tesouro escondido lá embaixo, na torre. Enquanto o tesouro não for desenterrado, eles não se apaziguarão e, sempre na sua linguagem, entendi o que é preciso fazer.
Todos se alegraram ao ouvir isso e o castelão propôs adotá-lo como filho se conseguisse resolver tudo da melhor maneira possível. O rapaz tomou a descer à torre e, instruído como deveria agir, desincumbiu-se da tarefa com felicidade; depois levou para cima uma arca cheia de ouro. A partir desse dia, nunca mais se ouviram os medonhos uivos dos cães ferozes; haviam desaparecido; a região ficou livre para sempre desse flagelo.
Decorrido algum tempo, o rapaz teve a ideia de viajar a Roma. Pelo caminho, passou junto a um charco e dentro dele as rãs coaxavam seus mexericos. Aguçou o ouvido, prestando atenção ao que diziam; quando percebeu o que estavam a dizer, caiu em profunda tristeza e preocupação.
Finalmente, depois de muito andar, chegou a Roma. Lá soube que havia falecido o Papa e reinava grande incerteza entre os Cardeais, que não conseguiam eleger o sucessor. Por fim, convencionaram que seria eleito aquele a quem fosse revelada, por um sinal milagroso, a vontade Divina.
Justamente quando assim deliberavam, o jovem conde entrou na igreja e logo duas pombas brancas como neve, foram pousar em seus ombros e lá permaneceram imóveis. O clero reconheceu nisso a vontade Divina e, sem mais delongas, perguntaram-lhe se queria ser eleito Papa. O jovem, indeciso, não sabia se era digno de tal encargo, mas as pombas o persuadiram e ele respondeu que sim.
Então, foi ungido e consagrado, cumprindo-se assim aquilo que, com grande consternação sua, ouvira as rãs coaxarem ao passar pelo charco. Pois elas justamente diziam que ele se tornaria Papa.
Depois de coroado, teve de celebrar e cantar missa; mas não sabia uma única palavra, pois jamais tinha feito isso; então as pombas, que permaneciam pousadas em seus ombros, o ajudaram, sussurrando-lhe aos ouvidos tudo o que devia fazer e dizer.


Os quatro irmãos habilidosos
Era uma vez um pobre homem que tinha quatro filhos; quando já estavam crescidos, disse-lhes:
- Meus caros filhos, já é tempo de que cuideis de vossa vida; ide pois pelo mundo afora. Eu nada tenho para vos dar; portanto, viajai para algum país estrangeiro e aprendei um ofício que vos permita viver honestamente.
Os quatro irmãos despediram-se do pai, tomaram dos bordões e, juntos, saíram da cidade. Andaram algumas horas e chegaram a uma encruzilhada de onde partiam quatro estradas divergentes. Então, Pedro, que era o mais velho, disse aos irmãos:
- Agora 6 melhor separarmo-nos; cada qual irá para um lado tentar fortuna: daqui a quatro anos, no mesmo dia e na mesma hora de hoje, devemos nos encontrar neste mesmo lugar.
Cada qual seguiu por um caminho. O mais velho logo encontrou um homem, que lhe perguntou aonde ia e o que tencionava fazer.
Vou à procura de um ofício - respondeu o moço.
Pois bem, - disse o homem, - vem comigo e
aprenderás o ofício de ladrão.
- Não, não, - respondeu Pedro; - essa é uma profissão pouco honrada e, no fim da festa, acaba-se feito badalo de forca.
- Oh, - retorquiu o outro, - não deves temer a forca; eu te ensinarei, somente, como deves fazer para apropriar-te de objetos mais escondidos em lugares onde ninguém poderá ir no teu encalço.
Pedro deixou-se persuadir e, nessa escola, tomou-se logo tão hábil na arte de roubar, que nada mais estava em segurança desde que o desejasse.
O segundo, que se chamava João, também encontrou um homem no seu caminho, que lhe perguntou para onde ia e o que desejava aprender.
- Vou à procura de um ofício, mas ainda não sei qual.
- Então vem comigo e aprenderás a ser um bom astrônomo; não há coisa melhor; nada haverá de oculto para ti.
João aceitou e seguiu o mestre. Após algum tempo, tornou-se astrônomo perfeito e, quando apto a cuidar de si, quis continuar a viagem; o mestre fez-lhe presente de um telescópio, dizendo;
Com este aparelho poderás ver tudo o que ocorre na Terra e no Céu, e nada poderá ficar oculto de ti.
O terceiro irmão, chamado José, entrou como aprendiz em casa de um caçador, que tão bem lhe ensinou tudo o que se relacionava com a arte de caçar, que ele se tornou caçador perfeitamente adestrado e insuperável. Quando terminou o aprendizado, despediu-se do mestre e este presenteou-o com uma espingarda, dizendo:
- Esta espingarda nunca falha; com ela acertarás qualquer alvo.
Miguel, o mais moço dos quatro irmãos, por sua vez encontrou um homem que lhe fez as mesmas perguntas, e lhe sugeriu:
- Não gostarias de aprender o ofício de alfaiate?
- Não é do meu agrado, - respondeu o rapaz; - não me entusiasma a ideia de ficar o dia inteiro curvado com uma agulha na mão!
- Qual nada! - respondeu o homem; - isto é o que pensas; comigo aprenderás uma arte muito diversa. Uma arte digna e muito apreciada, mesmo honrosa!
O rapaz convenceu-se; seguiu o mestre e acabou por se tomar um alfaiate de primeira ordem e muito hábil. Findo o tempo de aprendizado, despediu-se e o mestre presenteou-o com uma agulha, dizendo:
- Com esta agulha, podes coser seja lá o que for; quer seja mole como um ovo ou duro como o aço, a emenda ficará tão perfeita que ninguém a poderá distinguir.
Entretanto, os quatro anos passaram e, no dia marcado, os quatro irmãos encontraram-se no lugar combinado. Cheios de alegria, abraçaram-se e beijaram-se, dirigindo-se depois para a casa do pai. Este ficou radiante ao tornar a vê-los:
- Que bom vento vos trouxe novamente à casa? - disse muito satisfeito.
Os filhos contaram-lhe, então, todas as peripécias ocorridas com eles e a espécie de ofício que tinham aprendido. Estavam justamente sentados à sombra de uma frondosa árvore que havia em frente da casa, e o pai, querendo certificar-se sobre o que diziam, propôs:
Desejo pôr à prova a vossa habilidade. Lá em cima, no topo da árvore, entre dois galhos, há um ninho de pintassilgos; dize-me, meu filho, - falou o pai dirigindo-se ao segundo, - podes dizer-me quantos ovos há dentro dele?
João, o astrônomo, pegou na luneta, dirigiu-a para a árvore e disse no fim de alguns segundos:
- Há cinco.
- Tu, - disse o pai ao mais velho, - vai retirar os ovos, mas sem incomodar o pássaro que lá está chocando.
O ladrão perito trepou pela árvore acima e, sem incomodar o pássaro, que nada percebeu, retirou os cinco ovos que estava chocando e trouxe-os para o pai, que os colocou sobre a mesa, um em cada ângulo e o quinto no centro. Dirigindo-se ao terceiro filho, disse:
- Quanto a ti, tens de os furar pelo meio, com um só tiro da tua espingarda.
O caçador apontou a espingarda e furou os ovos exatamente como lhe pedia o pai, acertando todos cinco com um só tiro. (Com certeza ele possuía aquela espécie de pólvora que dobra as esquinas!)
- Agora a tua vez, Miguel - disse o pai. - Com tua famosa agulha tens de coser as cascas dos ovos e os passarinhos que estão dentro de maneira que o tiro não os prejudique.
O alfaiate pegou a agulha e costurou tudo como exigia o pai. Quando terminou Pedro tornou a ir pôr os ovos no ninho tão de leve que o pássaro não se apercebeu e continuou a chocar; alguns dias depois os filhotes saíram da casca como se não tivessem sido furados, e tinham uma listrazinha vermelha em volta do pescoço, no lugar onde o alfaiate fizera a costura.
- Muito bem, - disse o pai, - só posso fazer os melhores elogios. Aproveitastes bem o vosso tempo, aprendendo com perfeição. Não sei a qual hei de dar o prêmio da destreza; veremos isso quando tiverdes oportunidade de empregar a vossa arte.
Algum tempo depois, o país estava todo em alvoroço, porque a filha do rei tinha sido roubada por um dragão. O rei, tremendamente aflito, mandou anunciar que aquele que a trouxesse de volta, casaria com ela e, mais tarde, herdaria o trono.
- Eis uma ótima ocasião para nos distinguirmos, - disseram os quatro irmãos; - procuremos juntos salvar a princesa.
- Vou saber já onde ela se encontra, - disse o astrônomo.
Foi buscar a luneta e, olhando cm todos os sentidos, disse:
- Estou vendo-a; está sentada sobre um rochedo, no meio do mar, distante daqui muitas léguas; o terrível dragão está montando guarda junto dela.
Apresentaram-se ao rei e pediram-lhe um navio; assim que o obtiveram, puseram-se a navegar em direção ao rochedo. A princesa continuava lá sentada e o terrível animal, deitado ao lodo dela, dormia com a cabeça no seu regaço. O caçador disse:
- Nessa posição em que se encontra, não posso atirar, pois mataria também a princesa.
- Deixe isto por minha conta, - disse o perito ladrão.
Saltou para terra, esgueirou-se sorrateiramente e retirou a princesa, tão habilmente e com tanta destreza, que o monstro não se apercebeu e continuou roncando.
Radiantes de alegria, carregaram-na correndo para bordo e, soltando todas as velas, fizeram-se ao largo.
Mas o dragão, despertando pouco depois e não vendo mais a princesa, saiu a persegui-los, rugindo furiosamente pelo espaço. Quando já pairava por cima do navio e ia precipitar-se sobre os fugitivos, o caçador apontou-lhe a espingarda e atingiu-o em pleno coração. O monstro despencou, fragorosamente, sem vida; mas era tão colossal, que ao cair despedaçou completamente o navio.
Felizmente, eles conseguiram agarrar-se a algumas tábuas e ficaram flutuando no vasto mar. Contudo, o perigo era imenso, mas o alfaiate, sem perder tempo, pegou a agulha prodigiosa e, num abrir e fechar de olhos, coseu solidamente os destroços do navio, recolheu nele toda a ferragem, cosendo-a muito bem nos respectivos lugares. Executou o trabalho com tanta habilidade que, em breve, o navio ficou em condições de navegar e assim puderam voltar para casa.
Ao ver a querida filha, o rei ficou transportado de alegria e disse aos quatro irmãos:
- Cumprirei a promessa. Um dos quatro a receberá por esposa, mas, qual será, deveis decidi-los entre vós.
Então rebentou entre eles tremendo litígio, porque cada qual tinha as suas pretensões. O astrônomo dizia:
- Se eu não tivesse descoberto com a minha luneta onde se encontrava a princesa, todas as vossas artes teriam sido vãs; portanto sou eu que a devo desposar.
- De que serviria saber onde ela estava, - protestou o ladrão, - se eu não a tivesse subtraído ao dragão? Portanto, ela é minha.
O caçador, por sua vez, dizia:
- Qual nada; o monstro teria devorado vós todos e mais a princesa, se o tiro de minha espingarda não o tivesse matado; por conseguinte ela pertence-me.
- E se eu, com a minha agulha prodigiosa, não tivesse recomposto o navio, teríeis todos perecido afogados; portanto, ela tem ser minha.
A discussão já ia longe, quando o rei interveio.
- Na verdade, todos têm igual direito à mão de minha filha e, como ela não poderá casar com os quatro, nenhum a terá. Em compensação cedo-vos a metade do meu reino para que o partilheis entre vós.
Essa decisão agradou plenamente os irmãos, que exclamaram:
- E' bem melhor assim antes que vivermos em desarmonia.
Assim, cada qual instalou-se nos seus ricos domínios, vivendo muito felizes. O pai ia, alternadamente, passar três meses em companhia de cada um dos filhos, ficando todos satisfeitos, enquanto o bom Deus o permitiu.



Para todos os que estavam torcendo pelo hexa, a frustração não vem apenas pelo fato da seleção ter perdido para a Holanda, mas principalmente porque tínhamos plenas condições de vencer. O desequilíbrio emocional do time do Brasil ficou evidente na reação individual de alguns jogadores, e na incapacidade de reação de toda a equipe.
Uma das perguntas que não quer calar é: “Por que a seleção brasileira demonstrou tamanho desequilíbrio emocional?”. Bem, existem várias respostas para esta pergunta, e algumas delas nunca iremos descobrir, por isso permita-me ater àquela que ficou evidente para todos nós: a grande diferença entre poder e autoridade. De um lado o poder, representado pelo zangado Dunga, e de outro a autoridade, exemplificada por nosso “hermanito” Diego Maradona, um dos grandes personagens desta copa.
Imagine dois meninos participando de um campeonato de futebol na escola. Do lado de fora o pai de um deles dá bronca, xinga, grita, briga e não aceita qualquer erro do filho. No intervalo, descontrolado, aponta tudo o que o filho fez de errado, e exige que ele melhore o seu desempenho, porque se não o fizer, a bronca vai ser ainda maior. Já o pai do outro menino, apesar de alguns erros do filho, o incentiva o tempo todo, sinaliza que acredita nele, grita palavras de apoio, e no intervalo enfatiza o que ele está fazendo bem, o ajuda a enxergar o que pode melhorar, reitera o quanto acredita em seu potencial, e que independente do resultado, ele sempre terá o seu apoio.
O primeiro pai adota a postura “Dunga” de liderança, onde manda quem pode e obedece quem tem juízo, enquanto o segundo pai prefere o estilo “Maradona”, permitindo que as pessoas façam o que precisa ser feito por que assim o desejam. Esta é a diferença entre poder e autoridade. Segundo Max Weber, autoridade é a habilidade de levar as pessoas a fazerem sua vontade de bom grado por causa de sua influência pessoal, e poder é a capacidade de obrigar ou coagir as pessoas a fazerem sua vontade, por causa de sua posição ou força, mesmo que elas preferissem não fazê-lo.
O poder pode ser comprado, vendido, negociado, subornado, dado e retirado. Preferências pessoais, amizades, laços familiares e interesses escusos podem colocar uma pessoa em posição de poder, mas não podem dar-lhe autoridade. Poder é o que você faz, autoridade é o que você é.
Voltando ao exemplo dos meninos, qual dos dois meninos você preferiria ser? Qual dos pais você preferiria ter ao seu lado num jogo de futebol? Certamente o segundo.
Não importa o tipo de sua organização: indústria, comércio, serviços, família, igreja, clube, ONG, condomínio ou esportes, ela opera no ramo dos relacionamentos; elas só existem e acontecem por causa das pessoas, e aí é que mora o perigo do abuso de poder; com o tempo, ele compromete o principal negócio das organizações: os relacionamentos.
É por isso que modelos “Henry Ford” de liderança não têm mais espaço nos dias de hoje. Pensamentos como: “Pode ser de qualquer cor, desde que seja preto” ou “Por que ouvir as pessoas e suas ideias se eu apenas preciso delas do pescoço para baixo?” já não fazem tanto sucesso em nossos dias. Esta cultura teve sua aplicação ao longo da História, mas o seu tempo já passou. É por isso que o modelo “Dunga” de liderança não funciona, e não funcionou.
Você pode estar pensando: “Mas a Argentina também perdeu, portanto, o modelo de Maradona tampouco funciona”. A verdade é que as derrotas também fazem parte do caminho do aprendizado. A derrota não invalida uma boa liderança. Se você notou, quando terminou o jogo do Brasil com a Holanda, Dunga abaixou a cabeça e foi direto para o vestiário sem conversar com seus jogadores, enquanto Maradona, após ser atropelado pela Alemanha, ao final da partida caminhou em direção a cada jogador, agradecendo e consolando um a um.
A autoridade é legitimada pela equipe, estabelecendo a conexão entre líder e liderados, já o poder distancia o líder de sua equipe. A autoridade reforça a confiança, enquanto o poder aumenta o controle. A autoridade permite que as pessoas arrisquem mais porque sabem que um possível erro será usado como aprendizado, já o poder inibe a criatividade porque as pessoas sabem que serão punidas por seus erros. A autoridade traz maior confiança, controle e estabilidade emocional à equipe, enquanto o poder desestabiliza e fragiliza as pessoas, e foi justamente isso que aconteceu com nossa seleção.
O verdadeiro líder conhece a si mesmo e está tão seguro de sua identidade que nada nem ninguém podem impedi-lo de identificar e atender as legítimas necessidades de seus liderados, conquistando, assim, a autoridade necessária para aumentar a confiança e diminuir o controle sobre as pessoas, portanto, como líder, priorize a autoridade.


A professora pediu aos alunos que fizessem uma redação que respondesse à seguinte pergunta:
“Se você encontrasse uma lâmpada mágica e pudesse pedir ao gênio da lâmpada que mudasse algo em sua vida, o que você pediria?”
Depois de alguns dias, já em sua casa corrigindo as redações, a professora se depara com a redação de um menino que diz o seguinte:
– Gênio, eu quero te pedir algo muito especial. Por favor, me transforme em um televisor. Quero ser como a TV da minha casa. Quero ter um lugar especial para mim, e reunir minha família ao meu redor. Quero ser levado a sério quando falo. Quero ser o centro das atenções, e ser escutado sem interrupções. Quero receber o mesmo cuidado especial que a TV recebe quando não funciona, e ter a companhia dos meus pais quando eles chegam em casa, mesmo que estejam cansados. E que minha mãe me procure quando estiver sozinha e aborrecida, em vez de ignorar-me. E ainda que meus irmãos “briguem” para estar comigo. Quero sentir que a minha família às vezes deixa tudo de lado pra passar alguns momentos comigo. Eu só quero viver o que vive qualquer televisor!


Será que as pessoas com quem convivemos, em casa ou no trabalho, não teriam também motivos para escrever uma redação assim? Você tem dedicado mais tempo e atenção para a TV, para a tela do computador, ou para as pessoas?
Sem que percebamos, a tecnologia, que supostamente deveria facilitar o nosso dia-a-dia, têm nos afastado daquilo que é mais importante: o contato e o relacionamento com as pessoas. No mundo corporativo, as conversas ao vivo têm sido substituídas por e-mails, mensagens instantâneas, torpedos e um monte de outras coisas, tornando o ambiente de trabalho frio, impessoal e sem graça.
Isso não combina com liderança, porque liderança é relacionamento, e relacionamento pressupõe contato pessoal. Portanto, se você é um líder, procure deixar a tecnologia um pouquinho de lado, e dê mais atenção às pessoas. Converse mais com elas.
Não se esqueça; não importa o tipo de organização em que você trabalha: indústria, comércio, serviços, família, igreja, clube, ONG ou condomínio. Ela opera no ramo dos relacionamentos, e só existe por causa das pessoas. Portanto, cuide bem delas.

Olavo foi transferido de setor. Logo no primeiro dia, para fazer média com o novo chefe, saiu-se com esta:
– Chefe, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito do Marco; Disseram que ele…
Antes mesmo de terminar a frase, Juliano, o chefe, o interrompeu:
– Espere um pouco Olavo, o que vai me contar sobre o Marco já passou pelo crivo das três peneiras?
– Peneiras? Que peneiras, chefe?
– A primeira peneira é a da VERDADE. Você tem certeza que o que vai me contar sobre o Marco é absolutamente verdadeiro?
– Não. Só sei o que me contaram, mas acho que…
E, novamente Olavo é interrompido pelo chefe.
– Então sua história já vazou a primeira peneira.
Vamos então para a segunda; a peneira da BONDADE.
O que você vai me contar é algo bom? Gostaria que os outros também dissessem isso a seu respeito?
– Claro que não! Deus me livre, chefe! – responde Olavo assustado.
– Então – continua o chefe – Sua história vazou também a segunda peneira.
Vamos ver a terceira peneira, que é a da NECESSIDADE.
Você acha mesmo necessário me contar esse fato ou passá-lo adiante? Ele ajuda a resolver alguma coisa? Pode ajudar a melhorar algo em nosso dia-a-dia?
– Sinceramente não, chefe. É, passando pelo crivo das três peneiras, vi que não sobrou nada do que eu iria contar – comentou Olavo, um pouco decepcionado.
– Pois é, Olavo. Já pensou como as pessoas poderiam ser mais felizes e as empresas muito mais agradáveis para se trabalhar se todos usassem essas peneiras? – diz o chefe sorrindo, e continua …
– Da próxima vez em que surgir um boato por aí, submeta-o ao crivo das três peneiras antes de obedecer ao impulso de passá-lo adiante: Verdade, Bondade e Necessidade.
Pessoas inteligentes falam sobre idéias. Pessoas comuns falam sobre coisas. Pessoas medíocres falam (mal) sobre pessoas.
Pense um pouco: qual é o perfil das pessoas fofoqueiras? Em geral são pessoas infelizes consigo mesmas, com a vida, com o trabalho, com a família, enfim, nada pra elas tem uma razão nem um sentido positivo. A pessoa fofoqueira, como não tem perspectivas e nem motivação pessoal, ocupa o seu tempo julgando e falando mal da vida dos outros.
A fofoca chega até nossos ouvidos, geralmente com as seguintes frases:
– Já está sabendo da novidade?
– Sabe da última?
– Você não vai acreditar…
– Nem te conto…
Independentemente da frase maldosa que venha a chegar aos seus ouvidos, pense: Se alguém fala mal de outra pessoa para mim, quem garante que quando eu viro as costas, esta pessoa não estará falando mal de mim também?
Caso a fofoca venha acompanhada da seguinte frase: Vou te contar uma coisa, mas jura que guarda segredo? Desbanque o fofoqueiro com classe, dizendo: Se é um segredo seu, sinto-me lisonjeado por você confiar em mim. Caso eu não possa ajudá-lo, pelo menos ouvirei e guardarei segredo, mas se for um segredo sobre a vida de outra pessoa, por favor, não me conte, pois não quero saber!
Não aproveite o impulso diante de uma situação para falar mal de alguém. Não julgue o todo por uma parte, e não julgue para não ser julgado. Lembre-se de que quando você aponta um dedo para uma pessoa na intenção de julgá-la, três dedos da sua própria mão se voltam contra você.
A fofoca (rádio peão, rádio corredor, telefone sem fio) é um dos mais nocivos instrumentos de desagregação no ambiente de trabalho. O verdadeiro líder deve fazer uso destas três peneiras sempre que comentários mal-intencionados chegarem até ele. Não devemos esquecer que toda história tem pelo menos dois lados, e pra tomarmos decisões justas e acertadas, todos os envolvidos precisam ser ouvidos.
 Uma velha senhora foi para um safári na África e levou seu velho vira-lata com ela.
Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido.
Vagando a esmo, procurando o caminho de volta, o velho cão percebe que um jovem leopardo o viu e caminha em sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço.
O cachorro velho pensa:
– Oh! Estou mesmo enrascado!
Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão por perto. Em vez de apavorar-se mais ainda, o velho cão ajeita-se junto ao osso mais próximo, e começa a roê-lo, dando as costas ao predador. Quando o leopardo estava a ponto de dar o bote, o velho cachorro exclama bem alto:
– Cara, este leopardo estava delicioso! Será que há outros por aí?
Ouvindo isso, o jovem leopardo, com um arrepio de terror, suspende seu ataque, já quase começado, e se esgueira na direção das árvores.
– Caramba! pensa o leopardo, essa foi por pouco! O velho vira-lata quase me pega!
Um macaco, numa árvore ali perto, viu toda a cena e logo imaginou como fazer bom uso do que vira: em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não havia comido leopardo algum…
E assim foi rápido, em direção ao leopardo. Mas o velho cachorro o vê correndo na direção ao predador, em grande velocidade, e pensa:
– Aí tem coisa!
O macaco logo alcança o felino, cochicha-lhe o que interessa e faz um acordo com o leopardo. O jovem leopardo fica furioso por ter sido feito de bobo, e diz:
– Aí, macaco! Suba nas minhas costas para você ver o que vai acontecer com aquele cachorro abusado!
Agora, o velho cachorro vê um leopardo furioso, vindo em sua direção, com um macaco nas costas, e pensa:
– E agora, o que é que eu posso fazer?
Mas, ao invés de correr (porque sabia que suas pernas doídas não o levariam muito longe), o cachorro senta, mais uma vez dando costas aos agressores, e fazendo de conta que ainda não os viu, e quando estavam perto o bastante para ouvi-lo, o velho cão diz:
– Cadê aquele macaco safado? Estou com fome! Eu o mandei buscar outro leopardo pra eu comer, e até agora não voltou!

Nos momentos de crise, o melhor remédio é não se desesperar, e pensar numa saída criativa. São nos momentos de crise que as melhores idéias aparecem.

Se você ou sua empresa está vivendo um momento de crise, mantenha a calma, pense, reflita sobre as possibilidades, “pense fora da caixa”, reúna pessoas interessadas em resolver o problema, de liberdade para as pessoas pensarem e expressarem sua opinião e criatividade. As idéias e a solução vão surgir, com certeza.


Pedro, um adolescente que vivia sendo disciplinado por seus pais por suas constantes “pisadas de bola”, foi conversar com o diretor de sua escola, e meio sem jeito perguntou:
– Professor, o que devo fazer para não cometer tantos erros? Tenho me esforçado, mas não estou conseguindo melhorar!
O mestre então pegou um copo, encheu-o de água e entregou-o a Pedro, e disse:
– Filho, ande com esse copo por todo o colégio, suba e desça todas as escadas, entre em todos os cantos e becos, nos jardins, e volte aqui sem derramar uma só gota dessa água.
– Ah professor, isso é impossível! – Respondeu Pedro.
– Pelo menos tente. Tenho certeza que vai conseguir – Disse o Mestre.
Pedro então saiu, devagar, com os olhos fixos no copo. Subiu e desceu escadas, entrou e saiu das salas, cantos e becos, e voltou sem ter derramado uma só gota de água.
O mestre então olha carinhosamente para Pedro, bate nos ombros e lhe diz:
– Você não viu as garotas que passeavam pelo jardim no horário de aula? Não viu seus colegas matando aula para fumar e beber uma cervejinha?
– Não. Eu estava com os olhos fixos no copo – Respondeu Pedro.
O mestre então sorri, e diz:
– Quando você estabelece objetivos e metas para sua vida, e coloca seu foco neles, assim como fez com o copo, encontrará a força e a motivação necessárias para vencer os desafios e as dificuldades da vida.
Quem não sabe aonde quer chegar, qualquer lugar serve. Em gestão de tempo a bússola é mais importante que o relógio, porque para gerenciar tempo é preciso antes dar sentido a ele.
Segundo mostram as estatísticas, apenas 3% da população brasileira têm metas claras para suas vidas. Nossas ações no presente precisam estar conectadas ao que queremos no futuro, para que tenhamos maior motivação (um motivo para ação) ao realizá-las. Quando unimos presente e futuro, damos sentido às coisas que fazemos e caminhamos em direção ao que realmente desejamos para minha vida.
Se quisermos uma vida com mais sentido, precisamos estabelecer metas que estejam alinhadas com o nosso propósito. Você pode fazer o download do modelo ESPERTA de estabelecimento de metas .


Marco Fabossi

Um jovem e bem sucedido executivo dirigia em alta velocidade pela estrada, quando de repente um tijolo atingiu a porta de seu novíssimo carro. Imediatamente ele freou, deu marcha ré até o lugar de onde teria vindo o tijolo, saltou do carro e se deparou com um menino.
Sem nada perguntar, empurrou o menino contra um veículo e gritou:
– Você é louco moleque? Por que fez isso? Sabe quem eu sou? Que besteira você pensa que está fazendo? Eu acabo de tirar este carro da loja!
– Senhor, me desculpe, eu não sabia mais o que fazer! – respondeu o menino assustado – Eu tentei parar outras pessoas, mas não consegui. Meu irmão desceu sem freio e caiu de sua cadeira de rodas e não consigo levantá-lo. O senhor poderia me ajudar a recolocá-lo em sua cadeira de rodas? Ele está machucado e é muito pesado para mim.
O jovem executivo, com “um nó na garganta”, dirigiu-se então ao jovenzinho, colocou-o em sua cadeira de rodas, tirou seu lenço, limpou suas feridas e arranhões, e ficou ali até ter certeza de que estava tudo bem.
– Obrigado e que Deus possa abençoá-lo – agradeceram as crianças.
Enquanto o homem ficou observando o menino se distanciar, empurrando seu irmão em direção à sua casa, decidiu não consertar a porta amassada para lembrar-se de que não é preciso ir tão rápido pela vida, a ponto de que as pessoas precisem atirar um tijolo para conquistar sua atenção.



É muito importante compreender a diferença entre Gestor e Líder. Nossas organizações estão repletas de gestores altamente capacitados, dotados de enorme competência técnica e gerencial; homens e mulheres preparados para um mercado cada vez mais globalizado, complexo e competitivo, mas tão profundamente dedicados aos negócios e seus resultados que terminam por negligenciar as pessoas. Mais que gestores, as organizações precisam de líderes que enxergam e aceitam as pessoas como elas são, tratando-as com respeito e dignidade, independentemente de raça, níveis hierárquicos ou sociais, e religião. Líderes conscientes de que todas as conquistas são fruto do trabalho em equipe.
Reflita por um momento sobre o texto que acabou de ler: Será que as pessoas de sua equipe também desejariam “atirar um tijolo” para conseguirem conquistar um pouco de sua atenção como líder? Se você tem pessoas sob sua responsabilidade, é preciso ter consciência de que como gestor, você trata de “coisas” (processos, metas, resultados, etc.), mas como líder, seu compromisso é com pessoas, que trazem consigo sentimentos, ansiedades, frustrações e expectativas. Não permita o que as pressões do dia-a-dia por resultados de curto prazo, a correria, as mudanças, os processos, as metas ou qualquer outra coisa lhe afastem de sua equipe. Dê atenção às pessoas, ouça-as, ajude-as, cuide delas, e nunca se esqueça:
Gestão é o que fazemos, Liderança é o que somos. O Líder se torna o número um, colocando as pessoas em primeiro lugar.
O monge entrou no vilarejo montado num boi. Os habitantes da vila, que nunca o haviam visto por ali, lhe perguntaram:
– O que faz por aqui?
– Estou em busca de um boi.
As pessoas se entreolharam intrigadas e riram da situação, enquanto o monge se foi.
No dia seguinte, de novo montado no boi, o monge voltou ao vilarejo. E de novo as pessoas lhe perguntaram o que estava fazendo por ali.
– Eu já lhes disse: procuro um boi – respondeu o monge.
E outra vez o monge se foi, em meio ao riso de todos.
No terceiro dia o fato se repetiu, e novamente lhe perguntaram sobre o real motivo de sua passagem pelo vilarejo, e montado no boi, o monge respondeu:
– Eu busco um boi.
Como a piada já estava perdendo a graça, um dos moradores resolveu protestar:
– Olhe aqui, você é um monge, uma pessoa sábia, mas esta já é a terceira vez que vem ao nosso vilarejo à procura de um boi, enquanto observamos que você já esta o tempo todo sentado sobre ele! Não estamos entendendo aonde quer chegar!
E o monge então respondeu:
– Assim também é a sua busca pela Felicidade.



Talvez a felicidade seja um dos maiores anseios do ser humano, porém, o que poucos percebem é que ela está no caminho e não no destino, e com isso deixam de aproveitar a beleza da jornada por entenderem que a tão sonhada felicidade está em algo, alguém ou algum lugar, que ainda não chegou.
Sem dúvida que devemos olhar para frente, sonhar, estabelecer metas, e persegui-las, mas não podemos perder a noção de que nossa realização está no presente; no jeito que fazemos as coisas.
A felicidade não está em outro trabalho, outra profissão, outro casamento, outros amigos, outra casa, outro carro, ou qualquer outra coisa. Se aprendermos a olhar para o presente, vamos perceber que a vida tem nos agraciado com muitas oportunidades que talvez estejam encobertas pela correria que nos mantém demasiadamente ocupados para aproveitá-las.
Não deixe de perseguir seus sonhos, mas não se esqueça de aproveitar a jornada, porque é nela que a vida acontece.