O Velho e o Mar
Ernest Hemingway
SINOPSE: Depois de
passar quase três meses sem fisgar um peixe, escarnecido pelos colegas
de profissão, o velho Santiago enfrenta o alto-mar, sozinho, em seu
pequeno barco. Quer provar aos outros e a si mesmo que ainda é um bom
pescador. É em completa solidão que ele travará uma luta de três dias
com um peixe imenso, um animal quase mitológico, que lembra um ancestral
literário, a baleia Moby Dick. À medida que o combate se desenvolve, o
leitor vai embarcando no monólogo interior de Santiago, em suas dúvidas,
sua angústia, sentindo os músculos retesados, a boca salgada e com
gosto de carne crua, as mãos úmidas de sangue. Por fim o peixe se dobra à
força do pescador. Mas a vitória não será completa – surgem os
tubarões.
Novela da maturidade de Ernest Hemingway,
que foi correspondente de guerra e amante das touradas, O Velho e o Mar
(1952) é a melhor síntese de sua obra e de sua visão do mundo. Escrito
num estilo ágil e nervoso, máxima depuração da prosa jornalística do
autor, o livro explora os limites da capacidade humana diante de uma
natureza voraz, onde todos os elementos estão permanentemente em luta,
numa autodevoração sem fim.
Análise da Obra:
A vida é uma harmonia de contrários.
Podemos perceber esse fato claramente na obra “O velho e o Mar”. O velho
vive numa constante sensação de conflitos internos: velho x criança,
sofrimento x prazer, sonho x fracasso, matar ou morrer, “la mar” –
feminino: mar generoso, “el mar” – masculino: mar cruel.
Ser velho é viver numa situação de
discriminação social, significa ser “excluído”, viver na solidão. O
idoso tem consciência de sua importância, mas a sociedade insiste em
descartá-lo, porém, o velho Santiago não se conformando com essa
situação, vai à luta, decide provar a si mesmo e aos seus companheiros
que ainda é capaz de enfrentar o mar e pescar grandes peixes, busca o
reconhecimento através do trabalho.
O nome “Santiago” significa se
auto-conhecer no sofrimento, e é isso mesmo que acontece na obra,
Santiago quer mostrar suas forças, mas para isso precisa resgatar o lado
“menino” que existe dentro dele, que não envelhece, e vai à busca do
encontro consigo mesmo. O mar é o local apropriado para se interiorizar,
pois representa a travessia da vida, é um lugar tranqüilo que o leva a
refletir e recordar as lembranças. O encontro do velho com a criança que
mora dentro de si, é que lhe dá a capacidade de se aventurar, a coragem
de persistir nos seus sonhos, proporcionando a disposição de se
arriscar, de usar a criatividade na solução dos problemas, de ter
esperança, espontaneidade, enfim, de ir à busca do que lhe dá prazer:
“pescar”.
A criança lhe dá a motivação, e
forças emocionais para lutar, prosseguir e não desanimar, mas isso não é
suficiente, ele precisa também das forças físicas de seu tempo de
menino, porém a carcaça envelheceu, o seu corpo e seus braços não
correspondem mais aos seus desejos. “Queria muito que o menino estivesse
aqui comigo” – queria as forças de menino.
Mas Santiago não desiste de sua
jornada, segue em frente, enfrenta momentos de sofrimento e prazer. A
consciência de que tem um objetivo a ser alcançado o faz levantar mesmo
com dor, e prosseguir rumo ao seu alvo. Inesperadamente, encontra forças
para resistir, agora começa a ver uma saída, anteriormente estava tão
confuso que não podia enxergar o que fazer “antes eu não enxergava,
agora enxergo”, no momento em que se dispôs a agarrar aquela linha de
esperança, podia enfrentar o “peixe” de maneira diferente, a paz
interior reina em seu coração.
No mar o velho afronta uma imensa
batalha com o “peixe grande”, que representa seu sonho maior, a luta
parece infinita, mas em meio a ela consegue pescar os “peixes menores”,
que o alimenta e lhe dão a sustentação do corpo para continuar,
renovando-lhe as forças, ou seja, a superação dos problemas mais simples
serve de fortalecimento para os desafios maiores, são eles que
constroem os degraus para se chegar ao objetivo, e conquistar a vitória.
O sofrimento faz parte da vida, é um
caminho inevitável, seria impossível eliminá-lo, as lutas e batalhas
físicas e emocionais são indispensáveis para o nosso crescimento. Ao
mesmo tempo em que Santiago passava por todo o sofrimento, ele tinha
prazer em estar travando aquela luta, pois estava fazendo o que gostava:
“pescar”, queria fisgar o peixe. “Sou pescador, é pra isso que nasci”.
Se não existir a luta não há o prazer dá vitória, o prazer da conquista
dos desafios superados. É através do sofrimento que se origina o
prazer.
Neste duelo está presente o sonho e o
fracasso, pois para que um possa vencer, o outro tem que perder.
Vivemos numa sociedade competitiva, não basta ser bom, tem que ser o
melhor. Para conquistar o sonho é preciso vencer o “peixe grande”,
vencer os desafios, vencer a concorrência, que por sinal é muito grande.
A sociedade se preocupa com o resultado final e não com a travessia, o
nosso valor é a nossa capacidade, a nossa preparação – “sorte é o
encontro de oportunidade com a capacidade”.
Na obra o velho diz, “eu gosto do
peixe, tenho dó”, mas eu preciso ser melhor, tenho que sobreviver, é ele
ou eu, é matar ou morrer, estamos numa corrida contra o tempo. O peixe
grande a ser enfrentado pode até mesmo ser uma pessoa que você gosta
como aconteceu com o velho Santiago, querer pescá-lo não significa ser
este um inimigo.
E depois de ter pescado o peixe, não é
permitido parar no tempo, pois quando você acha que está tudo bem, na
maior calmaria, vem aquele tubarão para você enfrentar. Tudo parece não
ter fim, o velho, às vezes não dormia e não comia, a luta era constante,
vence um obstáculo aqui, logo surge outro ali, e outro acolá, e nem
sempre sairemos vitoriosos, pois o fracasso também faz parte da vida,
tira-nos do comodismo, mostra que somos imperfeitos e que precisamos ser
lapidados, não devemos encarar o fracasso como uma derrota, e sim como
uma lição que ensina-nos a ser mais fortes e persistentes nos objetivos
almejados. Temos que vencer os tubarões de cada dia, eles estão sempre
prontos para nos atacar, a vitória (sangue) chama a atenção do inimigo
(tubarão), e incomoda os adversários que virão com toda a fúria tentar
minar o teu sucesso, tirarem proveito da situação (comer parte da
carne), para isso você precisa estar preparado para não ficar no meio do
caminho, apenas com os ossos secos e as cicatrizes na mão.
A luta é individual, cada pessoa vem
sozinha ao mundo, atravessa a vida como uma pessoa separada, e
finalmente morre sozinha. A solidão é um sentimento interno, é o momento
em que sente que está só, até mesmo estando cercado de pessoas. Como
não poderia ser diferente, o velho Santiago faz a travessia pelo mar da
vida, sozinho, curtindo a solidão e a aventura no alto mar. As fases de
passagem pelo mar o faz refletir e agradecer à Deus, porque mesmo
atravessando por um período difícil, sua situação era melhor do que a de
outras pessoas. “A aves tem uma vida mais dura que a nossa.” As muitas
experiências ali vividas, serviram para a manifestação e o
fortalecimento de suas próprias forças diante dos problemas e
dificuldades, tornando sua base mais forte e sólida.
O título “O velho e o Mar” remete-nos
a idéia de que a vida está passando. O velho já atravessou por todas as
fases da vida, e o mar representa essa travessia que proporcionou a ele
grandes experiências vividas, às vezes o mar é bom, outras vezes é
ruim, temos que aprender a conviver com o bem e com o mal. A obra é
escrita de forma clara, simples e objetiva, suas orações são curtas e
diretas, com poucos adjetivos. Ernest Hemingway, influenciado e
inspirado pela profissão de “jornalismo”, comunica-se com o leitor de
forma autêntica, com isso consegue transmitir uma grande lição de vida
ao apresentar a luta desesperada de Santiago, que resume-se ao “desejo
de vencer”. Ensina-nos que em certos momentos é preciso ceder o
controle da direção, deixar-se levar pela maré, sem resistência. A
situação pode estar difícil, mas não devemos desanimar diante dos
obstáculos, é preciso ter perseverança, pois o sofrimento não vem para
nos derrotar e sim para nos tornar mais fortes, para nos lapidar e fazer
de nós uma jóia inigualável. É preciso passar pela luta para se chegar à
vitória, e que nem sempre podemos vencer, mas no fim sempre podemos
tirar uma lição da batalha travada. Assim como a felicidade é
passageira, o sofrimento não é eterno, sem dor não existe prazer, nos
momentos de dificuldades precisamos enxergar os lindos peixes coloridos
que nos rodeiam, pois são eles que iluminam e dão coloração para a vida,
senão a história escrita por você ficará em “preto e branco”.
Por Marli Savelli de Campos
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