terça-feira, 30 de setembro de 2014
Didi dá que fazer
Didi dá que fazer
Narrador
Quem me contou esta história foi o Rogério, um rapazinho meu amigo, que morava no 2º direito do prédio onde eu moro. Deixou de ser meu vizinho há coisa de um ano, pouco mais ou menos. O pai dele foi colocado em Estrasburgo, que fica em França, perto da Alemanha, e, como é bom de ver, a família mudou-se também.
Quando se foi embora, o Rogério passou por minha casa para se despedir. Prometeu que me escreveria muitas vezes, mas já se sabe: fora um postal com vistas da cidade e um cartão de Boas-Festas, não voltei a ter notícias dele.
E senti-lhe a falta! Sim, tive, sinceramente, saudades do Rogério e da Didi.
“Quem será esta Didi que aqui aparece de surpresa?”, perguntam vocês. Didi é nome de gato, ou melhor, de gata, da gatinha do Rogério, uma simpática e atrevida bichana que, quase todos os dias, eu tinha de ir levar ao 2º direito. Entrava-me pela janela e saía ao colo, a princesa de olhos azuis e rabinho alçado.
Moro no último andar de uma casa amansardada com vista para o telhado e para o rio. Os telhados, como sabes, são território exclusivo dos gatos. Por contrato antigo, os bichanos tomaram conta dos telhados das cidades e ali reinam e ditam leis. Que ninguém se atreva a contestar-lhes o direito, porque, se não, pode haver guerra entre gatos e homens, o que seria uma verdadeira desgraça, principalmente para os homens.
Pois a Didi subia ao telhado pela escada de ferro, em caracol, a escada das traseiras, mas, para descer, passava sempre por minha casa. Devia ter tonturas com a escada de caracol, nas curvas da descida, ou então simpatizava muito comigo. Nunca cheguei a saber.
Fosse porque fosse, de Verão ou de Inverno, tinha sempre a janela do meu quarto aberta, não se desse o caso de sua excelência querer entrar… Que frio eu apanhei em certos dias!
Todas as vezes que, com ela ao colo, tocava à campainha do 2º direito, Dona Didi agradecia-me com um ronrom muito expressivo.
— Aqui lhe trago a sua gatinha — dizia eu para a mãe do Rogério, que era quem abria a porta.
— Para que se esteve a incomodar… Deixasse-a no patamar da escada e ela que viesse pelo seu pé.
— Não, mãezinha, que ela podia fugir para a rua — dizia, lá de dentro, o Rogério. — Com a escada de salvação não há perigo, porque está trancada em baixo, mas, pela escada da frente, punha-se na rua num instante. E os carros?
Eu, pelo meu lado, aprovava as cautelas do Rogério. A mãe, embora não dissesse, também aprovava.
Ora, no outro dia, o Rogério voltou. Está de férias, em casa de uns tios, e demora-se um mês por cá, para matar saudades e rever amigos. Perguntei-lhe pela Didi, e neste ponto é que entra a aventura que ele me contou.
O prédio para onde foram viver, em Estrasburgo, pouco diferia do nosso: vários andares, vários inquilinos, escada principal, escada de serviço, etc. Quem, a princípio, estranhou mais foi a Didi, mas depressa achou meio de subir para o telhado, e aí estava ela onde e como queria…
Admito que tivesse sentido uma certa falta do vizinho do último andar… Lá se remediou à sua maneira. Talvez nem sequer já se lembrasse de mim, a ingrata!
Os hábitos dos gatos respeitam-se e não se discutem. No entanto, em certas ocasiões, é preciso pensar por eles, como vão ver.
Na cidade para onde o Rogério tinha ido, nevava e neva sempre, durante o Inverno. Para o meu amigo, o espetáculo da neve a cair, em flocos que parecem penas brancas, era uma maravilhosa novidade. Para a Didi não seria menos. Mas havia o problema do telhado, que ficava escorregadio e perigoso sempre que nevava. Por isso, a Didi foi proibida de saltar para o telhado, o que ela não conseguiu compreender.
Um dia, escapou-se. Quando o Rogério voltou da escola, deram-lhe a notícia. A Didi tinha fugido para o telhado e não conseguia descer.
— Chamamos os bombeiros — decidiu o pai.
E se a Didi se assustava? À vista de estranhos, podia desequilibrar-se e…
A tarde correu depressa, sem que se achasse uma solução.
A pobrezinha, no telhado, miava. Devia estar cheia de frio. O que fazer?
O meu amigo Rogério, sem dizer nada a ninguém, o que foi uma imprudência, subiu as escadas, abriu a muito custo uma claraboia e pôs os pés no telhado, tentando não se desequilibrar. Deu um passo, dois passos… Estava escuro, muito escuro, e não havia meio de conseguir ver a Didi, que tinha o pêlo da cor da noite. O Rogério chamou, primeiro baixinho, depois mais alto:
— Didi, sou eu. Vem cá, Didi.
Nem um ronrom, nem um miado, e o céu cada vez mais escuro. Ele a dar mais um passo resvaladiço, e um peso inesperado a saltar-lhe para os ombros. Era a Didi, tiritante, que lhe dava marradinhas no pescoço e se queixava do frio, quase sem voz para um terno ronrom.
— Tivemos de a aquecer junto da lareira e de a cobrir com cobertores, porque a Didi não parava de espirrar — contou o Rogério.
E aqui acaba a aventura verdadeira, trazida pelo meu amigo, dos confins da Europa comunitária. A Didi, cidadã europeia, um dia que regresse a Portugal, já tem muito que contar aos outros gatos do nosso telhado…
Hansel e Gretel
Hansel e Gretel
Narrador
Era uma vez…
Há muito tempo, numa cabana perto de um grande bosque, vivia um pobre lenhador com os seus dois filhos, um rapaz e uma rapariga.
O menino chamava-se Hansel, e a menina Gretel, e o lenhador era tão pobre que tinha muita dificuldade em sustentá-los.
Um dia, Hansel e Gretel foram com o seu pai ao bosque buscar lenha e, sem darem por isso, afastaram-se tanto dele que, quando escureceu, acabaram por se perder.
– Papá! Papá! Onde estás? – gritavam em coro os meninos.
Mas, tendo andado durante horas a tentar encontrar o seu pai ou, pelo menos, sair do bosque, quanto mais andavam mais se afastavam da sua casa. Cheios de fome e muito assustados, vaguearam a noite inteira pelo bosque escuro, pensando que nunca mais voltariam à sua casa, até que, por fim, muito cansados, aninharam-se debaixo de uma árvore e acabaram por adormecer.
De manhã recomeçaram a caminhada, mas cada vez penetravam mais no bosque, e tinham tanta fome que quase não conseguiam andar:
– Olha – disse Hansel olhando para o ramo de uma árvore – que pássaro tão bonito! Um pássaro, branco como a neve, estava pousado num ramo. O seu canto era tão bonito que os meninos pararam para o ouvir. Quando o pássaro branco parou de cantar, abriu as asas e levantou voo.
Sem saber muito bem porquê, Hansel e Gretel seguiram o pássaro branco, que voava baixinho e muito devagar, como se os quisesse levar a algum sítio.
Seguiram durante várias horas o pássaro, que finalmente pousou numa bonita casinha.
As crianças dirigiram-se para lá, muito contentes porque tinham encontrado um sítio onde podiam arranjar alguma coisa para comer, e saber como podiam sair rapidamente daquele bosque sinistro. Mas qual não foi a sua surpresa quando chegaram ao pé da casinha e viram que as paredes eram de bolo, o telhado de chocolate, e os vidros das janelas de rebuçado transparente.
– Que grande banquete que vamos ter Gretel! – exclamou Hansel. Vou já comer um grande bocado do telhado! Correram para a apetitosa casinha. Hansel subiu ao telhado e começou a comer uma telha. Gretel aproximou-se de uma janela e lambeu o vidro. Ao ver que era doce, e como era muito gulosa, arrancou um pedaço e chupou-o.
De repente, abriu-se a porta da casinha e saiu de lá de dentro uma velhinha. As crianças ficaram tão assustadas que deixaram cair as guloseimas que estavam a comer, mas a velhinha acalmou-as dizendo-lhes:
– Não tenham medo, queridos meninos.
Como é que chegaram até aqui?
– Perdemo-nos no bosque – respondeu Gretel.
– E temos muita fome – disse Hansel.
– Então venham – disse a velhinha. Venham e comam o que quiserem.
Dito isto, a velha fê-los entrar para dentro de casa. Depois preparou-lhes uma apetitosa refeição, com bolos e leite, maçãs e nozes.
Mas a velha era na realidade uma bruxa malvada, que tinha construído a casinha para atrair as crianças e as devorar.
Ao anoitecer, a bruxa preparou uma cama para as crianças que, como estavam muito cansadas, se deitaram contentíssimas, pensando que tinham tido muita sorte em encontrarem aquela velhinha tão boazinha, e adormeceram logo. Mas de manhã, a bruxa tirou Hansel da cama bruscamente e fechou-o numa gaiola. Depois disse a Gretel:
– Prepara comida para o teu irmão, que está muito magro e tem de engordar. Quando estiver gordo, vou assá-lo no forno e comê-lo… Ah, ah, ah!
Todos os dias Gretel tinha de preparar muita comida para Hansel, que ia engordando pouco a pouco.
– Mostra-me um dedo para ver se estás a engordar – dizia a bruxa ao menino. Mas Hansel mostrava um osso de galinha, e a bruxa, que via muito mal, acreditava que o osso era o dedo da criança e que este ainda estava magro.
Depois de quatro semanas, a bruxa cansou-se de esperar e disse a Gretel:
– Já estou farta. Acende o forno que eu vou comer o Hansel assim mesmo.
– Não sei acendê-lo; vais ter de me ensinar – respondeu Gretel.
– Pequena inútil! – gritou a bruxa.
Vê lá se aprendes como se faz.
A velha abriu a porta do forno e meteu metade do corpo dentro dele para o acender. Então, Gretel empurrou-a e fechou-a lá dentro.
A bruxa gritava e batia na porta do forno, mas esta era de ferro e não havia forma de a abrir por dentro.
Gretel correu a libertar o seu irmão. As crianças abraçaram-se e pularam de alegria, e, como a bruxa já não lhes podia fazer mal, foram fazer um reconhecimento à casa.
Qual não foi o seu espanto ao encontrarem vários cofres cheios de pérolas preciosas! Encheram os bolsos de jóias e saíram a correr da casinha de chocolate, ansiosos por voltar para ao pé do seu pai.
Não demoraram muito a encontrar caminho de regresso a casa, onde o pai os recebeu chorando de alegria. E com as jóias da bruxa, viveram felizes para sempre.
O menino chamava-se Hansel, e a menina Gretel, e o lenhador era tão pobre que tinha muita dificuldade em sustentá-los.
Um dia, Hansel e Gretel foram com o seu pai ao bosque buscar lenha e, sem darem por isso, afastaram-se tanto dele que, quando escureceu, acabaram por se perder.
– Papá! Papá! Onde estás? – gritavam em coro os meninos.
Mas, tendo andado durante horas a tentar encontrar o seu pai ou, pelo menos, sair do bosque, quanto mais andavam mais se afastavam da sua casa. Cheios de fome e muito assustados, vaguearam a noite inteira pelo bosque escuro, pensando que nunca mais voltariam à sua casa, até que, por fim, muito cansados, aninharam-se debaixo de uma árvore e acabaram por adormecer.
De manhã recomeçaram a caminhada, mas cada vez penetravam mais no bosque, e tinham tanta fome que quase não conseguiam andar:
– Olha – disse Hansel olhando para o ramo de uma árvore – que pássaro tão bonito! Um pássaro, branco como a neve, estava pousado num ramo. O seu canto era tão bonito que os meninos pararam para o ouvir. Quando o pássaro branco parou de cantar, abriu as asas e levantou voo.
Sem saber muito bem porquê, Hansel e Gretel seguiram o pássaro branco, que voava baixinho e muito devagar, como se os quisesse levar a algum sítio.
Seguiram durante várias horas o pássaro, que finalmente pousou numa bonita casinha.
As crianças dirigiram-se para lá, muito contentes porque tinham encontrado um sítio onde podiam arranjar alguma coisa para comer, e saber como podiam sair rapidamente daquele bosque sinistro. Mas qual não foi a sua surpresa quando chegaram ao pé da casinha e viram que as paredes eram de bolo, o telhado de chocolate, e os vidros das janelas de rebuçado transparente.
– Que grande banquete que vamos ter Gretel! – exclamou Hansel. Vou já comer um grande bocado do telhado! Correram para a apetitosa casinha. Hansel subiu ao telhado e começou a comer uma telha. Gretel aproximou-se de uma janela e lambeu o vidro. Ao ver que era doce, e como era muito gulosa, arrancou um pedaço e chupou-o.
De repente, abriu-se a porta da casinha e saiu de lá de dentro uma velhinha. As crianças ficaram tão assustadas que deixaram cair as guloseimas que estavam a comer, mas a velhinha acalmou-as dizendo-lhes:
– Não tenham medo, queridos meninos.
Como é que chegaram até aqui?
– Perdemo-nos no bosque – respondeu Gretel.
– E temos muita fome – disse Hansel.
– Então venham – disse a velhinha. Venham e comam o que quiserem.
Dito isto, a velha fê-los entrar para dentro de casa. Depois preparou-lhes uma apetitosa refeição, com bolos e leite, maçãs e nozes.
Mas a velha era na realidade uma bruxa malvada, que tinha construído a casinha para atrair as crianças e as devorar.
Ao anoitecer, a bruxa preparou uma cama para as crianças que, como estavam muito cansadas, se deitaram contentíssimas, pensando que tinham tido muita sorte em encontrarem aquela velhinha tão boazinha, e adormeceram logo. Mas de manhã, a bruxa tirou Hansel da cama bruscamente e fechou-o numa gaiola. Depois disse a Gretel:
– Prepara comida para o teu irmão, que está muito magro e tem de engordar. Quando estiver gordo, vou assá-lo no forno e comê-lo… Ah, ah, ah!
Todos os dias Gretel tinha de preparar muita comida para Hansel, que ia engordando pouco a pouco.
– Mostra-me um dedo para ver se estás a engordar – dizia a bruxa ao menino. Mas Hansel mostrava um osso de galinha, e a bruxa, que via muito mal, acreditava que o osso era o dedo da criança e que este ainda estava magro.
Depois de quatro semanas, a bruxa cansou-se de esperar e disse a Gretel:
– Já estou farta. Acende o forno que eu vou comer o Hansel assim mesmo.
– Não sei acendê-lo; vais ter de me ensinar – respondeu Gretel.
– Pequena inútil! – gritou a bruxa.
Vê lá se aprendes como se faz.
A velha abriu a porta do forno e meteu metade do corpo dentro dele para o acender. Então, Gretel empurrou-a e fechou-a lá dentro.
A bruxa gritava e batia na porta do forno, mas esta era de ferro e não havia forma de a abrir por dentro.
Gretel correu a libertar o seu irmão. As crianças abraçaram-se e pularam de alegria, e, como a bruxa já não lhes podia fazer mal, foram fazer um reconhecimento à casa.
Qual não foi o seu espanto ao encontrarem vários cofres cheios de pérolas preciosas! Encheram os bolsos de jóias e saíram a correr da casinha de chocolate, ansiosos por voltar para ao pé do seu pai.
Não demoraram muito a encontrar caminho de regresso a casa, onde o pai os recebeu chorando de alegria. E com as jóias da bruxa, viveram felizes para sempre.
A Grande Detonação
A grande detonação
Narrador
O Valter e o Edi caminhavam para casa, iam carregados de toda a espécie de embrulhos que a mãe tinha comprado. Em breve teria lugar, novamente, a festa nacional.
O vendedor tinha dado aos dois rapazitos dois foguetes. Eles mal podiam esperar até os acenderem. Dariam ambos um grande estrondo? A mãe riu compreensivamente da animação dos rapazitos. No entanto, pegou nos dois foguetes e disse aos pequenos que tinham de esperar até ao dia um de Agosto. O pai os ajudaria, nessa altura, para que não acontecesse nada de aborrecido. A desilusão do Edi foi grande, mas ele sabia que não valia de nada tentar modificar uma resolução da mãe. Dois dias mais tarde, quando a mãe tinha ido às compras, o Edi pensou que seria engraçado deitar um foguete. “Se ao menos já estivessemos no primeiro de Agosto! Eu poderia deitar o meu foguete”, disse para consigo.
“Valter” chamou, “sabes onde é que a mãe guardou os foguetes?”
“Não. ela escondeu-os.”
“Vamos procurá-los”, propôs o Edi.
“Tu bem sabes que a mãe proibiu acender os foguetes antes do primeiro de Agosto. Eu não te vou ajudar a procurar”, respondeu o Valter, que era dois anos mais velho.
Então o Edi disse a irmãzita: “Elvira, anda! Ajuda-me a procurar os foguetes.”
Assim, lá foram de quarto em quarto, procurando em todas as gavetas. O Edi procurou por toda a parte. Os foguetes estavam bem escondidos. Só trepando com dificuldade é que ele conseguiu alcançar a prateleira superior do armário da cozinha.
“Ó Elvira! Aqui estão eles!”. exclamou excitado. “Não vou tocar no do Valter. Só quero o meu.”
Pegou na caixa de fósforos, e correu com o seu achado para trás da vedação de madeira. Era lá que ele queria acender o foguete. A Elvira ia atrás dele. “O estrondo vai-me assustar?” perguntou a irmãzinha.
“Não, vai ser engraçado. Espera aí.” Respondeu o irmão com ar entendido.
Chegou o fósforo a arder à mecha e correu para o pé da irmãzita. Mas então começou a ficar assustado. O fogo na mecha parecia ir apagar-se. O Edi quis ateá-lo. Assim foi lá e acendeu outro fósforo. Mas fê-lo no sentido inverso. De repente, pareceu que o Edi se encontrava no meio de um grande fogo-de-artifício. Então sentiu tudo a ficar escuro como breu. Parecia ser noite. Só ouvia à sua volta vozes assustadas. Também parecia que alguém lhe estava a espetar pregos nos olhos.
Ardiam horrivelmente. Mexeu-se um pouco e ouviu a mãe dizer:”Edi, estás acordado? Consegues ver a mamã?” “Tão escuro” disse o Edi imperceptivelmente. “Acende a luz e tira-me os pregos dos olhos.” A pobre mãe, durante algum tempo, nem pôde falar. O médico explicou que o foguete tinha explodido na cara do Edi e tinha-lhe ferido a vista. “Vamos fazer o que pudermos, e tu podes ajudar-nos, se fores corajoso”, assegurou o médico que acabara de examinar o Edi. Mas o Edi não era lá muito valente. Só quando a mãe lhe punha a mão quente na testa, é que ele ficava mais tranquilo. Durante muitos meses teve de usar óculos escuros. Demorou muito tempo até ele conseguir ver outra vez.
Mais tarde, quando alguém queria acender foguetes, o Edi passava bem ao largo. Com o Valter dava-se o mesmo. Depois daquele dia infeliz, nunca mais sentiu o mínimo desejo de assistir a uma grande explosão.
Jorinda e Joringel
Jorinda e Joringel
Narrador
Uma velha bruxa, de quem todos tinham muito medo, e que vivia num velho castelo situado no meio de um bosque muito denso. Podia transformar-se num gato ou numa coruja e recuperar o seu aspecto normal quando lhe apetecia. Ninguém conseguia aproximar-se do seu castelo sem ficar paralisado por um feitiço.
Numa pequena povoação perto do terrível castelo, vivia a rapariga mais bonita de toda a região. Chamava-se Jorinda, e o seu noivo, que também era um jovem muito bem parecido, Joringel. Os dois amavam-se profundamente. Um dia o casal foi passear pelo bosque e, de repente, sem saber porquê, Jorinda ficou cheia de medo. Quando quiserem regressar a casa viram que estavam perdidos.
Andavam sem rumo pela floresta quando Joringel avistou ao longe o que parecia ser uma casa. No entanto, ao aproximarem-se, viram que se tratava do velho castelo da bruxa. Nesse mesmo instante, apareceu à sua frente um gato muito feio e, em apenas um segundo, a rapariga transformou-se num rouxinol.
Depois, o felino adoptou a forma humana, mostrando ser uma bruxa, que agarrou em Jorinda para a levar consigo ao mesmo tempo que dizia a Joringel:
– Nunca mais vais voltar a vê-la! Estás a ouvir?
Mas não te preocupes: vais esquecê-la muito rapidamente!
– O que será de mim? – lamentava-se Joringel, enquanto via a bruxa afastar-se com a sua amada.
Então, as árvores do bosque e um estranho fantasma atacaram o jovem até que este perdeu os sentidos. Quando acordou, Joringel estava numa casa que não conhecia e onde viviam uma mulher e a sua filha. Elas explicaram-lhe que o tinham encontrado no bosque e que o tinham levado para sua casa para o tratar. O jovem decidiu ficar e recuperar-se, para assim poder libertar a sua amada.
– O que estará a fazer a minha adorada Jorinda? – suspirava, cada vez que pensava na sua noiva.
Um dia, Jorindel reparou que, tal como a bruxa lhe tinha dito, começava a esquecer a sua amada. Mas nessa mesma noite teve um sonho em que Jorinda lhe pedia para lhe levar uma flor encarnada para poder quebrar o feitiço. Quando Joringel acordou, foi para a floresta à procura da flor, mas as árvores e o estranho fantasma voltaram a persegui-lo até o fazerem tropeçar. Cansado e desanimado, Joringel começou a chorar; então, uma lágrima caiu na terra e brotou ali mesmo uma flor como a do sonho. Joringel colheu-a com muita delicadeza e foi correr para o castelo.
Joringel, protegido pelo poder da flor, conseguiu quebrar todos os feitiços do castelo que o tinham atingido anteriormente. Num abrir e fechar de olhos, o jovem chegou à casa onde a malvada bruxa tinha presos os seus sete mil pássaros.
Quando a mulher se apercebeu da sua presença tentou atacá-lo, mas ele protegeu-se com a flor e a velha rebolou pelo chão. Joringel aproveitou a oportunidade para ir à procura de Jorinda. Mas, como encontrar a sua amada entre tantos rouxinóis?
Enquanto Joringel procurava Jorinda entre todos aqueles pássaros, a bruxa, que já se tinha recomposto, tentou atacá-lo de novo. O rapaz, de um salto, cortou-lhe o caminho. Então, a velha levantou os braços para lhe lançar um feitiço, mas o jovem foi mais rápido do que ela e atirou-lhe a flor.
No mesmo instante, a velha feiticeira transformou-se numa repugnante ratazana. O gato da bruxa, quando a viu, pôs-se a persegui-la e começaram os dois a correr por toda a casa, gerando uma grande confusão. Por muito que tentasse, a bruxa não conseguia de maneira nenhuma recuperar o seu aspecto humano.
Joringel, por seu lado, já tinha conseguido encontrar Jorinda. Com muito cuidado, o rapaz acariciou o rouxinol com a flor, e este transformou-se, pouco a pouco, na sua bela noiva. De imediato, a jovem, chorando de alegria, lançou-se nos braços do seu amado, que também não conseguiu conter as lágrimas.
Passada a emoção do reencontro, Joringel aproximou-se das outras gaiolas e foi tocando com a flor em cada uma das sete mil que ali havia. O feitiço quebrou-se imediatamente e todos os pássaros libertados foram-se transformando nas bonitas damas que a bruxa tinha capturado durante aquele tempo todo.
Jorinda, Jorindel e as raparigas foram-se embora do castelo rapidamente, enquanto a bruxa, ainda com aspecto de ratazana, corria o mais rápido que podia para não ser devorada pelo gato.
Depois de se despedirem das damas, Jorinda e Jorindel regressaram a casa, e viveram juntos e felizes durante muitos, muitos anos.
Numa pequena povoação perto do terrível castelo, vivia a rapariga mais bonita de toda a região. Chamava-se Jorinda, e o seu noivo, que também era um jovem muito bem parecido, Joringel. Os dois amavam-se profundamente. Um dia o casal foi passear pelo bosque e, de repente, sem saber porquê, Jorinda ficou cheia de medo. Quando quiserem regressar a casa viram que estavam perdidos.
Andavam sem rumo pela floresta quando Joringel avistou ao longe o que parecia ser uma casa. No entanto, ao aproximarem-se, viram que se tratava do velho castelo da bruxa. Nesse mesmo instante, apareceu à sua frente um gato muito feio e, em apenas um segundo, a rapariga transformou-se num rouxinol.
Depois, o felino adoptou a forma humana, mostrando ser uma bruxa, que agarrou em Jorinda para a levar consigo ao mesmo tempo que dizia a Joringel:
– Nunca mais vais voltar a vê-la! Estás a ouvir?
Mas não te preocupes: vais esquecê-la muito rapidamente!
– O que será de mim? – lamentava-se Joringel, enquanto via a bruxa afastar-se com a sua amada.
Então, as árvores do bosque e um estranho fantasma atacaram o jovem até que este perdeu os sentidos. Quando acordou, Joringel estava numa casa que não conhecia e onde viviam uma mulher e a sua filha. Elas explicaram-lhe que o tinham encontrado no bosque e que o tinham levado para sua casa para o tratar. O jovem decidiu ficar e recuperar-se, para assim poder libertar a sua amada.
– O que estará a fazer a minha adorada Jorinda? – suspirava, cada vez que pensava na sua noiva.
Um dia, Jorindel reparou que, tal como a bruxa lhe tinha dito, começava a esquecer a sua amada. Mas nessa mesma noite teve um sonho em que Jorinda lhe pedia para lhe levar uma flor encarnada para poder quebrar o feitiço. Quando Joringel acordou, foi para a floresta à procura da flor, mas as árvores e o estranho fantasma voltaram a persegui-lo até o fazerem tropeçar. Cansado e desanimado, Joringel começou a chorar; então, uma lágrima caiu na terra e brotou ali mesmo uma flor como a do sonho. Joringel colheu-a com muita delicadeza e foi correr para o castelo.
Joringel, protegido pelo poder da flor, conseguiu quebrar todos os feitiços do castelo que o tinham atingido anteriormente. Num abrir e fechar de olhos, o jovem chegou à casa onde a malvada bruxa tinha presos os seus sete mil pássaros.
Quando a mulher se apercebeu da sua presença tentou atacá-lo, mas ele protegeu-se com a flor e a velha rebolou pelo chão. Joringel aproveitou a oportunidade para ir à procura de Jorinda. Mas, como encontrar a sua amada entre tantos rouxinóis?
Enquanto Joringel procurava Jorinda entre todos aqueles pássaros, a bruxa, que já se tinha recomposto, tentou atacá-lo de novo. O rapaz, de um salto, cortou-lhe o caminho. Então, a velha levantou os braços para lhe lançar um feitiço, mas o jovem foi mais rápido do que ela e atirou-lhe a flor.
No mesmo instante, a velha feiticeira transformou-se numa repugnante ratazana. O gato da bruxa, quando a viu, pôs-se a persegui-la e começaram os dois a correr por toda a casa, gerando uma grande confusão. Por muito que tentasse, a bruxa não conseguia de maneira nenhuma recuperar o seu aspecto humano.
Joringel, por seu lado, já tinha conseguido encontrar Jorinda. Com muito cuidado, o rapaz acariciou o rouxinol com a flor, e este transformou-se, pouco a pouco, na sua bela noiva. De imediato, a jovem, chorando de alegria, lançou-se nos braços do seu amado, que também não conseguiu conter as lágrimas.
Passada a emoção do reencontro, Joringel aproximou-se das outras gaiolas e foi tocando com a flor em cada uma das sete mil que ali havia. O feitiço quebrou-se imediatamente e todos os pássaros libertados foram-se transformando nas bonitas damas que a bruxa tinha capturado durante aquele tempo todo.
Jorinda, Jorindel e as raparigas foram-se embora do castelo rapidamente, enquanto a bruxa, ainda com aspecto de ratazana, corria o mais rápido que podia para não ser devorada pelo gato.
Depois de se despedirem das damas, Jorinda e Jorindel regressaram a casa, e viveram juntos e felizes durante muitos, muitos anos.
O Gato de Botas
O Gato das Botas
Narrador
Há muito tempo atrás morreu um moleiro que tinha três filhos. Era pobre, mas deixou uma coisa para cada um. O mais velho herdou o moinho, o filho do meio um burro e o mais novo um gato.
O mais velho tornou-se moleiro como o pai, o segundo partiu na garupa do burro à procura de fortuna e o mais novo sentou-se a chorar. “O que faço com um gato?”, lamentava-se. “O que será de mim?”
O gato, vendo-o desesperado, aproximou-se e disse: ” Não te preocupes. Arranja-me uma capa, um chapéu com umas belas plumas e um par de botas novas. Do resto trato eu.”
O rapaz secou as lágrimas e obedeceu.
No dia seguinte, o gato enfiou as botas e correu para o castelo, veloz como o vento, para oferecer um coelho ao rei. “Isto é um presente do meu amo, o marquês de Caraíbas!”, disse o gato a sua majestade.
E durante sete dias seguidos, apresentou-se todas as noites ao rei com novos presentes: lebres, perdizes, faisões…
No castelo estavam todos cheios de curiosidade.
“Que homem generoso, este marquês de Caraíbas!”, comentavam na corte.
Gostaríamos tanto de conhecer o teu patrão”, disse um dia a rainha ao gato.
“O marquês de Caraíbas terá muita honra em vos convidar para o seu castelo”, responde-lhe o gato.
O dono do gato ficou aflito e suspirou: “Oh, não! Todos ficarão a saber que sou pobre!”
“Não te preocupes e faz o que te digo”, disse o gato. “Amanhã irás tomar um banho ao rio.”
“Mas não sei nadar”, lamentou o rapaz.
“Não faz mal”, respondeu o gato, “confia em mim!”
O gato sabia que o rei e a rainha iam passear na sua carruagem junto ao rio. Esperto como era, mal sentiu os cavalos a aproximarem-se, atirou o patrão à água e gritou: “Socorro! Socorro! O meu patrão, o marquês de Caraíbas, está a afogar-se!”
O rei ordenou aos criados que salvassem o marquês. Depois deu-lhe roupas secas e luxuosas e disse que ele e a rainha gostariam muito de visitar o seu castelo. O falso marquês desatou a chorar, pensando que tinha sido descoberto, mas o gato não perdeu tempo a consolá-lo. Tinha-lhe arranjado roupas novas, só faltava encontrar-lhe uma casa.
E, sem hesitar, correu para o castelo do Ogro.
“Diz-me uma coisa, Ogro, é verdade que estás a perder poderes?”, perguntou o gato com muita astúcia.
“Diz-se por aí que consegues transformar-te em animais enormes, mas em animais pequenininhos, não.”
“Já vais ver!”, respondeu o Ogro ofendido. Num instante, transformou-se num pequeno ratinho, que o gato engoliu de uma só vez! Depois apoderou-se do castelo do ogro, instalou-se com o seu patrão e convidou o rei e a rainha para jantar.
Os reis aceitaram o convite e levaram consigo a sua filha, uma bela princesa por quem o filho do moleiro logo se apaixonou.
O rei e a rainha organizaram um baile maravilhoso para festejar o casamento.
A partir de então, graças ao gato das botas, todos viveram felizes para sempre.
O mais velho tornou-se moleiro como o pai, o segundo partiu na garupa do burro à procura de fortuna e o mais novo sentou-se a chorar. “O que faço com um gato?”, lamentava-se. “O que será de mim?”
O gato, vendo-o desesperado, aproximou-se e disse: ” Não te preocupes. Arranja-me uma capa, um chapéu com umas belas plumas e um par de botas novas. Do resto trato eu.”
O rapaz secou as lágrimas e obedeceu.
No dia seguinte, o gato enfiou as botas e correu para o castelo, veloz como o vento, para oferecer um coelho ao rei. “Isto é um presente do meu amo, o marquês de Caraíbas!”, disse o gato a sua majestade.
E durante sete dias seguidos, apresentou-se todas as noites ao rei com novos presentes: lebres, perdizes, faisões…
No castelo estavam todos cheios de curiosidade.
“Que homem generoso, este marquês de Caraíbas!”, comentavam na corte.
Gostaríamos tanto de conhecer o teu patrão”, disse um dia a rainha ao gato.
“O marquês de Caraíbas terá muita honra em vos convidar para o seu castelo”, responde-lhe o gato.
O dono do gato ficou aflito e suspirou: “Oh, não! Todos ficarão a saber que sou pobre!”
“Não te preocupes e faz o que te digo”, disse o gato. “Amanhã irás tomar um banho ao rio.”
“Mas não sei nadar”, lamentou o rapaz.
“Não faz mal”, respondeu o gato, “confia em mim!”
O gato sabia que o rei e a rainha iam passear na sua carruagem junto ao rio. Esperto como era, mal sentiu os cavalos a aproximarem-se, atirou o patrão à água e gritou: “Socorro! Socorro! O meu patrão, o marquês de Caraíbas, está a afogar-se!”
O rei ordenou aos criados que salvassem o marquês. Depois deu-lhe roupas secas e luxuosas e disse que ele e a rainha gostariam muito de visitar o seu castelo. O falso marquês desatou a chorar, pensando que tinha sido descoberto, mas o gato não perdeu tempo a consolá-lo. Tinha-lhe arranjado roupas novas, só faltava encontrar-lhe uma casa.
E, sem hesitar, correu para o castelo do Ogro.
“Diz-me uma coisa, Ogro, é verdade que estás a perder poderes?”, perguntou o gato com muita astúcia.
“Diz-se por aí que consegues transformar-te em animais enormes, mas em animais pequenininhos, não.”
“Já vais ver!”, respondeu o Ogro ofendido. Num instante, transformou-se num pequeno ratinho, que o gato engoliu de uma só vez! Depois apoderou-se do castelo do ogro, instalou-se com o seu patrão e convidou o rei e a rainha para jantar.
Os reis aceitaram o convite e levaram consigo a sua filha, uma bela princesa por quem o filho do moleiro logo se apaixonou.
O rei e a rainha organizaram um baile maravilhoso para festejar o casamento.
A partir de então, graças ao gato das botas, todos viveram felizes para sempre.
A Floresta Enfeitiçada
A Floresta Enfeitiçada
Narrador
Era uma vez um Gnomo que vivia nas profundezas de uma Floresta encantada. A sua única companhia, para além das árvores e das flores que cobriam a sua casinha, era um Gato preto.
Um dia, estava o Gnomo a cuidar das suas plantas, quando apareceu o Gato com um ar muito preocupado:
– Gnomo, Gnomo, nem imaginas o que aconteceu!
– Porque estás tão inquieto? – perguntou o Gnomo.
– A Floresta está a desaparecer! – respondeu – Para lá daquele vale restam apenas escassas ervas. Até o rio deixou de correr!
– Mas porque será?
– Dizem que, há muitos anos atrás, um Feiticeiro perdeu nesta Floresta a sua amada, uma princesa de beleza extrema. O desgosto foi tão grande que, movido pela raiva, lançou um feitiço. Se dentro de sete dias não forem encontradas três pedras mágicas, esta Floresta deixará de existir, e com ela todos os seres que nela habitam.
No dia seguinte, o Gnomo e o Gato foram, com a ajuda de uma nuvem mágica, à procura das pedras mágicas.
Os dias passavam e, já cansados de tanto procurar, resolveram descansar à sombra de uma árvore. Pouco depois estavam a dormir. Na manhã seguinte, mal o Gnomo acordou, encontrou a seus pés uma carta e uma espada. A carta dizia:
“Meu caro amigo, sou uma pessoa que te quer ajudar. Para encontrares as três pedras mágicas, basta salvares a Princesa do reino, que se encontra presa numa masmorra. Para isso terás que atravessar toda a Floresta e lá encontrarás o castelo de um monstro. Se à meia-noite do dia de hoje a Princesa não estiver neste sítio, tudo desaparecerá”.
Ao atravessarem a floresta, o Gnomo e o Gato deram com o castelo do monstro. Com a ajuda da nuvem mágica e da espada, o Gnomo matou o monstro e salvou a Princesa.
Já na Floresta, o Gnomo exclamou:
– São tantas as árvores! Como vamos descobrir aquela onde dormimos?
– Marquei uma cruz nessa árvore; basta agora descobri-la – respondeu o Gato.
Estavam as badaladas da meia-noite a tocar, quando o Gato e o Gnomo entregaram a Princesa à pessoa que escrevera a carta.
– É um feiticeiro! exclamou o Gnomo.
– Pois sim! Obrigado por me trazerem a minha amada de volta.Nenhum dos meus feitiços seria tão ágil como a vossa pequenez. A vocês devo a minha vida. E a minha felicidade. E, com um pequeno toque, apareceram as pedras mágicas na mão do Gnomo.
Foi assim que, salva a Floresta e todos os seus habitantes, o Gnomo e o Gato voltaram para a sua casinha, nas profundezas da Floresta, e viveram felizes para sempre.
Um dia, estava o Gnomo a cuidar das suas plantas, quando apareceu o Gato com um ar muito preocupado:
– Gnomo, Gnomo, nem imaginas o que aconteceu!
– Porque estás tão inquieto? – perguntou o Gnomo.
– A Floresta está a desaparecer! – respondeu – Para lá daquele vale restam apenas escassas ervas. Até o rio deixou de correr!
– Mas porque será?
– Dizem que, há muitos anos atrás, um Feiticeiro perdeu nesta Floresta a sua amada, uma princesa de beleza extrema. O desgosto foi tão grande que, movido pela raiva, lançou um feitiço. Se dentro de sete dias não forem encontradas três pedras mágicas, esta Floresta deixará de existir, e com ela todos os seres que nela habitam.
No dia seguinte, o Gnomo e o Gato foram, com a ajuda de uma nuvem mágica, à procura das pedras mágicas.
Os dias passavam e, já cansados de tanto procurar, resolveram descansar à sombra de uma árvore. Pouco depois estavam a dormir. Na manhã seguinte, mal o Gnomo acordou, encontrou a seus pés uma carta e uma espada. A carta dizia:
“Meu caro amigo, sou uma pessoa que te quer ajudar. Para encontrares as três pedras mágicas, basta salvares a Princesa do reino, que se encontra presa numa masmorra. Para isso terás que atravessar toda a Floresta e lá encontrarás o castelo de um monstro. Se à meia-noite do dia de hoje a Princesa não estiver neste sítio, tudo desaparecerá”.
Ao atravessarem a floresta, o Gnomo e o Gato deram com o castelo do monstro. Com a ajuda da nuvem mágica e da espada, o Gnomo matou o monstro e salvou a Princesa.
Já na Floresta, o Gnomo exclamou:
– São tantas as árvores! Como vamos descobrir aquela onde dormimos?
– Marquei uma cruz nessa árvore; basta agora descobri-la – respondeu o Gato.
Estavam as badaladas da meia-noite a tocar, quando o Gato e o Gnomo entregaram a Princesa à pessoa que escrevera a carta.
– É um feiticeiro! exclamou o Gnomo.
– Pois sim! Obrigado por me trazerem a minha amada de volta.Nenhum dos meus feitiços seria tão ágil como a vossa pequenez. A vocês devo a minha vida. E a minha felicidade. E, com um pequeno toque, apareceram as pedras mágicas na mão do Gnomo.
Foi assim que, salva a Floresta e todos os seus habitantes, o Gnomo e o Gato voltaram para a sua casinha, nas profundezas da Floresta, e viveram felizes para sempre.
O Burro Sabido
O Burro Sabido
Narrador
Era uma vez um burro preguiçoso. Um dia, o dono carregou-o com uns sacos de sal. Pesavam como chumbo. O burro gemia, vergado ao peso da carga.
Ao atravessar lentamente um rio, sentiu que a carga estava a tornar-se cada vez mais leve. De facto, o sal começava a derreter-se e a carga ficava cada vez mais ligeira. Então, o burro preguiçoso ficou na água e esperou que todo o sal se derretesse.
Quando se sentiu leve, saiu da água e continuou o seu caminho.
E evidente que o dono não gostou nada da brincadeira do animal.
Dias depois, carregou-o com uma grande carga
enorme de algodão. Era uma carga leve, mas incómoda. Era preciso ir muito direitinho para o algodão
não cair.
O burro preguiçoso lembrou-se da carga de sal e, para se libertar também dessa carga, decidiu atravessar outra vez lentamente o rio.
Porém, quando mais mergulhava mais o algodão se embebia em água, ficando cada vez mais pesado.
Quando saiu do rio, levava uma carga imensamente pesada.
Continuou o caminho a gemer, arrependido da sua esperteza de preguiçoso.
Ao atravessar lentamente um rio, sentiu que a carga estava a tornar-se cada vez mais leve. De facto, o sal começava a derreter-se e a carga ficava cada vez mais ligeira. Então, o burro preguiçoso ficou na água e esperou que todo o sal se derretesse.
Quando se sentiu leve, saiu da água e continuou o seu caminho.
E evidente que o dono não gostou nada da brincadeira do animal.
Dias depois, carregou-o com uma grande carga
enorme de algodão. Era uma carga leve, mas incómoda. Era preciso ir muito direitinho para o algodão
não cair.
O burro preguiçoso lembrou-se da carga de sal e, para se libertar também dessa carga, decidiu atravessar outra vez lentamente o rio.
Porém, quando mais mergulhava mais o algodão se embebia em água, ficando cada vez mais pesado.
Quando saiu do rio, levava uma carga imensamente pesada.
Continuou o caminho a gemer, arrependido da sua esperteza de preguiçoso.
Admiramos os burros, apesar da sua má fama, mas somos contra a preguiça. Vivendo numa sociedade hedonista, comodista e individualista, é andar contra a corrente falar de sacrifício. Sem ele, porém, nada se consegue de belo.
O Burro do Azeiteiro
O Burro do Azeiteiro
NarradorDois estudantes encontraram numa estrada um azeiteiro que levava pela rédea um burro carregado de bilhas de azeite. E repararam que o azeiteiro batia, sem dó nem piedade, com o chicote no pobre burro. Este, provavelmente porque já vinha de muito longe, ia cansado, subindo a encosta a custo e ao ritmo das chicotadas do dono.
– Deve ser já muito velho, ou então, está doente – disse um dos estudantes para o outro.
– Seja como for, o certo é que o azeiteiro só pensa no seu dinheiro – disse o outro, também indignado com aquela brutalidade.
– E se fôssemos explicar-lhe que é desumano tratar assim o animal?
– Não ganhamos nada com isso!
– Tens razão, ele deve ser um grande sovina. Podemos é ainda receber alguma chicotada como paga de nos termos intrometido na sua vida.
– É isso mesmo. Então arriscar por arriscar, vamos salvar o burro e, ao mesmo tempo, salvar a nossa situação.
– Que queres dizer?
– Não estamos aflitos, sem dinheiro?
– Se estamos! E daí?
– Tive uma ideia. Vamos roubar o burro e vendê-lo. É bom para nós que precisamos de dinheiro e bom para o burro que, com certeza, vai passar a ter um dono melhor.
Então o estudante que teve a ideia transmitiu-a ao outro e colocaram-na em prática.
Enquanto um dos estudantes distraiu o azeiteiro perguntando qual o caminho mais perto para alcançar uma certa aldeia, o outro soltou o burro, escondeu-o e colocou no seu próprio pescoço a cabeçada do burro.
O azeiteiro, quando voltou para trás e viu um homem no lugar do burro, ia desmaiando.
Então o estudante-feito-burro disse com muita calma:
– Ah, senhor, quanto lhe agradeço ter-me dado tanta pancada na cabeça! Foi assim que me quebrou o encanto que durante tantos anos me fez passar por burro! A mim, Príncipe do reino da Felicidade.
Então o azeiteiro tirou o chapéu e disse-lhe muito humildemente:
– Perdi em Vossa Alteza um burro, mas paciência! Como Príncipe que agora é, peço-lhe muitas desculpas por tê-lo maltratado tantas vezes.
– Está perdoado. Só lhe peço que me deixe ir agora depressa para o meu reino… Na Corte devem estar todos preocupados com a minha longa ausência.
No dia seguinte, o labrego do azeiteiro foi à feira comprar outro burro. E curiosamente foi lá encontrar o jumento que lhe tinha pertencido.
O azeiteiro, julgando então que o príncipe-burro se tinha transformado de novo no seu burro, chegou-se ao pé do outro estudante, que ele não reconheceu porque estava bem disfarçado, e pediu-lhe licença para dizer um segredo ao burro. O estudante disse-lhe que sim e o azeiteiro, chegando-se próximo da orelha do animal, gritou com toda a força:
– Olhe, senhor Príncipe, quem o não conhecer que o compre!
A Lenda DAs Sete Cidades
A Lenda das Sete cidades
Narrador
Há muitos, muitos anos, vivia no Reino das Sete Cidades uma pequena Princesa chamada Antília.
A menina era a filha única de um velho Rei viúvo que era conhecido pelo seu mau feitio. Senhor das Alquimias e do Saber, o Rei vivia em exclusivo para a sua filhinha, não gostando que a Princesa falasse com ninguém. A menina ora estava com o pai, ora estava com a velha ama que a criara desde o nascimento, altura em que a Rainha sua mãe falecera.
Os anos foram passando, Antília foi crescendo e um dia já não era mais aquela menina de tranças loiras caídas sobre os ombros, enfeitadas com flores silvestres; tinha-se transformado numa linda jovem, uma Princesa capaz de encantar qualquer rapaz do seu reino.
Contudo, se todos ouviam falar da beleza da jovem Princesa, eram poucos ou nenhuns os que a conheciam, pois o Rei não gostava que ela saísse do castelo nem dos jardins que o circundavam.
Mas Antília não se deixava intimidar pelo pai, e com a ajuda da velha ama costumava esquivar-se todas as tardes, enquanto o Rei dormia a sesta depois do almoço. Saía pelas traseiras, sem que ninguém a visse, e ia passear pelos montes e vales próximos.
Num desses passeios, andando pela floresta, um dia a Princesa escutou uma música. A música era tão linda, encantou-a de tal forma, que ela se deixou guiar pelo som e foi descobrir um jovem pastor a tocar flauta, sentado no cimo de um monte. Era ele o autor de tanta maravilha!
A Princesa, encantada, deixou-se ficar escondida a ouvir o jovem a tocar flauta. E ouviu-o escondida durante semanas, até que o pastor, um dia, a descobriu por detrás de uns arbustos.
Ao vê-la foi amor à primeira vista, e era recíproco, pois ela também estava apaixonada por ele. Os jovens continuaram a encontrar-se. Passavam as tardes a conversar e a rir, o pastor a tocar para a Princesa e ela a escutá-lo enlevada, e ambos se sentiam muito felizes juntos.
Um belo dia o pastor decidiu pedir a Princesa em casamento.
Logo pela manhãzinha, o jovem bateu à porta do Castelo, e pediu ao criado para falar com o Rei. Pouco depois o criado voltou e levou-o à presença do Soberano. Muito nervoso mas determinado, o pastor fez-lhe uma vénia e, olhando-o nos olhos, disse:
– Majestade, gosto muito de Antília, sua filha, e gostaria de pedir a sua mão em casamento.
– A mão de minha filha, NUNCA… OUVIS-TE… NUNCA!- disse o Rei aos berros.- Criado, põe este pastor atrevido na rua.
O jovem bem tentou argumentar, mas ele não o deixava falar, e expulsou-o do Castelo.
Em seguida o Rei mandou chamar Antília e proibiu-a de ver o pastor. Antília mais não fez do que acatar as ordens do Rei seu pai.
E nessa mesma tarde foi ter com o seu amor e disse-lhe que nunca mais se podiam encontrar.
Os dois jovens choraram toda a tarde abraçados.
As suas lágrimas, de tantas serem, formaram duas lindas e grandes lagoas, uma verde da cor dos olhos da Princesa, a outra azul da cor dos olhos do pastor.
E ainda hoje estas duas lagoas continuam no Vale das Sete Cidades, na Ilha de São Miguel, lá nos Açores, para avivar a memória de todos quantos por ali passam, e recordar o drama dos dois apaixonados.
A menina era a filha única de um velho Rei viúvo que era conhecido pelo seu mau feitio. Senhor das Alquimias e do Saber, o Rei vivia em exclusivo para a sua filhinha, não gostando que a Princesa falasse com ninguém. A menina ora estava com o pai, ora estava com a velha ama que a criara desde o nascimento, altura em que a Rainha sua mãe falecera.
Os anos foram passando, Antília foi crescendo e um dia já não era mais aquela menina de tranças loiras caídas sobre os ombros, enfeitadas com flores silvestres; tinha-se transformado numa linda jovem, uma Princesa capaz de encantar qualquer rapaz do seu reino.
Contudo, se todos ouviam falar da beleza da jovem Princesa, eram poucos ou nenhuns os que a conheciam, pois o Rei não gostava que ela saísse do castelo nem dos jardins que o circundavam.
Mas Antília não se deixava intimidar pelo pai, e com a ajuda da velha ama costumava esquivar-se todas as tardes, enquanto o Rei dormia a sesta depois do almoço. Saía pelas traseiras, sem que ninguém a visse, e ia passear pelos montes e vales próximos.
Num desses passeios, andando pela floresta, um dia a Princesa escutou uma música. A música era tão linda, encantou-a de tal forma, que ela se deixou guiar pelo som e foi descobrir um jovem pastor a tocar flauta, sentado no cimo de um monte. Era ele o autor de tanta maravilha!
A Princesa, encantada, deixou-se ficar escondida a ouvir o jovem a tocar flauta. E ouviu-o escondida durante semanas, até que o pastor, um dia, a descobriu por detrás de uns arbustos.
Ao vê-la foi amor à primeira vista, e era recíproco, pois ela também estava apaixonada por ele. Os jovens continuaram a encontrar-se. Passavam as tardes a conversar e a rir, o pastor a tocar para a Princesa e ela a escutá-lo enlevada, e ambos se sentiam muito felizes juntos.
Um belo dia o pastor decidiu pedir a Princesa em casamento.
Logo pela manhãzinha, o jovem bateu à porta do Castelo, e pediu ao criado para falar com o Rei. Pouco depois o criado voltou e levou-o à presença do Soberano. Muito nervoso mas determinado, o pastor fez-lhe uma vénia e, olhando-o nos olhos, disse:
– Majestade, gosto muito de Antília, sua filha, e gostaria de pedir a sua mão em casamento.
– A mão de minha filha, NUNCA… OUVIS-TE… NUNCA!- disse o Rei aos berros.- Criado, põe este pastor atrevido na rua.
O jovem bem tentou argumentar, mas ele não o deixava falar, e expulsou-o do Castelo.
Em seguida o Rei mandou chamar Antília e proibiu-a de ver o pastor. Antília mais não fez do que acatar as ordens do Rei seu pai.
E nessa mesma tarde foi ter com o seu amor e disse-lhe que nunca mais se podiam encontrar.
Os dois jovens choraram toda a tarde abraçados.
As suas lágrimas, de tantas serem, formaram duas lindas e grandes lagoas, uma verde da cor dos olhos da Princesa, a outra azul da cor dos olhos do pastor.
E ainda hoje estas duas lagoas continuam no Vale das Sete Cidades, na Ilha de São Miguel, lá nos Açores, para avivar a memória de todos quantos por ali passam, e recordar o drama dos dois apaixonados.
A Princesa Pele de Asno
A princesa pele de asno
Narrador
Era uma vez um boníssimo rei, a quem o povo muito amava e os vizinhos muito respeitavam, sendo por isso o rei mais feliz do mundo. Além do mais, ele teve a sorte de casar-se com uma princesa linda e igualmente virtuosa que lhe deu apenas uma filha, porém tão encantadora, que os pais viviam num verdadeiro êxtase.
No palácio real, havia abundância de tudo e muito bom gosto. Os ministros eram muito sagazes e habilidosos, os cortesãos, muito dedicados, e os empregados, muito leais. Na grande estrebaria, havia os mais soberbos cavalos jamais vistos e com os melhores arreios, embora todos estranhassem que o mais importante animal fosse um asno com orelhas compridíssimas. Mas não fora por um mero capricho que o rei lhe dera tamanha distinção. O asno era merecedor de todas as regalias e honras, pois, na verdade, se tratava de um asno com poderes mágicos. Todo dia, ao nascer do sol, a sua baía estava coberta de moedas de ouro, que o rei mandava colher.
Mas como a vida não é para sempre um mar de rosas, certo dia a rainha caiu de cama, com uma doença desconhecida que nenhum médico era capaz de curar. No palácio, baixou uma intensa tristeza. O rei foi a todos os templos do castelo e fez promessas, em que se comprometia a dar sua própria vida em troca da cura da amada rainha. Mas tudo foi em vão.
Certo dia, sentindo que ia morrer, a rainha chamou o marido e lhe disse, aos prantos:
– Meu fiel esposo e amigo, quero fazer-lhe antes de ir-me um pedido: se de novo se casar…
Nesse ponto, o rei a interrompeu, apertando-lhe as mãos e desfazendo-se em lágrimas, como que para dizer-lhe que jamais sequer pensara nisso.
– Não, não, minha fiel esposa e amiga, em vez disso, peça-me que a siga na tumba!
– O reino – continuou a rainha com tranquila firmeza – precisa de sucessores e eu só lhe dei uma filha. Portanto terá que se casar de novo, e eu lhe peço que só se case se encontrar uma princesa mais bonita e mais bem-dotada do que eu. Se me jurar isso morrerei feliz e em paz.
Parece que a rainha tinha muito amor-próprio, e que se forçou o marido a essa promessa, foi porque não cogitava que pudesse haver outra princesa que excedesse em beleza e dotes. Porém, o rei jurou e ela, alguns minutos depois, morreu.
O rei sofreu imensamente. Durante vários dias, só chorou e se lamentou. Mas, com o tempo, se foi conformando, e, certo dia, os seus ministros lhe mandaram uma representação, pedindo-lhe que se casasse de novo. Tal pedido o fez desfazer-se em lágrimas pelo pesar reavivado e respondeu que jurara à esposa que só voltaria a se casar quando aparecesse uma princesa mais bonita e mais bem-dotada do que a falecida o que era praticamente impossível. Os ministros disseram que a beleza era algo supérfluo, e que para o bem do reino bastava uma rainha virtuosa e fértil, que lhe desse muitos filhos homens e, assim, tranquilizasse o povo quanto a sucessão. Também disseram que a princesa real tinha todos os atributos para se tornar uma grande rainha, mas, por ser mulher, logo se casaria com um príncipe estrangeiro, o que poria em risco a coroa, já que o rei não tinha filhos que lhe sucedessem.
O rei ouviu tudo e meditou sobre aqueles argumentos racionais, prometendo que voltaria a se casar. E, de fato, procurou, entre as princesas em idade de casar uma que lhe fosse conveniente. Todos os dias, os ministros lhe traziam retratos de princesas dos reinos das cercanias – porém o rei respondia negativamente com a cabeça. Nenhuma chegava aos pés da sua amada falecida.
O tempo passava e, à medida que passava, a princesa real ficava cada vez mais linda, excedendo a própria mãe. O rei reparava naquilo, e como já não estava muito no seu juízo perfeito, começou a sentir pela filha um amor profundo e forte, que não se assemelhava ao amor paterno. Enfim, não conseguindo mais esconder os seus sentimentos, declarou que só se casaria com ela.
A jovem princesa, que era muito virtuosa, quase desfaleceu quando ouviu a declaração de rei seu pai. Lançou-se-lhe aos pés e lhe suplicou eloquentemente a não cometer aquele crime hediondo.
O rei foi consultar um druida para ficar com a consciência tranquila, e o druida, que era muito ambicioso e só queria tornar-se um dos favoritos do rei, convenceu-o de que não havia mal algum naquele casamento e que, além de ser vantajoso para todos, era até mesmo um ato de crueldade. O rei o abraçou e retornou ao palácio mais decidido ainda, e mandou que a princesa se preparasse para as bodas.
A princesa, em desespero, só ocorreu uma ideia: ir consultar a fada Lilás, sua madrinha. Então, partiu naquela noite mesmo, numa espécie de carro puxado por um cordeiro que conhecia todos os caminhos. A fada gostava muito da princesa e logo que a viu chegar lhe disse que já sabia tudo.
– É claro, minha menina, que seria um grande erro casar-se com o seu pai. Porém, eu vejo um jeito de arranjar as coisas sem que haja um confronto. Concorde com as bodas, mas lhe exija como condição que ele lhe dê um vestido da cor do tempo. Nem com todas as riquezas que possui, nem com todo o seu poder, ele conseguirá semelhante vestido.
A princesa agradeceu à sua madrinha, retornou ao palácio e disse ao rei que se casaria com ele, contando que lhe desse um vestido com a cor do tempo. O rei ficou tão maravilhado com a resposta, que mandou vir os mais habilidosos costureiros do reino, e lhes ordenou que fizessem o vestido, sob pena de serem enforcados.
Mas isso não foi necessário, porque após dois dias os costureiros trouxeram o vestido, leve como as manhãs e azul como o céu. A princesa ficou desapontada e correu de novo ao encontro da madrinha:
– O que fazer agora? – Perguntou-lhe.
– Peça agora um vestido da cor da lua – responde-lhe a fada.
E a princesa real pediu ao rei o vestido da cor da lua, que foi encomendado de imediato. No dia seguinte, o vestido foi entregue e era tal e qual da cor da lua. A princesa se desesperou e de novo se lamentava quando a fada apareceu e disse:
-Se pedir um vestido da cor do sol, tenho certeza de que o rei ficará muito embaraçado, pois é impossível fazer um vestido da cor do sol – e, pelo menos, você ganhará tempo.
A princesa fez o que a fada lhe recomendou – pediu ao rei um vestido da cor do sol, que foi, de pronto, encomendado. E para que os costureiros o pudessem fazer, o rei lhes deu todos os diamantes e rubis da sua própria coroa para enfeitar o vestido. Quando trouxeram, todos os habitantes do palácio tiveram que fechar os olhos, tamanho era o seu esplendor.
A moça se sentiu perdida, e sob o pretexto de que o vestido lhe havia feito mal aos olhos, retirou-se para seus aposentos, onde a guardava a boa fada.
-Minha menina, não se desespere! Nem tudo está perdido! – Disse-lhe ela. – O rei está obcecado e nossos estratagemas falharam. Mas acho que se pedir a pele do asno que fornece todo o ouro que é sustento da riqueza dessa corte, ele negará. Vá pedir-lhe a pele do asno.
A jovem, alegre e cheia de esperanças, correu e foi pedir ao pai a pele do asno. O rei ficou espantado com aquele capricho, mas na hora ordenou que sacrificassem o asno, cuja pele foi dada à princesa.
A princesa subiu, correndo para seus aposentos e se desfez em lágrimas, mas sua madrinha conseguiu acalmá-la facilmente.
-Mas o que há menina? Pois fique sabendo que isso foi ótimo. Envolva-se na pele do asno e saia pelo mundo. Deus recompensa quem tudo sacrifica pela virtude. Vá. Tudo o que lhe pertence a acompanhará, eu lhe garanto. Fique com a minha varinha de condão. Sempre que a bater no chão, verá surgirem as coisas de que estiver precisando.
A princesa deu um abraço apertado na madrinha, suplicando-lhe que não a abandonasse jamais. Em seguida, envolveu-se na pele do asno, passou fuligem no rosto e saiu do palácio despercebida.
O desaparecimento da princesa foi um verdadeiro escândalo. O rei, que já ordenara uma esplêndida festa para o dia de suas bodas, mergulhou no desespero. Mandou mais de mil mosqueteiros saírem à procura da filha. Mas tudo foi em vão. A varinha de condão tinha a fantástica propriedade de tornar a princesa invisível a todos seus perseguidores.
Assim que saiu do palácio, a princesa foi andando sem rumo, até muito longe, à procura de uma casa onde pudesse empregar-se. Todo mundo lhe dava esmolas, mas ninguém a recebia na sua casa. Aquele rosto cheio de fuligem e aquela pele de asno fazia as pessoas se sentirem nojo dela. Por fim, chegou às cercanias de uma cidade onde havia granja. Naquele exato local, estavam a procura de uma empregada que executasse as tarefas mais grosseiras, como lavar a pocilga, guardar os gansos e outras coisas do tipo. Vendo aquela maltrapilha tão suja, a dona da granja se dispôs a empregá-la, coisa que a princesa aceitou de pronto, de tão cansada que estava.
A mísera princesa teve de ficar num canto da cozinha, com toda a criadagem a desdenhar dela da maneira mais estúpida – tudo devido à pele de asno que ela usava. Enfim, acabou por se acostumar com aquilo, e caprichava tanto na execução das suas tarefas, que a dona da granja começou a vê-la com melhores olhos.
Certo dia em que sentara à beira de um tanque, resolveu mirar-se no espelho d’água e assustou-se com sua horrível aparência. Lavou-se e ficou clara como era – linda e branca como a lua. Algum tempo depois, teve que vestir de novo a medonha pele de asno a fim de voltar para casa.
No dia seguinte, não havia trabalho, porque era dia de festa, então a princesa tocou a varinha, e a sua frente surgiram os seus pertences, e ela se divertiu em pentear-se e enfeitar-se com os seus mais lindos ornamentos. O seu quarto era tão pequenininho que as caldas dos vestidos não se podiam desdobrar. Com justo mérito, a princesa se admirou no espelho e teve, dessa forma, um dia feliz. Depois desse dia, resolveu que em todas as horas vagas poria os seus lindos vestidos e se enfeitaria – mas sempre às escondidas, dentro das quatro paredes do seu quartinho. Por vezes, ficava tão encantadoramente linda que até suspirava por não haver ninguém que a visse.
Num dia de folga, em que Pele de Asno (chamavam-na por esse nome) pusera o seu vestido da cor do sol, ocorreu de ali parar o filho do rei, que fora à caça. Era um belo príncipe, o poso idolatrava e os seus pais o adoravam. A dona da granja mostrou-lhe tudo, as aves, as plantações, e como o príncipe era muito curioso, percorreu a propriedade toda, examinando tudo. Mas quando passava por um corredor, encontrou uma porta trancada e resolveu espiar pelo buraco da fechadura: vislumbrou, lá dentro, uma beleza que o deixou fascinado. Era Pele de Asno com seu vestido da cor do Sol.
Muito intrigado, o príncipe saiu dali e foi perguntar quem ocupara aquele quarto escuro. Responderam-lhe que era uma pastora imunda chamada Pele de Asno, pois sempre vestia uma pele desse animal; disseram também que era tão suja que ninguém tinha vontade de aproximar-se dela, nem de falar-lhe, e que só por caridade a tinham empregado como pastora de carneiros e gansos.
O príncipe logo percebeu que era inútil inquirir aquelas pessoas tolas e voltou para a corte com o coração palpitando de transtorno. Não conseguia tirar da cabeça a fascinante deusa vislumbrada por alguns segundos pelo buraco da fechadura. Arrependeu-se amargamente de não ter arrombado a porta. E tamanha foi a sua excitação que ficou com uma febre altíssima. A rainha se desesperou com o estado do seu filho único e prometeu milhões de recompensa quem pudesse curá-lo.
Todos os melhores médicos do reino acudiram e, depois de vários exames, concluíram que a doença do príncipe provinha de uma inquietude moral. Assim que a rainha ficou sabendo disso foi perguntar ao filho o que realmente se passava no seu coração. Disse-lhe que o que quer que fosse, ela faria tudo por amor a ele; que se queria a coroa, com certeza o seu pai daria sem problema algum; que se queria tomar por esposa alguma princesa, a tomaria, mesmo que fosse necessário declarar uma guerra. Mas que, pelo amor de Deus, não continuasse daquele jeito e lhe confessasse tudo, senão também ela morreria.
-Minha querida mamãe – respondeu o príncipe com voz agonizante – não sou um filho desnaturado que quer subir ao trono quando seu pai ainda está vivo. Pelo contrário: quero que ele viva por muitos anos mais.
-Eu sei meu filhinho, mas sua vida é o que temos de mais precioso e queremos saber qual é o motivo do seu desassossego, que tudo faremos para salvar a vida, pois salvando a sua vida estaremos salvando também a nossa.
-Tudo bem mãe, vou contar-lhe a verdade. O que quero é que Pele de Asno me faça um bolo para saciar a minha vontade.
A rainha ficou estupefata ao ouvir aquele pedido tão estranho, ainda mais com a menção de uma pessoa toda desconhecida e de nome tão feio.
-Meu filho, quem é Pele de Asno?
Um dos palacianos que já estivaram na granja respondeu:
-Majestade, Pele de Asno é uma pastora imunda, encardida, que guarda os carneiros e gansos numa granja de propriedade real.
-Pouco importa! – Disse a rainha. – Talvez o meu filho numa das suas caçadas, tenha comido um bolo feito por ela e agora está com desejo doentio. Mandem Pele de Asno preparar o mais rápido possível, o bolo.
Cumpre dizer que, no instante em que o príncipe olhou pelo buraco da fechadura, quando visitou a granja, a princesa o percebeu, e depois, pela janelinha, pode vê-lo quando ele se afastava – e admirou o porte e a beleza viril do príncipe. Alguns dizem até que suspirou – e que desse dia em diante sempre suspirava quando se lembrava daquela cena. O que quer que seja, quando Pele de Asno recebeu a ordem de preparar o bolo, ficou agitadíssima e foi correndo fechar no seu quartinho para pôr a mão na massa. Para tanto, lavou-se, penteou-se pôs seu vestido mais bonito e começou a amassar a mais branca e pura farinha com a manteiga e os ovos mais frescos e amarelinhos. Num dado momento, não se sabe se por obra do acaso ou se de propósito, deixou cair na massa um anel que tinha no dedo. Uma vez pronto o bolo, escondeu-se de novo sob a medonha e repugnante pele, e abriu a porta para entregar aos mensageiros o que lhe fora encomendado, e, tímida, lhes perguntou como passava o príncipe. Os mensageiros, muito soberbos, nem lhe responderam. Pegaram o bolo e se foram a galope para o palácio.
O príncipe recebeu, ávido, o bolo, e o comeu com tamanha voracidade que os médicos ficaram estupefatos, não achando aquilo nem um pouco natural. Alguns segundos depois, começou a tossir desesperadamente, como se algo o asfixiasse. Era o anel. Tirou-o da boca e viu que se tratava de uma joia rara e linda, que só poderia caber num dedinho de extrema delicadeza.
O príncipe o beijou inúmeras vezes e pôs à sua cabeceira, para de novo contemplá-lo e beijá-lo sempre que ficava sozinho.
Agora o que atormentava era o desejo de conhecer a dona do anel, porém recava contar o que vira pelo buraco da fechadura, pois tinha a certeza de que todos zombariam dele. E, torturando por sentimentos tão contraditórios, acabou piorando. A febre aumentou. Então, os médicos disseram a rainha que a doença do príncipe era simplesmente amor.
Na hora, a rainha e o rei foram ao quarto do adorado doente.
– Meu filho! – Disseram-lhe. – Seja bom connosco e nos diga o nome daquela que conquistou seu coração, porque juramos aceitar a sua escolha, mesmo que seja a mais humilde serva.
O príncipe, comovido com as palavras dos pais, respondeu-lhes:
– Meus queridos pais, eu não quero casar-me com alguém que lhes desagrade, e para provar o que digo declaro que só me casarei com a dona deste anel. Acho que a dona de um dedinho que nele caiba não pode ser nenhuma aldeã indigna de nós.
O rei e a rainha pegaram o anel, examinaram-no com atenção e concordaram com o filho. Em seguida, o rei beijou o filho e se retirou, fez um decreto em que se proclamava que a moça cujo dedo coubesse o anel seria a esposa do príncipe. Houve uma verdadeira peregrinação de moças em idade de casar ao palácio. Vieram, primeiro, as princesas, que eram muitas; em seguida, as duquesas, as marquesas e as baronesas, mas em nenhum dos seus dedos coube o anel. Depois, vieram as mais belas moças da cidade, que não pertenciam à nobreza, e tampouco nos dedos coube o anel. O príncipe melhorara e ele próprio fazia a prova.
Por fim, chegou a vez das milhares moças de baixa condição, criadas, camareiras, e o mesmo aconteceu com elas. Então, o príncipe mandou vir também as cozinheiras e as guardadoras de gado, mas foi em vão.
– Agora só resta vir a tal Pele de Asno que me preparou o bolo – disse o príncipe – e todos riram, dizendo que uma criatura daquela tão suja não era digna sequer de pôr os pés no palácio.
– Ordeno que a tragam – declarou o príncipe – Não há porque venham todas menos ela.
Os cortesãos lhe obedeceram e foram buscá-la porém dando gargalhadas daquela excentricidade do príncipe.
Pele de Asno, que já amava o príncipe, sentiu o coração pular quando soube do tumulto que ocorria na Corte por causa de seu anel e, desconfiada de que também a viria buscar, arrumou-se o melhor que pôde e pôs o seu mais lindo vestido. Em seguida, envolveu-se na pele do asno e aguardou. Algum tempo depois, chegaram os mensageiros com a ordem de levá-la, e os tais mensageiros não conseguiram parar de rir daquele horrendo ser. “Chamaram-na ao palácio, ó imunda! Para casar-se com o filho do rei, ah! Ah! Ah! “.
O príncipe ficou desapontado quando Pele de Asno entrou no seu quarto.
– É você mesma que ocupa aquele quartinho no fundo da granja?
– Sim, senhor príncipe – respondeu ela.
– Mostre-me a mão – disse-lhe o príncipe por desencargo de consciência, e suspirando de desânimo.
Então, o que se sucedeu foi qualquer coisa. Assim que recebeu a ordem de mostrar a mão, Pele de Asno pôs para fora da medonha pele que a cobria a mais delicada mão do mundo, rósea, em cujo dedo médio o anel coube como se tivesse sido feito especialmente para ele. De súbito, a pele de asno lhe caiu dos ombros e aos olhos de todos surgiu uma criatura de beleza exuberante. O príncipe pulou da cama e, ajoelhando aos seus pés, abraçou-a com ternura. Em seguida, o rei e a rainha fizeram o mesmo, perguntando-lhe se aceitava o príncipe por esposo. A princesa, toda confusa, já abria a boca para responder, quando o teto se abriu e a fada Lilás apareceu numa carruagem maravilhosa, tecida de pétalas de lilases, e contou a todos a história da princesa Tim-Tim por Tim-Tim.
A alegria do rei e da rainha foi imensa quando ficaram sabendo que Pele de Asno era uma princesa real e, portanto, digna de ser a esposa do herdeiro do trono, e de novo, a abraçaram e beijaram.
O príncipe estava tão impaciente para se casar que mal houve tempo para preparar uma festa à altura do faustoso acontecimento. O rei e a rainha, que tinham adoração pela nora, não paravam de mimá-la e de beijá-la. Porém, a moça estava triste e disse que não poderia casar-se sem o consentimento do pai. Assim sendo, ele foi o primeiro a receber o convite para as bodas, que, a conselho da fada Lilás, não mencionava o nome da noiva. Às núpcias, compareceram reis de todas as regiões: alguns foram de liteira, outros de cabriolé, e os de terras mais longínquas, montados em elefantes, em tigres e em águias. Porém, o mais poderoso e magnificente era o pai da princesa, que, para alegria geral, havia esquecido aquele amor impossível e descabido e se havia casado com uma bela rainha viúva, com a qual não teve filhos. A princesa assim que o viu, correu ao seu encontro, e ele logo a reconheceu e a beijou ternamente, antes que ela pudesse ajoelhar-se aos seus pés. O rei e a rainha lhe apresentaram o filho, de quem se tornou muito amigo. As bodas se deram com pompa e circunstâncias, mas os noivos nem perceberam isso, pois só tinham olhos um para o outro.
Então, o rei, pai do príncipe, aproveitou a ocasião para passar o trono ao adorado filho. Este não o queria, mas o rei o forçou, e, para comemorar tão majestoso acontecimento, decretou três meses de festas contínuas que ficaram célebres no reino.
No palácio real, havia abundância de tudo e muito bom gosto. Os ministros eram muito sagazes e habilidosos, os cortesãos, muito dedicados, e os empregados, muito leais. Na grande estrebaria, havia os mais soberbos cavalos jamais vistos e com os melhores arreios, embora todos estranhassem que o mais importante animal fosse um asno com orelhas compridíssimas. Mas não fora por um mero capricho que o rei lhe dera tamanha distinção. O asno era merecedor de todas as regalias e honras, pois, na verdade, se tratava de um asno com poderes mágicos. Todo dia, ao nascer do sol, a sua baía estava coberta de moedas de ouro, que o rei mandava colher.
Mas como a vida não é para sempre um mar de rosas, certo dia a rainha caiu de cama, com uma doença desconhecida que nenhum médico era capaz de curar. No palácio, baixou uma intensa tristeza. O rei foi a todos os templos do castelo e fez promessas, em que se comprometia a dar sua própria vida em troca da cura da amada rainha. Mas tudo foi em vão.
Certo dia, sentindo que ia morrer, a rainha chamou o marido e lhe disse, aos prantos:
– Meu fiel esposo e amigo, quero fazer-lhe antes de ir-me um pedido: se de novo se casar…
Nesse ponto, o rei a interrompeu, apertando-lhe as mãos e desfazendo-se em lágrimas, como que para dizer-lhe que jamais sequer pensara nisso.
– Não, não, minha fiel esposa e amiga, em vez disso, peça-me que a siga na tumba!
– O reino – continuou a rainha com tranquila firmeza – precisa de sucessores e eu só lhe dei uma filha. Portanto terá que se casar de novo, e eu lhe peço que só se case se encontrar uma princesa mais bonita e mais bem-dotada do que eu. Se me jurar isso morrerei feliz e em paz.
Parece que a rainha tinha muito amor-próprio, e que se forçou o marido a essa promessa, foi porque não cogitava que pudesse haver outra princesa que excedesse em beleza e dotes. Porém, o rei jurou e ela, alguns minutos depois, morreu.
O rei sofreu imensamente. Durante vários dias, só chorou e se lamentou. Mas, com o tempo, se foi conformando, e, certo dia, os seus ministros lhe mandaram uma representação, pedindo-lhe que se casasse de novo. Tal pedido o fez desfazer-se em lágrimas pelo pesar reavivado e respondeu que jurara à esposa que só voltaria a se casar quando aparecesse uma princesa mais bonita e mais bem-dotada do que a falecida o que era praticamente impossível. Os ministros disseram que a beleza era algo supérfluo, e que para o bem do reino bastava uma rainha virtuosa e fértil, que lhe desse muitos filhos homens e, assim, tranquilizasse o povo quanto a sucessão. Também disseram que a princesa real tinha todos os atributos para se tornar uma grande rainha, mas, por ser mulher, logo se casaria com um príncipe estrangeiro, o que poria em risco a coroa, já que o rei não tinha filhos que lhe sucedessem.
O rei ouviu tudo e meditou sobre aqueles argumentos racionais, prometendo que voltaria a se casar. E, de fato, procurou, entre as princesas em idade de casar uma que lhe fosse conveniente. Todos os dias, os ministros lhe traziam retratos de princesas dos reinos das cercanias – porém o rei respondia negativamente com a cabeça. Nenhuma chegava aos pés da sua amada falecida.
O tempo passava e, à medida que passava, a princesa real ficava cada vez mais linda, excedendo a própria mãe. O rei reparava naquilo, e como já não estava muito no seu juízo perfeito, começou a sentir pela filha um amor profundo e forte, que não se assemelhava ao amor paterno. Enfim, não conseguindo mais esconder os seus sentimentos, declarou que só se casaria com ela.
A jovem princesa, que era muito virtuosa, quase desfaleceu quando ouviu a declaração de rei seu pai. Lançou-se-lhe aos pés e lhe suplicou eloquentemente a não cometer aquele crime hediondo.
O rei foi consultar um druida para ficar com a consciência tranquila, e o druida, que era muito ambicioso e só queria tornar-se um dos favoritos do rei, convenceu-o de que não havia mal algum naquele casamento e que, além de ser vantajoso para todos, era até mesmo um ato de crueldade. O rei o abraçou e retornou ao palácio mais decidido ainda, e mandou que a princesa se preparasse para as bodas.
A princesa, em desespero, só ocorreu uma ideia: ir consultar a fada Lilás, sua madrinha. Então, partiu naquela noite mesmo, numa espécie de carro puxado por um cordeiro que conhecia todos os caminhos. A fada gostava muito da princesa e logo que a viu chegar lhe disse que já sabia tudo.
– É claro, minha menina, que seria um grande erro casar-se com o seu pai. Porém, eu vejo um jeito de arranjar as coisas sem que haja um confronto. Concorde com as bodas, mas lhe exija como condição que ele lhe dê um vestido da cor do tempo. Nem com todas as riquezas que possui, nem com todo o seu poder, ele conseguirá semelhante vestido.
A princesa agradeceu à sua madrinha, retornou ao palácio e disse ao rei que se casaria com ele, contando que lhe desse um vestido com a cor do tempo. O rei ficou tão maravilhado com a resposta, que mandou vir os mais habilidosos costureiros do reino, e lhes ordenou que fizessem o vestido, sob pena de serem enforcados.
Mas isso não foi necessário, porque após dois dias os costureiros trouxeram o vestido, leve como as manhãs e azul como o céu. A princesa ficou desapontada e correu de novo ao encontro da madrinha:
– O que fazer agora? – Perguntou-lhe.
– Peça agora um vestido da cor da lua – responde-lhe a fada.
E a princesa real pediu ao rei o vestido da cor da lua, que foi encomendado de imediato. No dia seguinte, o vestido foi entregue e era tal e qual da cor da lua. A princesa se desesperou e de novo se lamentava quando a fada apareceu e disse:
-Se pedir um vestido da cor do sol, tenho certeza de que o rei ficará muito embaraçado, pois é impossível fazer um vestido da cor do sol – e, pelo menos, você ganhará tempo.
A princesa fez o que a fada lhe recomendou – pediu ao rei um vestido da cor do sol, que foi, de pronto, encomendado. E para que os costureiros o pudessem fazer, o rei lhes deu todos os diamantes e rubis da sua própria coroa para enfeitar o vestido. Quando trouxeram, todos os habitantes do palácio tiveram que fechar os olhos, tamanho era o seu esplendor.
A moça se sentiu perdida, e sob o pretexto de que o vestido lhe havia feito mal aos olhos, retirou-se para seus aposentos, onde a guardava a boa fada.
-Minha menina, não se desespere! Nem tudo está perdido! – Disse-lhe ela. – O rei está obcecado e nossos estratagemas falharam. Mas acho que se pedir a pele do asno que fornece todo o ouro que é sustento da riqueza dessa corte, ele negará. Vá pedir-lhe a pele do asno.
A jovem, alegre e cheia de esperanças, correu e foi pedir ao pai a pele do asno. O rei ficou espantado com aquele capricho, mas na hora ordenou que sacrificassem o asno, cuja pele foi dada à princesa.
A princesa subiu, correndo para seus aposentos e se desfez em lágrimas, mas sua madrinha conseguiu acalmá-la facilmente.
-Mas o que há menina? Pois fique sabendo que isso foi ótimo. Envolva-se na pele do asno e saia pelo mundo. Deus recompensa quem tudo sacrifica pela virtude. Vá. Tudo o que lhe pertence a acompanhará, eu lhe garanto. Fique com a minha varinha de condão. Sempre que a bater no chão, verá surgirem as coisas de que estiver precisando.
A princesa deu um abraço apertado na madrinha, suplicando-lhe que não a abandonasse jamais. Em seguida, envolveu-se na pele do asno, passou fuligem no rosto e saiu do palácio despercebida.
O desaparecimento da princesa foi um verdadeiro escândalo. O rei, que já ordenara uma esplêndida festa para o dia de suas bodas, mergulhou no desespero. Mandou mais de mil mosqueteiros saírem à procura da filha. Mas tudo foi em vão. A varinha de condão tinha a fantástica propriedade de tornar a princesa invisível a todos seus perseguidores.
Assim que saiu do palácio, a princesa foi andando sem rumo, até muito longe, à procura de uma casa onde pudesse empregar-se. Todo mundo lhe dava esmolas, mas ninguém a recebia na sua casa. Aquele rosto cheio de fuligem e aquela pele de asno fazia as pessoas se sentirem nojo dela. Por fim, chegou às cercanias de uma cidade onde havia granja. Naquele exato local, estavam a procura de uma empregada que executasse as tarefas mais grosseiras, como lavar a pocilga, guardar os gansos e outras coisas do tipo. Vendo aquela maltrapilha tão suja, a dona da granja se dispôs a empregá-la, coisa que a princesa aceitou de pronto, de tão cansada que estava.
A mísera princesa teve de ficar num canto da cozinha, com toda a criadagem a desdenhar dela da maneira mais estúpida – tudo devido à pele de asno que ela usava. Enfim, acabou por se acostumar com aquilo, e caprichava tanto na execução das suas tarefas, que a dona da granja começou a vê-la com melhores olhos.
Certo dia em que sentara à beira de um tanque, resolveu mirar-se no espelho d’água e assustou-se com sua horrível aparência. Lavou-se e ficou clara como era – linda e branca como a lua. Algum tempo depois, teve que vestir de novo a medonha pele de asno a fim de voltar para casa.
No dia seguinte, não havia trabalho, porque era dia de festa, então a princesa tocou a varinha, e a sua frente surgiram os seus pertences, e ela se divertiu em pentear-se e enfeitar-se com os seus mais lindos ornamentos. O seu quarto era tão pequenininho que as caldas dos vestidos não se podiam desdobrar. Com justo mérito, a princesa se admirou no espelho e teve, dessa forma, um dia feliz. Depois desse dia, resolveu que em todas as horas vagas poria os seus lindos vestidos e se enfeitaria – mas sempre às escondidas, dentro das quatro paredes do seu quartinho. Por vezes, ficava tão encantadoramente linda que até suspirava por não haver ninguém que a visse.
Num dia de folga, em que Pele de Asno (chamavam-na por esse nome) pusera o seu vestido da cor do sol, ocorreu de ali parar o filho do rei, que fora à caça. Era um belo príncipe, o poso idolatrava e os seus pais o adoravam. A dona da granja mostrou-lhe tudo, as aves, as plantações, e como o príncipe era muito curioso, percorreu a propriedade toda, examinando tudo. Mas quando passava por um corredor, encontrou uma porta trancada e resolveu espiar pelo buraco da fechadura: vislumbrou, lá dentro, uma beleza que o deixou fascinado. Era Pele de Asno com seu vestido da cor do Sol.
Muito intrigado, o príncipe saiu dali e foi perguntar quem ocupara aquele quarto escuro. Responderam-lhe que era uma pastora imunda chamada Pele de Asno, pois sempre vestia uma pele desse animal; disseram também que era tão suja que ninguém tinha vontade de aproximar-se dela, nem de falar-lhe, e que só por caridade a tinham empregado como pastora de carneiros e gansos.
O príncipe logo percebeu que era inútil inquirir aquelas pessoas tolas e voltou para a corte com o coração palpitando de transtorno. Não conseguia tirar da cabeça a fascinante deusa vislumbrada por alguns segundos pelo buraco da fechadura. Arrependeu-se amargamente de não ter arrombado a porta. E tamanha foi a sua excitação que ficou com uma febre altíssima. A rainha se desesperou com o estado do seu filho único e prometeu milhões de recompensa quem pudesse curá-lo.
Todos os melhores médicos do reino acudiram e, depois de vários exames, concluíram que a doença do príncipe provinha de uma inquietude moral. Assim que a rainha ficou sabendo disso foi perguntar ao filho o que realmente se passava no seu coração. Disse-lhe que o que quer que fosse, ela faria tudo por amor a ele; que se queria a coroa, com certeza o seu pai daria sem problema algum; que se queria tomar por esposa alguma princesa, a tomaria, mesmo que fosse necessário declarar uma guerra. Mas que, pelo amor de Deus, não continuasse daquele jeito e lhe confessasse tudo, senão também ela morreria.
-Minha querida mamãe – respondeu o príncipe com voz agonizante – não sou um filho desnaturado que quer subir ao trono quando seu pai ainda está vivo. Pelo contrário: quero que ele viva por muitos anos mais.
-Eu sei meu filhinho, mas sua vida é o que temos de mais precioso e queremos saber qual é o motivo do seu desassossego, que tudo faremos para salvar a vida, pois salvando a sua vida estaremos salvando também a nossa.
-Tudo bem mãe, vou contar-lhe a verdade. O que quero é que Pele de Asno me faça um bolo para saciar a minha vontade.
A rainha ficou estupefata ao ouvir aquele pedido tão estranho, ainda mais com a menção de uma pessoa toda desconhecida e de nome tão feio.
-Meu filho, quem é Pele de Asno?
Um dos palacianos que já estivaram na granja respondeu:
-Majestade, Pele de Asno é uma pastora imunda, encardida, que guarda os carneiros e gansos numa granja de propriedade real.
-Pouco importa! – Disse a rainha. – Talvez o meu filho numa das suas caçadas, tenha comido um bolo feito por ela e agora está com desejo doentio. Mandem Pele de Asno preparar o mais rápido possível, o bolo.
Cumpre dizer que, no instante em que o príncipe olhou pelo buraco da fechadura, quando visitou a granja, a princesa o percebeu, e depois, pela janelinha, pode vê-lo quando ele se afastava – e admirou o porte e a beleza viril do príncipe. Alguns dizem até que suspirou – e que desse dia em diante sempre suspirava quando se lembrava daquela cena. O que quer que seja, quando Pele de Asno recebeu a ordem de preparar o bolo, ficou agitadíssima e foi correndo fechar no seu quartinho para pôr a mão na massa. Para tanto, lavou-se, penteou-se pôs seu vestido mais bonito e começou a amassar a mais branca e pura farinha com a manteiga e os ovos mais frescos e amarelinhos. Num dado momento, não se sabe se por obra do acaso ou se de propósito, deixou cair na massa um anel que tinha no dedo. Uma vez pronto o bolo, escondeu-se de novo sob a medonha e repugnante pele, e abriu a porta para entregar aos mensageiros o que lhe fora encomendado, e, tímida, lhes perguntou como passava o príncipe. Os mensageiros, muito soberbos, nem lhe responderam. Pegaram o bolo e se foram a galope para o palácio.
O príncipe recebeu, ávido, o bolo, e o comeu com tamanha voracidade que os médicos ficaram estupefatos, não achando aquilo nem um pouco natural. Alguns segundos depois, começou a tossir desesperadamente, como se algo o asfixiasse. Era o anel. Tirou-o da boca e viu que se tratava de uma joia rara e linda, que só poderia caber num dedinho de extrema delicadeza.
O príncipe o beijou inúmeras vezes e pôs à sua cabeceira, para de novo contemplá-lo e beijá-lo sempre que ficava sozinho.
Agora o que atormentava era o desejo de conhecer a dona do anel, porém recava contar o que vira pelo buraco da fechadura, pois tinha a certeza de que todos zombariam dele. E, torturando por sentimentos tão contraditórios, acabou piorando. A febre aumentou. Então, os médicos disseram a rainha que a doença do príncipe era simplesmente amor.
Na hora, a rainha e o rei foram ao quarto do adorado doente.
– Meu filho! – Disseram-lhe. – Seja bom connosco e nos diga o nome daquela que conquistou seu coração, porque juramos aceitar a sua escolha, mesmo que seja a mais humilde serva.
O príncipe, comovido com as palavras dos pais, respondeu-lhes:
– Meus queridos pais, eu não quero casar-me com alguém que lhes desagrade, e para provar o que digo declaro que só me casarei com a dona deste anel. Acho que a dona de um dedinho que nele caiba não pode ser nenhuma aldeã indigna de nós.
O rei e a rainha pegaram o anel, examinaram-no com atenção e concordaram com o filho. Em seguida, o rei beijou o filho e se retirou, fez um decreto em que se proclamava que a moça cujo dedo coubesse o anel seria a esposa do príncipe. Houve uma verdadeira peregrinação de moças em idade de casar ao palácio. Vieram, primeiro, as princesas, que eram muitas; em seguida, as duquesas, as marquesas e as baronesas, mas em nenhum dos seus dedos coube o anel. Depois, vieram as mais belas moças da cidade, que não pertenciam à nobreza, e tampouco nos dedos coube o anel. O príncipe melhorara e ele próprio fazia a prova.
Por fim, chegou a vez das milhares moças de baixa condição, criadas, camareiras, e o mesmo aconteceu com elas. Então, o príncipe mandou vir também as cozinheiras e as guardadoras de gado, mas foi em vão.
– Agora só resta vir a tal Pele de Asno que me preparou o bolo – disse o príncipe – e todos riram, dizendo que uma criatura daquela tão suja não era digna sequer de pôr os pés no palácio.
– Ordeno que a tragam – declarou o príncipe – Não há porque venham todas menos ela.
Os cortesãos lhe obedeceram e foram buscá-la porém dando gargalhadas daquela excentricidade do príncipe.
Pele de Asno, que já amava o príncipe, sentiu o coração pular quando soube do tumulto que ocorria na Corte por causa de seu anel e, desconfiada de que também a viria buscar, arrumou-se o melhor que pôde e pôs o seu mais lindo vestido. Em seguida, envolveu-se na pele do asno e aguardou. Algum tempo depois, chegaram os mensageiros com a ordem de levá-la, e os tais mensageiros não conseguiram parar de rir daquele horrendo ser. “Chamaram-na ao palácio, ó imunda! Para casar-se com o filho do rei, ah! Ah! Ah! “.
O príncipe ficou desapontado quando Pele de Asno entrou no seu quarto.
– É você mesma que ocupa aquele quartinho no fundo da granja?
– Sim, senhor príncipe – respondeu ela.
– Mostre-me a mão – disse-lhe o príncipe por desencargo de consciência, e suspirando de desânimo.
Então, o que se sucedeu foi qualquer coisa. Assim que recebeu a ordem de mostrar a mão, Pele de Asno pôs para fora da medonha pele que a cobria a mais delicada mão do mundo, rósea, em cujo dedo médio o anel coube como se tivesse sido feito especialmente para ele. De súbito, a pele de asno lhe caiu dos ombros e aos olhos de todos surgiu uma criatura de beleza exuberante. O príncipe pulou da cama e, ajoelhando aos seus pés, abraçou-a com ternura. Em seguida, o rei e a rainha fizeram o mesmo, perguntando-lhe se aceitava o príncipe por esposo. A princesa, toda confusa, já abria a boca para responder, quando o teto se abriu e a fada Lilás apareceu numa carruagem maravilhosa, tecida de pétalas de lilases, e contou a todos a história da princesa Tim-Tim por Tim-Tim.
A alegria do rei e da rainha foi imensa quando ficaram sabendo que Pele de Asno era uma princesa real e, portanto, digna de ser a esposa do herdeiro do trono, e de novo, a abraçaram e beijaram.
O príncipe estava tão impaciente para se casar que mal houve tempo para preparar uma festa à altura do faustoso acontecimento. O rei e a rainha, que tinham adoração pela nora, não paravam de mimá-la e de beijá-la. Porém, a moça estava triste e disse que não poderia casar-se sem o consentimento do pai. Assim sendo, ele foi o primeiro a receber o convite para as bodas, que, a conselho da fada Lilás, não mencionava o nome da noiva. Às núpcias, compareceram reis de todas as regiões: alguns foram de liteira, outros de cabriolé, e os de terras mais longínquas, montados em elefantes, em tigres e em águias. Porém, o mais poderoso e magnificente era o pai da princesa, que, para alegria geral, havia esquecido aquele amor impossível e descabido e se havia casado com uma bela rainha viúva, com a qual não teve filhos. A princesa assim que o viu, correu ao seu encontro, e ele logo a reconheceu e a beijou ternamente, antes que ela pudesse ajoelhar-se aos seus pés. O rei e a rainha lhe apresentaram o filho, de quem se tornou muito amigo. As bodas se deram com pompa e circunstâncias, mas os noivos nem perceberam isso, pois só tinham olhos um para o outro.
Então, o rei, pai do príncipe, aproveitou a ocasião para passar o trono ao adorado filho. Este não o queria, mas o rei o forçou, e, para comemorar tão majestoso acontecimento, decretou três meses de festas contínuas que ficaram célebres no reino.
Rainha da Primavera
Rainha da Primavera
Narrador
Numa terra muito distante chamada Florislândia, havia todos os tipos de flores, de todas as idades e de todos os estilos. As mais velhas eram mais sábias e cuidavam das mais jovens, as mais novas costumavam ser mais vaidosas e viviam enfeitando suas pétalas. As flores mães cuidavam das tarefas do lar e dos filhos, os pais saíam para trabalhar nas plantações de novas flores, os bebês brotinhos brincavam com suas folhas e tentavam tocar seus caules, as flores avós tinham suas pétalas enrugadas e seus caules tremiam sem parar, elas se apoiavam em pequenos gravetos para andar e não dispensavam seus óculos.
Uma vez por ano a cidade se enfeitava para o Baile da Primavera. Este baile escolheria a flor mais bela da cidade e a vencedora receberia o título de Miss Rainha da Primavera, ganharia uma viagem ao Jardim do Éden e ganharia muitos presentes dos patrocinadores da festa. Todas as flores jovens e bonitas se inscreviam para o desfile, preparavam suas roupas e arrumavam suas pétalas e folhas para o grande evento.
O dia do baile havia chegado. Jasmim e Violeta eram muito amigas, elas combinaram que seriam rainhas a qualquer custo, não importasse o que fariam para conseguir isto. Rosa era uma linda flor que, além de graciosa, era muito humilde e simpática. Todos a admiravam, mas Jasmim e Violeta tinham muita inveja de sua beleza e sabiam que ela tinha grande potencial para ser a vencedora do concurso.
Enquanto todas se arrumavam no camarim, Jasmim e Violeta pegaram os sapatos da Rosa sem que ninguém percebesse e colocaram espinhos para furar os pés da rival, depois foram para a passarela e desfilaram sem que ninguém soubesse o que elas haviam feito. O apresentador do desfile chamava todas as candidatas com bastante entusiasmo, mas estava ficando preocupado porque começava a chover forte, ele temia que algo acontecesse com o salão do baile.
Desta vez, foi a hora da Rosa entrar na passarela, o apresentador a chamava, mas ela não aparecia, ele insistia em chamá-la mas, nada dela ir para a passarela. Quando seu ajudante resolveu procura-la no camarim, viu que a pobre flor estava com os pés sangrando e chorava sem parar. Ela não sabia explicar como aqueles espinhos haviam ido parar dentro de seus sapatos, agora ela não poderia mais desfilar, pois estava sentindo muita dor e seus pés estavam bastante machucados.
No momento em que o apresentador resolveu chamar outra flor para desfilar, uma gigantesca tromba d’água caiu sob o salão e o palco veio a baixo. As flores que assistiam ao desfile saíram desesperadas, as crianças choravam de medo, os organizadores do evento tentavam acalmar o público, mas todos estavam bastante eufóricos e assustados. Em meio a tanta confusão, Violeta ficou presa debaixo das ferragens das arquibancadas, ela gritava por socorro, mas ninguém a ouvia. A chuva caía com muita força e as flores corriam de um lado para outro sem ninguém perceber que ela estava presa. Sua amiga Jasmim havia saído do salão e nem se lembrou de procurar por ela. Depois de tanto gritar e tentar chamar por socorro, Violeta já se encontrava sem forças, e quando pensou que morreria, sua rival das passarelas Rosa, percebeu o que estava acontecendo. Rosa jogou-se no chão e puxou Violeta com toda sua força para tentar salvá-la, não fossem seus pés tão feridos ela teria conseguido mais rápido. Mas a bela flor não desistiu de tentar salvar sua colega e puxou e puxou, até que, ufa! Ela conseguiu retirar Violeta do buraco em que ela se encontrava. Juntas, Violeta e Rosa saíram do salão e foram para a rua, uma apoiada ao ombro da outra, pois, ambas estavam muito feridas.
Duas horas depois, a chuva havia cessado. A noite caiu fria e serena sob a cidade de Florislândia. Todos estavam sujos e de olhos arregalados comentando o desastre. Jasmim chegou perto de Violeta e perguntou onde ela estava, a amiga contou que ficou presa e disse que a Rosa a ajudou a sair de lá, as amigas ficaram muito envergonhadas com o que haviam feito a Rosa. Chorando, elas pediram perdão à nova amiga e resolveram que contariam toda a verdade ao apresentador do desfile. E para aprenderem a nunca mais sabotarem um evento, as duas ficariam o próximo ano sem participar do Baile da Primavera. Aquele ano não tivera uma vencedora, mas a união das três flores compensou tudo o que havia acontecido. Jasmim e Violeta aprenderam que não se deve fazer o mal a ninguém, mesmo que se queira vencer, e que um dia você poderá precisar daquele a quem tentou prejudicar, pois foi exatamente assim que aconteceu naquele ano. Embora nenhuma delas tenha levado a faixa de Miss Rainha da Primavera, a lição de amor que levaram superou qualquer premiação.
No ano seguinte, Jasmim e Violeta foram até a casa da Rosa para ajudá-la a se enfeitar para o baile, pois elas torciam para que a amiga fosse a grande vencedora. Naquele ano, tudo estava dando certo e Rosa foi a grande vencedora do baile conforme merecia. Agora, Jasmim e Violeta não tinham mais inveja da Rosa, mas grande admiração e respeito por aquela que, um dia, havia ensinado a lei de amor ao próximo, independente de quem seja esse próximo. A amizade entre elas cresceu cada vez mais e todas se ajudavam quando uma tinha que desfilar. Elas se tornaram modelos internacionais e chegaram a morar juntas para trabalhar. Todas conquistaram o sucesso sem jamais prejudicar alguém, e desta forma viveram felizes para sempre.
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