A grande detonação
Narrador
O Valter e o Edi caminhavam para casa, iam carregados de toda a espécie de embrulhos que a mãe tinha comprado. Em breve teria lugar, novamente, a festa nacional.
O vendedor tinha dado aos dois rapazitos dois foguetes. Eles mal podiam esperar até os acenderem. Dariam ambos um grande estrondo? A mãe riu compreensivamente da animação dos rapazitos. No entanto, pegou nos dois foguetes e disse aos pequenos que tinham de esperar até ao dia um de Agosto. O pai os ajudaria, nessa altura, para que não acontecesse nada de aborrecido. A desilusão do Edi foi grande, mas ele sabia que não valia de nada tentar modificar uma resolução da mãe. Dois dias mais tarde, quando a mãe tinha ido às compras, o Edi pensou que seria engraçado deitar um foguete. “Se ao menos já estivessemos no primeiro de Agosto! Eu poderia deitar o meu foguete”, disse para consigo.
“Valter” chamou, “sabes onde é que a mãe guardou os foguetes?”
“Não. ela escondeu-os.”
“Vamos procurá-los”, propôs o Edi.
“Tu bem sabes que a mãe proibiu acender os foguetes antes do primeiro de Agosto. Eu não te vou ajudar a procurar”, respondeu o Valter, que era dois anos mais velho.
Então o Edi disse a irmãzita: “Elvira, anda! Ajuda-me a procurar os foguetes.”
Assim, lá foram de quarto em quarto, procurando em todas as gavetas. O Edi procurou por toda a parte. Os foguetes estavam bem escondidos. Só trepando com dificuldade é que ele conseguiu alcançar a prateleira superior do armário da cozinha.
“Ó Elvira! Aqui estão eles!”. exclamou excitado. “Não vou tocar no do Valter. Só quero o meu.”
Pegou na caixa de fósforos, e correu com o seu achado para trás da vedação de madeira. Era lá que ele queria acender o foguete. A Elvira ia atrás dele. “O estrondo vai-me assustar?” perguntou a irmãzinha.
“Não, vai ser engraçado. Espera aí.” Respondeu o irmão com ar entendido.
Chegou o fósforo a arder à mecha e correu para o pé da irmãzita. Mas então começou a ficar assustado. O fogo na mecha parecia ir apagar-se. O Edi quis ateá-lo. Assim foi lá e acendeu outro fósforo. Mas fê-lo no sentido inverso. De repente, pareceu que o Edi se encontrava no meio de um grande fogo-de-artifício. Então sentiu tudo a ficar escuro como breu. Parecia ser noite. Só ouvia à sua volta vozes assustadas. Também parecia que alguém lhe estava a espetar pregos nos olhos.
Ardiam horrivelmente. Mexeu-se um pouco e ouviu a mãe dizer:”Edi, estás acordado? Consegues ver a mamã?” “Tão escuro” disse o Edi imperceptivelmente. “Acende a luz e tira-me os pregos dos olhos.” A pobre mãe, durante algum tempo, nem pôde falar. O médico explicou que o foguete tinha explodido na cara do Edi e tinha-lhe ferido a vista. “Vamos fazer o que pudermos, e tu podes ajudar-nos, se fores corajoso”, assegurou o médico que acabara de examinar o Edi. Mas o Edi não era lá muito valente. Só quando a mãe lhe punha a mão quente na testa, é que ele ficava mais tranquilo. Durante muitos meses teve de usar óculos escuros. Demorou muito tempo até ele conseguir ver outra vez.
Mais tarde, quando alguém queria acender foguetes, o Edi passava bem ao largo. Com o Valter dava-se o mesmo. Depois daquele dia infeliz, nunca mais sentiu o mínimo desejo de assistir a uma grande explosão.
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