quinta-feira, 29 de maio de 2014

 
 
 As Ventoinhas

A mulher é um catavento,
          Vai ao vento,
Vai ao vento que soprar;
Como vai também ao vento
          Turbulento,
Turbulento e incerto o mar.

Sopra o sul: a ventoinha
          Volta azinha,
Volta azinha para o sul;
Vem taful; a cabecinha
          Volta azinha,
Volta azinha ao meu taful.

Quem lhe puser confiança,
          De esperança,
De esperança mal está;
Nem desta sorte a esperança
          Confiança,
Confiança nos dará.

Valera o mesmo na areia
          Rija ameia,
Rija ameia construir;
Chega o mar a vai a ameia
          Com a areia,
Com a areia confundir.

Ouço dizer de umas fadas
          Que abraçadas,
Que abraçadas como irmãs
Caçam almas descuidadas...
          Ah que fadas!
Ah que fadas tão vilãs!

Pois, como essas das baladas,
          Umas fadas,
Umas fadas dentre nós,
Caçam, como nas baladas;
          E são fadas,
E são fadas de alma e voz.

É que — como o catavento,
          Vão ao vento,
Vão ao vento que lhes der;
Cedem três coisas ao vento:
          Catavento,
Catavento, água e mulher.

Machado de Assis, in 'Crisálidas'

 

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