"Bullying" e incivilidade - Rosely Sayão
O "bullying" não é um fenômeno moderno, mas
hoje os pais estão bem preocupados porque parece que ele se alastrou nos locais
onde há grupos de crianças e jovens, principalmente na escola. Todos têm receio
de que o filho seja alvo de humilhação, exclusão ou brincadeiras de mau gosto
por parte dos colegas, para citar exemplos da prática, mas poucos são os que se
preocupam em preparar o filho para que ele não seja autor dessas atividades.
Quando pensamos no "bu- llying", logo consideramos os atos violentos e
agressivos, mas é raro que os consideremos como atos de incivilidade. Vamos,
então, refletir a respeito desse fenômeno sob essa ótica. Por que é que mesmo os
adultos que nunca foram vítimas de atos de violência, como assalto ou furto,
sentem uma grande sensação de insegurança nos espaços públicos? Simples: porque
eles sentem que nesses locais tudo pode acontecer. A vida em comunidade está
comprometida, e cada um faz o que julga o melhor para si sem considerar o bem
comum. Outro dia, vi uma cena que exemplifica bem essa situação. Em uma farmácia
repleta de clientes, só dois caixas funcionavam, o que causou uma fila imensa.
Em dado momento, um terceiro caixa abriu e o atendente chamou o próximo cliente.
O que aconteceu? Várias pessoas que estavam no fim da fila e outras que
aguardavam ainda a sua vez correram para serem atendidas. Apenas uma jovem
mulher reagiu e disse que estavam todos com pressa e aguardando a sua vez. Ela
se tornou alvo de ironias e ainda ouviu um homem dizer que "a vida é dos mais
espertos". Essa cena permite uma conclusão: a de que ser um cidadão responsável
e respeitoso promove desvantagens. É esse clima que, de um modo geral, reina
entre crianças e jovens: o de que ser um bom garoto ou aluno correto não é um
bem em si. Além disso, as crianças e os jovens também convivem com essa sensação
de insegurança de que, na escola, tudo pode acontecer. Muitos criam estratégias
para evitar serem vistos como frágeis e se tornarem alvo de zombarias. Tais
estratégias podem se transformar em atos de incivilidade. A convivência promove
conflitos variados e é preciso saber negociá-los com estratégias respeitosas e
civilizadas. Muitos pais ensinam seus filhos a negociarem conflitos de modo
pacífico e polido, mas muitos não o fazem. É preciso estar atento a esse
detalhe. Aliás, costumo dizer que é nos detalhes que a educação acontece. Faz
parte também do trabalho da escola esse ensinamento. Aprender a não cometer atos
de incivilidade diminuiria muito o "bullying". Para tanto, não se pode abandonar
crianças ou jovens à própria sorte: é preciso a presença educativa e reguladora
dos adultos. Isso vale, principalmente, nos horários escolares em que o fenômeno
mais ocorre: na entrada, na saída e no recreio.
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