segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Foto: Adivina adivinador ¿ Cuál es el nombre d esta bella flor? 

Sociedad Argentina de Horticultura
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Pátria Minha -  7 de setembro
 A minha pátria é como se não fosse, é íntima


Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo


É minha pátria. Por isso, no exílio


Assistindo dormir meu filho


Choro de saudades de minha pátria.


Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:


Não sei. De fato, não sei


Como, por que e quando a minha pátria


Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água


Que elaboram e liquefazem a minha mágoa


Em longas lágrimas amargas.


Vontade de beijar os olhos de minha pátria


De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...


Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias


De minha pátria, de minha pátria sem sapatos


E sem meias pátria minha


Tão pobrinha!


Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho


Pátria, eu semente que nasci do vento


Eu que não vou e não venho, eu que permaneço


Em contato com a dor do tempo, eu elemento


De ligação entre a ação o pensamento


Eu fio invisível no espaço de todo adeus


Eu, o sem Deus!


Tenho-te no entanto em mim como um gemido


De flor; tenho-te como um amor morrido


A quem se jurou; tenho-te como uma fé


Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito


Nesta sala estrangeira com lareira


E sem pé-direito.


Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra


Quando tudo passou a ser infinito e nada terra


E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu


Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz


À espera de ver surgir a Cruz do Sul


Que eu sabia, mas amanheceu...


Fonte de mel, bicho triste, pátria minha


Amada, idolatrada, salve, salve!


Que mais doce esperança acorrentada


O não poder dizer-te: aguarda... Não tardo!


Quero rever-te, pátria minha, e para


Rever-te me esqueci de tudo


Fui cego, estropiado, surdo, mudo


Vi minha humilde morte cara a cara


Rasguei poemas, mulheres, horizontes


Fiquei simples, sem fontes.


Pátria minha...


A minha pátria não é florão, nem ostenta


Lábaro não; a minha pátria é desolação


De caminhos, a minha pátria é terra sedenta


E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular


Que bebe nuvem, come terra


E urina mar.


Mais do que a mais garrida a minha pátria tem


Uma quentura, um querer bem, um bem


Um libertas qua e sera tamem


Que um dia traduzi num exame escrito: "Liberta que serás também"


E repito! Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa


Que brinca em teus cabelos e te alisa


Pátria minha, e perfuma o teu chão...


Que vontade de adormecer-me


Entre teus doces montes, pátria minha


Atento à fome em tuas entranhas


E ao batuque em teu coração.


Não te direi o nome, pátria minha


Teu nome é pátria amada, é patriazinha


Não rima com mãe gentil


Vives em mim como uma filha, que és


Uma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez.


Agora chamarei a amiga cotovia


E pedirei que peça ao rouxinol do dia


Que peça ao sabiá


Para levar-te presto este aviagrama:


"Pátria minha, saudades de quem te ama... Vinicius de Moraes."


Google
"Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa",


Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 383.

 

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