quinta-feira, 22 de maio de 2014




Sapato 36

Raul Seixas

Eu calço é 37
Meu pai me dá 36
Dói, mas no dia seguinte
Aperto meu pé outra vez
Eu aperto meu pé outra vez
Pai eu já tô crescidinho
Pague prá ver, que eu aposto
Vou escolher meu sapato
E andar do jeito que eu gosto
E andar do jeito que eu gosto
Por que cargas d'águas
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade
Meu pai
Meu pai
Pai já tô indo-me embora
Quero partir sem brigar
Pois eu já escolhi meu sapato
Que não vai mais me apertar
Que não vai mais me apertar
Que não vai mais me apertar
Por que cargas d'águas
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade
Meu pai
Meu pai
Pai já tô indo-me embora
Eu quero partir sem brigar
Já escolhi meu sapato
Que não vai mais me apertar (Êêêê)
Que não vai mais me apertar (Aaaa)
Que não vai mais me apertar (Êêêê)


Análise da música “Sapato 36”, de Raul Seixas

A música “Sapato 36” fala a respeito do conflito de gerações, mais especificamente do embate entre pais e filhos com visões de mundo diferentes. Metaforicamente falando, o sapato 36, dado pelo pai aos pés 37 do filho, significa que o mais velho tolhe as vontades deste, reprimindo-lhe a liberdade para a tomada de decisões em sua própria vida. O filho até tenta moldar-se ao sapato 36, mas isso é muito dolorido, ou seja, muito difícil porque as convicções do pai não servem mais para a sua vida. O filho quer mostrar a seu pai que já está adulto, que já sabe o que quer, que conseguirá caminhar sozinho, levando em consideração aquilo que entende ser o melhor para si. Porém, mesmo em meio ao conflito, questiona seu pai quanto à falta de respeito que ele demonstra em relação as suas opções, magoando-lhe. No final, o filho opta pela sua liberdade, pela fuga pacífica de casa, pois escolheu que prevalecesse os seus ideais de vida. Para esse personagem, ser feliz significa viver longe das "caretices" do pai.
 A música possibilita várias leituras por ser um texto literário, poético. Por analogia, o pai é o ditador, e o filho, o revolucionário. Escrita metaforicamente para fazer alusão ao regime militar, ao período de nossa história em que nenhum sapato imposto poderia servir mesmo em nossos pés.
 

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