Texto 01
Não trair é subtrair algo de si
Augusto F. Guerra
Não sou, nunca fui, nem pretendo ser santo. Já traí. E há um certo prazer em enganar. Mas
depois de observar com mais cuidado o comportamento humano, comecei a
mudar minha maneira de pensar. Cheguei a uma conclusão: trair é
realmente uma atitude de covardia.
Um
amigo meu, o Demóstenes Navarro, me contou que estava traindo sua
esposa. A alegria e empolgação saltavam-lhe os olhos quando me contava
os sórdidos detalhes de suas façanhas sexuais. Depois de alguns
depoimentos, comecei a refletir: e sua esposa? A pobre coitada dava um
duro danado: cuidava dos filhos e da casa, trabalhava fora, fazia a
comida, lavava as roupas. E o que recebia em troca? Um par de córneos.
Por que o marido não separava de uma vez e parava de enganar a
coitadinha? Pois eu respondo isso pra vocês. Vamos pensar racionalmente.
Ele tem uma mulher que dá conta de coisas importantes e básicas em sua
vida. Além de tudo que citamos mais acima, a mulher põe dinheiro em
casa; ajuda nas despesas e assume a disponibilidade de ir quitar as
contas domésticas. Em suma, o Demóstenes poupa parte do dinheiro de seu
trabalho, e a mulher realiza todas as atividades domésticas que também
seriam dele.
Pra
que separar? Se isso acontecer ele vai ter que gastar dinheiro com
empregada ou diarista (o que vai sair mais caro), vai começar a gastar
mais do seu dinheiro consigo, já que vai perder a contadora e
pesquisadora de preços; vai ter que arrumar tempo para ver os filhos,
afinal vai morar separado dos mesmos, isso se não ficar com a guarda
deles e ter que assumir mais responsabilidades sozinho! Além do mais, a
amante vai encontrar nessa situação a oportunidade perfeita de ser a
titular, se bem que ele não sabe se essa vai ser tão boa empregada
quanto a atual titular.
Então
é melhor não mexer no que está quieto. Uma trabalha e a outra o
diverte, lhe dá prazer; assim ele tem um monte de histórias eróticas pra
contar para os amigos. Uma coisa importante, por mais que a esposa dele
seja uma malabarista sexual, ele não pode compartilhar isso com os seus
camaradas; é melhor, ter uma amante mesmo. Desta forma, ele pode
palestrar para os amigos sobre “como conquistar as mulheres” e recuperar o prestigio da virilidade diante dos amigos.
Texto 02
Eu, um copo descartável
Autor desconhecido
“Estava eu, sozinho, a pensar, juntamente com os meus companheiros de fábrica e de produção de copos, que eu os conheci quando saímos da fôrma. Em minha pálida solidão e bastante angustiante, onde a qualquer momento tudo poderia mudar, claro, vai que chega por aí um humano e me tira do pacote de embalagem! – Esperava ainda a minha vez de ficar bem pertinho da boca do saco e ser entrelaçado pelos dedos humanos e ser beijado por lábios macios e com sede. Eu não tenho uma vida curta, como muitos humanos pensam, só porque sou um simples copo descartável. Eu ainda posso viver e muito no meio ambiente de vocês, humanos. Mesmo quando sou amassado, rasgado e jogado fora, ainda ficarei anos e anos no seu meio ambiente até eu ser totalmente decomposto. Assim, quando sou jogado no meio da rua, rebolado pelo vento e parando em qualquer canto de calçada, mesmo todo amassado e rasgado, tudo bem, pelo menos, nenhum humano me mordeu entre os dentes só para passar o tempo.
Depois da surra que levei do vento e se já passaram as 6 horas da noite, agora posso descansar sossegado. Logo cedo, pela manhã, esperarei o gari com sua pá, e forçadamente, pegarei o meu expresso para o lixão e suas rodas tortas pelo uso. Viajarei por todo o dia, visitando lugares imundos, repugnantes e apertado, pois a cada parada, o expresso ficava mais lotado. Serei jogado fora mais uma vez, nesses locais apropriados e longe da sociedade que, vocês, humanos, chamam de lixão. Nesse meu pensar histórico, ficarei aqui, parado, por gerações da sua espécie humana. Alcançarei até a segunda geração de vocês, humanos, e daquele que me jogou na rua e me separou dos meus amigos do pacote e assim, vim parar aqui, no lixão. Serei morto (desgastado) aos poucos e vou apreciando o seu mundo sendo engolido, devastado pelo lixo e por milhares de parentes meus de plástico. Não que afirme isso por raiva ou fúria de vocês, humanos, mas pelo descaso que vocês mesmos fazem com o lixo. E mais, não tenho culpa se você me criou e depois não inventou uma forma de me reaproveitar.
Depois, pense direitinho... Quem é descartável? (Eu, um copo de plástico) e quem tem uma vida curta?(Eu, um copo de plástico). Vocês humanos quase não chegam aos 100 anos! Eu sim, ultrapasso! – Desta forma, sempre serei uma história viva e um problema eterno para vocês e seu planeta, e serei capaz, junto com meus parentes, fundar uma nação de plástico. Desculpe-me se fui bem verdadeiro, mesmo assim, foi um prazer em te conhecer, mas fique sabendo, eu vivo mais do que você”.
Conscientização plástica, o planeta precisa disso!
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