TEXTO 1: Amor e Sexo
(Rita Lee)
Amor é um livro / Sexo é esporte
Sexo é escolha / Amor é sorte
Sexo é escolha / Amor é sorte
Amor é pensamento / Teorema
Amor é novela / Sexo é cinema
Amor é novela / Sexo é cinema
Sexo é imaginação / Fantasia
Amor é prosa / Sexo é poesia...
Amor é prosa / Sexo é poesia...
O amor nos torna / Patéticos
Sexo é uma selva /De epiléticos...
Sexo é uma selva /De epiléticos...
Amor é cristão / Sexo é pagão
Amor é latifúndio/ Sexo é invasão
Amor é divino / Sexo é animal
Amor é bossa nova/ Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!
Amor é latifúndio/ Sexo é invasão
Amor é divino / Sexo é animal
Amor é bossa nova/ Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!
Amor é para sempre / Sexo também
Sexo é do bom / Amor é do bem...
Sexo é do bom / Amor é do bem...
Amor sem sexo/ É amizade
Sexo sem amor / É vontade...
Sexo sem amor / É vontade...
Amor é um / Sexo é dois
Sexo antes / Amor depois...
Sexo antes / Amor depois...
Sexo vem dos outros / E vai embora
Amor vem de nós / E demora...
Amor vem de nós / E demora...
Amor é cristão / Sexo é pagão
Amor é latifúndio/ Sexo é invasão
Amor é divino / Sexo é animal
Amor é bossa nova / Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!
Amor é latifúndio/ Sexo é invasão
Amor é divino / Sexo é animal
Amor é bossa nova / Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!
Amor é isso / Sexo é aquilo
E coisa e tal! / E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor! / Hum! O sexo!
E coisa e tal! / E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor! / Hum! O sexo!
TEXTO 2: Amor e Sexo
[Arnaldo Jabor]
“Amor é propriedade. Sexo é posse. Amor é a lei; sexo é invasão.
O
amor é uma construção do desejo. Sexo não depende de nosso desejo;
nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor.
Ninguém sofre com tesão. Amor e sexo, são como a palavra farmakon em
grego: remédio ou veneno - depende da quantidade ingerida.
grego: remédio ou veneno - depende da quantidade ingerida.
O
sexo vem antes. O amor vem depois. No amor, perdemos a cabeça,
deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do
pensamento. No sexo, o pensamento atrapalha.
O
amor sonha com uma grande redenção. O sexo sonha com proibições; não há
fantasias permitidas. O amor é o desejo de atingir a plenitude. Sexo
é a vontade de se satisfazer com a finitude. O amor vive da
impossibilidade - nunca é totalmente satisfatório. O sexo pode ser,
dependendo da posição adotada. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o
contrário não acontece. Existe amor com sexo, claro, mas nunca gozam
juntos.
O amor é mais narcisista, mesmo entrega, na 'doação'. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo do egoísmo. Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor
não exige a presença do 'outro'. O sexo, mesmo solitário, precisa de
uma 'mãozinha'. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até na
maior solidão e na saudade. Sexo, não - é mais realista. Nesse sentido,
amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. O amor
vem de dentro, o sexo vem de fora. O amor vem de nós. O sexo vem dos
outros. 'O sexo é uma selva de epilépticos' (N. Rodrigues). O amor
inventou a alma, a moral. O sexo inventou a moral também, mas do lado de
fora de sua jaula, onde ele ruge.
O
amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes
paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói - quando acaba a valentia,
ele vem e come. Eles dizem: 'Faça amor, não faça a guerra'. Sexo quer
guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas. O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas
não se explica.
guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas. O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas
não se explica.
O
sexo sempre existiu - das cavernas do paraíso até as 'saunas relax for
men'. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provençais do
século XII e, depois, relançado pelo cinema americano da moral cristã.
Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem - o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção; sexo selvagem é uma ameaça ao bom
funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controlá-lo é programá-lo, como faz a indústria da sacanagem. O mercado programa nossas fantasias.
Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem - o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção; sexo selvagem é uma ameaça ao bom
funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controlá-lo é programá-lo, como faz a indústria da sacanagem. O mercado programa nossas fantasias.
Não
há 'saunas relax' para o amor, onde o sujeito entre e se apaixone. No
entanto, em todo bordel, finge-se um 'amorzinho' para iniciar. O amor
virou um estímulo para o sexo.
O
problema do amor é que dura muito, já o sexo dura pouco. Amor busca uma
certa 'grandeza'. O sexo é mais embaixo. O perigo do sexo é que você
pode se apaixonar. O perigo do amor é virar amizade. Com camisinha, há
'sexo seguro', mas não há camisinha para o amor.
'sexo seguro', mas não há camisinha para o amor.
O
amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é a lei. Sexo é a
transgressão. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados.
Amor
precisa do medo, do desassossego. Sexo precisa da novidade, da
surpresa. O grande amor só se sente na perda. O grande sexo sente-se na
tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda - ou não,
dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos
60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta.
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