Minha mãe vai me matar.
Zé
Luiz e Lucas também entraram pelo cano. Saímos os três pela calçada, xingando o
H e olhando as vitrines.
De
repente, uma aparição. O tênis mais deslumbrante do mundo reluz na vitrine da
sapataria. Parece até que tem ímã. Eu, Zé Luiz e Lucas grudamos o nariz no vidro.
—
Caramba! — suspiramos os três ao mesmo tempo.
—
Se eu tivesse tirado dez, talvez minha mãe me desse um tênis desses no Natal —
murmura Zé Luiz.
Olho
o preço. Custa uma fortuna. Mais caro do que uma bicicleta nova. Minha mãe
jamais compraria um tênis desses, nem se eu tirasse
vinte em tudo. Ela acha que é
desperdício gastar tanto dinheiro num tênis.
Lembrar
da minha mãe me dá um frio na barriga. Cinco na prova!
Achato
o nariz com mais força no vidro.
De
nós três, Lucas é o único que não precisa esperar pelo futuro. Ele já nasceu glorioso. Os pais dele têm
muito, mas muito dinheiro. Lucas tem
bicicleta, computador, quarto com uma cama-beliche em cima
do armário, milhares de tênis e
videogames deslumbrantes.
Com
tudo isso, Lucas é um cara azedo. Por qualquer coisinha ele estoura. Quando é
com a gente, ele depois se arrepende e vem pedir desculpas.
—
Não sei o que me dá, não consigo me controlar, é mais forte que eu, entende?
A
gente não entende.
—
Sei lá. Minha psicóloga diz que...
É
sempre assim. Quando a gente dá uma dura nele, lá vem o papo da psicóloga, que é uma mulher que ganha uma nota
preta para inventar desculpas
científicas para o azedume do Lucas. Como ela sozinha não dá conta do recado, ele ainda tem uma
psicopedagoga, que se encarrega de
explicar para os pais dele e para a escola por que ele nunca aprende nada.
Seus
pais bem que podiam pagar uma grana pra gente também, só pra aturar você —
costuma dizer o Zé ao fim de cada briga.
O
Zé é meu melhor amigo. Nós padecemos do mesmo mal, que é ter mãe viciada em boletins reluzentes. Só a gente
sabe o peso de chegar em casa depois de
ter entrado bem numa prova e ter que encarar uma mãe de futuro glorioso em
punho. O Zé também não tem pai. Quer dizer, tem, mas é igual ao meu: pai sumido.
A
diferença da mãe dele para a minha é que a dele ganha bem. Os maravilhosos
boletins do Zé são recompensados a peso de tênis novos, aparelhos de som, etc.
Os meus têm que esperar pelo futuro.
In Uólace
e João Victor, de Rosa Amanda Strauzs. Ed. Salamandra,1999.
Atividades
1.O texto está narrado em ( ) 1ª pessoa. ( )
3ª pessoa.
Retire um trecho do texto que
justifique sua resposta.
2.João Victor estava irritado,
reclamava da ortografia. Qual era o rela motivo da irritação do garoto?
3. Dê o significado das expressões
abaixo:
( ) Minha mãe “vai me matar”
( ) “Entrar pelo cano”
( )“Custa uma fortuna”
( ) “Um frio na barriga”
( ) “Um cara azedo”
( )“Ter entrado bem”
4. Por que o tênis na vitrine parecia
ter um imã?
5. Para o garoto, seu amigo Lucas não
precisa esperar pelo futuro. Por quê?
6 . Para a mãe do protagonista, o que
era “o futuro glorioso” e o que ele representava?
7. a)Parece haver um acordo entre Zé
Luiz e sua mãe. Que acordo é esse?
b) O que você pensa sobre isso?
8. Por que os “boletins maravilhosos”
de João Victor teriam de esperar o futuro?
9. O narrador começa reclamando da
ortografia, e da letra H. Veja se você está afiado no uso do “H”, assinale a
única alternativa em que todas as palavras estão grafadas corretamente:
( ) Helicóptero, hotel, erbário ( )Erva,
hominídeos, honra
( )Umilde, hoje, horta ( )Omicida, hipócrita, heresia
10. Outra confusão muito comum
é no uso do “x” e do “ch”. Qual é a alternativa em que todas as palavras estão
corretas quando ao uso dessas letras?
( ) xingar, xisto, enxaqueca, flecha (
) mochila, flexa, mexilhão
( ) cachumba, mecha, enchurrada ( )encharcado, chachim,, enxotado
( ) cachumba, mecha, enchurrada ( )encharcado, chachim,, enxotado
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