sexta-feira, 23 de setembro de 2016

          
                            Minha mãe vai me matar.


           Zé Luiz e Lucas também entraram pelo cano. Saímos os três pela calçada, xingando o H e olhando as vitrines.
            De repente, uma aparição. O tênis mais deslumbrante do mundo reluz na vitrine da sapataria. Parece até que tem ímã. Eu, Zé Luiz e Lucas  grudamos o nariz no vidro.
            — Caramba! — suspiramos os três ao mesmo tempo.
           — Se eu tivesse tirado dez, talvez minha mãe me desse um tênis desses no Natal — murmura Zé Luiz.
 Olho o preço. Custa uma fortuna. Mais caro do que uma bicicleta nova. Minha mãe jamais compraria um tênis desses, nem se eu tirasse
vinte em tudo. Ela acha que é desperdício gastar tanto dinheiro num  tênis.
           Lembrar da minha mãe me dá um frio na barriga. Cinco na prova!
           Achato o nariz com mais força no vidro.
        De nós três, Lucas é o único que não precisa esperar pelo futuro.  Ele já nasceu glorioso. Os pais dele têm muito, mas muito dinheiro.  Lucas tem bicicleta, computador, quarto com uma cama-beliche em cima
do armário, milhares de tênis e videogames deslumbrantes.
           Com tudo isso, Lucas é um cara azedo. Por qualquer coisinha ele estoura. Quando é com a gente, ele depois se arrepende e vem pedir desculpas.
            — Não sei o que me dá, não consigo me controlar, é mais forte que  eu, entende?
            A gente não entende.
            — Sei lá. Minha psicóloga diz que...
          É sempre assim. Quando a gente dá uma dura nele, lá vem o papo da  psicóloga, que é uma mulher que ganha uma nota preta para inventar  desculpas científicas para o azedume do Lucas. Como ela sozinha não  dá conta do recado, ele ainda tem uma psicopedagoga, que se encarrega  de explicar para os pais dele e para a escola por que ele nunca  aprende nada.
            Seus pais bem que podiam pagar uma grana pra gente também, só pra aturar você — costuma dizer o Zé ao fim de cada briga.
            O Zé é meu melhor amigo. Nós padecemos do mesmo mal, que é ter mãe  viciada em boletins reluzentes. Só a gente sabe o peso de chegar em  casa depois de ter entrado bem numa prova e ter que encarar uma mãe de futuro glorioso em punho. O Zé também não tem pai. Quer dizer,  tem, mas é igual ao meu: pai sumido.
           A diferença da mãe dele para a minha é que a dele ganha bem. Os maravilhosos boletins do Zé são recompensados a peso de tênis novos, aparelhos de som, etc. Os meus têm que esperar pelo futuro.
In Uólace e João Victor, de Rosa Amanda Strauzs. Ed. Salamandra,1999.
Atividades
1.O texto está narrado em (    ) 1ª pessoa.    (   ) 3ª pessoa.
Retire um trecho do texto que justifique sua resposta.
2.João Victor estava irritado, reclamava da ortografia. Qual era o rela motivo da irritação do garoto?
3. Dê o significado das expressões abaixo:
(   )    Minha mãe “vai me matar”
(   )  “Entrar pelo cano”
(   )“Custa uma fortuna”
(   )  “Um frio na barriga”
(   ) “Um cara azedo”
(   )“Ter entrado bem”
4. Por que o tênis na vitrine parecia ter um imã?
5. Para o garoto, seu amigo Lucas não precisa esperar pelo futuro. Por quê?
6 . Para a mãe do protagonista, o que era “o futuro glorioso” e o que ele representava?
7. a)Parece haver um acordo entre Zé Luiz e sua mãe. Que acordo é esse?
    b) O que você pensa sobre isso?
8. Por que os “boletins maravilhosos” de João Victor teriam de esperar o futuro?
9. O narrador começa reclamando da ortografia, e da letra H. Veja se você está afiado no uso do “H”, assinale a única alternativa em que todas as palavras estão grafadas corretamente:
(   ) Helicóptero, hotel, erbário                       (    )Erva, hominídeos, honra
(    )Umilde, hoje, horta                                  (    )Omicida, hipócrita, heresia
10. Outra confusão muito comum é no uso do “x” e do “ch”. Qual é a alternativa em que todas as palavras estão corretas quando ao uso dessas letras?


(    )   xingar, xisto, enxaqueca, flecha             (    ) mochila, flexa, mexilhão
(    ) cachumba, mecha, enchurrada                (    )encharcado, chachim,, enxotado

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