quarta-feira, 13 de maio de 2015

Foto de Red Roses.

A Paz e a Lei
 
    A paz!! Não a vejo. Não há, como não pode existir, senão uma, é a que assenta na lei, na punição dos crimes, na responsabilidade dos culpados, na guarda rigorosa das instituições livres. Outra espécie de paz, não é senão a paz da servidão, a paz indigna e aviltante dos países oprimidos, a paz abjeta que a nossa índole, o nosso regímen essencialmente repelem, a paz que humilha todos os homens honestos, a paz que nenhuma criatura humana pode tolerar sem abaixar a cabeça envergonhada.
     Esta não é a paz que eu desejo. Quando peço a observância da lei, é justamente porque a lei é o abrigo da tolerância e da bondade. Não há outra bondade real, Srs. Senadores, senão aquela que consiste na distribuição da justiça, isto é, no bem distribuído aos bons e no castigo dispensado aos maus.
     E a tolerância, que vem a ser senão a observância da igualdade legal? Porventura temos sido nós iguais perante a lei, neste regímen, nestes quatro anos de Governo, especialmente? Há algum chefe de partido, há algum cabeça de grupo, algum amigo íntimo da situação, algum parente ou chegado às autoridades, que não reúna em sua pessoa um feixe de regalias, que não goze de prerrogativas especiais, que não tenha em torno de sua individualidade uma guarda e defesa régia ou principesca?
     Essa excursão, Srs. Senadores, me levaria longe e poderia por si só absorver os meus poucos minutos de tribuna nesta sessão. Nas poucas vezes em que me atrevo a perturbar a serenidade absoluta deste recinto e a contrariar os sentimentos dos meus honrados colegas, tenho consciência, Sr. Presidente, de ter-me colocado sempre em um plano, que não se opõe nem à tolerância nem à paz; que é, ao contrário, o terreno onde a paz e a tolerância se devem estabelecer, o único terreno em que nós todos nos poderíamos aproximar e dar-nos as mãos, o terreno da reconciliação com a lei, com a República, com as suas instituições constantemente postergadas, debaixo da política sem escrúpulos da atualidade.
Rui Barbosa. “Discurso no Senado Federal, em 13 de outubro de 1914”. In: Antologia. Rio de Janeiro, Ediouro, s.d., p. 58-59 (com adaptações).
 
1) Com base no texto, assinale a opção correta.
(a) A paz desejada pelo autor é a da servidão e a dos países oprimidos.
(b) Com base nas argumentações do autor, é correto afirmar que existem, pelo menos, duas espécies de paz.
(c) O tema do discurso é extemporâneo, uma vez que, quando o pronunciou o autor, o mundo passava por um longo período de paz.
(d) Infere-se da afirmação “A paz!! Não a vejo.” (R.1) que o autor tinha uma grave deficiência visual.
(e) Qualquer espécie de paz é melhor do que a guerra.
 
2) De acordo com as ideias contidas no texto, assinale a opção correta.
(A) Lei e bondade são dois conceitos antagônicos.
(B) Ser tolerante é reconhecer que os indivíduos são diferentes perante a lei.
(C) O nepotismo não existia no Brasil de 1914.
(D) Na época a que se refere o texto, os políticos brasileiros não gozavam de qualquer mordomia.
(E)  Ser realmente bom é recompensar os bons e punir os maus.
3) Em relação ao texto, assinale a opção correta.
(A) Com o seu discurso, o orador desejava conquistar o apoio do Senado Federal para uma viagem que desejava fazer.
(B) O autor sempre esteve em perfeita concordância com os seus colegas senadores.
(C) Em 1914, as instituições republicanas já estavam solidamente implantadas.
(D) O texto é primordialmente um apelo em prol do restabelecimento da paz e da tolerância entre os senadores.
(E) Infere-se do texto que, entre os senadores de 1914, imperava a paz do comodismo.
4) De acordo com as ideias do texto, assinale a opção correta.
(a) No que diz respeito ao conteúdo, o discurso de Rui Barbosa é ainda muito atual.
(B) Os destinatários do discurso são os Senadores e o Presidente da República.
(C) O texto é essencialmente narrativo.
(D) Por tratar-se de um discurso, predomina, no texto, o registro informal.
(E) O texto contém muitas repetições de palavras e de estruturas sintáticas, sendo correto deduzir que o autor tem um domínio precário da língua portuguesa e de seus recursos expressivos.
 

GABARITO: 1-B  2-E  3-E  4-A   

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