quarta-feira, 13 de maio de 2015



Literatura de Cordel - Atividade

Os recursos narrativos mais utilizados nesses cordéis são as descrições dos personagens em cena e os monólogos com queixas, súplicas, rogos e preces por parte do protagonista.
São histórias que têm como ponto central uma problemática a ser resolvida através de inteligência e astúcia para atingir um objetivo. No romance romântico, a problemática envolve elementos relacionados ao imaginário 
O herói sofrerá, vivendo em desgraça e martírio, sempre fiel ao seu amor ou às suas convicções, mesmo com as intempéries. É comum a intriga envolver jovens que enfrentam problemas na escolha de seus companheiros, em relações familiares extremamente hierarquizadas. Objeção, proibição do namoro, noivados arranjados são algumas das dificuldades que impedem o jovem casal apaixonado de ficar junto ao longo do romance.
Ao fim de tudo, o herói será exaltado e os opositores humilhados. Se assim não for, haverá outro meio de equilibrar a situação, que durante quase toda a narrativa permaneceu desfavorável ao protagonista.

Na música Mulher nova, bonita e carinhosa o compositor Otacílio Costa fez um tributo às mulheres frágeis dominando homens perigosos e reuniu história, mitologia grega e literatura.

Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história de um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Alexandre figura desumana
Fundador da famosa Alexandria
Conquistava na Grécia e destruía
Quase toda a população Tebana
A beleza atrativa de Roxana
Dominava o maior conquistador
E depois de vencê-la, o vencedor
Entregou-se à pagã mais que formosa
Mulher nova bonita e carinhosa
Faz um homem gemer sem sentir dor

A mulher tem na face dois brilhantes
Condutores fiéis do seu destino
Quem não ama o sorriso feminino
Desconhece a poesia de Cervantes
A bravura dos grandes navegantes
Enfrentando a procela em seu furor
Se não fosse a mulher mimosa flor
A história seria mentirosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Virgulino Ferreira, o Lampião
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigo nem ruínas
Foi o rei do cangaço no sertão
Mas um dia sentiu no coração
O feitiço atrativo do amor
A mulata da terra do condor
Dominava uma fera perigosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor

Três perguntas ajudam a esclarecer melhor sobre a música em questão:

a. De que trata o texto, fundamentalmente?
b. A qual ou a quais gêneros o texto pertence?
c. Qual tipologia textual predomina no texto?

a. - O texto trata, fundamentalmente, do papel da mulher na História da
humanidade. A todo momento o autor reforça a importância da mulher. A construção textual se dá por meio do paralelismo narrativo com destaque para a relação homem x mulher: seguidamente a cada menção a um importante nome masculino da nossa  História, o autor apresenta uma mulher relacionada a ele. Ele finaliza cada uma das  micronarrativas com a ideia de que a mulher se sobrepõe ao homem.

b. Em princípio, logo na primeira passagem de olhos, percebemos que se trata de um poema, pela sua estrutura: versos e estrofes. Este primeiro gênero – poema, entretanto, foi metamorfoseado e se transformou em letra de música o que significa que as marcas rítmicas típicas da poesia ganham mais cor, mais destaque. Ao musicar o poema de Otacílio Costa, Zé Ramalho enfatizou a tonicidade de algumas sílabas, e determinadas pausas, criou ligações onde talvez não houvesse no texto original. Em outras  palavras, o compositor, ao se apropriar do poema ressignificou-lhe, atribuiu-lhe uma nova camada. O texto agora além de ter voz própria, tem uma voz que canta.
Finalmente, este gênero que fora poema e transformou-se em letra de música ganhou um arranjo típico da música popular brasileira dando a ele novo viés.
Somam-se, assim, à sonoridade dos fonemas, das palavras e das combinações de melodia, as harmonias, os timbres dos diferentes instrumentos
musicais, os arranjos vocais, enfim, uma série de elementos que, novamente, ressignificam o poema. Agora o texto tem uma voz que canta e que não canta sozinha.
Todo este processo enriquece, ao mesmo tempo em que expande exponencialmente as possibilidades de interpretação. A ideia de que os sentidos estão aí para serem construídos na interação escritor – texto – leitor se intensifica, pois o receptor não se trata mais apenas de um leitor, ele é, sim, um leitor, mas é também um ouvinte. Novas relações com o texto e a partir do texto se estabelecem. Novos usos se inauguram e novas fronteiras se quebram e se firmam.

c. - Finalmente, observando a tipologia textual, classicamente separada em narração,  descrição e dissertação, podemos cair na armadilha de pensar em narração, posto que há elementos da narração no texto (personagens, enredos) e podemos pensar em  descrição, posto que há, sem dúvida, elementos que descrevem aspectos (“a beleza atrativa de Roxana”, por exemplo). Realmente, podemos encontrar indícios de narração e descrição no texto (como aliás acontece em praticamente todo texto literário), entretanto a pergunta fala de predominância e, sem dúvida, o que predomina no poema é a dissertação. Trata-se de um texto dissertativo.

Dissertar significa argumentar. Elaborar um texto dissertativo, como dito
anteriormente, implica delimitar um tema a ser discutido, definir uma posição crítica diante deste tema (expositivo, favorável ou contrário) e defender a posição assumida.
Por seu caráter essencialmente pragmático, o texto dissertativo, ao ser ensinado, acaba sendo formatado, isto é, acaba ganhando uma forma rígida: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário