terça-feira, 10 de novembro de 2015

A História de Nelsom Mandela -O Mandiba



Um herói na História da África contemporânea: Nelson Mandela.

Ao pensarmos nessa nova História da África, resgatamos um nome que tornou-se um símbolo da luta pelos direitos dos africanos a serem senhores de seus países e pela paz.



 NELSON MANDELA
 
“Amado por seu povo, um dos grandes lideres pacifistas do mundo, exemplo de generosidade e símbolo da força vital da África.
"A luta é minha vida".
Nelson Mandela

              Mandela nascido em 1918, desde jovem, dedicou sua vida à luta contra a discriminação racial e as injustiças contra a população negra. Em 1944, fundou a  Liga Jovem do CNA- Congresso Nacional Africano, e traçou uma estratégia que foi adotada anos mais tarde pelo CNA na luta contra o apartheid. A partir daí ele tornou-se o líder do movimento de resistência a opressão da minoria branca sobre a maioria negra na África do Sul.
              Como ativista político, Mandela é símbolo de resistência, pelo vigor com que enfrentou os governos racistas em, sem perder a força e a crença nos seus ideais, inclusive nos 28 anos em que esteve preso, de 1962 a 1990, acusado de sabotagem e luta armada contra o governo. Jamais aceitou as propostas de redução da pena e de liberdade que recebeu de presidentes sul-africanos, pois o governo queria um acordo sem acabar com o apartheid.
Da prisão, Mandela continuou sua luta, escrevendo, comunicando-se com lideres mundiais, e no momento oportuno negociou com o presidente Fredrik De Klerk as condições para o fim do apartheid e a redemocratização da África do Sul. Graças a Mandela e a de Klerk, o país busca reconciliar-se, dentro da legalidade. Todas as leis do apartheid  foram revogadas e os negros passaram a ter os mesmos direitos civis e políticos dos brancos. O CNA voltou a legalidade como partido político e a eleição de Nelson Mandela como primeiro presidente negro fez da África do Sul um exemplo de como os povos podem chegar a um entendimento pacifico. Por isso mesmo Mandela e de Klerk receberam o premio Nobel da Paz, em 1993.

Os ciclos de sangue
As marcas das dores africanas não se apagaram. E as guerras ainda estão lá. A literatura africana, outro campo pouco visitado por nós, brasileiros, mas que já estamos recuperando, mostra bem isso.

Vejamos o texto de Mia Couto, premiado escritor moçambicano, num romance chamado A Varanda de Frangipani
“O culpado que você procura, caro Izidine, não é uma pessoa. É a guerra. Todas as culpas são da guerra. Foi ela que matou Vasto. Foi ela que rasgou o mundo onde a gente idosa tinha brilho e cabimento. Estes velhos que aqui apodrecem, antes do conflito eram amados. Havia um mundo que os recebia, as famílias se arrumavam para os idosos. Depois a violência trouxe outras razões. E os velhos forma expulsos do mundo, expulsos de nós mesmos.
Você há-de perguntar que me motivo me prende aqui, nesta solidão. Sempre pensei que sabia responder. Agora tenho dúvida. A violência é a razão deste meu retiro. A guerra cria outro ciclo de tempo. Já não os naos, as estações que marcam as nossas vidas. Já não são as colheitas, as fomes, as inundações. A guerra instala o ciclo de sangue”


A África no mundo hoje
A África ainda figura nas páginas dos jornais, nas telas de TV, no cinema e na literatura como um lugar de doenças, de fome e de guerra. Mas, a África é muito mais que isso. A África é continente que produziu obras artísticas que vem encantando e inspirando o mundo há séculos. Das terras africanas saiu a base dos ritmos que influenciaram os tipos de música mais populares no ocidente: do rock ao maracatu, do jazz ao samba de roda, do cacuriá ao blues, todos são herdeiros da África. A África é a terra de origem de todas essas belezas que enchem de sons e sonhos nossas vidas.
Além das artes plásticas e da música, muitos tipos de danças saíram dos corpos africanos. Em algumas línguas do tronco lingüístico banto, a palavra que designa dança é a mesma utilizada para música. O movimento do corpo acompanhando o som faz parte da musicalidade. E essa corporeidade rítmica não só nos foi legada de herança como vive, em permanente mudança e criação no continente africano. Não sem razão, tantos artistas dos nossos dias buscam sua inspiração na África. Em outras palavras: ficarmos atentos à arte,  musica e dança da África hoje significa ouvir não só o nosso passado, mas o presente e o futuro da música contemporânea.
Na África hoje floresce uma literatura de expressão mundial. Escritores africanos como Wole Soyinka (da Nigéria) e Nadine Gordimer (da África do Sul) receberam Prêmio Nobel de Literatura . Na África de língua oficial portuguesa autores como Pepetela, Jofre Rocha, Luandino Vieira, Agualusa, Ondjaki , Ruy Duarte, Ana Paula Tavares(angolanos), Mia Couto, Paulina Chiziane, João Paulo Borges Coelho(moçambicanos) são alguns entre os muitos nomes de uma literatura riquíssima em todos os sentidos . Hoje, essa literatura amplia a diversidade da produção em Língua Portuguesa, além de ser um espaço em que se projetam saídas para situações que parecem só conduzir à desesperança. As literaturas africanas trazem nos seus temas a semente da discussão de um futuro melhor e na sua forma outros lados do nosso idioma – as nossas muitas línguas.
Portanto, a África é a também a terra das muitas cores e sons que iluminam a nossa humanidade, e está buscando discutir campos de possibilidades para um futuro melhor. Afinal, o berço da humanidade pode ser de onde saiam ideias para uma nova humanidade.

 
AS TERRAS SENTIDAS
As terras sentidas de África
nos ais chorosos do antigo e do novo escravo
no suor aviltante do batuque impuro
de outros mares
sentidas
As terras sentidas de África
na sensação infame do perfume estonteante da flor
esmagada na floresta
pela imoralidade do ferro e do fogo
as terras sentidas
As terras sentidas de África
no sonho logo desfeito em tinidos de chaves carcereiras
e no riso sufocado e na voz vitoriosa dos lamentos
e no brilho inconsciente das sensações escondidas
das terras sentidas de África
Vivas
em si conosco vivas Elas fervilham-nos em sonhos
ornados de danças de imbondeiros sobre equilíbrios
de antílope
na aliança perpétua de tudo quanto vive
Elas gritam o som da vida
gritam-no
mesmo nos cadáveres devolvidos pelo Atlântico
em oferta pútrida de incoerência e morte
e na limpidez dos rios
Elas vivem
as terras sentidas de África
no som harmonioso das consciências
incluídas no sangue honesto dos homens
no forte desejo dos homens
na sinceridade dos homens
na razão pura e simples da existência das estrelas
Elas vivem
as terras sentidas de África
porque nós vivemos
e somos as partículas imperecíveis
e inatacáveis
das terras sentidas de África.
Agostinho Neto , poeta, militante e primeiro presidente de Angola independente.
Do livro: "Poemas", Cadernos Capricórnio, 1975, Angola-África.

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