quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Foto de Flor exótica.

UM RETRATO DA PRAÇA TEM A SUA GRAÇA

O freguês escolhe a pose. Sozinho ou acompanhado. De pé ou sentado. Se quiser sorrir, sorri. Se não quiser, fica sério. E se precisar de um acessório, o seu Honorino dá um jeito.
— Quer tirar de gravata?
— Acho melhor. É para dar pra noiva.
— Toma lá.
Seu Honorino tem uma gravata pronta para estas ocasiões. Ajuda o freguês a fazer o laço. O freguês quer se pentear? Seu Honorino empresta o pente e segura o espelho. Depois diz para o freguês não mexer e vai para trás da sua máquina. O freguês fica duro.
Sempre tem uma criança que pára de boca aberta para ver seu Honorino trabalhando. Ele prepara a chapa, insere a chapa na sua armação de madeira, destapa a lente, tapa outra vez, diz  “Pronto” para o freguês, depois desaparece dentro do pano preto atrás da máquina.
Visto de uma certa distância, seu Honorino com a cabeça enfiada na máquina sobre o seu tripé parece um monstro de cinco patas. Um estranho centauro de praça, metade homem, metade câmera fotográfica. As crianças se perguntam o que ele faz dentro do pano preto. Boa coisa não pode ser, para fazer escondido.
— Ele está lambendo.
— Lambendo?
— É. É tudo feito com “guspe”. E ele aproveita para comer escondido ali dentro. E come feio.
Mas seu Honorino, quando reaparece, não tem cara de quem andou fazendo coisa feia. A foto está pronta. Digna de um noivo. De gravata.
Tem vezes em que, depois de um batizado, o pessoal sai da igreja direto para a praça e posa para o seu Honorino. A madrinha segurando a fera, o padrinho do lado e o resto da família se espremendo para caber na chapa. Alguém grita: “Olha o passarinho!” e o seu Honorino sempre faz a mesma coisa: olha para o céu e finge que está procurando.
— Onde? Onde?
Quando a pose é de casamento, seu Honorino manda apertar de um lado, apertar do outro, e depois diz:
— Vamos, gente, que o noivo está com pressa.
E todos dão risada, e a noiva tapa a boca para rir também.
Seu Honorino ainda não fotografou nenhum rei, mas capitão, soldado e ladrão, já. Preto, branco, japonês, baixo, alto, gordo, magro e manicure. Anos gêmeos, mulher com o cachorro no colo, uma feia que quando viu a foto quis bater no seu Honorino, namorados, famílias, solitários, certa vez até um macaco de chapéu.
E uma vez apareceu um velhinho pedindo:
— Me retrata.
— Sim senhor. Que tipo de moldura o senhor quer?
O freguês pode escolher vários tipos de moldura para a sua foto. Simples, com rendado, redonda… O velhinho escolheu uma moldura em forma de coração.
Quando seu Honorino destapou a lente, o velhinho sorriu. E na hora de entregar a foto pronta, seu Honorino brincou:
— É para uma namorada?
— Não, é para minha mãe…
Outra vez apareceu um homem carrancudo e perguntou se podia ser com moldura preta. Podia. Seu Honorino pediu para o homem não se mexer, foi para trás da sua máquina, preparou a chapa, e só quando ia destapar a lente viu que o homem estava botando a língua. Saiu a foto com moldura preta do homem botando a língua para Deus sabe que desafeto, porque seu Honorino não teve coragem de perguntar.
Seu Honorino lambe-lambe vai retratando todo mundo.
— Quer tirar de gravata?
— Não precisa. É para mim mesmo e eu já me conheço…
(Estórias do povo brasileiro – Autor anônimo)
1- “Ajuda o freguês a fazer o laço”.  Esta atitude de seu Honorino mostra que:
(    ) o cliente geralmente fica nervoso;
(    ) o freguês quase sempre é de baixo nível sócio-econômico;
(    ) ele pretende melhorar a qualidade da fotografia;
(    ) o fotógrafo é uma pessoa gentil;
(    ) o ambiente da praça não permite que o próprio freguês se arrume;
2-  Que opção abaixo justifica a comparação de seu Honorino com um centauro?
(    ) “a cabeça enfiada na máquina”;
(    ) “parece um monstro de cinco patas”;
(    ) “metade homem, metade câmera fotográfica”;
(    ) “desaparece dentro do pano preto atrás da máquina”;
(    ) “boa coisa não pode ser, para fazer escondido”;
3- Que elemento não pode ser considerado um acessório de um fotógrafo?
(    ) chapa fotográfica e tripé;
(    ) pente;
(    ) cadeira;
(    ) espelho;
(    ) gravata;
4- O emprego da palavra “guspe” objetiva:
(    ) mostrar o pouco grau de estudo do fotógrafo;
(    ) denunciar o pouco grau de estudo de quem adora tirar fotos em praças;
(    ) registrar a pronúncia natural das crianças;
(    ) tornar ainda mais nojenta a palavra;
(    ) denunciar um erro super comum na hora de se digitar;
5- Numere convenientemente, conforme a situação no texto:
(1) noivo                                   (    ) elegância
(2) batizado                              (    ) amor filial
(3) casamento                          (    ) orgulho, vaidade
(4) homem carrancudo             (    ) alegria
(5) velhinho                               (    ) desprezo
A numeração correta é:
(    )  1, 2, 3, 4, 5;
(    )  1, 5, 2, 3, 4;
(    )  5, 4, 3, 2, 1;
(    )  1, 3, 5, 4, 2;
(    )  3, 1, 4, 2, 5;
6- O autor destaca na vida do fotógrafo muitos tipos estranhos em sua profissão. Entre “anões gêmeos, mulher com cachorro no colo e macaco de chapéu”, inclui-se o “velhinho”. Que há de estranho neste episódio?
7- Aponte a característica que não corresponde ao texto lido:
(     ) A história não se acha localizada em nenhuma época determinada;
(     ) O autor não determina o local preciso onde se desenrolam os fatos narrados;
(     ) O texto tem como uma de suas finalidades a diversão do leitor;
(    ) A história narrada é de tipo popular, o que se pode ver pelas situações e personagens do texto;
(     ) Por ser uma história inventada pelo autor, os fatos narrados são totalmente ilógicos;
8-  O texto pode ser definido como:
(     )  crônica de costumes;
(     )  narrativa folclórica;
(     )  estória popular;
(     )  conto sentimental;
(     )  episódio lendário;
9-  Que outro título você daria ao texto?  Por quê?
10-  Quais as várias utilidades da fotografia que você conhece?  Pode uma fotografia ser considerada obra de arte? Comente:

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