A Fórmula da Necessidade
Autor: Alberto J. Grimm [
Nem toda Necessidade é coisa Necessária...
Adágio publicitário: "O Segredo é fazê-los crer que precisam daquela coisa..."
E um cientista, o maior matemático de todos os tempos, depois de muitos cálculos e pesquisas, chegou à conclusão, e agora era capaz de provar através de fórmulas matemáticas, que o ser humano precisaria de certos “itens”, e estes poderiam ser objetos, ideias ou outras coisas abstratas, que seriam imprescindíveis ao seu viver. Era uma questão de necessidade, e agora era oficial, científico, e a fórmula provava isso. Isso significava dizer que, se a fórmula provasse, o indivíduo não mais poderia viver sem aquela referida coisa.
Assim, por ser capaz de provar suas conclusões, ele desenvolveu um método, uma técnica infalível para avaliar se alguma coisa existente, objeto, palavra, crença ou qualquer outra, era ou não necessária, vital, ao ser humano. Era algo como ser capaz de traçar o perfil de potencial de venda de qualquer produto existente, recém lançado, ou por lançar, no mercado de consumo. Com a aplicação do tal método e comprovação através de sua fórmula, ele poderia afirmar se aquele produto seria ou não de uso obrigatório pela sociedade, o que induziria o ser humano a comprá-lo, no caso de um produto, e a segui-la, no caso de uma ideia, mesmo sem saber o motivo pelo qual o estaria fazendo.
Foi um alvoroço, um rebuliço sem precedentes no mundo acadêmico e da pesquisa científica, e logo foram organizados seminários e conferências para explicar a coisa ao resto do mundo. Era sem dúvida uma novidade, pois a partir de agora, através de fórmulas científicas, estava comprovado que o ser humano, de qualquer parte do planeta, não importasse crença, raça, nacionalidade, nível social, não poderia sobreviver sem algumas “coisas”, que aquele método era capaz de identificar com clareza. Ora, esse conhecimento sempre fora o sonho de qualquer agência de publicidade, dos governos, dos ministros religiosos, de todos os tipos de interesses, por isso se tornou uma questão de segurança mundial.
“Não adianta”, disse ele, “A fórmula e todo roteiro para a aplicação da técnica, está em minha cabeça, e apenas lá. Nem uma linhazinha do processo foi documentada em papel, ou qualquer outro meio onde se possa escrever. Não tornarei de uso público, é perigoso, será para sempre um segredo só meu. Mas, para alguns, poderei calcular se seus produtos ou ideias são, ou se tornarão, de uso obrigatório, e ainda poderei dizer o que falta no produto, para que ele se enquadre como de “necessidade vital”. E tudo, é claro, pago, muito bem pago, afinal de contas, a fórmula já atestou que o uso dela mesma é uma necessidade vital”.
E todos queriam saber se seus produtos “passavam” na fórmula. Passando pela fórmula, um objeto, uma ideia, ou qualquer outra coisa, era a certeza atestada de sucesso, afinal de contas, cientificamente, ela provava que o ser humano “não poderia viver sem aquele item autenticado”.
E antes de entrar no mercado como uma “espécie de selo de qualidade”, o selo mais desejado do mundo, que apenas alguns felizardos poderiam estampar em suas marcas, criou-se um órgão regulamentador oficial para fiscalizar. Ideias ou produtos não autenticados, homologados, pela fórmula, mas que usassem o selo sem autorização, seriam sumariamente retirados de circulação e seus responsáveis punidos com o exílio perpétuo. Isso porque, depois de cientificado, aprovado pela fórmula, as pessoas não mais poderiam viver sem aquela coisa, e criar “falsas dependências”, se constituía um crime sem direito à fiança. Mas ficou combinado, que alguns vícios sociais seriam liberados.
E o primeiro produto aprovado pela fórmula, como de necessidade indispensável à existência humana, foi um pequeno aparelho eletrônico, na verdade uma versão móvel de telefone. E logo todos se perguntavam: “Nossa! Como foi que conseguimos viver até hoje sem isso, como era possível?”. Depois vieram os livros, quer dizer títulos, obras impressas, que, segundo a fórmula, todos precisavam ler, na verdade, não mais poderiam viver se não os lessem.
E como as crianças pequenas ainda não eram capazes de ler e entender o que estavam lendo, seus pais e educadores se encarregariam de lhes passar o conceito por trás das páginas. Depois vieram as ideias, modo de pensar e comportamentos que todos deveriam adotar como norma de vida, e assim por diante.
E uma criança implica com sua mãe: “Mãe, eu não aceito que o Universo foi criado por uma explosão chamada Ping Pong, nem que o mesmo é quadrado e arredondado nas pontas!”. E sua mãe tentando convencê-lo: “Mas filho, está comprovado pela fórmula, precisamos pensar assim, você precisa aceitar essa verdade, essa informação é indispensável à nossa vida!”
E insiste o pirralho: “Para mim não é. Não preciso disso para nada. Não há quem me faça mudar de ideia.” E sua mãe resolve a questão: “Está bem, você aceita a ideia e eu compro aquela bicicleta azul que você tanto queria.”. Feliz da vida ele concorda: “Aquela aprovada pela fórmula, que tem o selim com som MP3 polifônico?”
Em outro lugar do mundo, cultura diferente, outra criança pergunta à sua mãe: “Mãe, por que precisamos acreditar que o homem se desenvolveu a partir de uma Barata geneticamente modificada, se no tempo de Charles Ratwin, o criador da teoria da evolução, ainda não existia a fórmula?”
“Ora filho, se a fórmula autenticou, está confirmado, foi exatamente assim que aconteceu...”
E desde aqueles tempos, qualquer coisa que fosse atestada pela fórmula como de necessidade vital à humanidade, seria consagrado como uma lei, um quesito que se tornaria parte integrante daquele homem. Palavras, frases, ideias, conceitos que as pessoas deveriam repetir como parte de suas personalidades, tudo isso passaria pela aprovação da fórmula.
Assim, por ser capaz de provar suas conclusões, ele desenvolveu um método, uma técnica infalível para avaliar se alguma coisa existente, objeto, palavra, crença ou qualquer outra, era ou não necessária, vital, ao ser humano. Era algo como ser capaz de traçar o perfil de potencial de venda de qualquer produto existente, recém lançado, ou por lançar, no mercado de consumo. Com a aplicação do tal método e comprovação através de sua fórmula, ele poderia afirmar se aquele produto seria ou não de uso obrigatório pela sociedade, o que induziria o ser humano a comprá-lo, no caso de um produto, e a segui-la, no caso de uma ideia, mesmo sem saber o motivo pelo qual o estaria fazendo.
Foi um alvoroço, um rebuliço sem precedentes no mundo acadêmico e da pesquisa científica, e logo foram organizados seminários e conferências para explicar a coisa ao resto do mundo. Era sem dúvida uma novidade, pois a partir de agora, através de fórmulas científicas, estava comprovado que o ser humano, de qualquer parte do planeta, não importasse crença, raça, nacionalidade, nível social, não poderia sobreviver sem algumas “coisas”, que aquele método era capaz de identificar com clareza. Ora, esse conhecimento sempre fora o sonho de qualquer agência de publicidade, dos governos, dos ministros religiosos, de todos os tipos de interesses, por isso se tornou uma questão de segurança mundial.
“Não adianta”, disse ele, “A fórmula e todo roteiro para a aplicação da técnica, está em minha cabeça, e apenas lá. Nem uma linhazinha do processo foi documentada em papel, ou qualquer outro meio onde se possa escrever. Não tornarei de uso público, é perigoso, será para sempre um segredo só meu. Mas, para alguns, poderei calcular se seus produtos ou ideias são, ou se tornarão, de uso obrigatório, e ainda poderei dizer o que falta no produto, para que ele se enquadre como de “necessidade vital”. E tudo, é claro, pago, muito bem pago, afinal de contas, a fórmula já atestou que o uso dela mesma é uma necessidade vital”.
E todos queriam saber se seus produtos “passavam” na fórmula. Passando pela fórmula, um objeto, uma ideia, ou qualquer outra coisa, era a certeza atestada de sucesso, afinal de contas, cientificamente, ela provava que o ser humano “não poderia viver sem aquele item autenticado”.
E antes de entrar no mercado como uma “espécie de selo de qualidade”, o selo mais desejado do mundo, que apenas alguns felizardos poderiam estampar em suas marcas, criou-se um órgão regulamentador oficial para fiscalizar. Ideias ou produtos não autenticados, homologados, pela fórmula, mas que usassem o selo sem autorização, seriam sumariamente retirados de circulação e seus responsáveis punidos com o exílio perpétuo. Isso porque, depois de cientificado, aprovado pela fórmula, as pessoas não mais poderiam viver sem aquela coisa, e criar “falsas dependências”, se constituía um crime sem direito à fiança. Mas ficou combinado, que alguns vícios sociais seriam liberados.
E o primeiro produto aprovado pela fórmula, como de necessidade indispensável à existência humana, foi um pequeno aparelho eletrônico, na verdade uma versão móvel de telefone. E logo todos se perguntavam: “Nossa! Como foi que conseguimos viver até hoje sem isso, como era possível?”. Depois vieram os livros, quer dizer títulos, obras impressas, que, segundo a fórmula, todos precisavam ler, na verdade, não mais poderiam viver se não os lessem.
E como as crianças pequenas ainda não eram capazes de ler e entender o que estavam lendo, seus pais e educadores se encarregariam de lhes passar o conceito por trás das páginas. Depois vieram as ideias, modo de pensar e comportamentos que todos deveriam adotar como norma de vida, e assim por diante.
E uma criança implica com sua mãe: “Mãe, eu não aceito que o Universo foi criado por uma explosão chamada Ping Pong, nem que o mesmo é quadrado e arredondado nas pontas!”. E sua mãe tentando convencê-lo: “Mas filho, está comprovado pela fórmula, precisamos pensar assim, você precisa aceitar essa verdade, essa informação é indispensável à nossa vida!”
E insiste o pirralho: “Para mim não é. Não preciso disso para nada. Não há quem me faça mudar de ideia.” E sua mãe resolve a questão: “Está bem, você aceita a ideia e eu compro aquela bicicleta azul que você tanto queria.”. Feliz da vida ele concorda: “Aquela aprovada pela fórmula, que tem o selim com som MP3 polifônico?”
Em outro lugar do mundo, cultura diferente, outra criança pergunta à sua mãe: “Mãe, por que precisamos acreditar que o homem se desenvolveu a partir de uma Barata geneticamente modificada, se no tempo de Charles Ratwin, o criador da teoria da evolução, ainda não existia a fórmula?”
“Ora filho, se a fórmula autenticou, está confirmado, foi exatamente assim que aconteceu...”
E desde aqueles tempos, qualquer coisa que fosse atestada pela fórmula como de necessidade vital à humanidade, seria consagrado como uma lei, um quesito que se tornaria parte integrante daquele homem. Palavras, frases, ideias, conceitos que as pessoas deveriam repetir como parte de suas personalidades, tudo isso passaria pela aprovação da fórmula.
E então aconteceu aquilo que ninguém esperava. A fórmula atestou, provou que os homens, na verdade, não eram homens, apenas ainda não haviam se cientificado do fato. Mas agora que a fórmula certificara, todos deveriam cumprir seus destinos. Não se tratava de uma escolha, a fórmula provara que os homens eram na verdade, Ratos urbanos, da espécie Gabirus Erectus.
Assim, desde então, nos tornamos Ratos urbanos, vivendo em imensas cidades degradadas, mas com uma diferença, agora conscientes do fato. E finalmente, antigos adágios tomaram seu devido lugar. Dizemos agora: “Degrade sua cidade e viva feliz”, ao invés do antigo: “Cuide e conserve a sua cidade e viva feliz”.
E, por milhares de anos, vivíamos felizes. Mas, agora, quando nos chega a notícia de que outro cientista, um cientista Rato é claro, acaba de compilar uma nova fórmula, um novo teorema, que prova que nós Ratos, somos na verdade humanos não conscientes. Eu que não caio mais nessas histórias, especialmente nessas ideias mirabolantes criadas por Ratos cientistas. Imagine, dizer que nós somos humanos, e ainda querer provar através de fórmulas que isso é verdade!
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