Içami Tiba, um gênio...
Disciplina, limite na medida certa (IÇAMI TIBA)
Há uma história que sempre desperta o interesse de pais e educadores porque é ao mesmo tempo muito bem-humorada e realista:
Dois meninos de cinco anos estão numa espaçosa área de lazer. Não há brinquedos por perto. Um deles é magro e alto. O outro é gordo e baixo. Naturalmente, resolvem brincar.
O magro propõe:
“É pega-pega, e você é o pegador!”
E já sai em tal disparada que o gordo, com seus passos lentos e pesados, tem dificuldades de acompanhar. Quando este percebe a distância entre os dois aumentando cada vez mais, toma consciência de que não conseguirá alcançar o outro tão cedo. Então pára, estica o braço e, apontando com o indicador, grita:
“Aí não vale!”
O magro imediatamente pára, mesmo sabendo que não tinha sido combinado que ali não valeria.
Nesse momento da palestra, pergunto ao público:
“Por que o magro parou?”
Percebo que cada um busca dentro de si uma boa resposta. Para facilitar, eu mesmo respondo:
“Para continuar brincando! Se o magro continuar correndo, a brincadeira acaba, não é?”
O magro volta até o gordo com os ombros meio caídos, pois sabe que agora é a vez daquele propor outra brincadeira. O gordo, vendo o magro bem próximo, diz:
“É luta livre!”
E já avança no magro, dá-lhe uma “gravata”, derruba-o e aperta o pescoço do menino, que, à beira do desmaio, dá umas palmadinhas no braço do gordo em sinal de que está se rendendo.
Nesse momento, pergunto de novo ao público:
“Por que o gordo pára de enforcar o magro?”
“Para continuar a brincadeira!”, responde o público.
E eu arremato:
“E também porque com morto não se brinca!”
Após a gargalhada geral, volto ao tema: as crianças sabem, intuitivamente, que a brincadeira é um tipo de relacionamento em que um depende do outro. Para continuar a brincar é necessário que aceitem, nessa experiência de sociedade que elas mesmas criaram uma série de regras:
· Cada criança escolhe a brincadeira na qual tem melhor desempenho, pois sempre quer ganhar.
· Cada criança dá o máximo de si e, se alguém faz “corpo mole”, isso significa que não está levando a brincadeira a sério.
· Uma criança não pode exigir da outra mais que esta pode fazer; portanto, o limite é estabelecido por aquele que menos habilidades têm para determinada brincadeira.
· Quando uma criança diz que não agüenta mais, a outra é obrigada a parar, por mais que queira continuar brincando.
· Se um escolhe uma primeira brincadeira, o outro tem direito a escolher a segunda.
O que não aparece na história, mas pode acontecer, é que, quando uma criança desrespeita o limite da outra, esta geralmente solta um grunhido (“Ah, é assim?”) e parte para briga. Portanto, toda brincadeira pode rapidamente transformar-se em conflito, e os adultos terão muitas dificuldades para identificar quem começou a briga.
Se as crianças aceitam os limites intrínsecos à convivência em uma brincadeira, é porque sabem que não podem brincar fazendo tudo o que têm vontade. Precisam aceitar uma composição, uma sociedade com o outro.
As crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio de imitação, da experimentação e da invenção.
Quando os pais permitem que os filhos, por menores que sejam, façam tudo o que desejam, não estão lhes ensinando noções do que podem ou não podem fazer. Os pais usam diversos argumentos para isso: “eles não sabem o que estão fazendo”; “são muito pequenos para aprender”; “vamos ensinar quando forem maiores”; “sabemos que não devemos deixar... mas é tão engraçadinho” etc.
É preciso lembrar que uma criança, quando faz algo pela primeira vez, sempre olha em volta para ver se agradou alguém. Se agradou, repete o comportamento, pois entende que agrado é aprovação, e ela não tem condições de avaliar a adequação do seu gesto.
Portanto, cada vez que os pais aceitam uma contrariedade, um desrespeito, uma quebra de limites, estão fazendo com que seus filhos não compreendam, e rompam o limite natural para seu comportamento em família e em sociedade. Deixar que as situações transcorram sem uma intervenção clara é como se, na brincadeira entre o gordo e o magro, o filho, mesmo ouvindo “aí não vale!” , continuasse correndo; ou como se os pais pedissem para o filho parar, mas este continuasse a enforcá-los. Apesar de ser fisicamente mais fortes, os pais que não reagem à quebra de limites dos filhos acabam permitindo que estes, muito mais fracos, os maltratem, invertendo a ordem natural de que o mais fraco deve respeitar o mais forte.
A força dos pais está em transmitir aos filhos a diferença entre o que é aceitável ou não, adequado ou não, entre o que é essencial e supérfluo, e assim por diante. Pedir um brinquedo é aceitável, mas quebrar o brinquedo meia hora depois de ganha-lo e pedir outro é inaceitável. É importante estabelecer limites bem cedo e de maneira bastante clara porque, mais tarde, será preciso dizer ao adolescente de quinze anos que sair para dar uma volta com o carro do pai não é permitido, e ponto final.
O estudo é essencial; portanto, os filhos têm obrigação de estudar. Caso não o façam, terão sempre que arcar com as conseqüências de sua indisciplina, que deverão ser previamente estabelecidas pelos pais. Só poderão brincar depois de estudar, por exemplo. No que é essencial, os pais deverão dedicar mais tempo para acompanhar de perto se o combinado está sendo levado em consideração. Os filhos precisam entender que têm a responsabilidade de estudar e que seus pais os estão ajudando a cumprir um dever que faz parte da “brincadeira” da vida.
Hoje, os grandes responsáveis pela educação dos jovens – na família e na escola – não estão sabendo cumprir bem seu papel. É a falência da autoridade dos pais em casa, do professor em sala de aula, do orientador na escola. Discussões homéricas surgem nas famílias por causa de indisciplina, dificultando bastante a convivência entre as partes. Mães ficam mal-humoradas porque as crianças bagunçam o quarto e pais se exasperam porque os filhos os filhos se esquecem de apagar a luz. Porém o pior ocorre quando um filho responde mal. Isso lhes estraga o dia.
Muitos alunos também não respeitam seus professores, e essa indisciplina prejudica o ensino e a aprendizagem. Professores e orientadores têm dificuldade em estabelecer limites na sala de aula e não sabem até que ponto devem intervir em comportamentos inadequados que ocorrem nos pátios escolares.
Onde foi que os educadores se perderam? Antes de responder a qualquer pergunta, é preciso levar em conta que essa geração viveu a questão da disciplina de um modo peculiar e sofrido. Para facilitar a compreensão, seguirei a seqüência: primeira, a geração dos avós; segunda, a geração dos pais e professores; terceira, a geração dos jovens.
Pois bem, a primeira geração educou seus filhos de maneira patriarcal, com autoridade vertical – o pai no ápice e os filhos na base. Esta era obrigada a cumprir tudo o que o ápice determinava. Com isso, a segunda geração foi massacrada pelo autoritarismo dos pais, e decidiu refutar esse sistema educacional na educação dos próprios filhos. Na tentativa de proporcionar a eles o que nunca tiveram, os pais da segunda geração acabaram caindo no extremo oposto da primeira: a permissividade
Há uma história que sempre desperta o interesse de pais e educadores porque é ao mesmo tempo muito bem-humorada e realista:
Dois meninos de cinco anos estão numa espaçosa área de lazer. Não há brinquedos por perto. Um deles é magro e alto. O outro é gordo e baixo. Naturalmente, resolvem brincar.
O magro propõe:
“É pega-pega, e você é o pegador!”
E já sai em tal disparada que o gordo, com seus passos lentos e pesados, tem dificuldades de acompanhar. Quando este percebe a distância entre os dois aumentando cada vez mais, toma consciência de que não conseguirá alcançar o outro tão cedo. Então pára, estica o braço e, apontando com o indicador, grita:
“Aí não vale!”
O magro imediatamente pára, mesmo sabendo que não tinha sido combinado que ali não valeria.
Nesse momento da palestra, pergunto ao público:
“Por que o magro parou?”
Percebo que cada um busca dentro de si uma boa resposta. Para facilitar, eu mesmo respondo:
“Para continuar brincando! Se o magro continuar correndo, a brincadeira acaba, não é?”
O magro volta até o gordo com os ombros meio caídos, pois sabe que agora é a vez daquele propor outra brincadeira. O gordo, vendo o magro bem próximo, diz:
“É luta livre!”
E já avança no magro, dá-lhe uma “gravata”, derruba-o e aperta o pescoço do menino, que, à beira do desmaio, dá umas palmadinhas no braço do gordo em sinal de que está se rendendo.
Nesse momento, pergunto de novo ao público:
“Por que o gordo pára de enforcar o magro?”
“Para continuar a brincadeira!”, responde o público.
E eu arremato:
“E também porque com morto não se brinca!”
Após a gargalhada geral, volto ao tema: as crianças sabem, intuitivamente, que a brincadeira é um tipo de relacionamento em que um depende do outro. Para continuar a brincar é necessário que aceitem, nessa experiência de sociedade que elas mesmas criaram uma série de regras:
· Cada criança escolhe a brincadeira na qual tem melhor desempenho, pois sempre quer ganhar.
· Cada criança dá o máximo de si e, se alguém faz “corpo mole”, isso significa que não está levando a brincadeira a sério.
· Uma criança não pode exigir da outra mais que esta pode fazer; portanto, o limite é estabelecido por aquele que menos habilidades têm para determinada brincadeira.
· Quando uma criança diz que não agüenta mais, a outra é obrigada a parar, por mais que queira continuar brincando.
· Se um escolhe uma primeira brincadeira, o outro tem direito a escolher a segunda.
O que não aparece na história, mas pode acontecer, é que, quando uma criança desrespeita o limite da outra, esta geralmente solta um grunhido (“Ah, é assim?”) e parte para briga. Portanto, toda brincadeira pode rapidamente transformar-se em conflito, e os adultos terão muitas dificuldades para identificar quem começou a briga.
Se as crianças aceitam os limites intrínsecos à convivência em uma brincadeira, é porque sabem que não podem brincar fazendo tudo o que têm vontade. Precisam aceitar uma composição, uma sociedade com o outro.
As crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio de imitação, da experimentação e da invenção.
Quando os pais permitem que os filhos, por menores que sejam, façam tudo o que desejam, não estão lhes ensinando noções do que podem ou não podem fazer. Os pais usam diversos argumentos para isso: “eles não sabem o que estão fazendo”; “são muito pequenos para aprender”; “vamos ensinar quando forem maiores”; “sabemos que não devemos deixar... mas é tão engraçadinho” etc.
É preciso lembrar que uma criança, quando faz algo pela primeira vez, sempre olha em volta para ver se agradou alguém. Se agradou, repete o comportamento, pois entende que agrado é aprovação, e ela não tem condições de avaliar a adequação do seu gesto.
Portanto, cada vez que os pais aceitam uma contrariedade, um desrespeito, uma quebra de limites, estão fazendo com que seus filhos não compreendam, e rompam o limite natural para seu comportamento em família e em sociedade. Deixar que as situações transcorram sem uma intervenção clara é como se, na brincadeira entre o gordo e o magro, o filho, mesmo ouvindo “aí não vale!” , continuasse correndo; ou como se os pais pedissem para o filho parar, mas este continuasse a enforcá-los. Apesar de ser fisicamente mais fortes, os pais que não reagem à quebra de limites dos filhos acabam permitindo que estes, muito mais fracos, os maltratem, invertendo a ordem natural de que o mais fraco deve respeitar o mais forte.
A força dos pais está em transmitir aos filhos a diferença entre o que é aceitável ou não, adequado ou não, entre o que é essencial e supérfluo, e assim por diante. Pedir um brinquedo é aceitável, mas quebrar o brinquedo meia hora depois de ganha-lo e pedir outro é inaceitável. É importante estabelecer limites bem cedo e de maneira bastante clara porque, mais tarde, será preciso dizer ao adolescente de quinze anos que sair para dar uma volta com o carro do pai não é permitido, e ponto final.
O estudo é essencial; portanto, os filhos têm obrigação de estudar. Caso não o façam, terão sempre que arcar com as conseqüências de sua indisciplina, que deverão ser previamente estabelecidas pelos pais. Só poderão brincar depois de estudar, por exemplo. No que é essencial, os pais deverão dedicar mais tempo para acompanhar de perto se o combinado está sendo levado em consideração. Os filhos precisam entender que têm a responsabilidade de estudar e que seus pais os estão ajudando a cumprir um dever que faz parte da “brincadeira” da vida.
Hoje, os grandes responsáveis pela educação dos jovens – na família e na escola – não estão sabendo cumprir bem seu papel. É a falência da autoridade dos pais em casa, do professor em sala de aula, do orientador na escola. Discussões homéricas surgem nas famílias por causa de indisciplina, dificultando bastante a convivência entre as partes. Mães ficam mal-humoradas porque as crianças bagunçam o quarto e pais se exasperam porque os filhos os filhos se esquecem de apagar a luz. Porém o pior ocorre quando um filho responde mal. Isso lhes estraga o dia.
Muitos alunos também não respeitam seus professores, e essa indisciplina prejudica o ensino e a aprendizagem. Professores e orientadores têm dificuldade em estabelecer limites na sala de aula e não sabem até que ponto devem intervir em comportamentos inadequados que ocorrem nos pátios escolares.
Onde foi que os educadores se perderam? Antes de responder a qualquer pergunta, é preciso levar em conta que essa geração viveu a questão da disciplina de um modo peculiar e sofrido. Para facilitar a compreensão, seguirei a seqüência: primeira, a geração dos avós; segunda, a geração dos pais e professores; terceira, a geração dos jovens.
Pois bem, a primeira geração educou seus filhos de maneira patriarcal, com autoridade vertical – o pai no ápice e os filhos na base. Esta era obrigada a cumprir tudo o que o ápice determinava. Com isso, a segunda geração foi massacrada pelo autoritarismo dos pais, e decidiu refutar esse sistema educacional na educação dos próprios filhos. Na tentativa de proporcionar a eles o que nunca tiveram, os pais da segunda geração acabaram caindo no extremo oposto da primeira: a permissividade
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