terça-feira, 22 de agosto de 2017







A imagem pode conter: flor, planta e natureza




 









16.TEXTO: O PORTUGUÊS.COM

A comunicação expressa das salas de bate-papo e dos blogs está mexendo com o idioma em casa e nas escolas.
Isso é bom?

      A vida linguística do futuro está por um fio? Há quem suspeite que sim e culpe o pragmatismo dos usuários da internet por sua agonia. Na ânsia de se comunicarem num curto espaço de tempo, eles abreviam palavras ao limite do irreconhecível, traduzem sentimentos por ícones e renunciam às mais elementares regras da gramática. O resultado dessa anarquia comunicativa divide opiniões.
      Linguista respeitado, o inglês David Crystal, autor do livro A Linguagem e a Internet, chama esses defensores da sintaxe de alarmistas e não prevê um futuro desastroso para a gramática por causa da rede.    Lembra que a invenção do telefone provocou a mesma desconfiança dos estudiosos, preocupados com o risco de uma afasia epidêmica entre os usuários. Por incorporarem uma linguagem cheia de “hã, hã” e “alôs”, eles corriam o risco de perder a capacidade de expressão e a sociabilidade. Não foi o que ocorreu, lembra Crystal. Ele faz uma previsão otimista: o jargão dos chats (salas de bate-papo) e dos blogs (diários que se tornam públicos) pode estimular outras formas de literatura e desenvolver o autoconhecimento do jovem, como percebeu ao analisar o conteúdo de blogs ingleses.
      O outro lado da história é contado por psiquiatras. Pais de adolescentes com distúrbios de linguagem estão levando os filhos ao consultório e recebendo um diagnóstico, no mínimo, preocupante: suspeita-se de uma onda de “dislexia discursiva”. O jovem, que até então não apresentava nenhum problema na escola, começa a ter uma avaliação catastrófica dos professores.
      Perde a capacidade de entender o que lê fora do ambiente da rede. Sem entender, não tem condições de julgar, e sem posição crítica fica incapacitado de reflexões profundas sobre a realidade que o cerca. Os pais imaginam que o filho está mentalmente perturbado ou tomando drogas, mas ele apenas renunciou a seu potencial expressivo para adotar a linguagem estereotipada da internet.
      Adolescentes viraram suas vítimas preferenciais.
      Os jovens erguem uma barreira contra seus pais, que não compreendem uma só palavra das mensagens trocadas com os coleguinhas, mas ficam igualmente isolados, incapacitados de escrever segundo os códigos linguísticos formais. O alerta é do médico e neurocientista paulista Cláudio Guimarães dos Santos. “Essa simplificação da linguagem pelos adolescentes não pode ser entendida como alternativa, porque esse código acaba tornando o lugar da escritura convencional”, analisa. “Ninguém escreve um tratado de física com carinhas e usar o código da rede sem dominar o formal gera erros de percepção.” O psiquiatra refere-se aos ícones conhecidos como emoticom, que os internautas usam no correio eletrônico e em seus weblogs para comunicar aos interlocutores que estão tristes, alegres, entediados, eufóricos ou simplesmente indiferentes.
      Os traços sintéticos dessas “carinhas” e a linguagem telegráfica dos blogueiros não são recursos meramente funcionais, adverte o médico. Eles revelam que esses jovens consideram supérflua a escritura formal. “Ao contrário da fala, a comunicação escrita exige aprendizado e ninguém aprende se não tiver interesse genuíno, o que leva o adolescente a optar pelo código anárquico da rede”. O professor de língua portuguesa David Fazzolari, do Colégio Nossa Senhora das Graças, em São Paulo, discorda, argumentando que a curta existência da internet não justifica previsões tão pessimistas. A linguagem usada nas salas de bate-papo e nos blogs, diz, é um simulacro da comunicação oral, dinâmica por natureza.
      “As abreviações, os signos visuais e a ausência de acentuação representam apenas um jeito de se adaptar ao teclado”, observa o professor. Ele não acredita que a norma culta será contaminada pela simplificação. “Os adolescentes sabem que ela deve ficar restrita ao ambiente da rede e não tenho notado um empobrecimento nos textos dos alunos por conta da adoção do código da internet”.
      Mas as redações poderiam ser melhores se a leitura fosse um hábito familiar, admite. O estudante Leandro Rodrigues Gonçalves, de 17 anos, mantém seu blog como um diário para “criticar” religiosos, “polemizar”. Como outros blogueiros, começou a usar “eh” no lugar de “é” e trocar “não” por “naum” até pensar no vestibular e concluir que era melhor render-se à sintaxe convencional. “A rede me estimulou a ler e a escrever poesia”, conta. Já Victor Zellmeister, de 15 anos, acha que a internet não aprimorou seu desempenho. Assim como o colega Gustavo Simon, garante não usar a “língua” da internet na aula. Colega dos dois, Rafael Mielnik não confunde rede com escola. “Só uso a net para inutilidades”.
      Educadores não identificam perigo nessa linguagem eletrônica. “Costumamos ver com desconfiança aquilo que foge ao nosso controle, mas não acho que a rede empobrece a língua”, afirma a orientadora pedagógica Elione Andrade Câmara. Com ela concorda David Crystal, que costuma rir quando alguém diz que a nova tecnologia está sufocando a gramática e matando a cultura: “Sinceramente, acho até que a literatura possa ficar mais rica ao incorporar expressões de blogueiros do meio rural, produzindo outros gêneros e abrindo uma dimensão diversa para a escrita”.
      Assim seja.

(FRANZOIA, Ana Paula e FILHO, Antônio Gonçalves. In: Revista Época. Pág. 54-55, 09/09/2002).

QUESTÃO 01 - “A vida linguística do futuro está por um fio?” A respeito deste questionamento, o texto afirma que:
A ( ) Está, e é por exclusiva culpa do pragmatismo de todos os usuários da internet, por abreviarem palavras ao limite do irreconhecível.
B ( ) Para David Crystal, respeitado linguista, a invenção do telefone provocou a mesma desconfiança, no sentido de seus usuários perderem a capacidade de expressão oral e escrita.
C ( ) Os psiquiatras suspeitam de uma onda de “dislexia discursiva” que acometeu os adolescentes, os quais perderam não só a capacidade de julgar, mas também de conviver fora da rede.
D ( ) Os pais imaginam que o filho esteja mentalmente perturbado ou tomando drogas, porque a internet considera os adolescentes suas vítimas preferenciais.
E ( ) Pode estimular outras formas de literatura e desenvolvimento do autoconhecimento do jovem que faz uso de chats e blogs.

QUESTÃO 02 - “Pais de adolescentes com distúrbios de linguagem estão levando seus filhos ao consultório”.
O fragmento acima é ambíguo, por apresentar duplo sentido. Tal ambiguidade decorre do fato de que:
A ( ) O sujeito é simples, apresentando dois adjuntos adnominais introduzidos por preposições diferentes, porém de mesmo valor semântico.
B ( ) Há dois adjuntos adnominais, um dos quais pode estar se referindo tanto ao outro adjunto adnominal quanto ao restante do segmento destacado.
C ( ) O sujeito é simples e plural, acarretando, por ter dois adjuntos adnominais também no plural, dupla possibilidade de entendimento.
D ( ) As preposições que introduzem os adjuntos adnominais são diferentes e introduzem noções diferentes, ainda que o sujeito seja composto.
E ( ) Um adjunto adnominal refere-se a “distúrbios” e o outro, à “linguagem”.

QUESTÃO 03 - “Na ânsia de se comunicarem num curto espaço de tempo, eles abreviam palavras ao limite do irreconhecível.” O termo destacado acima, por referir-se a outro mencionado anteriormente
(“usuários da internet”) tem função anafórica. Assinale a opção na qual ocorre um termo com função textual diferente:

A ( ) ”O jovem, que até então não apresentava nenhum problema na escola...”
B ( ) “Perde a capacidade de entender o que lê fora do ambiente da rede.”
C ( ) “Os adolescentes sabem que ela deve ficar restrita ao ambiente da rede...”
D ( ) “Há quem suspeite que sim e culpe o pragmatismo dos usuários da internet por sua agonia”.
E ( ) “... produzindo outros gêneros e abrindo uma dimensão diversa para a escrita”.

QUESTÃO 04 - Assinale a opção em que o termo destacado exerce função sintática diferente dos demais:
A ( ) “... chama esses defensores da sintaxe de alarmistas...”
B ( ) “Lembra que a invenção do telefone provocou...”
C ( ) “... a mesma desconfiança dos estudiosos...”
D ( ) “Essa simplificação da linguagem pelos adolescentes não pode ser entendida...”
E ( ) “... um empobrecimento nos textos dos alunos por conta da adoção do código da internet.”

QUESTÃO  05 -Examinando a estrofe de Zé Kety, analise o tipo de pronome predominante.
“Uns com tanto
Outros tantos com algum
Mas a maioria
Sem nenhum.”
Pronome pessoal de tratamento
Pronome do caso oblíquo
Pronome indefinido
Pronome demonstrativo

QUESTÃO 06-Assinale a frase em que meio funciona como advérbio:
                    a) Só quero meio quilo.
                    b) Achei-o meio triste.
                    c) Descobri o meio de acertar.
                    d) Parou no meio da rua.
                    e) Comprou um metro e meio.

QUESTÃO 07-  Ele ficou em casa. A palavra em é:
                   a) conjunção
                   b) pronome indefinido
                   c) artigo definido
                  d) advérbio de lugar
                  e) preposição
GABARITO
E  
E
C
C
B
E

17.


Questão 01  
A passagem abaixo é extraída do capítulo “Das negativas”, de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência de Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. 27. ed. São Paulo: Ática,1999. p. 176.
Neste capítulo, Brás Cubas faz uma espécie de balanço de sua existência, em que
a) demonstra tristeza por não ter conseguido um saldo positivo em sua vida.
b) lamenta suas dificuldades e o fato de não ter tido sucesso em sua vida.
c) orgulha-se por não ter deixado filhos para herdarem a infelicidade humana.
d) desculpa-se pelo fato de não ter suportado o sofrimento como seus amigos.

Questão 02
Sobre o Naturalismo literário, é correto afirmar:
I. Ao aprofundar aspectos realistas da literatura, cientificiza um discurso, assumido no plano estético pela ficção, induzindo o leitor a buscar não somente entretenimento em seus romances, mas também a problematização de estruturas sociais e de aspectos psicológicos das personagens.
II. O romance de tese, a exemplo de O cortiço, é o melhor projeto para o naturalista, uma vez que este só é considerado naturalista na medida em que sua produção literária se realiza unicamente no chamado romance de tese.
III. O realce de traços físicos e psicológicos nos romances de tese ratifica a ideia de o naturalismo, em suas narrativas, acentuar as tensões sociais e de demandas coletivas como proposta a ser problematizada a partir do elemento com o qual o leitor estabelece um grau de intimidade ou identificação, a saber, a personagem de ficção.

a) somente II e III estão corretas
b) somente I está correta
c) somente I e II estão corretas
d) somente I e III estão corretas
e) as três proposições estão corretas


Leia o poema abaixo para responder os exercícios A e B:

18.Desencanto
(Manuel Bandeira)

Eu faço versos como quem chora
De desalento... e desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.

1.A que gênero pertence Desencanto, de Manuel Bandeira? Porque se pode dizer que o poema é representante desse gênero?
O poema pertence ao genero lírico, pois apresenta um eu lírico expressando  suas emocões, ideias, há a subjetividade como mostram os verbos e pronomes em primeira pessoa.

2.Você diria que a poesia de Manoel Bandeira é objetiva ou subjetiva? Justifique.
É uma poesia  subjetiva. Há a manifestacão do eu lírico com verbos e pronomes em primeira pessoa. 

3.“Na serra de Ibiapaba, numa de suas encostas mais altas, encontrei um jegue. Estava voltado para o lado e me pareceu que descortinava o panorama. Mas quando me aproximei, percebi que era cego.” (Oswaldo França Júnior, em As Laranjas Iguais).
O fragmento é representante do gênero:
Lírico
Épico
Narrativo
Dramático
Nenhuma das opções acima.

19.Neologismo 
 Manuel Bandeira
Beijo pouco, falo menos ainda
Mas, invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar
Intransitivo;
Teadoro, Teodora.

Exercícios
1- Segundo o Autor, os meios para se manifestar ternura são:
    a) (   ) falar muito      b) (   ) beijar muito    c)(   )inventar palavras  d)(  ) calar-se

2- Que palavra o Autor inventou para manifestar ternura:
    a) (  ) intransitivo   b)(   ) cotidiana  c) (   )teadorar  d) (   ) funda

3- O poema chama-se Neologismo por que:
    a)  (   ) dá ideia de coisa ultrapassada;
    b)  (   ) encerra uma mensagem otimista;
    c)  (   ) apresenta características de versos soltos;
    d)  (   ) introduz palavras novas na língua.

     4- Os verbos na sua opinião, estão no modo:
     a) (   ) imperativo;   b) (   ) indicativo;    c)  (    ) subjuntivo.

5- O Autor inventa palavras para traduzir ternura:
     a) (   ) passageiro e fugar;
     b) (   ) leviana e interesseira;
     c) (   ) profunda e de todos os dias.

6- Neologismo é:
    a) (  ) o uso de qualquer recurso da língua pertence ao seu passado morto;
    b) (  ) uso de palavras que infringem as regras atuais de grafia;
    c) (  ) qualquer criação atual, dentro da língua, podendo ofender a qualquer parte da gramática.

20.LITERATURA   - BARROCO
Texto para as questões 01,02,03 e 04

“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.”

01. A ideia central do texto é:
a) a duração efêmera de todas as realidades do mundo;
b) a grandeza de Deus e a pequenez humana;
c) os contrastes da vida;
d) a falsidade das aparências;
e) a duração prolongada do sofrimento.


02. A preocupação com a brevidade da vida induz o poeta barroco a assumir uma atitude que:
a) descrê da misericórdia divina e contesta os valores da religião;
b) desiste de lutar contra o tempo, menosprezando a mocidade e a beleza;
c) se deixa subjugar pelo desânimo e pela apatia dos céticos;
d) se revolta contra os insondáveis desígnios de Deus;
e) quer gozar ao máximo seus dias, enquanto a mocidade dura.

03. Qual é o elemento barroco mais característico da 1ª estrofe?
a)estrutura bimembre
b)estrutura correlativa, disseminativa e recoletiva
c)disposição antitética da frase
d)concepção teocênctrica
e)cultismo

04. No texto predominaram as imagens:
a)táteis
b)olfativas
c)auditivas
d)visuais
e)gustativas

05. Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas, exceto:
a) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em mira seu aprimoramento, com base na cultura greco-latina.
b) O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de tensão, conflito entre tendências opostas: de um lado, o teocentrismo medieval e, de outro, o antropocentrismo renascentista.
c) O Barroco estabelece contradições entre espírito e carne, alma e corpo, morte e vida.
d) A arte barroca é vinculada à Contrarreforma.
e) O barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e de metáforas.


21.TEXTO: UM AMOR, UMA CABANA


     Nossos pais diziam que para nos tornarmos seres completos era preciso escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Meu pai, que era engenheiro, acrescentava: construir uma casa. Escrevi livros, até demais, tenho um filho e plantei uma árvore, no jardim da casa onde cresci, uma muda de pau-rosa, ou flor-do-paraíso, que havia sido esquecida ao lado de uma cova estreita e funda, uma muda frágil, com poucas folhas, mais alta do que a menininha que a salvou. A muda cresceu, transformou-se em um majestoso flamboyant, coberto de flores vermelhas.

       Mas nunca construí uma casa. Sonho com isso. Gostaria de construir uma casa de taipa, com as próprias mãos, amassar o barro, atirar o barro nos enxaiméis e fasquias de madeira. Não se trata de uma idiossincrasia, nem de um gesto poético, muito menos uma visão religiosa. A taipa é um material apaixonante. Tem uma nobreza histórica. As reforçadas casas e igrejas coloniais brasileiras foram feitas de taipa de pilão, há ainda hoje na Alemanha casas em taipa construídas no século 13, a própria muralha da China, símbolo de solidez, é taipa. A taipa tem mais de 9.000 anos, serviu a construções no Egito, na Mesopotâmia.
       Um amigo meu, arquiteto, projetou e construiu belíssimas casas de taipa. Ele se chama Cydno Silveira e o conheci em Brasília, poucos anos depois de plantar meu flamboyant. Cydno estudava na UnB quando, observando residências rurais, surpreendeu-se com a quantidade de casas de taipa, feitas de maneira intuitiva, quase como abelhas fazem suas colmeias. Nunca tinha ouvido falar naquilo em seu curso, e percebeu o quanto era elitista o ensino de arquitetura. Fotografou as casas de taipa todas que encontrava. Ele se formou, passou a trabalhar com as técnicas industriais, como concreto armado, mas nunca esqueceu a taipa. Deu-se conta de que não sabia construir da maneira mais rudimentar e resolveu aprender. Estudou durante anos a técnica. Descobriu taipas diversas, como a de pedra, usada no Piauí, a de madeira com bolas de barro, vista no Maranhão, a taipa de carnaúba, a taipa mista de moldura de tijolos, a taipa feita com sobras de madeira e sucata. Descobriu a maleabilidade incrível do barro, novas estruturas, novos dimensionamentos do espaço e imensas possibilidades de melhoria na técnica tradicional. Estudou a combinação com elementos da cultura industrial, mas sem descaracterizar a antiga construção de estuque.
        A casa de taipa nasce do chão, vem da natureza, é construída com o material que está ali, a terra e as árvores e tem uma grande contribuição a dar a um país que não oferece moradia para todos, como o Brasil. O projeto de casas populares, que Cydno afinal desenvolveu, ensina o homem a construir sua própria casa e a cuidar dela. Tem o sentido de manter viva a sabedoria popular da taipa. Está sendo feita uma experiência na cidade de Bayeux. Paraíba, para treinamento de pessoas no projeto, construção, melhoria e restauração de edificações em taipa de pau a pique. Não recebendo a casa pronta, mas construindo-a, o dono toma por ela mais amor. Se for privado de sua terra, ele saberá construir uma nova habitação. O saber lhe pode servir como meio de vida, e a profissão tem um nome: taipeiro.
      A casa de taipa é uma grande alternativa para a habitação no meio rural e nas periferias urbanas. Típica das populações mais pobres, é uma forma de independência, uma estratégia milenar de abrigo, preservada nos sertões brasileiros especialmente pelas mulheres. O sistema de autoconstrução elimina a aquisição de material, o transporte, o crédito, elimina o BNH e o processo industrial de construção, permite o mutirão e, principalmente, educa. É rápida a construção, usa-se mão de obra não qualificada, e é um instrumento para a posse imediata da terra. Permite uma construção tanto de caráter provisório quanto perene e a técnica pode ser levada a lugares onde não chega o material industrializado. Uma simples caiação evita a umidade e basta fechar as frestas onde o barbeiro gosta de fazer seu ninho. Integra a família, as mulheres e as crianças trabalham na construção e integra o grupo na sociedade quando em regime de mutirão. Apesar de tudo isso é completamente ignorada pelos meios administrativos, considerada subabitação, não há nem mesmo linha de crédito nos órgãos do governo para casa de taipa. Marcos Freire, antes de morrer, estava tratando de corrigir esse lapso. Nas esferas “civilizadas” há dificuldade em compreender a taipa. Não há legislação nem a favor nem contra. Quando da construção de Carajás, Cydno realizou um projeto de moradias em taipa de pau a pique para os empregados, utilizando o fartíssimo material do lugar. Seu projeto não foi aceito e os tijolos, o cimento e o ferro viajaram de avião até Carajás.
     Na taipa não há desperdício de material e nem agressão ecológica, a madeira usada nas estruturas é em quantidade cinco vezes menor do que a necessária na queima de tijolos para uma parede das mesmas dimensões [..].
     O Cydno vai projetar a minha casa de taipa. Vou querer na casa uma lareira, um fogão a lenha e uma vassoura daquelas de gravetos, Uma árvore frondosa por perto, pode ser flamboyant, um gramado na sombra para piquenique, contemplação ou leitura. Também dizia meu pai, nas coisas mais simples está o sentido da vida.
Ana Miranda.

DIALOGANDO COM O TEXTO
No texto, a autora aborda uma questão social: a falta de moradia de uma grande parcela da população brasileira. E, diante dessa questão, defende um ponto de vista.
O que ela defende como solução dos problemas de habitação para a área rural e a periferia urbana?

1.Identifique  o principal argumento que comprova este ponto de vista.
a) (    ) “A taipa é um material apaixonante. Tem uma nobreza histórica”.
b) ( x )“A casa de taipa nasce do chão, vem da natureza, é construída com o material que está ali,a terra e as árvores[...]”
c) (    )A taipa tem mais de 9.000 anos, serviu a construções no Egito, na Mesopotâmia.”

2.Marque com (x) a alternativa que traduz o que predomina no texto
a) ( x )Uma análise crítica das escolhas de material para a construção de casas populares.
b) (   )Uma visão poética e expressiva em relação às casas de taipa.
c) (   )Lembranças e sentimentos da autora.
d) (   )Levante hipóteses.

3.Por que a taipa, um material resistente ao tempo, maleável, de baixo custo e que tem baixo consumo de recursos naturais, não é utilizada nas construções de casas populares e em geral?
R - Porque é completamente ignorada pelos meios administrativos, considerada subsbitaçao não há nem mesmo linha de crédito nos órgãos do governo para esta casa. Não há legislação nem a favor e nem contra.
 
4.Que vantagens há em se ensinar a população a construir suas próprias casas?
R- É rápida a construção, usa-se mão de obra não qualificada, e é um instrumento para a posse imediata. Integra a família, as mulheres e as crianças trabalham na construção e integra o grupo na sociedade quando em regime de mutirão.
 5.Segundo a autora, “Nas esferas ´civilizadas´ há dificuldade em compreender a taipa”. O uso das aspas na palavra civilizadas dá um tom de ironia, ou seja, sugere uma ideia exatamente contrária. Qual é essa ideia?
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6.A autora cita que seu pai costumava dizer que ”para nos tornarmos seres completos era preciso escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho” e “construir uma casa”. Que princípios ou valores são destacados a partir dessas ações?
R- Essa frase tem um significado muito profundo, que nos leva à nossa origem, nos religando à energia divina e nos ensinando um caminho de volta ao nosso Pai.
A árvore está relacionada a criação do mundo e que cada um de nós tem que plantar a sua semente espiritual.
Ter um filho - nada mais é do que compartilhar o seu conhecimento. É ter um discípulo.
Escrever um livro - significa fazer da sua história um exemplo de superação. 

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