TEXTOS SOBRE PERSONAGENS DO FOLCLORE -
QUESTÕES OBJETIVAS - COM GABARITO
TEXTO I
Você
sabe dizer de que maneira os seres fantásticos, como o lobisomem e a mula sem
cabeça, "chegaram" ao Brasil? Após pensar sobre isso, leia o texto a
seguir e confirme (ou não) sua hipótese.
SERES
ENCANTADOS QUE DESEMBARCARAM NO BRASIL
Quando eu era criança, alguém sempre
contava histórias de lobisomem e mula sem cabeça. Hoje, quase não se fala mais
nesses seres que habitam o reino da fantasia. Mas eu ainda conheço um bocado de
gente que acredita neles e jura de pés juntos que já os viram.
Depois que eu
deixei de ser criança – e isso já faz muito tempo –, resolvi pesquisar sobre
essas histórias para saber como foi que elas surgiram aqui no Brasil. Vocês
podem não acreditar, mas tanto o lobisomem quanto a mula sem cabeça vieram para
este país nas caravelas portuguesas. Verdade! Só não se sabe ao certo se elas
vieram em 1500, com Pedro Álvares Cabral, ou se foram chegando depois, em
outras caravelas enviadas pelo rei de Portugal.
Não pensem que enlouqueci
imaginando um lobisomem e uma mula sem cabeça de malas prontas, acenando no
cais com um lencinho. Esses seres vieram em uma bagagem que a gente chama de
cultural. Vejam só: por volta do século 15, quando os portugueses começaram
suas viagens em busca de novas terras para explorar riquezas, eles levavam um
bocado de coisas em suas embarcações. Afinal, as viagens eram longas e eles
precisavam estar preparados para passar muito tempo no mar.
Claro que nenhum
lobisomem ou mula sem cabeça foi visto circulando entre os tripulantes das caravelas,
mas, com toda certeza, eles estavam lá. Calma, não se trata de uma história de
terror. Quero dizer que toda vez que vamos a algum lugar e encontramos pessoas
diferentes, a gente conversa, troca informações, ensina e aprende coisas.
Quando fazemos isso, acabamos adquirindo hábitos e costumes de outras pessoas.
Logo, isso aconteceu com os portugueses, quando eles resolveram viajar. Além de
objetos pessoais, ferramentas, instrumentos de navegação e alimentos, eles
levavam na bagagem tudo o que conheciam e acreditavam. E foi assim que a mula
sem cabeça e o lobisomem chegaram ao Brasil – na bagagem cultural, que é
formada, como já vimos, pelo conjunto de coisas que a gente sabe, que a gente
ensina e que aprende.
ABRINDO A BAGAGEM
Em Portugal, há 500 anos, um monte de
gente acreditava em lobisomem e em mula sem cabeça e parte dessa gente veio
para o Brasil. Aqui, os portugueses começaram a contar histórias de sua terra
e, de sua bagagem cultural, tiraram também outros seres fantásticos, como
sereias, sacis, velhos do saco, bruxas, fadas, bicho- -papão, papa-figos e
muitos mais, que, aqui, assustaram e, ao mesmo tempo, embalaram o sono de
muitas crianças.
Os negros, trazidos da África pelos portugueses, para serem
escravos, além de muita tristeza e saudades de sua terra natal, trouxeram,
também, inúmeras histórias. Aliás, como eles foram capturados e obrigados a
deixarem sua terra, não tiveram condições de arrumar seus pertences para a
viagem. Mas ninguém pôde proibi-los de trazer suas crenças, suas histórias,
seus hábitos e seus costumes, ou seja, a tal bagagem cultural.
Na imaginação
dos viajantes, livres e escravizados, veio toda sorte de crenças, mitos e
lendas que aqui, em solo fértil, brotou e proliferou por todo o território. Com
os portugueses, vieram lobisomens, mulas sem cabeça e outros. Com os africanos
vieram quibungo, chibamba e as histórias de animais.
Aí, você pode perguntar: e
as histórias dos índios que já estavam aqui? Eu diria que os lobisomens e os
quibungos encontraram-se com mapinguaris, caiporas, curupiras e passaram a
conviver em harmonia nas florestas e na imaginação dos brasileiros que iam
nascendo, neste novo território, da mistura de europeus, africanos e índios.
(...)
JURANDO DE PÉS JUNTOS
Como eu disse no início dessa conversa, tem muita
gente que acreditava nesses seres encantados. Nas grandes cidades, nem tanto,
mas, no interior do Brasil, ainda se contam muitas histórias de lobisomem.
Dizem que numa família de sete filhos homens, o caçula pode virar lobisomem, se
não for batizado pelo irmão mais velho. E tem mais: na hora em que vira
lobisomem, tem que correr sete fontes, sete cemitérios e sete igrejas. Só
depois dessa maratona é que ele volta à forma humana. Dizem, ainda, que os
lobisomens atacam o gado, as galinhas e as pessoas, tudo em busca de sangue.
Para matá-lo é preciso atirar com uma bala de prata.
Quanto à mula sem cabeça,
a história da transformação é bem diferente.
Reza a lenda que qualquer mulher
que namorar um padre pode virar mula sem cabeça, porque namorar padre é pecado.
Agora, veja como essa história é injusta: o padre não pode ter namorada, mas,
se tiver, só a mulher é castigada. A pobre coitada vira uma mula que solta fogo
pelas ventas e nunca mais desvira. Com o padre, não acontece nada.
Essa
história de mula sem cabeça veio da Península Ibérica, parte da Europa que hoje
está dividida entre Portugal e Espanha. Provavelmente, surgiu porque, no século
12, as mulas eram os animais mais próximos dos padres, que se locomoviam de um
lugar para outro montados nesses animais, considerados seguros e resistentes.
Além dessa história de ser namorada do padre, já ouvi dizer, também, que se uma
mãe tem sete filhas mulheres e não der a mais nova para a mais velha batizar, a
caçula vira mula sem cabeça, igualzinho ao caso do lobisomem.
PONTO FINAL
Acho que é mais ou menos isso que eu queria contar pra
vocês. É claro que tem muito mais coisas para descobrirmos sobre a cultura
brasileira. Caso vocês se interessem pelo assunto, vou dar uma dica: comecem
lendo os livros de Luís Câmara Cascudo, que foi um grande estudioso de nossa
cultura. (...)
Georgina da Costa Martins. In.:
Ciência Hoje das Crianças,
ano 13, n. 106. Rio de
Janeiro: SBPC, setembro/2000.
A partir da leitura atenta
do Texto I, realize as questões propostas.
1ª QUESTÃO: Assinale a opção
que está em desacordo com as informações do Texto I:
A – ( ) Atualmente, ainda existem
pessoas que declaram acreditar em mula sem cabeça e lobisomem.
B – ( ) Alguns mitos folclóricos
brasileiros fazem parte da bagagem cultural portuguesa.
C – ( ) A cultura brasileira também
possui influência e contribuição africana.
D – ( ) O povo indígena criou
personagens tais como caiporas e curupiras.
E – (X) As histórias indígenas, africanas e portuguesas nunca se
fundiram nem conviveram pacificamente no imaginário popular e no território
brasileiro.
2ª QUESTÃO: "... veio
toda sorte de crenças, mitos e lendas que aqui, em solo fértil, brotou e
proliferou por todo o território." O vocábulo proliferou,
neste contexto, só não significa:
A – ( ) reproduziu.
B – ( ) multiplicou.
C – ( ) expandiu.
D – (X) reduziu.
E – ( ) aumentou.
3ª QUESTÃO:
"...
qualquer mulher que namorar um padre / pode virar mula sem cabeça..."
As orações acima estabelecem entre si uma, respectivamente, relação
de:
A – ( ) fato/causa.
B – (X) fato/consequência.
C – ( ) fato/finalidade.
D – ( ) problema/solução.
E – ( ) fato/condição.
4ª QUESTÃO: No ponto de
vista da pessoa que narra o Texto I, a história da mula sem cabeça, na versão
de uma mulher que namora um padre, tem um desfecho:
A – ( ) coerente.
B
– ( ) satisfatório.
C – (X) injusto.
D – ( ) aceitável.
E – ( ) perfeito.
5ª QUESTÃO: Os trechos
abaixo deixam explícito o contato do narrador com o leitor, exceto:
A – ( ) "Vocês podem não acreditar,
mas..."
B
– ( ) "Não pensem que enlouqueci..."
C – ( ) "Vejam só: por volta do
século 15..."
D – ( ) "Aí, você pode
perguntar..."
E – (X) "Essa história de mula sem cabeça veio da Península
Ibérica..."
6ª QUESTÃO: Marque a análise
equivocada sobre o Texto I:
A – ( ) Possui narrador-personagem, isto
é, tem foco narrativo interno.
B – ( ) Em "...eles levavam um
bocado de coisas..." , há o emprego de linguagem informal,
coloquial.
C – (X) "Provavelmente, surgiu porque,
no século 12..." . O vocábulo grifado registra certeza no narrador.
D – ( ) "Reza a lenda que qualquer
mulher..." . É adequada a substituição da palavra grifada por diz,
relata, conta.
E – ( ) "Afinal, as viagens eram
longas..." Neste trecho, vê-se o emprego de uma palavra denotativa
de situação.
TEXTO II
Dentro de nós, há um mundo a ser
"explorado", libertado: o mundo da imaginação. Ele serve de morada
para toda espécie de seres. O texto que você lerá fala de um deles.
O LOBISOMEM
O lobisomem é um ser fantástico e assustador que, como o nome indica, é meio
lobo, meio homem. Durante os dias de semana, é um homem comum, magro, alto, de
pele macilenta, com um olhar melancólico. Normalmente, é afável e calmo, mas de
uma hora para outra pode tornar-se irritadiço. De vez em quando, dá longos
suspiros, como se fossem uivos silenciosos. E, às sextas-feiras, precisamente à
meia noite, esse homem se transforma. Adquire característica de lobo: as
orelhas crescem, surgem pelos espessos no rosto e no corpo, a boca se escancara
mostrando dentes afiados. As mãos mais parecem patas ou garras. Torna-se,
então, perigoso para os outros animais, sobretudo para o homem.
É difícil saber
de onde o lobisomem é originário. O maior estudioso dos seres fantásticos do
Brasil, o folclorista Câmara Cascudo, afirma que se trata de um bicho
universal, encontrável em todos os países. E, em cada um, ele recebe um nome
diferente: licantropo (na Grécia), versiopélio (em Roma), volkdlack (nos países
eslavos), obototen (na Rússia), hamramr (nos países nórdicos), loup-garou (na
França) ... Os nossos caboclos dizem "lobisome" e têm muito medo
dele.
Sexta-feira, da meia-noite às duas da manhã, o lobisomem sai numa corrida
barulhenta e atropelada para percorrer ou sete cemitérios, ou sete outeiros, ou
sete encruzilhadas, ou sete vilas. Nas vilas, sítios e fazendas por onde passa,
os moradores rezam e atiçam os cães para persegui-lo, para afugentá-lo. Perto das
casas, plantam arruda e alecrim. Percorridos os sete lugares, ele retorna ao
local de partida – onde há uma umburana, árvore frondosa na qual esconde sua
roupa – e volta à forma humana.
Samir Meserani. Os incríveis seres fantásticos.
São Paulo, FTD, 1993.
Vocabulário: • macilenta: pálida
• outeiros: colinas
A
partir da leitura atenta do Texto II, faça o que é proposto.
7ª QUESTÃO: O lobisomem é
meio lobo, meio homem.
O vocábulo meio pode desempenhar diferentes classes
gramaticais. Assinale a opção cujo vocábulo grifado é um substantivo:
A – ( ) O lobisomem tornou-se meio
assustador.
B – ( ) Meio quilômetro à frente, a fera
voltou à forma humana.
C – (X) Os fazendeiros encontraram um meio
de afugentar o lobisomem.
D – ( ) A transformação nunca ocorre
quando é meio-dia.
E – ( ) Quando vir um homem meio
estranho, poder ser um lobisomem.
TEXTO III - OS
LICANTROPOS
Surgiram alguns licantropos na cidade e
a população corria deles. Não corria tanto assim, pois os licantropos só
apareciam noite alta. E sempre nas sextas-feiras. De qualquer modo, notívagos
eram surpreendidos pelos licantropos, e não sentiam o menor prazer no encontro.
O resto da população, tentando dormir em seus quartos, simplesmente sentia
medo.
O sábio professor Epaminondas Barzinsky debateu o assunto na Academia de
Ciências Sobrenaturais, advertindo que primeiro se devia apurar se se tratava
de licantropos propriamente ditos, ou de pessoas afetadas de licantropia.
Propôs que se nomeasse a comissão para investigar este ponto. Se ficasse
comprovado que os licantropos eram da primeira espécie, levaria o estudo às
últimas consequências.
Ninguém quis fazer parte da comissão e o próprio
Barzynski pôs-se em campo, no interesse da ciência. Uma semana depois, voltou à
sede social, requerendo reunião extraordinária para a meia-noite da próxima
sexta-feira. Combinado. Ao entrarem na sala à hora aprazada, seus colegas viram
que um licantropo ocupava a tribuna de conferências. Saíram apressadamente e
nunca mais a Academia se reuniu nem Barzinsky foi visto.
Carlos Drumond de
Andrade. Contos plausíveis. Rio de Janeiro, José Olympio, 1985.
Vocabulário: •
licantropo: lobisomem
• notívagos: pessoas que apreciam a vida noturna
A partir
da leitura atenta do Texto III, faça o que é pedido.
8ª QUESTÃO: O último
parágrafo do conto "Os licantropos" deixa subentendida a ideia de
que:
A – ( ) o professor Epaminondas concluiu
que licantropos não existiam.
B – (X) Barzinsky transformou-se em um licantropo.
C
– ( ) todos os membros da Academia de Ciências Sobrenaturais foram vítimas do
ataque de um licantropo.
D – ( ) o professor Barzinsky deveria
fazer novas investigações em campo.
E – ( ) o horário e dia da reunião
extraordinária agendada pelo professor Barzinsky não foram aceitos pelos outros
homens da Academia de Ciências Sobrenaturais.
9ª QUESTÃO: Assinale a opção
cujo vocábulo destacado não é acentuado pela mesma regra de acentuação dos
demais:
A – (X) "...notívagos eram surpreendidos..."
B – ( ) "O sábio professor
Epaminondas Barzinsky debateu..."
C – ( ) "...os licantropos eram da
primeira espécie..."
D
– ( ) "...requerendo reunião extraordinária..."
E – ( ) "...ocupava a tribuna de
conferências."
TEXTO IV- FOLCLORE
Você já viu que o lobisomem é um ser
pertencente ao nosso folclore. Mas, afinal, o que exatamente é o folclore? Leia
um texto que fala um pouco sobre isso.
"...é tudo o que a gente faz, sabe,
diz, canta, expressa de alguma forma sem precisar aprender, ouvindo falar,
vendo fazer, sabendo porque todo mundo sabe. (...)
Quem nunca ouviu falar em
comida típica ou em música regional? Se você parar para lembrar, vai ver, por
exemplo: churrasco, carne-seca com abóbora, feijão de tropeiro, pato no tucupi,
goiabada cascão... Tudo isso é comida típica. Ora, pipocas! Típica de quê? Do
lugar onde é feita. E essa tipicidade teve origem na abundância da
matéria-prima (o material de que é feita) ou na necessidade do pessoal daquele
lugar, ou em alguma influência.
Perceberam como é? É uma coisa que o homem vai aproveitando, e a coisa vai
ficando típica, tradicional, regional, folclórica."
Maria Helena Torres. In.: Ciências
Hoje das Crianças, ano 5,
n 27. Rio de
Janeiro, SBPC, abril-maio-junho/1992.
A partir da leitura do Texto
IV, faça o que é proposto.
10ª QUESTÃO: Pode-se afirmar
sobre o texto lido que:
A – (X) uma comida torna-se típica quando
ela é muito cultivada e preparada em determinado lugar.
B – ( ) o folclore é aprendido em
escolas e cursos.
C – ( ) todas as regiões possuem os
mesmos pratos típicos.
D – ( ) em Campos, no Rio de Janeiro,
todos os doces de goiaba são feitos artesanalmente.
E – ( ) a única manifestação folclórica
citada pela autora foi a comida típica.
TEXTO V - A
LENDA DO SACI
A curiosidade tem levado os homens de
todos os tempos a indagar sobre as origens do Universo, dos seres, das coisas e
sobre os fatos que não têm explicação lógica. Os cientistas estudam o mundo à
procura de respostas objetivas a essas questões. As lendas constituem outra
forma de responder a essas perguntas. Fruto da imaginação, elas não explicam
cientificamente os seres e as coisas, mas contam uma história que fala de como
teria surgido.
Você já ouviu falar do Sítio do Picapau Amarelo, um lugar
imaginado por Monteiro Lobato? O sítio é uma pequena fazenda onde moram
Narizinho, Dona Benta, Pedrinho, Tia Nastácia, a boneca Emília, o Visconde de
Sabugosa e Rabicó. Criadas por Monteiro Lobato, o primeiro escritor brasileiro
a escrever para crianças, essas personagens vivem incríveis aventuras no sítio
e falam de muitas tradições de nosso país.
O texto que você vai ler a seguir se
refere a uma delas. Pedrinho, muitas vezes, tinha ouvido falar em saci e queria
saber se ele realmente existia. Foi então perguntar ao Tio Barnabé, um negro de
mais de 80 anos e bom contador de histórias, que vivia perto de sua fazenda.
Tio Barnabé não apenas confirmou que o saci existia, mas também informou que
existiam vários sacis. E contou muitas histórias sobre eles, as artes que essas
criaturas fazem e até ensinou como se pega um saci. Pedrinho, então, armou um
plano. Vamos conhecer o plano do garoto?
PEDRINHO PEGA UM SACI
Tão
impressionado ficou Pedrinho com esta conversa que dali por diante só pensava
em saci, e até começou a enxergar sacis por toda parte. Dona Benta caçoou,
dizendo:
— Cuidado! Já vi contar a
história de um menino que de tanto pensar em saci acabou virando saci…
Pedrinho
não fez caso da história e, um dia, enchendo-se de coragem, resolveu pegar um.
Foi de novo em procura do tio Barnabé.
— Estou resolvido a pegar um
saci, disse ele, e quero que o senhor me ensine o melhor meio.
Tio Barnabé
riu-se daquela valentia.
— Gosto de ver um menino
assim. Bem mostra que é neto do defunto sinhô velho, um homem que não tinha
medo nem de mula sem cabeça. Há muitos jeitos de pegar saci, mas o melhor é o
de peneira. Arranja-se uma peneira de cruzeta…
— Peneira de cruzeta? –
interrompeu o menino – Que é isso?
— Nunca reparou que certas
peneiras têm duas taquaras mais largas que se cruzam bem no meio e servem para
reforço? Olhe aqui. – e tio Barnabé mostrou ao menino uma das tais peneiras que
estava ali num canto – Pois bem, arranja-se uma peneira destas e fica-se
esperando um dia de vento bem forte, em que haja rodamoinho de poeira e folhas
secas. Chegada essa ocasião, vai-se com todo o cuidado para o rodamoinho e zás!
joga-se a peneira em cima. Em todos os rodamoinhos há saci dentro, porque fazer
rodamoinhos é justamente a principal ocupação dos sacis neste mundo.
— E depois?
— Depois, se a peneira foi
bem atirada e o saci ficou preso, é só dar jeito de botar ele dentro de uma
garrafa e arrolhar muito bem. Não esquecer de riscar uma cruzinha na rolha,
porque o que prende o saci na garrafa não é a rolha e sim a cruzinha riscada
nela. É preciso ainda tomar a carapucinha dele e a esconder bem escondida. Saci
sem carapuça é como cachimbo sem fumo. Eu já tive um saci na garrafa, que me
prestava muitos bons serviços. Mas veio aqui um dia aquela mulatinha sapeca que
mora na casa do compadre Bastião e tanto lidou com a garrafa que a quebrou. O
perneta pulou em cima da sua carapuça, que estava ali naquele prego, e
"Até logo, tio Barnabé!"
Depois de tudo ouvir com a maior atenção,
Pedrinho voltou para casa decidido a pegar um saci, custasse o que custasse.
Contou o seu projeto a Narizinho e longamente discutiu com ela sobre o que
faria no caso de escravizar um daqueles seres terríveis. Depois de arranjar uma
boa peneira de cruzeta, ficou à espera do dia de S. Bartolomeu, que é o mais
ventoso do ano.
Custou a chegar esse dia, tal era sua impaciência, mas afinal
chegou e, desde muito cedo, Pedrinho foi postar-se no terreiro, de peneira em
punho, à espera de rodamoinhos. Não esperou muito tempo. Um forte rodamoinho
formou-se no pasto e veio caminhando para o terreiro.
— É hora! – disse Narizinho
– Aquele que vem vindo está com muito jeito de ter saci dentro.
Pedrinho foi se
aproximando pé ante pé e, de repente, zás! Jogou a peneira em cima.
— Peguei! – gritou no auge
da emoção, debruçando-se com todo o peso do corpo sobre a peneira emborcada –
Peguei o saci! … A obra de Monteiro Lobato já divertiu muitas gerações de
crianças. Na foto, alguns dos atores que vivem as personagens da nova adaptação
do Sítio do Piaca pau Amarelo para a televisão.
A menina correu a ajudá-lo.
— Peguei o saci! – repetiu o
menino vitoriosamente – Corra, Narizinho, e traga-me aquela garrafa escura que
deixei na varanda. Depressa!
A menina foi num pé e voltou noutro.
— Enfie a garrafa dentro da
peneira – ordenou Pedrinho – enquanto eu cerco dos lados. Assim! Isso! …
A
menina fez como ele mandava e, com muito jeito, a garrafa foi introduzida
dentro da peneira.
— Agora tire do meu bolso a
rolha que tem uma cruz riscada em cima. – continuou Pedrinho – Essa mesma. Dê
cá.
Pela informação do tio Barnabé, logo que a gente põe a garrafa dentro da
peneira, o saci por si mesmo entra dentro dela, porque, tem a tendência de
procurar sempre o lugar mais escuro. De modo que Pedrinho o mais que tinha a
fazer era arrolhar a garrafa e erguer a peneira. Assim fez, e foi com o ar de
vitória de quem houvesse conquistado um império que levantou no ar a garrafa
para examiná-la contra a luz.
Mas a garrafa estava tão vazia como antes. Nem
sombra do saci dentro…
A menina deu-lhe uma vaia e Pedrinho, muito desapontado,
foi contar o caso ao tio Barnabé.
— É assim mesmo. – explicou
o negro velho – Saci na garrafa é invisível. A gente só sabe que ele está lá
dentro quando a gente fica sonolento. Num dia bem quente, quando os olhos da
gente começam a piscar de sono, o saci pega a tomar forma, até que fica
perfeitamente visível. É desse momento em diante que a gente faz dele o que
quer. Guarde a garrafa bem fechada, que garanto que o saci está dentro dela.
Pedrinho voltou para casa orgulhosíssimo com a sua façanha.
— O saci está aqui dentro,
sim. – disse ele a Narizinho – Mas está invisível, como me explicou tio
Barnabé.
Quem não gostou da brincadeira foi a pobre tia Nastácia. Como tinha um
medo horrível de tudo quanto era mistério, nunca mais chegou nem na porta do
quarto de Pedrinho.
— Deus me livre de entrar
num quarto onde há garrafa com saci dentro! Credo! Nem sei como dona Benta
consente semelhante coisa em sua casa. Não parece ato de cristão…
(Monteiro
Lobato. Viagem ao Céu e O saci.
São
Paulo: Brasiliense, s.d. p. 191-5.).
A partir da leitura do Texto
V, faça o que é proposto.
11ª QUESTÃO: De acordo com
as instruções dadas por tio Barnabé, para Pedrinho ou qualquer pessoa conseguir
pegar um saci, só não seria necessário:
A – ( ) peneira de cruzeta.
B – ( ) ser um dia de vento forte com
rodamoinho.
C – ( ) uma garrafa escura.
D – (X) uma pessoa para ajudar.
E – ( ) uma rolha com uma cruz desenhada
nela para tampar a garrafa.
12ª QUESTÃO: Observe os trechos
a seguir:
I – "...que me prestava
muitos bons serviços."
II – "...e, desde muito
cedo, Pedrinho foi postar-se..."
III – "Não esperou
muito tempo."
IV – "...com muito
jeito, a garrafa foi introduzida..."
V – "...Pedrinho, muito
desapontado, foi..."
Pode-se declarar que a classe gramatical de
muito é advérbio:
A – ( ) em todos os trechos.
B – (X) somente nos trechos II e V.
C – ( ) apenas no trecho IV.
D – ( ) somente no trecho II.
E – ( ) apenas nos trechos III e I.
13ª QUESTÃO: Monteiro
Lobato, o autor do texto, viveu há muito tempo, entre 1882 e 1984. Por essa
razão, muitas palavras e expressões que ele utilizou em suas histórias não são
conhecidas pelas crianças de hoje. Apesar disso, é possível compreender o
sentido delas no contexto em que foram empregadas.
Identifique a opção cuja
expressão ou palavra grifada foi substituída inadequadamente pelo que aparece
entre parênteses:
A – ( ) "...Pedrinho não fez caso
da história e, a..." (não se importou com a)
B – ( ) "...que o senhor me ensine
o melhor meio." (modo)
C – ( ) "...e tanto lidou com a
garrafa que a quebrou..." (manuseou)
D – ( ) "A menina foi num pé e
voltou noutro." (foi e voltou rapidamente)
E – (X) "...o mais que tinha a fazer era arrolhar a garrafa..." (destampar).
14ª QUESTÃO: "Saci sem
carapuça é como cachimbo sem fumo."
No trecho acima, há um
conectivo de comparação. Ele só não quer dizer que saci sem carapuça é tão:
A – (X) proveitoso quanto cachimbo sem fumo.
B – ( ) inútil quanto cachimbo sem fumo.
C – ( ) sem importância quanto cachimbo
sem fumo.
D – ( ) ineficaz quanto cachimbo sem
fumo.
E – ( ) irrelevante quanto cachimbo sem
fumo.
15ª QUESTÃO: Quanto à
caracterização dos personagens não se pode declarar que:
A – ( ) Pedrinho – é destemido e
corajoso.
B – ( ) tio Barnabé – é minucioso e
detalhista.
C – ( ) Narizinho – é prestativa e
eficiente.
D – ( ) tia Nastácia – é supersticiosa e
medrosa.
E – (X) dona Benta – é intolerante e
encorajadora.
TEXTO VI - O
MONSTRO DO RIO NEGRO
Há muitos homens no mundo
que dizem
terem lutado,
com lobisomens valentes
que andam correndo fado
e sempre, sempre
nas lutas,
vitórias têm alcançado.
Outros... dizem com certeza
que têm lutado
também,
com muitas "burras de padre"
e têm saído bem
porém isto são
bichinhos,
que não espantam ninguém.
Eu quisera ouvir um homem
dizer-me que
resistiu,
ao Monstro do Rio Negro
e triunfado saiu
para eu lhe dizer na cara:
você desta vez mentiu.
Porque o monstro em que falo
no mundo ainda não nasceu,
vivente que resistisse
à força do corpo seu
e quem com ele agarrar-se,
pode
jurar que perdeu.
O monstro do Rio Negro
o seu pai foi um pajé,
que viveu no
Rio Negro
regendo a tribo Maué
o Brasil ainda não era,
uma nação como é.
Seu
corpo tem com certeza
dez metros de comprimento
a barriga é encarnada
e o lombo é pardacento
e tem quatro asas negras
pra voar qualquer momento.
Essas asas são
de couro
porém de um couro tão forte,
que não há dentes de bicho
que possam
fazer-lhe corte
e não há ponta de aço,
que nelas não se entorte.
Tem uma força
assombrosa
capaz de erguer o mundo,
a fera que ele agarrar perde
a vida num
segundo
que seja em cima da terra,
ou dentro do mar profundo.
Pois tem cem
palmos
ou mais a sua circunferência,
o seu casco tem um metro
de grossura; e a
consistência
é de bronze; e já por isto,
ninguém lhe põe resistência.
Tem um
lodo em todo corpo
e o bicho que mordê-lo,
a língua fica queimada redonda
como
um novelo
e os dentes se desmancham,
já como bolas de gelo.
Seus chifres são do
tamanho
dos chifres dum boi de carro,
duros como diamante
e sujos da cor de
barro
as unhas são como os chifres,
dum veado ou dum chibarro.
Tem quatro unhas
maiores
– em cada pé possui uma,
cujas unhas são de rosca
da forma de uma
verruma
e o bicho que ele perfurar
com elas: não se apruma.
Pois as unhas onde
ferem
aparece de repente,
e gangrena com o tétano
portanto não há vivente
que
possa ganhar vitória,
com esse monstro valente.
Seus olhos são como brasas
tendo o tamanho dum tacho
fitando para o vivente
o vivente vai-se abaixo
com
uma légua ele atrai,
qualquer bicho fêmea, ou macho. (...)
José Camelo de Melo Resende. In: Manoel
Cavalcanti Proença (org.). Literatura popular em verso. Belo Horizonte:
Itatiaia/São Paulo: Edusp/Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.
PP.238-240.
Vocabulário:
• fado: destino
• encarnada: da cor da
carne, vermelha
• chibarro: pequeno bode
• gangrena: morte e
apodrecimento dos tecidos em qualquer parte do organismo.
A partir da leitura atenta
do Texto VI, faça o que é proposto.
16ª QUESTÃO: Após analisar
as estrofes do poema, marque a informação falsa:
A – ( ) A quarta estrofe declara que o
Monstro do Rio Negro é invencível.
B – ( ) O monstro é também descrito
fisicamente na sexta estrofe.
C – ( ) Na segunda estrofe, de certa
forma, o eu-lírico subestima a ferocidade das "burras de padre."
D – (X) Há uma comparação, na décima primeira estrofe, entre o tamanho
dos chifres do Monstro do Rio Negro e o do diamante.
E – ( ) A oitava estrofe afirma que o
Monstro do Rio Negro vence tanto animais terrestres quanto aquáticos.
17ª QUESTÃO: Assinale o
verso em que o vocábulo UM desempenhe função gramatical de numeral:
A – ( ) "Eu quisera ouvir um
homem"
B – ( ) "o seu pai foi um
pajé,"
C – ( ) "porém de um couro tão
forte,"
D – (X) "o seu casco tem um metro"
E – ( ) "redonda como um
novelo"
18ª QUESTÃO: Identifique a
relação estabelecida pelo conectivo destacado no verso abaixo:
"pra voar
qualquer momento."
A – ( ) causa
B – (X) finalidade
C – ( ) consequência
D – ( ) direção
E – ( ) lugar.
19ª QUESTÃO: A ideia de
matéria não pode ser estabelecida pela preposição de na opção:
A – (X) "com muitas ‘burras de
padre’"
B – ( ) "Essas asas são de
couro"
C – ( ) "e não há ponta de
aço,"
D – ( ) "é de bronze; e já por
isto,"
E – ( ) "já como bolas de
gelo."
20ª QUESTÃO: Identifique,
nos versos abaixo, o único que exclui-se de registrar uma consequência sofrida
por um ser que entre em confronto com o Monstro do Rio Negro:
A – ( ) "perde a vida num
segundo"
B – ( ) "e os dentes se
desmancham,"
C – ( ) "e gangrena com o
tétano"
D – (X) "Seus olhos são como
brasas"
E – ( ) "o vivente vai-se abaixo"
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