Ana Maria Severiano de Paiva / Ilydio Pereira de Sá
Será
que o melhor professor é aquele que explica “tudo certinho”, sem dar
tempo ou chance ao seu aluno de fazer perguntas, de ter dúvidas?
Nós há uns vinte anos, com certeza, pensávamos dessa forma. Hoje, diante da
complexidade
e da velocidade das mudanças que se processam no mundo, nas
comunicações, nas relações de trabalho, nas relações sociais e no
conhecimento, acreditamos que, reconhecendo a importância da ação do
professor, o papel atribuído a este deve ser muito mais o de mediador do
processo de ampliação da ação dos diferentes sujeitos sociais,
contribuindo para torná-los protagonistas das suas próprias histórias.
Protagonismo este que deverá ser desenvolvido através de atividades
significativas.
Diante
da liberdade de pensar e de agir, surge a necessidade do diálogo, do
respeito ao tempo de cada um, sem que isto signifique deixar o fraco
como fraco, porque é o seu tempo, mas partir do outro como uma pessoa
que é um mundo de possibilidades e não um universo de limitações. Exige
do educador ir além do seu conteúdo específico, situando este em um
contexto mais amplo de questões identificadas com o aprender a aprender,
aprender a ser, aprender a fazer e aprender a conhecer.
Não
há receitas e não há fórmulas mágicas. Se isso existisse, tornaria
homogêneo o que é diferente, porque é fruto da relação dos homens entre
si. Mas aí é que se instala o medo. E este se apresenta mais forte
quando se fala em avaliação.
Se
admitirmos que avaliação é um processo contínuo, ela se constrói com a
participação dos diferentes sujeitos sociais: educadores e educandos. Se
é processo, extrapola a marcação do X, do certo, da quantificação de
acertos, da utilização de "tabelinhas de conversão de números para
letras ou qualquer outro código". Portanto, sob essa ótica de avaliação,
temos que considerar questões fundamentais: "Como avaliar?”, “como
devem ser as provas?”, “os testes?”, “os exercícios?”, “os trabalhos?”,
“as pesquisas?”.
É
óbvio que isto torna o nosso papel muito complexo, nos remetendo
novamente à condição de seres em processo contínuo de construção de seus
saberes, nos lembrando que devemos estabelecer um diálogo contínuo com o
conhecimento e com os sujeitos: educador– pesquisador.
Essa
nova postura (que aliás não é tão nova assim) de propor, organizar e
coordenar o desenvolvimento das atividades dos alunos substitui, com
grande vantagem, a de “explicar a matéria”, escolhendo as famosas listas
de exercícios e realizando a avaliação através da de um instrumento
formal - a prova.
Consultando-se o "Aurélio", verificamos que prova seria 'aquilo que atesta a veracidade ou a autenticidade de alguma coisa". Que coisa seria essa? No senso comum de nossas escolas, a prova atestaria muitas vezes a veracidade da limitação dos alunos, do seu fracasso, do pouco esforço, da falta de interesse - o foco sempre nos alunos. Será que não poderíamos ampliar esta discussão e inserir nela os sujeitos da prova, que a nosso ver não são somente os alunos que "em princípio estariam ali para aprender", mas também nos perguntarmos "por aquele que ensina"?
A
questão é séria porque quando a iniciamos, em geral, ficam uns em
posição de ataque e outros em posição de defesa. Ora, não existem réus, o
culpado não é o professor, muito menos o aluno. São novos olhares para o
conhecimento, para os saberes, para quem ensina e quem aprende. São
interrogações sobre os sentidos atribuídos à educação no mundo de hoje.
Não
se pode admitir mais a exclusão do direito à educação de todos os
homens, porque negar este direito é negar outros direitos sociais
intimamente relacionados com o capital cultural, com o capital de
informações, com o exercício da cidadania.
Para
que serve a escola? Para que serve a educação ministrada em um espaço
institucionalizado? Ou só consideramos os saberes que se adquirem nos
bancos escolares?
Nós
não podemos desperdiçar a chance de, ao elaborar as situações de
aprendizagem, promover a reflexão dos alunos sobre as experiências e
sobre os conhecimentos que forem sendo construídos.
Diante
dessa perspectiva, o professor como “facilitador” (não no sentido de
entregar pronto, fácil), deverá buscar as melhores condições para que a
aprendizagem ocorra, já que são os alunos que devem aprender.
Quantas
vezes já dissemos a famosa frase: “eu ensinei tudo, dei todo o
programa”. Como podemos dizer isso, se na maioria das vezes os alunos
não aprenderam, ou aprenderam a responder apenas o que desejávamos que
respondessem numa prova ou teste, sem conseguir verificar a importância,
o significado ou mesmo sem conseguir fazer a transferência do que foi
“ensinado”?
Queremos
ainda destacar que a função do professor sempre foi e continuará sendo
insubstituível, mesmo com tecnologias, métodos, manuais e programas
supostamente adequados, só que tudo isso depende essencialmente da
postura do professor, sem esquecer que tal trabalho docente depende
também da forma de gestão e de coordenação da Escola, bem como do uso
adequado de todos os fóruns de discussão – como os conselhos de classe –
na busca de algo ainda não bem definido e para o qual não existem
“receitas mágicas”.
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