NO DIA EM QUE O GATO FALOU
(Millôr Fernandes)
01.
Era uma vez uma dama gentil e senil que tinha um gato siamês. Gato de raça, de bom-tom,
de filiação, de ânimo cristão. Lindo gato, gato terno, amigo, pertencente a uma
classe quase extinta de antigos deuses egípcios. Este gato só faltava
falar. Manso e inteligente, seu olhar era humano. Mas falar não
falava. E sua dona, triste, todo dia passava uma ou duas horas, repetindo
sílabas e palavras para ele na esperança de que um dia aquela inteligência que
via em seu olhar explodisse em sons compreensivos e claros. Mas nada!
02.
A dama gentil e senil era, naturalmente, incapaz
de compreender o fenômeno. Tanto mais que ali mesmo à sua frente, preso a um
poleiro de ferro, estava um outro ser, também animal, inferior até ao gato,
pois era somente uma pobre ave, mas que falava! Falava mesmo, muito mais do que
devia. Um papagaio, que falava pelas tripas do Judas. Curiosa natureza,
pensava a mulher, que fazia um gato quase humano, sem fala, e um papagaio cretino
mas parlapatão. E quanto mais meditava mais tempo gastava com o gato
no colo, tentando métodos, repetindo silabas, redobrando cuidados para ver se
conseguia que seu miado virasse fala.
03.
Exatamente no dia 16 de maio de 1958 foi que teve a ideia genial. Quando a
ideia iluminou seu cérebro, veio acompanhada da critica, auto-crítica:
“Mas, como não me ocorreu isso antes?” O papagaio viu no brilho do olhar da
dona o seu (dele) terrível destino e tentou escapar, mas estava preso. Foi
morto, depenado e cozinhado em menos de uma hora. Pois o raciocínio da mulher
era lógico e científico: se desse ao gato o papagaio como alimentação, não era
evidente que o gato começaria a falar? Era? Não era? Veria. O gato, a
princípio, não quis comer o companheiro. Temendo ver fracassado o seu
experimento científico, a dama gentil e senil procurou forçá-lo. Não
conseguindo que o gato comesse o papagaio, bateu-lhe mesmo – horror! – pela
primeira vez. Mas o gato se recusou. Duas horas depois, porém, vencido pela
fome, aproximou-se do prato e engoliu o papagaio todo. Imediatamente subiu-lhe
uma ânsia do estômago, ele olhou para a dona e, enquanto esta chorava de
alegria, começou a gritar (num tom meio currupaco, meio miau-miau-miau, mas
perfeitamente compreensível):
04.
– Madame, foge pelo amor de Deus! Foge, madame, que o prédio vai cair!
05.
A mulher, tremendo de emoção e alegria, chorando e rindo, pôs-se a gritar por
sua vez.
06.
– Vejam, vejam, meu gatinho fala! Milagre! Fala o meu gatinho!
07.
Mas o gato, fugindo ao seu abraço, saltou para a janela e gritou de novo: –
Foge, madame, que o prédio vai cair! Madame, foge! – e pulou para a rua.
08.
Nesse momento, com um estrondo monstruoso, o prédio inteiro veio abaixo, sepultando
a dama gentil e senil em meio aos seus escombros.
09.
O gato, escondido melancolicamente num terreno baldio, ficou vendo o
tumulto diante do desastre e comentou apenas, com um gato mais pobre que
passava: – Veja só que cretina. Passou a vida inteira para fazer eu falar e no
momento em que falei, não me prestou a mínima atenção.
10.
MORAL: O mal do artista é não acreditar na própria criação.
Marque com um X o sinônimo das palavras ou
expressões em destaque:
1. Em: ”… gato de raça, de bom-tom…” (par.
1), a expressão em destaque refere-se à pessoa que é:
a.( )
rica b.( )
bondosa c.( )
fina d.( ) natural
2. A frase: “Este gato só faltava falar”
(par. 1) tem o mesmo significado que:
a.( ) Este gato, quando fica só, tenta
falar.
b.( ) Falar é só o que falta a este
gato.
c.( ) Só este gato é que falta falar.
d.( ) Só este gato é que tenta falar.
3. Em: “Manso e inteligente, seu olhar era humano”
(par. 1), a palavra em destaque significa:
a.( ) próprio do homem
b.( ) bondoso
c.( ) submisso
d.( ) que ama os seus semelhantes
4. Em: “Curiosa natureza, pensava a mulher…”
(par. 2) a palavra em destaque tem o mesmo significado que em:
a.( ) Vive arranjando confusões de toda
a natureza.
b.( ) Ele contemplava a natureza com
olhos de artista.
c.( ) Aquele rapaz tem péssima
natureza.
d.( ) Conservava, aos quarenta anos,
todas as boas qualidades de sua natureza.
5. Em: “…e um papagaio cretino mas parlapatão…”
(par. 2) a expressão em destaque indica que o papagaio era:
a.( ) pouco inteligente mas muito
falante
b.( ) meio amalucado mas bonachão
c.( ) pouco instruído mas muito observador
6. Em: “E quanto mais meditava mais tempo
gastava…” (par. 2) a palavra em destaque significa:
a.( )
planejava b.( )
pensava c.( )
examinava d.( ) estudava
7. Relacione as colunas de modo a fazer a
correspondência entre as palavras que se seguem, formadas por auto e sua
significação.
1. ( ) autocrítica
a. vida de um indivíduo escrita por ele
mesmo
2. ( )
autopunição b.
crítica feita por alguém a si mesmo
3. ( )
autobiografia c.
avaliação feita por um indivíduo para provar a ele próprio que sabe
determinados conhecimentos
4. ( ) automóvel
d. veículo que se locomove por seus próprios meios
5. ( ) auto-retrato
e.
castigo imposto por um indivíduo a si mesmo
6. ( ) auto-avaliação
f. retrato de um
indivíduo feito por ele mesmo
8. Em: “Temendo ver fracassado o seu
experimento científico…” (par. 3) a palavra em destaque significa:
a.( ) quebrado
b.( ) reduzido a pedaços
c.( ) mal-acabado
d.( ) malsucedido
9. Em: “…sepultando a dama gentil…” (par.
a palavra em destaque significa:
a.( )
escondendo b.( ) isolando
c.( ) soterrando d.( )
abrigando
10. Em: “…em meio aos escombros…” (par.
a palavra em destaque significa:
a.( ) restos de construção desmoronados
b.( ) cinzas resultantes de um incêndio
c.( ) ruídos provocados por um
desmoronamento
d.( ) substâncias venenosas
11. Em: “O gato, escondido melancolicamente
num terreno baldio…” (par. 9) a palavra em destaque significa:
a.( )
assustadoramente
b.( ) tristemente
c.( )
nervosamente
d.( ) timidamente
Assinale a alternativa correta, de acordo com o
texto.
12. São características da dama:
a.( ) bondade, simpatia e inteligência
b.( ) coragem, simpatia e desenvoltura
c.( ) persistência, teimosia e velhice
13. O gato da dama é apresentado como sendo um
animal:
a.( ) bonito, terno, amigo, de boa raça
e inteligente
b.( ) bonito, inteligente, pacífico e
preguiçoso
c.( ) terno, amigo, raro e preguiçoso
d.( ) bonito, terno, corajoso e
inteligente
14. O fenômeno que a dama não conseguia compreender
era:
a.( ) a burrice do
gato
b.( ) a mudez do papagaio
c.( ) a inteligência do
papagaio d.( ) a mudez do
gato
15. O papagaio percebeu o que estava para
acontecer-lhe quando:
a.( ) olhou para a sua
dona b.( ) escutou
o que sua dona dizia
c.( ) aproximou-se do
gato d.( ) já
estava para ser morto
16. Ao ter a ideia genial, a dama sentiu-se:
a.( ) arrependida por ter que
sacrificar a ave
b.( ) satisfeita e recompensada
c.( ) pesarosa pelo fato de a ideia não
lhe ter ocorrido antes
d.( ) temerosa de não estar certa
17. A operação que envolve a morte do papagaio até
a ingestão do alimento por parte do gato durou aproximadamente:
a.( ) 1
hora b.( ) 2
horas c.( ) 3 horas
d.( ) 24 horas
Responda com sua palavras:
18. Quanto tempo era gasto diariamente pela dama com
os métodos de ensino ao gato?_________________________________________________
19. Quando foi que ocorreu à dama a fórmula que lhe
pareceu adequada para fazer com que o gato falasse?
________________________________________________________________________________________
GABARITO
1. c 2.
B 3. A 4.
B 5. A 6. B
7. A seqüência é: b, e, a, d, f,
c 8. D 9. C
10. a 11. B 12.
C 13. A 14.
D 15. A 16. C
17. C
18. Todo dia a dama gastava uma a duas
horas tentando ensinar o gato a falar.
19.
Exatamente no dia 16 de maio de 1958.
NO DIA EM QUE O GATO FALOU
01.
Era uma vez uma dama gentil e senil que tinha um gato siamês. Gato de raça, de bom-tom,
de filiação, de ânimo cristão. Lindo gato, gato terno, amigo, pertencente a uma
classe quase extinta de antigos deuses egípcios. Este gato só faltava
falar. Manso e inteligente, seu olhar era humano. Mas falar não
falava. E sua dona, triste, todo dia passava uma ou duas horas, repetindo
sílabas e palavras para ele na esperança de que um dia aquela inteligência que
via em seu olhar explodisse em sons compreensivos e claros. Mas nada!
02.
A dama gentil e senil era, naturalmente, incapaz
de compreender o fenômeno. Tanto mais que ali mesmo à sua frente, preso a um
poleiro de ferro, estava um outro ser, também animal, inferior até ao gato,
pois era somente uma pobre ave, mas que falava! Falava mesmo, muito mais do que
devia. Um papagaio, que falava pelas tripas do Judas. Curiosa natureza,
pensava a mulher, que fazia um gato quase humano, sem fala, e um papagaio cretino
mas parlapatão. E quanto mais meditava mais tempo gastava com o gato
no colo, tentando métodos, repetindo silabas, redobrando cuidados para ver se
conseguia que seu miado virasse fala.
03.
Exatamente no dia 16 de maio de 1958 foi que teve a ideia genial. Quando a
ideia iluminou seu cérebro, veio acompanhada da critica, auto-crítica:
“Mas, como não me ocorreu isso antes?” O papagaio viu no brilho do olhar da
dona o seu (dele) terrível destino e tentou escapar, mas estava preso. Foi
morto, depenado e cozinhado em menos de uma hora. Pois o raciocínio da mulher
era lógico e científico: se desse ao gato o papagaio como alimentação, não era
evidente que o gato começaria a falar? Era? Não era? Veria. O gato, a
princípio, não quis comer o companheiro. Temendo ver fracassado o seu
experimento científico, a dama gentil e senil procurou forçá-lo. Não
conseguindo que o gato comesse o papagaio, bateu-lhe mesmo – horror! – pela
primeira vez. Mas o gato se recusou. Duas horas depois, porém, vencido pela
fome, aproximou-se do prato e engoliu o papagaio todo. Imediatamente subiu-lhe
uma ânsia do estômago, ele olhou para a dona e, enquanto esta chorava de
alegria, começou a gritar (num tom meio currupaco, meio miau-miau-miau, mas
perfeitamente compreensível):
04.
– Madame, foge pelo amor de Deus! Foge, madame, que o prédio vai cair!
05.
A mulher, tremendo de emoção e alegria, chorando e rindo, pôs-se a gritar por
sua vez.
06.
– Vejam, vejam, meu gatinho fala! Milagre! Fala o meu gatinho!
07.
Mas o gato, fugindo ao seu abraço, saltou para a janela e gritou de novo: –
Foge, madame, que o prédio vai cair! Madame, foge! – e pulou para a rua.
08.
Nesse momento, com um estrondo monstruoso, o prédio inteiro veio abaixo, sepultando
a dama gentil e senil em meio aos seus escombros.
09.
O gato, escondido melancolicamente num terreno baldio, ficou vendo o
tumulto diante do desastre e comentou apenas, com um gato mais pobre que
passava: – Veja só que cretina. Passou a vida inteira para fazer eu falar e no
momento em que falei, não me prestou a mínima atenção.
10.
MORAL: O mal do artista é não acreditar na própria criação.
Marque com um X o sinônimo das palavras ou
expressões em destaque:
1. Em: ”… gato de raça, de bom-tom…” (par.
1), a expressão em destaque refere-se à pessoa que é:
a.( )
rica b.( )
bondosa c.( )
fina d.( ) natural
2. A frase: “Este gato só faltava falar”
(par. 1) tem o mesmo significado que:
a.( ) Este gato, quando fica só, tenta
falar.
b.( ) Falar é só o que falta a este
gato.
c.( ) Só este gato é que falta falar.
d.( ) Só este gato é que tenta falar.
3. Em: “Manso e inteligente, seu olhar era humano”
(par. 1), a palavra em destaque significa:
a.( ) próprio do homem
b.( ) bondoso
c.( ) submisso
d.( ) que ama os seus semelhantes
4. Em: “Curiosa natureza, pensava a mulher…”
(par. 2) a palavra em destaque tem o mesmo significado que em:
a.( ) Vive arranjando confusões de toda
a natureza.
b.( ) Ele contemplava a natureza com
olhos de artista.
c.( ) Aquele rapaz tem péssima
natureza.
d.( ) Conservava, aos quarenta anos,
todas as boas qualidades de sua natureza.
5. Em: “…e um papagaio cretino mas parlapatão…”
(par. 2) a expressão em destaque indica que o papagaio era:
a.( ) pouco inteligente mas muito
falante
b.( ) meio amalucado mas bonachão
c.( ) pouco instruído mas muito observador
6. Em: “E quanto mais meditava mais tempo
gastava…” (par. 2) a palavra em destaque significa:
a.( )
planejava b.( )
pensava c.( )
examinava d.( ) estudava
7. Relacione as colunas de modo a fazer a
correspondência entre as palavras que se seguem, formadas por auto e sua
significação.
1. ( ) autocrítica
a. vida de um indivíduo escrita por ele
mesmo
2. ( )
autopunição b.
crítica feita por alguém a si mesmo
3. ( )
autobiografia c.
avaliação feita por um indivíduo para provar a ele próprio que sabe
determinados conhecimentos
4. ( ) automóvel
d. veículo que se locomove por seus próprios meios
5. ( ) auto-retrato
e.
castigo imposto por um indivíduo a si mesmo
6. ( ) auto-avaliação
f. retrato de um
indivíduo feito por ele mesmo
8. Em: “Temendo ver fracassado o seu
experimento científico…” (par. 3) a palavra em destaque significa:
a.( ) quebrado
b.( ) reduzido a pedaços
c.( ) mal-acabado
d.( ) malsucedido
9. Em: “…sepultando a dama gentil…” (par.
a palavra em destaque significa:
a.( )
escondendo b.( ) isolando
c.( ) soterrando d.( )
abrigando
10. Em: “…em meio aos escombros…” (par.
a palavra em destaque significa:
a.( ) restos de construção desmoronados
b.( ) cinzas resultantes de um incêndio
c.( ) ruídos provocados por um
desmoronamento
d.( ) substâncias venenosas
11. Em: “O gato, escondido melancolicamente
num terreno baldio…” (par. 9) a palavra em destaque significa:
a.( )
assustadoramente
b.( ) tristemente
c.( )
nervosamente
d.( ) timidamente
Assinale a alternativa correta, de acordo com o
texto.
12. São características da dama:
a.( ) bondade, simpatia e inteligência
b.( ) coragem, simpatia e desenvoltura
c.( ) persistência, teimosia e velhice
13. O gato da dama é apresentado como sendo um
animal:
a.( ) bonito, terno, amigo, de boa raça
e inteligente
b.( ) bonito, inteligente, pacífico e
preguiçoso
c.( ) terno, amigo, raro e preguiçoso
d.( ) bonito, terno, corajoso e
inteligente
14. O fenômeno que a dama não conseguia compreender
era:
a.( ) a burrice do
gato
b.( ) a mudez do papagaio
c.( ) a inteligência do
papagaio d.( ) a mudez do
gato
15. O papagaio percebeu o que estava para
acontecer-lhe quando:
a.( ) olhou para a sua
dona b.( ) escutou
o que sua dona dizia
c.( ) aproximou-se do
gato d.( ) já
estava para ser morto
16. Ao ter a ideia genial, a dama sentiu-se:
a.( ) arrependida por ter que
sacrificar a ave
b.( ) satisfeita e recompensada
c.( ) pesarosa pelo fato de a ideia não
lhe ter ocorrido antes
d.( ) temerosa de não estar certa
17. A operação que envolve a morte do papagaio até
a ingestão do alimento por parte do gato durou aproximadamente:
a.( ) 1
hora b.( ) 2
horas c.( ) 3 horas
d.( ) 24 horas
Responda com sua palavras:
18. Quanto tempo era gasto diariamente pela dama com
os métodos de ensino ao gato?_________________________________________________
19. Quando foi que ocorreu à dama a fórmula que lhe
pareceu adequada para fazer com que o gato falasse?
________________________________________________________________________________________
GABARITO
1. c 2.
B 3. A 4.
B 5. A 6. B
7. A seqüência é: b, e, a, d, f,
c 8. D 9. C
10. a 11. B 12.
C 13. A 14.
D 15. A 16. C
17. C
18. Todo dia a dama gastava uma a duas
horas tentando ensinar o gato a falar.
19.
Exatamente no dia 16 de maio de 1958.
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