TEXTO PARA INTERPRETAÇÃO 14 – A TROCA ( Nível Fundamental)
O passageiro dá uma
gorjeta para o trocador ajudá-lo a resolver um problema. O que vai acontecer?
Leia o texto para saber.
A TROCA
- Olha, eu sou o cara
mais dorminhoco do mundo, entendeu? Vou entrando no ônibus e pego no sono.
Ainda mais quando a viagem é de noite, entendeu? Quantas horas aí?
- Dez e quarenta.
- Pois é, o ônibus
vai sair às onze, isto é, 23 horas, certo? Sinal de que vou puxar um ronco
selado. Você é o trocador?
- Sim, senhor.
- Então, o seguinte:
tome estas 1.000 pratas aqui pra me fazer um favor.
- Que favor?
- O ônibus vai é para
o Rio, né?
- É.
- Dei bobeira e comprei passagem direta até o Rio. Mas acontece que
tenho de descer em Juiz de Fora, pois tenho um negócio urgente pra resolver lá,
amanhã de manhã.
- E daí?
- Eu quero que você
me acorde quando o ônibus chegar em Juiz de Fora.
- Falou, senhor.
- Mas tem o seguinte: eu durmo feito uma pedra. E, quando sou acordado,
fico uma fera. Sou desgraçado de nervoso quando me acordam . Mas aí é que você
vai trabalhar: me acorde na marra, entendeu? Eu posso aprontar o maior banzé,
mas você fique firme: me ponha pra fora nem que seja no tapa.
- Mas o senhor é
nervoso assim?
- Claro, tou te falando, pô. Então ficamos combinados: você tá levando
aí suas 1.000 pratas, entendeu? Pois é, quando chegar em Juiz de Fora, me
acorde no peitoral, entendeu?, Na maior marra, entendeu? E me ponha pra fora do
ônibus.
- Pelo jeito vai ser
feio.
- Sei que vai. Mas não se importe. A sua obrigação é, digamos, me
expulsar do ônibus. Eu fico nervoso uns dez minutos, depois volto ao normal.
Posso até brigar com você, o chofer, seja lá quem for, mas me ponha pra fora,
entendeu?
- Agora, entendi.
Deixe comigo.
Dia seguinte, seis e
pouco da manhã, o ônibus pára na rodoviária Novo Rio.
Os passageiros se
apressam em descer, tirando as maletas das prateleiras, consertando a roupa,
coisa e tal.
Quando o ônibus está
quase vazio o trocador vê um passageiro dormindo pesadamente, numa poltrona.
Vai lá e,
delicadamente, toca-lhe o ombro.
O passageiro nem se
mexe.
O trocador resolve
ser mais incisivo: sacode violentamente o passageiro.
- Vamos, companheiro,
acorde que já chegamos.
O passageiro acorda
estremunhado, limpa os olhos, coça o peito e olha para o lado de fora:
- Chegamos onde,
imbecil?
- Ao Rio, pô.
- Ao Rio, desgraçado?
- Sim senhor, estamos
no Rio.
O passageiro deu um
pulo na cadeira e voou ao pescoço do trocador, começando um processo de
estrangulamento.
- Desgraçado, fiedazunha, biltre, irresponsável, desnaturado. Eu te
paguei 1.000 pratas pra você me acordar em Juiz de Fora e você me acorda no
Rio? Eu te esfolo, eu te estrangulo, eu te estraçalho (…) Eu vou te…
Aí, vêm o chofer e uns poucos que ainda estavam no ônibus para exercer o
sagrado direito de integrantes da nunca assaz turma do deixa-disso.
Segura daqui, pega
ali, solta acolá, armou-se exemplar frege dentro do veículo.
Um passageiro, desses que não gosta de se envolver em brigas alheias,
pegou sua maleta e foi saindo, olhando para trás a ver o final da altercação,
quando um carreador, querendo ser amistoso, recebeu-o à porta do ônibus e
comentou:
- Poxa, que passageiro nervoso, hein?- Nervoso? – perguntou, com ar
irônico, o que estava descendo. – Você precisava ver, passageiro nervoso é o
que desceu à força em Juiz de Fora…
(Márcio Rubens Prado. Crônicas Mineiras. São Paulo, Ática,
1984)
Após a leitura do
texto e com o auxílio de um dicionário, resolva as questões a seguir.
1. Substitua cada
palavra, em negrito, da frase abaixo por outra de igual sentido:
Tão logo se iniciou a altercação entre os dois dos integrantes do conjunto, o líder do grupo acordou e, mesmo estremunhado, conseguiu ser incisivo ao falar na questão disciplinar,
conseguindo, assim, evitar o frege que se formava.
2. Dê continuidade ao
preenchimento das lacunas com a palavra em negrito da frase anterior, em que
deverá ser utilizada a terminação
–idade. Exemplo:
a. O passageiro disse
que volta ao normal depois.
b. Pode ser que volte
à normalidade, mas isso não parece simples.
c. Pode não haver
_________________ nisso, mas eu sou capaz de…
d. Não duvido da sua
___________________, mas essa ideia foi infeliz.
e. Ganhar mil pratas
é ___________________? A grana chegou fácil.
f. Houve
___________________ até agora, mas o homem pode ficar feroz.
g. Pelas mil pratas
eu enfrento a ____________________ dele. Eu sou responsável…
h. Então, use a sua
_________________________, pois estamos em Juiz de Fora…
3. No texto aparecem
três verbos: esfolar, estrangular e estraçalhar. Dê o significado de cada um.
4. Preencha as
lacunas utilizando adequadamente uma das palavras abaixo:
Matinal, matutino/matutina, vesperal, vespertino/vespertina,
noturno/noturna
1.
Durmo como uma pedra, ainda mais quando
a viagem é _______________
2.
É duro levanter cedo par air à aula no
turno _________________________
3.
Atenção, pessoal! Hoje, às quinze
horas, haverá _____________dançante.
4.
Dormirei das oito às dezesseis horas
para enfrentar o trabalho _______________
5.
Abri a janela e senti o frescor da
brisa __________________ em meu rosto.
6.
Eu estudo até o meio-dia e posso
trabalhar no período ______________________
5. Identifique, no
texto, as palavras que possuem estes significados:
1.
fraco de inteligência, atrasado mental
= ______________________
2.
vil, infame, desprezível = __________________________________
3.
desumano, cruel, insensível =
______________________________
4.
sarcástico, zombeteiro, gozador =
___________________________
6. Por que o
passageiro deu gorjeta ao trocador se já tinha a passagem comprada?
7. Com as explicações do passageiro, o trocador pode antever a cena que
ocorreria em Juiz de Fora e deu antecipadamente sua opinião. Qual foi?
a. ( )
Mas o senhor é nervoso assim?
b. ( )
Pelo jeito vai ser feio.
c. ( )
Agora entendi. Deixe comigo.
d. ( )
Sim, senhor, estamos no Rio.
8. O trocador tinha a
obrigação de providenciar o desembarque do passageiro em Juiz de Fora?
Explique.
9. Um dos passageiros revelou a causa da irritação do outro passageiro,
ao final da viagem, com o seguinte comentário: “ – Você precisava ver, passageiro nervoso
é o que desceu à força em Juiz de Fora…”. Esclareça o que
aconteceu.
_______________________________________________________________________
GABARITO
Questão 1.
Tão logo se iniciou a discussão
entre os dois dos componentes do conjunto, o líder do grupo acordou e, mesmo sonolento, conseguiu ser direto
ao falar na questão disciplinar, conseguindo, assim, evitar o tumulto que se formava.
Questão 2.
a. O passageiro disse
que volta ao normal depois.
b. Pode ser que volte
à normalidade, mas isso não parece simples.
c. Pode não haver simplicidade nisso, mas eu sou capaz de…
d. Não duvido da sua capacidade, mas essa ideia foi infeliz.
e. Ganhar mil pratas
é infelicidade? A grana chegou fácil.
f. Houve facilidade até agora, mas o homem pode ficar feroz.
g. Pelas mil pratas
eu enfrento a ferocidade dele. Eu sou responsável…
h. Então, use a sua responsabilidade, pois estamos em Juiz de Fora…
Questão 3.
1.
esfolar – tirar
a pele ou o couro
2.
estrangular – apertar
o pescoço impedindo a respiração, sufocar.
3.
estraçalhar – despedaçar,
fazer em pedaços com violência.
Questão 4.
1.
Durmo como uma pedra, ainda mais quando
a viagem é noturna.
2.
É duro levantar cedo para ir à aula no
turno matutino.
3.
Atenção, pessoal! Hoje, às quinze
horas, haverá vesperal dançante.
4.
Dormirei das oito às dezesseis horas
para enfrentar o trabalho noturno.
5.
Abri a janela e senti o frescor da
brisa matinal/matutina em meu rosto.
6.
Eu estudo até o meio-dia e posso
trabalhar no período vespertino.
Questão 5.
1.
fraco de inteligência, atrasado mental
= imbecil
2.
vil, infame, desprezível = desgraçado,
biltre
3.
desumano, cruel, insensível =
desnaturado
4.
sarcástico, zombeteiro, gozador = irônico
Questão 6. Porque
ele queria ficar em uma cidade antes daquela que constava na sua passagem como
destino final. Como dormia pesadamente, pagou ao trocador um valor em dinheiro
para que fosse acordado quando chegasse na cidade de Juiz de Fora, pois não é
responsabilidade das empresa essse tipo de serviço.
Questão 7. Alternativa
B
Questão 8. Sim,
o trocador tinha a obrigação de cumprir o acordo, uma vez que aceitou a regras
e o pagamento.
Questão 9. Deduz-se
que o passageiro que foi colocado para fora do ônibus em Juiz de Fora não era o
mesmo que havia solicitado o trabalho a ser feito pelo trocador. Como a
descrição dada pelo passageiro de como reagiria ao ser acordado coincidiu com
as atitudes daquele que foi expulso antes do final da viagem, não houve na ocasião
nenhuma estranheza pois a reação já era esperada. O que o trocador não percebeu
foi a troca de pessoas: outro passageiro foi expulso e aquele que deveria
descer antes, só o fez no final da viagem mesmo. Ao final, houve dois
passageiros insatisfeitos. O trocador cumpriu o acordo, mas com a pessoa
errada.
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