O
avesso do professor
Os professores que mais me marcaram
foram exatamente aqueles que não foram bons professores, os mais incompetentes.
Por aí pode-se ter uma medida da importância do professor, da delicadeza que é
ensinar uma pessoa. Tive um de geografia, aos 11 anos, de quem eu jamais me
esquecerei. Ele dava aulas como se estivesse fazendo uma conferência em uma
faculdade. Começava dizendo "Hoje nós vamos falar do Brasil" e aí
falava, falava e falava do Brasil. Depois dizia "Vamos falar da idade da
Terra", e blábláblá, só falava. Passava a aula de uma hora falando. Não
nos dava a menor atenção.Por pura intuição, comecei a anotar o que ele falava.
Fiz praticamente um caderno de geografia, aliás, vários cadernos, com aquilo
que ele falava. Ele falava, eu ia tomando nota.Quando chegou a primeira prova
-- com 11 anos você não tem muita idéia do que está acontecendo -- ninguém
sabia nada. A única pessoa que tinha a matéria dada era eu. Os outros alunos
perguntavam para ele "Mas professor, como é que eu estudo isso?". E
ele falava "Nos livros, nos livros". Resolvi passar os meus cadernos
para que os outros também pudessem estudar. Só muitos anos depois foi que
percebi que aquilo era uma maneira de dar aula muito mais adulta do que deveria
ser para um menino de 11 anos. Outro tipo de professor que me marcou muito foi
aquele que guarda o conhecimento como se fosse uma ciência oculta, que tem o
poder porque sabe e você não sabe. É o professor que tem o gosto de não ensinar
o aluno. Foi com esse tipo que, pela primeira vez, eu tomei consciência de que
o conhecimento
é poder, que a informação é poder, porque ele dominava a classe através disso.
Parece um paradoxo, mas é quase como se ele dissesse "Eu não estou aqui para ensinar vocês", um recado totalmente errado, que ele nos
passava inconscientemente. Graças a Deus, a grande maioria dos professores que
eu tive se dedicavam ao ensino. Professores como o de história do Colégio São
Bento, quando eu tinha 8 anos, o professor Mesquita, que dava suas aulas
desenhando histórias em quadrinho no quadro negro. Ele entrava no teu mundo
para te ensinar. E todos nós éramos ótimos em história.
Jô Soares
Lenda da Pedra da Ponta do Papagaio
Contou-me o João da Rosélia que lá pelos lados da Enseada do Brito, vivia um
pescador que sempre lançava sua rede na praia da Pinheira e do Sonho, pois
aquelas águas são muito piscosa e tinha muita tainha durante a temporada. Entre
a ilha do Papagaio grande e a praia da ponta do Papagaio existia uma pedra que
ficava a maior parte do tempo submersa, o que era um perigo para as canoas e
baleeiras que vinham da praia do Sonho ou da Pinheira para a Enseada do Brito
pois elas costumavam passar exatamente por este lugar. Um dia este pescador
vindo da Pinheira com sua baleeira cheia de tainhas ao passar entre a Ilha do
Papagaio Grande e a ponta do Papagaio não se lembrou da pedra. Então sua
baleeira bateu nesta pedra fazendo com que perdesse todo o pescado que trazia e
quase sua vida. Sua mãe tinha uma comadre rezadeira muito respeitada no lugar e
queixou-se a ela. A rezadeira disse que iria fazer uma reza para aquela pedra.
Lá se foi a rezadeira na baleeira dos amigos. Perto da pedra a baleeira parou e
ela rezou. Benzeu, para que a ponta do papagaio chegasse ate a ilha, fazendo
com que a areia engolisse a pedra, assim ela nunca mais partiria o barco de
ninguém. E assim se fez, hoje em dia a ilha e a ponta estão ligada, e a dita
pedra foi engolida pela areia e já nem se sabe mais onde fica a pedra.
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