ALEGRIA CRÔNICA
Fernanda Pinho
Queridos,
começo com uma confissão. Adiantada que sou, sentei para escrever minha
crônica de quinta dessa semana na segunda-feira. Não tive dificuldade
em encontrar um assunto. Ao contrário de todos os outros dias, em que as
milhares de possibilidades me atormentam, naquele dia um único assunto
monopolizava toda a minha existência: minha tristeza. Eu estava triste,
muito triste por motivos que já não vêm mais ao caso. Essa crônica não é
aquela outra que ficou prá trás, afinal.
Dois dias depois de tê-la
escrito, reli, para ver se estava tudo certo para postar aqui e, minha
nossa, percebi que estava tudo errado. Eu sou totalmente errada quando
triste. Era um texto feio. Sem a menor chance de tornar-se um texto
bonito, ainda que passasse por zilhões de edições. Sua essência era
feia. A dor, o medo, a dúvida. Mas sua feiúra não vinha daí. Vinha do
fato de eu não saber escrever quando estou triste. Quantos e quantos
escritores e poetas se alimentaram da tristeza para escrever obras
primas. Eu não sou assim. Primeiro porque não sou uma escritora,
tampouco uma poeta. Sou nada mais que uma moça intrusa que força amizade
com as palavras. Segundo porque a tristeza não me estimula a nada.
Quando estou triste, não há nada que me interesse nesse mundo. Não
adianta me fazerem uma festa, me levarem para a praia, me darem roupa
nova, me preparem um delicioso pudim de leite, me escreverem uma carta.
Eu não vou ficar alegre (mas, amigos, que fique claro: isso não
significa que vocês não devam me fazer uma festa, me levar para a praia,
me comprar uma roupa nova, me preparar um delicioso pudim de leite e me
escrever uma carta. Não custa tentar, né?).
Fico imprestável. Faço tudo mal
feito. Não me disponho a fazer bem feito, aliás. O resultado são textos
medíocres, embora profundamente sinceros. A ex-crônica de hoje nasceu de
uma verborragia. Um vômito de palavras acompanhado de lágrimas que
caiam sobre o teclado com a mesma frequência dos dedos frenéticos.
Nasceu assim, feia. E sem a menor intenção de ser bonita. E acho bom que
seja assim. Acho maravilhoso que eu seja medíocre e imprestável quando
triste. Do contrário, eu mergulharia na tristeza para conseguir matéria
prima para meus textinhos. Mergulho perigosíssimo. Eu não sei nadar.
Não fico alegre quando realizo
grandes feitos. Na realidade, realizo grandes feitos quando estou
alegre. Sendo assim, deletei a crônica triste e tenho deletado aos
poucos tudo o mais que diz respeito a ela. Como sempre faço. Questão de
sobrevivência.
Comecei com uma confissão e encerro com uma adivinhação. Tenho certeza que tem um versinho martelando nas cabeças por aí: "é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe". É, vamos beber da fonte do Poetinha. Esse, sim, sabia das coisas.
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