Variações linguísticas: O modo de falar do brasileiro
A linguagem é a característica
que nos difere dos demais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar
sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião frente aos assuntos
relacionados ao nosso cotidiano, e, sobretudo, promovendo nossa inserção ao
convívio social.
E dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os
níveis da fala, que são basicamente dois: O nível de formalidade e o de
informalidade.
O padrão formal
está diretamente ligado à linguagem escrita, restringindo-se às normas
gramaticais de um modo geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma maneira
que falamos. Este fator foi determinante para a que a mesma pudesse exercer total
soberania sobre as demais.
Quanto ao nível
informal, este por sua vez representa o estilo considerado “de menor
prestígio”, e isto tem gerado controvérsias entre os estudos da língua, uma vez
que para a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira errônea é
considerada “inculta”, tornando-se desta forma um estigma.
Compondo o quadro do padrão informal da linguagem, estão as
chamadas variedades linguísticas, as quais representam as variações de acordo
com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser
entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço
(variação regional). As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir
de três diferentes fenômenos.
1) Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas
diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à
educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada
que na língua escrita;
2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas
diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais,
informais ou de outro tipo;
3) Há falares específicos para grupos específicos, como
profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de
informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos
marginalizados e outros. São as gírias e jargões.
Uma língua nunca é falada da mesma forma, sendo que ela
estará sempre sujeita a variações. Dentre elas destacam-se:
Variações históricas:
Dado o dinamismo que a língua apresenta, a mesma sofre
transformações ao longo do tempo. Um exemplo bastante representativo é a
questão da ortografia, se levarmos em consideração a palavra farmácia, uma vez
que a mesma era grafada com “ph”, contrapondo-se à linguagem dos internautas, a
qual fundamenta-se pela supressão do vocábulos.
Analisemos, pois, o fragmento exposto:
“Antigamente, as
moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não
faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo
rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses
debaixo do balaio." Carlos Drummond de Andrade
Comparando-o à modernidade, percebemos um vocabulário
antiquado devido à diferença de épocas: o português falado hoje é diferente do
português de 50 anos atrás.
Variações regionais:
São os chamados dialetos, que são as marcas determinantes
referentes a diferentes regiões. Como exemplo, citamos a palavra mandioca que,
em certos lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como: macaxeira e aipim.
Figurando também esta modalidade estão os sotaques, ligados às características
orais da linguagem. O Brasil é uma país
com território bastante extenso e para diferentes lugares há diferentes falas.
Variações sociais ou
culturais:
Estão diretamente ligadas aos grupos sociais de uma maneira
geral e também ao grau de instrução de uma determinada pessoa. Como exemplo,
citamos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.
As gírias pertencem ao vocabulário específico de certos
grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatuadores, entre outros.
Os jargões estão relacionados ao profissionalismo,
caracterizando um linguajar técnico. Representando a classe, podemos citar os
médicos, advogados, profissionais da área de informática, dentre outros.
Vejamos um poema e o trecho de uma música para entendermos
melhor sobre o assunto:
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
Oswald de Andrade
CHOPIS CENTIS
Eu “di” um beijo nela
E chamei pra passear.
A gente fomos no shopping
Pra “mode” a gente lanchar.
Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim.
Até que “tava” gostoso,
mas eu prefiro aipim.
Quanta gente,
Quanta alegria,
A minha felicidade é um crediário nas
Casas Bahia.
Esse tal Chopis Centis é muito legalzinho.
Pra levar a namorada e dar uns
“rolezinho”,
Quando eu estou no trabalho,
Não vejo a hora de descer dos andaime.
Pra pegar um cinema, ver Schwarzneger
E também o Van Damme.
(Dinho e Júlio Rasec, encarte CD Mamonas Assassinas, 1995.)
Diante de tantas variantes linguísticas, é comum perguntar-se
qual a forma mais correta. Porém não existe forma mais correta, existe sim a
forma mais adequada de se expressar de acordo com a situação. Dessa forma, a
pessoa que fala bem é aquela que consegue estabelecer a forma mais adequada de
se expressar de acordo com a situação, conseguindo o máximo de eficiência da
língua.
Usar o português rígido e sério (linguagem formal escrita)
em uma comunicação informal, e descontraída é falar de forma inadequada. Soa
como pretensioso, artificial. Da mesma forma, é inadequado utilizar gírias,
termos chulos e desrespeitosos em uma situação formal.
Ao se falar de variantes é preciso não perder de vista que a
língua é um código de comunicação e também um fato com repercussões sociais.
Existem muitas formas de comunicar que não perturbam a comunicação, mas afetam
a imagem social do comunicador. Uma frase como “O povo exageram” tem o mesmo
sentido que “O povo exagera”. Como sabemos o coletivo como conteúdo é sempre
plural. Porém hoje a concordância é com a forma. Nesse particular, há uma
aproximação máxima entre língua e etiqueta social. Atualmente falar “O povo
exageram” deprecia a imagem do falante.
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