segunda-feira, 15 de agosto de 2016

 A HORA DA RECOMPENSA 

Fernanda Pinho



A gente aprende o que é recompensa desde criança. Meus pais, que nunca foram as pessoas mais pacientes do mundo, sempre foram dados a isso. Um jeito, talvez, mais simples de resolver as coisas. "Se não escovar os dentes, não vai ver desenho". "Se não fizer o dever, não vai brincar lá fora". "Se as duas não pararem de brigar, não vamos na casa da vó". "Se não comer tudo, não vai ganhar um real". Essa última, e mais absurda, aliás, era frase recorrente lá em casa. Não para mim, que nunca tive tino empreendedor e sempre comi muito bem e de graça. Mas para minha irmã que, muito mais esperta que eu, logo passou a tirar proveito da situação e a valorizar o momento da refeição.


Eu, embora não tenha me aproveitado muito do jogo de troca, acabei trazendo as recompensas para minha vida adulta e, hoje, eu jogo comigo mesma. E, acreditem, sou bem fiel às regras que eu mesma estabeleço. "Se eu conseguir escrever cinco matérias hoje, vou comer um Big Mac". "Se essa semana eu for na academia todo dia, posso comer uma caixa de bombom inteira". "Se eu conseguir ser paciente com o cliente chato, vou num rodízio de pizza".


Perdão, gente. Minhas trocas não têm a ver apenas com comida, mas agora eu estou com fome e não estou conseguindo focar em outra coisa. Mas vocês sabem, o que a gente quer na vida é muito mais que Big Mac, caixa de bombom e pizza. No fundo, o que a gente quer mesmo é a recompensa derradeira. Amor. Aliás, no meu caso, nem é no fundo, é no raso mesmo. Que a querência já tá é transbordando. Tem uma frase que diz que "as pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas". Concordo. Concordo tanto que as linhas acima foram só um despiste para entrar no assunto de um jeito não muito descarado.  Eu só queria, a respeito de tudo o que escrevi até aqui, mandar um recado:


Oi, amor, beleza? Lembra de mim? Então. Gostaria de te contar que, desde que me formei, nunca estive tão em paz com o jornalismo como estou agora. Estou escrevendo muito, sobre um tema que me agrada e ainda posso fazer meu próprio horário. Só não estou ficando rica, mas isso é uma coisa que eu nunca esperei do jornalismo. Tenho me comportado bem. Parei de beber destilados - agora é só uma cervejinha de vez em quando, porque ninguém é de ferro. Não fiz nenhum desafeto recentemente e meu relacionamento com minha família vai muito bem, obrigada. Com os amigos, nem se fala. Cada dia que passa estou mais certa de que escolhi as pessoas perfeitas para estarem comigo. Minha saúde está ótima e nem ataques de hipocondria eu tenho tido. Estou malhando todos os dias e ando bem satisfeita com meu peso. Aliás, pasme, estou satisfeita até com meu cabelo. Meus amores do passado estão lá, no passado, e, pra ser bem sincera, nem são dignos da alcunha de "amores". Entendeu o que eu estou querendo dizer ou, além de cego, você é burro também? Ai, não se ofenda. Mas é que lerdo eu tenho certeza de que você é. Então, pra facilitar, vou ser bem direta: estou feliz e com tudo bem resolvidinho. Quer dizer, se não estiver fazendo nada, pode chegar (de preferência trazendo uma caixa de bombom).


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