rova 6º ano - Interpretação
Prova de Literatura - 6º ano -
Aluno(a)____________nº: ____ Turma: ___
A LUA NO CINEMA
A lua foi ao
cinema,
passava um
filme engraçado,
a história
de uma estrela
que não
tinha namorado.
Não tinha
porque era apenas
uma estrela
bem pequena,
dessas que,
quando apagam,
ninguém vai
dizer, que pena!
Era uma
estrela sozinha,
ninguém
olhava pra ela,
e toda a luz
que ela tinha
cabia numa
janela.
A lua ficou
tão triste
com aquela
história de amor,
que até hoje
a lua insiste:
– Amanheça,
por favor!
Paulo
Leminski. Distraídos venceremos. São Paulo, Brasiliense, 1993.
1 - Nos versos
“Não tinha porque era apenas / uma estrela bem pequena” da segunda estrofe do poema, o uso da
palavra “porque” introduz
(A) a causa de não ter namorado.
(B) uma oposição a um filme engraçado.
(C) a consequência de uma história de amor.
(D) uma comparação do tamanho da estrela com a intensidade da luz.
2- Este poema
(A) explica o nascimento do cinema.
(B) faz a propaganda de um filme engraçado.
(C) apresenta as características de uma lua solitária.
(D) conta a história de uma estrela que não tinha namorado.
POR ONDE
ANDARÁ SEVERINO?
A última ariranha-azul em
liberdade no mundo mora no Brasil, mas está desaparecida há dois meses. Se não
for encontrada, a espécie corre o risco de extinção.
Apelidada de Severino, a ave
habita a região de Curuçá, no sertão da Bahia. Segundo a coordenação de comitê
de Recuperação da Ariranha-Azul, uma equipe de estudiosos e moradores já esta à
procura de Severino. Há suspeitas de que ele tenha sido atacado por gaviões.
A ariranha-azul é a menor arara
brasileira que existe, mede menos de 30 centímetros e pesa cerca
de 400 gramas. Hoje há cerca de 40 espécies em cativeiro no mundo todo (no
Brasil são sete). Seu pequeno tamanho e a beleza da cor azul infelizmente
atraem os traficantes de animais, que caçam e vendem as ararinhas como animais
domésticos.
O Estado de
S. Paulo, 9/12/2000. Estadinho.
3- A finalidade deste texto é
(A) divulgar a beleza das aves de nosso país.
(B) informar que gaviões são animais predadores.
(C) comunicar o desaparecimento da ariranha azul.
(D) convidar as pessoas a visitarem a região de Curuçá, no sertão da
Bahia.
O CONTO DA
MENTIRA
Rogério Augusto
Todo dia Felipe inventava uma
mentira. “Mãe, a vovó tá no telefone!”. A mãe largava a louça na pia e corria
até a sala. Encontrava o telefone mudo.
O garoto havia inventado morte do
cachorro, nota dez em matemática, gol de cabeça em campeonato de rua. A mãe
tentava assustá-lo: “Seu nariz vai ficar igual ao do Pinóquio!”. Felipe ria na
cara dela: “Quem tá mentindo é você! Não existe ninguém de madeira!”.
O pai de Felipe também conversava
com ele: “Um dia você contará uma verdade e ninguém acreditará!”. Felipe ficava
pensativo. Mas no dia seguinte...
Então aconteceu o que seu pai
alertara. Felipe assistia a um programa na TV. A apresentadora ligou para o
número do telefone da casa dele. Felipe tinha sido sorteado. O prêmio era uma
bicicleta: “É verdade, mãe! A moça quer falar com você no telefone pra combinar
a entrega da bicicleta. É verdade!”
A mãe de Felipe fingiu não ouvir.
Continuou preparando o jantar em silêncio. Resultado: Felipe deixou de
ganhar o prêmio. Então ele começou a reduzir suas mentiras. Até que um dia
deixou de contá-las. Bem, Felipe cresceu e tornou-se um escritor. Voltou a
criar histórias. Agora sem culpa e sem medo. No momento está escrevendo um
conto. É a história de um menino que deixa de ganhar uma bicicleta porque
mentia...
4- Felipe começou a reduzir suas mentiras porque
(A) começou a escrever um
conto.
(B) deixou de ganhar uma bicicleta.
(C) inventou ter sido sorteado por um programa de TV.
(D) seu pai alertou sobre as consequências da mentira.
5- No trecho “A mãe tentava assustá-lo.”, o termo
destacado substitui
(A) pai de Felipe.
(B) Pinóquio.
(C) cachorro.
(D) Felipe.
6- No desfecho
do conto, ficamos sabendo que Felipe
(A) continua contando mentira para seus pais.
(B) decide ler todos os livros sobre o Pinóquio.
(C) torna-se um escritor e volta a criar histórias.
(D) escreve um livro de normas para o campeonato de rua.
Olá, mãe!
Mãe, eu queria te dizer ...
(não te chamando de mamãe como no tempo em que a vida era você,
mas te chamando de mãe
deste meu outro tempo de silêncio e solidão.)
Mãe, eu queria te dizer
(sem cara de quem pede desculpa pelo que não fez ou pensa que fez)
que amar virou uma coisa difícil
e muitas vezes o que parece ingratidão,
ou até indiferença,
é apenas a semente do amor
que brotou de um jeito diferente
e amadureceu diferente
no atrapalhado coração da gente.
Acho que era isso, mãe,
o que eu queria te dizer.
(Carlos
Queiroz Telles. Sonhos, grilos e paixões. São Paulo:
Moderna, 1995.)
7- O eu poético deseja, por meio deste texto,
(A) demonstrar seu sentimento de
amor.
(B) reviver um tempo de silêncio e solidão.
(C) revelar que está insatisfeito com as atitudes da mãe.
(D) agradecer à mãe pelo tempo em que a vida era mais simples.
8- O eu poético escreve uma mensagem à mãe por meio de
(A) um conto.
(B) um poema.
(C) uma crônica.
(D) uma propaganda.
9- O verso que
comprova para quem o texto foi escrito é
(A) “acho que era isso, mãe...”
(B) “que amar virou uma coisa difícil”.
(C) “no atrapalhado coração da gente”
(D) “deste meu outro tempo de silêncio e solidão”
10- Na primeira estrofe do poema, o eu poético utiliza-se dos parênteses
para
(A) pedir desculpa pelo que pensa que fez.
(B) contar que a semente do amor brotou de um jeito diferente.
(C) explicar o porquê do uso da palavra “mãe” ao invés de “mamãe”.
(D) opinar sobre o sentimento de ingratidão ou indiferença demonstrado.
Irapuru – o
canto que encanta
Certo jovem, não muito belo, era
admirado e desejado por todas as moças de sua tribo por tocar flauta
maravilhosamente bem. Deram-lhe, então, o nome de Catuboré, flauta encantada.
Entre as moças, a bela Mainá conseguiu o seu amor; casar-se-iam durante a
primavera.
Certo dia, já próximo do grande
dia, Catuboré foi à pesca e de lá não mais voltou.
Saindo a tribo inteira à sua
procura, encontraram-no sem vida, à sombra de uma árvore, mordido por uma cobra
venenosa. Sepultaram-no no próprio local.
Mainá, desconsolada, passava
várias horas a chorar sua grande perda. A alma de Catuboré, sentindo o
sofrimento de sua noiva, lamentava-se profundamente pelo seu infortúnio. Não
podendo encontrar paz, pediu ajuda ao Deus Tupã. Este, então, transformou a
alma do jovem no pássaro irapuru, que, mesmo com escassa beleza, possui um
canto maravilhoso, semelhante ao som da flauta, para alegrar a
alma de Mainá.
O cantar do irapuru ainda hoje
contagia com seu amor os outros pássaros e todos os seres da natureza.
(Waldemar de
Andrade e Silva. Lenda e mitos dos índios brasileiros. São Paulo:
FTD, 1997.)
11- Catuboré foi à pesca e de lá não mais voltou porque
(A) apaixonou-se por uma índia de outra
tribo.
(B) encontrou uma flauta encantada.
(C) dormiu à sombra de uma
árvore.
(D) foi mordido por uma cobra.
12- No trecho “Deram-lhe, então, o nome de
Catuboré, flauta encantada.” Do primeiro parágrafo do texto
“Irapuru – o canto que encanta”, o termo destacado se refere
(A) ao grande dia. (B) ao certo jovem. (C) à
bela Mainá. (D) a sua tribo.
13- Para conceder a paz a Catuboré, o Deus Tupã
(A) transformou a alma do jovem no pássaro irapuru.
(B) desapareceu com todas as cobras venenosas.
(C) criou a primavera para celebrar o
casamento.
(D) convocou toda a tribo para tocar flauta.
A lebre e a
tartaruga
Era uma vez... uma lebre e uma
tartaruga.
A lebre vivia caçoando da
lentidão da tartaruga.
Certa vez, a tartaruga, já muito
cansada por ser alvo de gozações, desafiou a lebre para uma corrida.
A lebre, muito segura de si,
aceitou prontamente. Não perdendo tempo, a tartaruga pôs-se a caminhar, com
seus passinhos lentos, porém firmes.
Logo a lebre ultrapassou a
adversária e, vendo que ganharia fácil, parou e
resolveu cochilar.
Quando acordou, não viu a
tartaruga e começou a correr.
Já na reta final, viu finalmente
a sua adversária cruzando a linha de chegada, toda sorridente.
Moral da história: Devagar se vai
ao longe!
http://www.qdivertido.com.br/verconto.php?codigo=29
14- O episódio da narrativa que contribui para a vitória da
tartaruga é
(A) a decisão da lebre de parar e
cochilar.
(B) o desafio de realizar uma corrida com a lebre.
(C) o desafio de correr para garantir a vantagem.
(D) a decisão firme de caminhar com passos lentos.
15- O trecho que expressa uma opinião a respeito de um dos
personagens é
(A) “Logo a lebre ultrapassou a adversária...”
(B) “Era uma vez... uma lebre e uma tartaruga.”
(C) “A lebre, muito segura de si, aceitou prontamente.”
(D) “Quando acordou, não viu a tartaruga e começou a correr.
16- A finalidade deste texto é ensinar ao leitor que
(A) o sono renova as energias do corpo.
(B) a caçoada do adversário garante a vitória.
(C) o êxito depende de dedicação e persistência.
(D) o esporte é necessário para manutenção da saúde.
17- As características do texto “A lebre e a tartaruga”, tais como – o
tipo de personagens
e a presença de moral –, exemplificam o texto conhecido como
(A) receita. (B) fábula. (C) campanha
publicitária. (D) história em quadrinhos.
Dica: Quando as provas ficam grandes, costumo imprimir duas páginas por
folha. Basta clicar em propriedades, na bandeja da impressora, e escolher a
opção duas páginas por folha, clicar em ok e pronto!
As questões dessa prova foram retiradas do site: http://www.rio.rj.gov.br/web/sme
As questões dessa prova foram retiradas do site: http://www.rio.rj.gov.br/web/sme
1-(A) a causa de não ter
namorado.
2-(D) conta a história de uma estrela que não tinha namorado.
3-(C) comunicar o desaparecimento da ariranha azul.
4-(B) deixou de ganhar uma bicicleta.
5-(D) Felipe.
6-(C) torna-se um escritor e volta a criar histórias.
7-(A) demonstrar seu sentimento de amor.
8-(B) um poema.
9-(A) “acho que era isso, mãe...”
10-(C) explicar o porquê do uso da palavra “mãe” ao invés de “mamãe”.
11-(D) foi mordido por uma cobra.
12-(B) ao certo jovem.
13-(A) transformou a alma do jovem no pássaro irapuru.
14-(A) a decisão da lebre de parar e cochilar.
15-(C) “A lebre, muito segura de si, aceitou prontamente.”
16-(C) o êxito depende de dedicação e persistência.
17- (B) fábula.
2-(D) conta a história de uma estrela que não tinha namorado.
3-(C) comunicar o desaparecimento da ariranha azul.
4-(B) deixou de ganhar uma bicicleta.
5-(D) Felipe.
6-(C) torna-se um escritor e volta a criar histórias.
7-(A) demonstrar seu sentimento de amor.
8-(B) um poema.
9-(A) “acho que era isso, mãe...”
10-(C) explicar o porquê do uso da palavra “mãe” ao invés de “mamãe”.
11-(D) foi mordido por uma cobra.
12-(B) ao certo jovem.
13-(A) transformou a alma do jovem no pássaro irapuru.
14-(A) a decisão da lebre de parar e cochilar.
15-(C) “A lebre, muito segura de si, aceitou prontamente.”
16-(C) o êxito depende de dedicação e persistência.
17- (B) fábula.
Atividades de interpretação - 8º e 9º
Conversa de botequim
Vadico e Noel Rosa
Seu garçom faça o favor
De me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada,
Um pão bem quente com manteiga à beça,
Um guardanapo
E um copo d`água bem gelada
Fecha a porta da direita
Com muito cuidado
Que eu não estou disposto
A ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol
Se você ficar limpando a mesa,
Não me levanto nem pago a despesa
Vá pedir ao seu patrão
Uma caneta, um tinteiro,
Um envelope e um cartão
Não se esqueça de me dar palitos
E um cigarro pra espantar mosquitos
Vá dizer ao charuteiro
Que me empreste umas revistas
Um isqueiro e um cinzeiro
Telefone ao menos uma vez
Para 34-4333
E ordene ao seu Osório
Que me mande um guarda-chuva
Aqui pro nosso escritório
Seu garçom me empreste algum dinheiro
Que eu deixei o meu com o bicheiro,
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure essa despesa
No cabide ali em frente
1) Logo no primeiro verso, por meio do uso de um vocativo, fica claro quem
fala e quem escuta nessa “conversa”.
a) A quem a personagem que fala na canção se dirige?
b) Quem é a personagem que fala?
2) Observe como o tamanho dos versos desta canção varia muito. Pensando
também no título, como você explicaria esse fato?
3) No entanto, para realizar-se como canção, a letra e a melodia devem
manter ainda alguma regularidade. Assinale as rimas da canção.
4) Em que modo estão os verbos usados pela personagem para se dirigir ao
garçom? Por quê?
5) Na primeira estrofe, o “cliente” faz ao garçom uma série de pedidos.
a) O que ele pede?
b) Esses pedidos são adequados à situação?
6) Na segunda estrofe outros pedidos são feitos.
a) Quais são eles?
b) Esses pedidos são adequados à situação?
7) Na última estrofe, o “cliente” parece passar dos limites.
a) O que ele pede ao garçom?
b) Explique por que esses pedidos excedem
o que se espera que um cliente peça a um garçom.
c) Como o botequim é chamado pelo cliente?
d) O que esse cliente vai fazer no
botequim?
8) Por ser o fragmento de um diálogo,
“Conversa de botequim” reforça a coloquialidade própria do gênero canção. Você
concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta.
Gabarito:
1) Logo no primeiro verso, por meio do uso de um vocativo, fica claro quem
fala e quem escuta nessa “conversa”.
a. A quem a personagem que fala na canção se dirige? Ao
garçom.
b. Quem é a personagem que fala? O cliente de um bar ou
botequim.
2) Observe como o tamanho dos versos desta canção varia muito. Pensando
também no título, como você explicaria esse fato? A canção imita a
fluidez e a coloquialidade da fala.
3) No entanto, para realizar-se como canção, a letra e a melodia devem
manter ainda alguma regularidade. Assinale as rimas da canção.
4) Em que modo estão os verbos usados pela personagem para se dirigir ao
garçom? Por quê?
Os verbos estão no imperativo. Eles
definem o tipo de relação que se estabelece entre as personagens da canção.
5) Na primeira estrofe, o “cliente” faz ao garçom uma série de pedidos.
a. O que ele pede?
Um média (xícara de café com leite), um
pão quente com manteiga, um guardanapo e uma gelada.
b. Esses pedidos são adequados à situação?
Sim,
pois são pedidos de um cliente a um garçom de botequim.
6) Na segunda estrofe outros pedidos são feitos.
a. Quais são eles?
Para
que o garçom não limpe a mesa e para que traga uma caneta, um tinteiro, um
envelope um cartão, palitos, cigarro, revistas, isqueiro e cinzeiro.
b. Esses pedidos são adequados à situação?
Não
são mais pedidos apropriados a um botequim, pois incluem itens encontrados na
tabacaria ou na papelaria.
7) Na última estrofe, o “cliente” parece passar dos limites.
a. O que ele pede ao garçom?
Pede
para que o garçom ligue para um número e ordene a um tal de Osório que mande um
guarda-chuva; pede dinheiro emprestado e pede para que o gerente “pendure” a
conta.
b. Explique por que esses pedidos excedem o que se espera que um cliente
peça a um garçom.
Os
pedidos da última estrofe são inusitados, o que ajuda a produzir o humor na
canção. Eles imitam uma relação de patrão com empregado, ou de pessoa muito
“espaçosa”, em ambiente familiar.
c. Como o botequim é chamado pelo cliente?
Nosso
escritório.
d. O que esse cliente vai fazer no botequim?
Provavelmente,
ele é um poeta, um sambista que vai ao botequim para compor suas canções.
CRIME MAIS
QUE PERFEITO
Quando o
furgão contornou a esquina e parou diante do nº 168, Davi abriu a caderneta e
anotou: Quinta-feira, chegada, 4h 15min. Assistiu
ao leiteiro que, com passadas rápidas, deixou o litro de leite à porta e
retornou ao furgão, posto logo em movimento. Davi escreveu: saída, 4h 20
min. Embolsou a caderneta, desprendeu-se do pilar que
lhe servia de esconderijo. Planejava o crime original.
Voltara para
casa assim como saíra, invisível. Subiu a escada, parou no corredor. O quarto
de tia Olga fechado, mas, no de Cláudia, a luz riscava o chão pela fresta da
porta. Empurrou-a com cuidado, entrou no quarto e contemplou a irmã adormecida.
Para Davi, ela seria sempre uma criança. Os olhos dele foram ficando mansos, os
lábios esboçaram um sorriso... Um leve ruído: a adoração se encobriu de trevas.
Com a mesma
cautela, saiu para o corredor e logo entrou em seu quarto. A lembrança súbita
de Jorge Antar dissipou a beleza deixada em seus olhos pela moça em doce sono.
Aquele noivado. Revoltava-se com o amor de Cláudia pelo malandro. Conhecia-o
bem: vivia de golpes financeiros, além de possuir, em segredo, um harém. O
malandro visava à herança da moça, inocente e apaixonada. Não, Jorge não seria
o homem de Cláudia, dessa Cláudia que ele, substituindo o pai ajudara a criar.
Há dias, por isso, resolvera mudar seu comportamento, não agravar, com novas
rixas, suas relações com a irmã. Recolhera conselhos, reprimira censura e
ameaças, enquanto o plano diabólico progredia na ardência do cérebro, como o
relógio trabalhando no interior da bomba.
Deitado na
cama leu a caderneta: “leiteiro” Segunda-feira, chegada, 4h 08 min. – saída, 4h
15 min.; Quarta-feira, chegada, 4h 05 min. – saída, 4h 12 min. Na última
anotação: chegada, 4h 15 min. – saída, 4h 20 min. O furgão parava na rua das
Margaridas, nº 168, sempre depois das 4 horas da madrugada, e em sua casa às 3
horas, mais ou menos. Plano feito, perfeito. E mais perfeito ainda, porque
Cláudia, conforme havia dito, iria passar o fim de semana, na capital, fazendo
compras e preparando seu espírito para o casamento.
Davi já
conhecia todos os hábitos de Jorge: no sábado, acordava mais cedo, tomava seu
desjejum e saía de casa para o “trabalho”, antes da criada entrar em serviço.
Aquele plano era exato como a sucessão das horas, infalível como a própria
morte...
Sexta-feira,
a véspera da perfeição. A noite demorou, mas acabou gerando a madrugada. O
motor do caminhão forçou a marcha. Era o leiteiro virando a esquina. Davi ouviu
a parada em frente de sua casa; o tilintar de vidros. Os passos de retorno, a
batida do portão. Sentou-se na cama, calçou o tênis. Levantou-se, foi à cômoda,
abriu a gaveta e meteu o vidrinho no bolso. Apanhando a lanterna, clareou o
relógio de pulso: 3h 20min. Calçou as luvas que estavam debaixo do travesseiro.
Iluminando o caminho, chegou à sala, abriu a porta, cuidadosamente pegou o
litro de leite pelo gargalo e depois seguiu para a copa. Foi à pia, retirou a
tampa da vasilha, derramou um pouco de leite, substituindo pelo conteúdo do
vidrinho que trouxera. Recolocou a tampa, meteu o litro de leite no bolso largo
do casaco. Abotoou o casaco, saiu pela porta da cozinha. Fez sumir na lata de
lixo o vidrinho lavado. Luz sobe o pulso: 3h 35 min.
Seguiu para
a casa de Jorge, atingindo-a pelos fundos. Agachando-se, escondeu sob o tanque
de lavar roupas. Relógio iluminado: 4h.
Depois de
dez minutos, o furgão parou em frente à casa. Davi decifrou a jovialidade do
entregador pelos passos meio dançados. De novo, os passos. O motor pulsando, a
neblina tragando as luzes vermelhas do furgão.
Sempre
encostado à parede, Davi caminhou até à porta lateral da casa onde uma pequena
entrada o protegia da visão da rua. Na soleira de mármore, aproximou os dois
litros de leite.
Levantou-se,
enfiou no bolso do casaco o que fora deixado para Jorge, com a mesma precaução,
dirigiu-se ao lugar de espera, perto do tanque. Retomou o caminho de volta,
pisando sempre na parte cimentada do quintal a fim de não largar vestígios de
seu tênis.
A neblina
espessa não venceu a intrepidez da caminhada de volta, última pedra do mosaico
delituoso. Fechando-se na cozinha de sua casa, sentiu-se liberto. Tonificado
pelo descanso de alguns segundos, repôs em seus lugares o casaco, o litro de
leite e as luvas. Depois de tirar os tênis, acendeu o isqueiro, aqueceu-lhes as
solas para secá-las mais rapidamente. Em seguida, limpou-os com um pano e
guardou-os no lugar costumeiro. Preparado para dormir, ingeriu uma pílula. Caiu
na cama, com um suspiro de
alívio. Em breve o cansaço e o hipnótico trouxeram
o sono que surpreendeu Davi no gozo de sua obra
perfeita.
Quando
amanheceu, gritos:
—Davi,
acorda. Acorda, menino!
E a tia Olga
começou a agitá-lo.
— O que é
que há, titia?
— Estão aí
dois homens da polícia que querem falar com você.
— Da
polícia? Diga-lhes que descerei imediatamente. Enquanto as mãos trêmulas lavavam
o rosto, pensou: “É impossível. Não cometi nenhum erro. Ninguém me viu”.
Revisou todos os seus atos: não encontrou a menor falha. Amarrando o roupão,
desceu a escada.
—Sr.
Davi Ortiz? Carlos Antunes, delegado de plantão.
— Não estou
entendendo...
— Estou aqui
em cumprimento de um dever bastante desagradável.
— Como
assim?
— Antes de
pedirmos a colaboração do senhor, no entanto...
— Sim?
— Jorge
Antar foi encontrado morto, esta manhã, na casa em que morava.
— Que
horror!
— Ao lado
dele, também morta... a senhorita Cláudia, irmã do senhor. Acreditamos que se
suicidaram, de acordo com as primeiras investigações, com veneno misturado ao
leite.
(Luiz Lopes
Coelho, A morte no envelope)
VOCABULÁRIO:
Furgão: Carro
coberto, para transporte de bagagens ou pequena carga.
Fresta: Abertura
estreita na parede, para deixar passar a luz e o ar.
Dissipar: dispersar,
desfazer, fazer desaparecer.
Visar: Ter como
objetivo; ter em vista.
Jovialidade: Alegre,
prazenteiro.
Precaução: Cautela,
cuidado.
Espesso: Grosso,
denso.
Intrepidez: Valentia,
coragem.
Mosaico: Embutido de
pedrinhas de cores, dispostas de modo que formem desenhos.
Delituoso: Que
constitui delito; culposo.
Tonificar: Dar vigor a;
fortificar.
Hipnótico: substância
que produz sono.
Gozo: prazer,
satisfação.
1. A frase que apresenta a ideia principal do texto
é:
A) “Planejava o crime
original”.
B) “Davi escreveu: saída, 4h 20min”.
C) “Quando o furgão contornou a
esquina”.
D) “Davi abriu a caderneta e anotou”.
E) “Acreditamos que se suicidaram.”
2. A intenção de Davi Ortiz ao anotar a chegada e a
partida do leiteiro era
A) saber o horário em que o leite chegava
nas casas.
B) evitar que algo desse errado em seu plano.
C) fazer anotações sobre o movimento dos
furgões.
D) conhecer todos os hábitos de Jorge.
E) anotar as casas que recebiam leite.
3. Em “Um leve ruído: a adoração se encobriu de trevas” , o que fez
Davi mudar de atitude foi o fato de
A) Cláudia esboçar um leve
sorriso.
B) o quarto da tia Olga estar fechado.
C) ter-se lembrado do noivo de
Cláudia.
D) Cláudia se mexer na cama.
E) estar chegando a hora de o leiteiro passar.
4. A expressão “...além de possuir, em segredo um harém.” significa
que o noivo
A) era um sultão árabe que possuía muitas
mulheres.
B) já era
casado.
C) tinha em sua casa muitas esposas.
D) trocava constantemente de
esposas.
E) vivia cercado de mulheres.
5. A palavra “trabalho” escrita entre aspas, deve
ser vista como uma ironia, devido ao fato de (o)
A) antagonista trabalhar em ofícios
desgastantes.
B) trabalho do personagem ser muito cansativo.
C) noivo possuir um
harém.
D) Jorge Antar trabalhar em ofícios não
respeitáveis.
E) jovem ser responsável e ter bons hábitos.
6. O local escolhido por Davi para observar a
chegada do caminhão, antes do crime, foi
A) o fundo do
jardim.
B) atrás de um
pilar.
C) embaixo do tanque de lavar.
D) pequena lateral da
casa.
E) um esconderijo na parede.
7. É característica psicológica do protagonista o
fato de ele ser
A) relaxado.
B) desmotivado.
C)
calculista.
D)
tímido.
E) jovial.
8. O personagem principal não aprovava o casamento
da irmã com Jorge Antar porque
A) o noivo tinha um
harém.
B) o noivo era malandro e
mentiroso.
C) Cláudia não amava o noivo.
D) era muito
ciumento.
E) agia como pai da moça.
9. Todas as frases abaixo são precauções para
tornar o crime perfeito, exceto
A) “... pisando sempre na parte cimentada do
quintal...”
B) “Fez sumir na lata de lixo o vidrinho lavado”.
C) “Calçou as luvas que estavam debaixo do
travesseiro”.
D) “... aqueceu-lhes as solas para secá-las mais
rapidamente”.
E) “... contemplou a irmã adormecida.”
10. Ao saber que a polícia estava em sua casa, Davi
ficou:
A) aliviado e
feliz.
B) trêmulo e
agitado.
C) orgulhoso de seu plano.
D) temeroso de ter sido
descoberto.
E) tranquilo, despreocupado.
11. Apesar de não conhecer o rapaz, Davi concluiu
que o entregador de leite era jovem porque
A) entregava o leite com
rapidez.
B) parecia dançar quando andava.
C) sabia dirigir um furgão.
D) a neblina tragava as luzes vermelhas do furgão.
E) acordava de madrugada todos os dias.
12. Para não levantar suspeitas, Davi tomou algumas
atitudes com relação à irmã. Uma delas foi:
A) reprimir Cláudia a toda
hora.
B) não lhe dar mais
conselho.
C) não falar mais com ela.
D) contemplar a irmã
adormecida.
E) deixá-la viajar com o noivo.
13. A lógica do título “Crime mais
que perfeito” foi fundamentada com o fato de que
A) o personagem principal matou apenas Jorge
Antar.
B) por ironia, Davi matou também a irmã
do criminoso.
C) a polícia achava que fosse
suicídio.
D) tudo fora premeditado com muita perfeição.
E) houve uma total impunidade do protagonista.
14. Com a frase: “Plano feito, perfeito” ,o
protagonista concluía que
A) Cláudia casaria com outro
homem.
B) valeria a pena tantas noites em
claro.
C) o crime não seria descoberto.
D) o furgão pararia na rua das margaridas, nº
168.
E) Cláudia viajaria na véspera do crime.
15. Cláudia Ortiz disse ao irmão que viajaria na
sexta-feira para a capital. No entanto, ela se encontrava no (a)
A) companhia do
noivo.
B) shopping, fazendo
compras.
C) quarto de tia Olga.
D) casa de uma
amiga.
E) seu quarto, dormindo.
16. Em “A noite demorou, mas acabou gerando a madrugada”, representa que a(o)(s)
A) noite passava com rapidez.
B) madrugada demorou a
chegar.
C) era véspera do dia do casamento.
D) horas passaram despercebidas.
E) tempo estacionou.
17. O fato surpreendente no desfecho da história
foi
A) tia Olga gritando
desesperadamente.
B) a chegada da polícia na casa de Cláudia.
C) Cláudia não estar preparando o espírito para o
casamento.
D) Jorge Antar ter sido encontrado morto.
E) a morte acidental de Cláudia.
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Cadê as respostas
ResponderExcluirObrigado Parabéns ☺☺☺☺☺☺☺☺☺☺☺
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