segunda-feira, 29 de agosto de 2016

 

ATIVIDADE LEITURA E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - GÊNERO ARTIGO DE OPINIÃO - 9º ANO

Leia o texto a seguir e observe como o autor se posiciona a respeito da superlotação dos presídios e cadeias públicas.

SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA

Por Drauzio Varela

O lema "lugar de bandido é na cadeia" é vazio e demagógico. Não temos prisões suficientes.

     
As fábricas de ladrões e traficantes jogam mais profissionais no mercado do que sonha nossa vã pretensão de aprisioná-los.
     Levantamento produzido pelo jornal Folha de São Paulo com base nos censos realizados nas 150 penitenciárias e nas 171 cadeias públicas e delegacias de polícia, mostra que o Estado de São Paulo precisaria construir imediatamente mais 93 penitenciárias apenas para reduzir a superlotação atual e retirar os presos detidos em delegacias e cadeias impróprias para funcionar como presídios.
    Para Lourival Gomes, o atual secretário da Administração Penitenciária cuja carreira acompanho desde os tempos do Carandiru, profissional a quem não faltam credenciais técnicas e a experiência que os anos trazem, o problema da falta de vagas não será resolvido com a construção de prisões.
     Tem razão, é guerra perdida: no mês passado o sistema prisional paulista recebeu a média diária de 121 novos detentos, enquanto foram libertados apenas 100. Ficaram encarcerados 21 a mais todos os dias.
    Como os presídios novos têm capacidade para albergar 768 detentos, seria necessário construir mais um a cada 36 dias, ou seja, dez por ano.
    Esse cálculo não leva em conta o aprimoramento técnico da polícia. Segundo o mesmo levantamento, a taxa de encarceramento que há oito meses era de 413 pessoas para cada 100 mil habitantes, aumentou para 444. Se a PM e a Polícia Civil conseguissem prender marginais com a eficiência dos policiais americanos (743 para cada 100 mil habitantes), seria preciso construir uma penitenciária a cada 21 dias.
    Agora, analisemos as despesas. A construção de uma cadeia consome R$ 37 milhões, o que dá perto de R$ 48 mil por vaga. Para criar uma única vaga gastamos mais da metade do valor de uma casa popular com sala, cozinha, banheiro e dois quartos, por meio da qual é possível retirar uma família da favela.
     Esse custo, no entanto, é irrisório quando comparado aos de manutenção. Quantos funcionários públicos há que contratar para cumprir os três turnos diários? Quanto sai por mês fornecer três refeições por dia? E as contas de luz, água, material de limpeza, transporte, assistência médica, jurídica e os gastos envolvidos na administração?
     Não sejamos ridículos, caro leitor. Se nossa polícia fosse bem paga, treinada e aparelhada de modo a mandar para atrás das grades todos os bandidos que nos infernizam nas ruas, estaríamos em maus lençóis. Os recursos para mantê-los viriam do aumento dos impostos? Dos cortes nos orçamentos da educação e da saúde?
      Então, o que fazer? É preciso agir em duas frentes. A primeira é tornar a Justiça mais ágil de modo a aplicar penas alternativas, facilitar a progressão para o regime semiaberto no caso dos que não oferecem perigo à sociedade, e colocar em liberdade os que já pagaram por seus crimes, mas que não têm recursos para contratar advogado.
     A segunda, muito mais trabalhosa, envolve a prevenção. Sem diminuir a produção das fábricas de bandidos jamais haverá paz nas ruas.
    Na periferia de nossas cidades, milhões de crianças e adolescentes vivem em condições de risco para a violência. São tantas que é de estranhar o pequeno número que envereda pelo crime.
     Nossa única saída é oferecer-lhes qualificação profissional e trabalho decente, antes que sejam cooptados pelos marginais para trabalhar em regime de semiescravidão. 

      Há iniciativas bem sucedidas nessa área, mas o número é tímido diante das proporções da tragédia social. É necessário um grande esforço nacional que envolva as diversas esferas governamentais e mobilize a sociedade inteira.
    Como parte dessa mobilização é fundamental levar o planejamento familiar para os estratos sociais mais desfavorecidos. Negar-lhes o acesso à lei federal que lhes dá direito ao controle da fertilidade é a violência mais torpe que a sociedade brasileira comete contra a mulher pobre.
      O lema “lugar de bandido é na cadeia” é vazio e demagógico. Não temos nem teremos prisões suficientes.
Reduzir a população carcerária é imperativo urgente. Não cabe discutir se estamos a favor ou contra; não existe alternativa. Empilhar homens em espaços cada vez mais exíguos não é mera questão de direitos humanos, é um perigo que ameaça todos nós. Um dia eles voltarão para as ruas.







POR DENTRO DO TEXTO


1. Podemos afirmar que o subtítulo do texto apresenta uma opinião sobre o tema apresentado? Justifique.
2. Para comprovar que não adianta construir novos presídios, o autor citou a opinião de Lourival Gomes, secretário da Administração Penitenciária.
a) De que maneira o autor nos faz acreditar que a opinião do secretário pode ser considerada confiável?
b) Com que intenção o autor nos traz informações a respeito do secretário?
c) Que argumento foi utilizado para reforçar a opinião do secretário?
3. De que maneira o aprimoramento da polícia complica o problema da carceragem no estado de São Paulo?
4. Ao analisar as despesas geradas na construção de uma cadeia, qual a comparação estabelecida pelo autor?

5. A conclusão do texto desenvolve três soluções para o problema de superlotação dos presídios. Explique, resumidamente, quais são eles.
6. O que essas soluções apresentadas têm em comum?
7. Por que, segundo o autor, o lema “lugar de bandido é na cadeia” é vazio e demagógico?
8. Pesquise o significado da palavra exíguo. Clique aqui para acessar o dicionário.
9. Por que o fato de empilhar homens em espaços cada vez mais exíguos é um perigo que ameaça todos nós?

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